Dois

As paredes pareciam diminuir a cada segundo que olhava para elas. A algema ao redor de seus pulsos começava a doer e isso ele não iria perdoar. Não via a hora de Arthuro aparecer naquela porta o levando embora, e ainda ia reclamar pela demora, no entanto, Tristan entendia o porquê de demorar tanto.

Se Lilian achava mesmo que conseguiria um dia prendê-lo, ela está muito enganada. Por muito tempo, Oscar Bennett refez aliados com todo mundo, desde policiais aos promotores, ninguém prenderia seus filhos, pois eles saberiam como se defender dependente de qualquer coisa.

Sentado ali no seu estado mais crítico, seus olhos se voltaram para a porta quando a mesma se abriu revelando Cassius, um dos detetives de Lilian, e logo atrás, ela com aquele sorriso sínico, mais alguns minutos e ele mesmo iria arrancar o riso do rosto daquela desgraçada.

— Tristan Bennett é bom... Revê-lo? - Cassius parou do outro lado da mesa e jogou uma pasta diante dos dois com um sorriso no rosto, — seja bem-vindo.

— Infelizmente não posso dizer o mesmo, é chato ficar me encontrando com vocês - comentou e mudou seu olhar para Lilian que cruzou os braços se aproximando também — Como ela está?

— Ela quem? - estreitou os olhos.

— A nossa filha.

— Minha filha. Minha, minha filha. - bradou nervosa, e foi acalmado por seu amigo, não era o momento para surtar, tinha que manter a calma. — Não estamos aqui para tratar de nada pessoal, vamos falar apenas sobre seus crimes, Bennett.

— Não estamos aqui para tratar de nada pessoal? - Se mostrou chocado — Você está me procurando pelo mundo inteiro e finalmente me tem na sua frente. Vai me dizer que não quer mandar esse detetive de merda embora só pra ficarmos a sós e você tirar a minha roupa? - Ele riu mordendo os lábios. — Ainda somos dois jovens que gostamos de sexo, eu me lembro das suas posições preferidas, e do seu gemido imitando uma gatinha pront-

— TRISTAN - Suspirou mantendo a calma — Não estou brincando aqui. Vamos falar do que interessa - Ela estava calma ao se apoiar na mesa, Tristan se aproximou também e ficou feliz ao notar o desconforto que ela sentiu. Claro que ele ainda mexia com ela, mexia tanto que ela mesma não iria se controlar se passasse muito tempo.

— Eu quero um advogado, não estava fazendo nada de errado, apenas sentado no sofá de uma boate conversando. - Virou para Cassius que folheava a pasta — Vai me chamar um advogado? Vocês nem me deram água.

— Ah, você quer um prato especial? Diga qual que eu envio para a cozinheira da sua nova casa. - Ela riu — Que você morra de sede.

— Oh que se eu morrer, você vai chorar. - Brincou com Lilian que tentou avançar contra o homem, mas Cassius a deteve. — Adoro quando você fica brava, é feroz, um arraso na cama.

— Tristan, você foi preso pelos crimes que cometeu; tráfico de drogas, armas, bombas, pessoas, tudo de ruim, sem contar que está envolvido em esquemas de roubos de alguns bancos, e assassinatos que você mesmo provocou.

— Como vocês conseguiram associar tanta coisa ao meu nome? - Ele ainda estava sorrindo, o que fez Lilian perder a paciência. Suas mãos pequenas, porém, com força o suficiente o puxou pela camisa aproximando os rostos.

— Para de brincadeira, seu estupido. Ao menos diga onde se encontra Jhon e Edgar, pai e filho, vocês os matou?

— Não sei do que está falando?

— TRISTAN VOCÊ É UM G-

— Lilian, tenha calma, ele já está preso. - Pediu o outro, e a Lilian se afastou totalmente — Temos provas o suficiente para te manter preso Tristan, o juiz só vai precisar assinar, ok?

— Eu não vou mais falar nada. Pela lei, preciso de um advogado.

— O que você entende leis, idiota? - Lilian questionou do outro lado da sala.

— O mesmo que você? - Respondeu ele, — e não vou mais dizer nada, porque olhar pra essa sua cara me dar um nojo, é capaz de qualquer coisa que eu comer, colocar pra fora com a mesma intensidade. Você estraga meus dias, todos aqueles que aparecem. - Lilian trincou os dentes — E eu já disse, preciso de um advogado, ou que tal uma advogada. Sua esposa talvez. – Alfinetou para Cassius com um sorriso no rosto.

— O que? - Cassius fechou a pasta e levantou da cadeira que por preguiça, tinha sentado. — O que disse?

— Isso mesmo que você ouviu. Se não quer me dar um advogado, eu mandei que buscasse uma advogada para mim. - Na mesma hora, a porta foi aberta bruscamente assustando os dois policiais que se voltaram para ela, e na mesma estavam uma mulher loira, os olhos cheios de lágrimas e os cabelos presos pela mão de Arthuro — A advogada chegou, pode me soltar?

— Naomi? - Cassius deu o primeiro passo, mas foi parado pelas inúmeras armas que levantaram em sua direção. — Soltem ela, agora.

— Você tem duas opções - Tristan levantou. — Me soltar, e eu sair sem fazer mal a ninguém, ou perder sua mulher e o seu filho. - Tristan esticou as mãos mostrando as algemas, no entanto, Cassius só conseguia olhar para a mulher presa.

— Eles pegaram nosso filho… estão com ele. - Disse a mulher, desesperada. Cassius ergueu as mãos tirando as armas do corpo e se aproximou com calma de Arthuro.

— A soltem. Por favor. - Arthuro olhou pra Tristan primeiro e esse assentiu. Cassius aparou a esposa que foi solta e encarou o Bennett — Você é um maldito.

— É, mais ou menos. – Riu. — As chaves, tire essa droga de mim, está doendo.

— Não recebo ordens suas. - Brigou Cassius, sendo abraçado fortemente por sua esposa que não parava de chorar.

— Vai embora, seu filho é chato, tá chorando a meia hora e eu o deixei com o Raul, e o Raul não gosta de adolescentes - Arthuro avisou, fazendo o casal levantar e sair correndo em direção ao possível paradeiro do filho.

Na sala permaneceu Tristan, a ex-namorada que não conseguia tirar os olhos daquele homem, do monstro que tinha se tornado. Os olhos grandes enfeitavam bem seu rosto, eram verdes tão bonitos que podiam enganar qualquer um na face da terra, mas não Tristan que voltou a erguer as mãos esperando que a mesma soltasse.

— Não vai me soltar? Porque se não fizer isso eu vou ter que usar a força.

— Como você pode ser tão baixo? Ameaçar uma criança? A esposa indefesa de uma pessoa que só está trabalhando e fazendo o bem para seu país? Que espécie de homem é você? Ah, não, eu duvido muito que seja homem, é um grande animal que não sabe valorizar as pessoas.

— Para de falar, até a sua voz me enjoa - Lilian deixou a primeira lágrima cair, transtornada, não se mexeu — Eu quero as chaves, e quero ir embora. Deixei seu escravo ir com a esposa, e ninguém vai tocar na cria, mas você vai ter que me dar às chaves, ou todo mundo nessa porcaria vai morrer. - Lilian não se mexeu — acha que eu to brincando?

— Acha que eu me importo com alguém deste lugar além de você? - Questionou dando os primeiros passos — eu não vou soltar você, porque o objetivo da minha vida é te ver atrás das grades, morrendo de fome, sujo, pedindo por perdão.

— Não é isso que você quer Lilian - Apenas com um olhar, o último homem que ficou na sala foi até a mulher a revistando até achar as chaves da algema, e uma vez solto Tristan riu massageando seus pulsos. — Pronto, eu estou livre, agora você não pode mais tirar a minha roupa como nos seus sonhos. Tchau.

— Eu ainda vou acabar com você - Tristan parou na porta assim que a ouviu falar com a arma apontada para si. — Eu vou prender toda a sua família, seu pai, seu irmão, seu cunhado, todos, todos, porque nenhum de vocês presta. Uma família de criminosos.

— Ela não presta, mas você queria fazer parte. - Lilian se calou novamente enquanto ele vinha em sua direção — espero que tenha matado a saudade de ver o amor da sua vida de novo. Guarda bem esse rosto, porque não o verá mais por um longo tempo. - Ele ainda ria quando tirou a arma de sua mão.

— Eu vou atrás de você, e vou até o inferno pra te prender. Não importa seus truques e as formas que age, eu vou te prender. Eu ainda vou ter o prazer de fechar a cela e te ver jogado no chão sujo. Quem sabe te deixar semanas sem comer, vou acabar com a sua vida, eu vou acabar com você. E não tem nada nesse mundo que me faça desistir disso.

— Eu vou fazer com que desista.

— E vai me ameaçar com o que? Matar minha filha? Que é sua também? Teria coragem de matar a Lizzie? Eu acho que sim. - Tristan a olhou por alguns segundos até agir. Sua mão fechou ao redor do queixo dela a aproximando de si — Você tá... Me machucando.

— Existem várias maneiras de te parar sem meter minha filha no meio.

— Você não tem direito de abrir a boca pra a chamar de filha. Nunca a viu, nunca se interessou. E se depender de mim, nunca vai.

— Eu vou te falar só mais uma vez, que talvez você não tenha entendido no nosso último encontro. - Foi mais bruto ao apertá-la fazendo com que a delegada chorasse pela dor — Para de atrapalhar meus esquemas, você não vai conseguir me prender, e se tivermos outro encontro desses, eu mesmo acabo com a sua vida. - A soltou fazendo a mulher se desequilibrar e cair no chão, o encarando.

E ele encarou de volta, ela ainda tinha aqueles mesmos olhos da adolescência, aqueles que lhe encaravam com amor.

— Você podia ter se tornado tudo… - Voltou a dizer, e engoliu todos os xingamentos que vieram a sua mente — menos uma pedra no meu caminho.

— Eu odeio você. - Choramingou e abaixou o olhar, não tinha o que fazer.

— O sentimento é recíproco. E deixando essas palavras, ele saiu da sala levando todos os seus homens que ali estavam.

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