Oito

O dia amanheceu belo em Seant. Mais uma semana se iniciava com aquele gosto doce e tranquilidade no ar. E isso era radiantemente bom, até para uma delegada que passou meses, trancada numa sala ao lado dos seus homens mais confiáveis para planejar uma prisão que deu tudo errado. Contudo, estava disposta a esquecer de nove meses da sua vida se aquela nova estratégia desse certo. Até beijaria os pés de Jannie Jones se trancasse aquele homem dentro de uma cela e nunca mais soltasse.

Desceu da cama pronta para mais um dia de trabalho, e enquanto se arrumava parada em frente ao espelho, ousou sorrir como há muito não fazia. Desde quando deixou de pentear os cabelos para o lado e mostrar sua franja belíssima, e o decote na camisa branca social que gostava de expor? Fechou os olhos respirando fundo, buscando lá em seu intimo as respostas para suas perguntas mentais e todas elas indicavam apenas uma pessoa. Tristan Bennett.

Não era amor que sentia por aquele homem. Claro que falar isso em voz alta ou para outra pessoa soaria como piada, mas era verdade. A fissuração que tinha por aquele homem não era simplesmente por amá-lo, e sim porque foi enganada. Ela se permitiu amar uma pessoa, um homem, mesmo conhecendo bem o tipo que estava se metendo, e no fim de tudo não teve seu valor. Isso lhe causou ódio. Ele tinha que sofrer de alguma forma. Contudo, esse sofrimento não podia leva-la junto.

Ele tinha que sofrer sozinho.

Abriu os olhos novamente terminando de abotoar a camisa e deixar o seu famoso decote a amostra. A calça social apenas lhe deixava mais sexy mostrando que as curvas da delegada nunca sumiram e que seu bumbum estava pronto para rebolar pelos corredores daquela delegacia em cima de seus saltos negros.

Saiu do quarto procurando por seus pertences parando na cozinha, abriu um sorriso ao ver Lizzie fazendo o café da manhã com os fones de ouvido. Talvez nem precisasse perguntar o motivo daquilo, talvez não perceber que sua mãe saiu mais cedo para não lhe encontrar doeria menos que vê-la partir sem ao menos dizer um tchau.

Aproximou-se da filha lhe abraçando por trás o deixou a garota surpresa, mas protegida pelo carinho inesperado. Quando o abraço terminou, Lizzie tirou os fones virando para sua mãe.

— O que aconteceu com você e o que fez com minha mãe? - Lilian revirou os olhos arrumando o cabelo da filha para lado, assim como o seu. — Faz tempo não à via arrumar esses cabelos bonitos, o que houve?

— Nada. Apenas acordei melhor, pronta para combater o crime prender alguns bandidos. - Lizzie sorriu — Quer carona para a escola?

— Não, não precisa. Eu vou com a Mônica. Que a proposito me convidou para ir ao shopping. - Lilian assentiu enchendo sua garrafa de café. — A senhora quer alguma coisa?

— Como assim alguma coisa? Estou bem. - riu para a filha.

— É seu aniversario. - Lilian parou um momento e então encarou a filha. Será que trabalhar tanto como vem trabalhando acabou lhe deixando inerte até mesmo a isso? Uma data importante como seu aniversario. — Parabéns!

— Obrigada. - Agradeceu depois de outro abraço da filha e se despediu alegando não precisar de nada, mas sabia que a ida ao shopping da filha resultaria a um presente ótimo. Entrou no carro e sacou o celular na mesma hora e sua filha estava mais do que certa, 28 de março, seu aniversário. — Não sei como as pessoas acham mesmo que estou apaixonada por você, babaca! Você me faz mal, me faz esquecer até mesmo as datas mais importantes para mim. - Riu de canto.

Ao chegar à delegacia, até sorriu de canto quando recebeu “parabéns” de sua secretaria e de todos que passou ao lado enquanto chegava a sua sala. Deveria ter se arrumado mais se soubesse do aniversario. Mas tudo bem, aquela data seria como recomeço para si.

— Quem é aniversariante mais… - Cassius parou na porta quando estudou a delegada com mais atenção e foi fechando a porta enquanto segurava um bolo de chocolate com cobertura de morango. — Mais sexy que já coloquei os olhos, mas não mais que minha esposa que amo demais. - Colocou o bolo na mesa, — Se arrumou toda por causa do seu aniversario?

— Me arrumei toda porque me sinto livre - Contou ao sentar na cadeira e relaxar — Parece que tirei um grande fardo dos ombros e isso me deixa feliz.

— Pedi para Naomi fazer um bolo e iria te surpreender hoje já que ontem você quase surtou depois do encontro com a Jannie, e olha, está tudo bem. Ela é uma pessoa ótima. - Lilian quis ri e encarou o bolo.

— Senhorita Stewart? - A secretária abriu a porta devagar — ah duas pessoas que vieram para a entrevista com a senhora, querem a vaga de guarda-costas, sua e da Lizzie. - Lilian levantou para dizer que não havia aberto vaga nenhuma para isso quando avistou dois homens na sala de espera.

— Ah, mas claro que sim. Pode deixar que entrem agora, por favor. - Pediu ao mesmo tempo em que saia de trás da sua mesa. Cassius esperou os homens entrarem para fechar a porta. — Você é Mike e você o Julian, correto? Sou Lilian Stewart, a delegada.

— Sabemos quem você é. - Mike murmurou — Jannie disse algo como, uma mulher bonita que não gosta de sorrir. Acho que ela errou alguma coisa aí. - Lilian revirou os olhos. — Precisamos de um disfarce e se todos nos virem como seus guarda-costas não vão desconfiar muito.

— O plano parece perfeito. - Cassius quem concordou. — Então, o que podem nos dizer?

Mike que falava um pouco mais trouxe seu notebook para a mesa contando a eles sobre a conversa que tiveram com Luke e dele concordando, mesmo quando ele não queria ser uma grande traíra, ia ser de qualquer forma. Cassius e Lilian apenas escutavam.

No primeiro dia, a viagem de Jannie até a cidade foi carregada de tranquilidade.

No segundo, ela estava diante dos Bennett e fora escolhida e dada para Tristan Bennett, o que deixou Lilian extremamente confusa, e os outros cheios de satisfação, a infiltração havia dado certo de alguma forma.

No terceiro dia ela viajou de novo para a cidade dos Bennett. A mansão deles era ainda maior, a boate era tão lotada e brilhosa, chamava atenção para quem quisesse ver, eles não se escondiam de nada e isso irritava a policia de todo mundo.

No quarto, quando já estavam mais a vontade, a entrevista com Valentin pareceu não ter dado muito certo visto que as garotas ao invés de se negar a qualquer coisa, simplesmente deixaram claro que queria dormir com o Bennett.

— Porque todas as garotas querem dormir com esse homem? - Mike questionou sorrindo e Julian, o homem que transformava as pequenas imagens da lente de Jannie em fotos, trouxe para a mesa o rosto do Bennett que não calava a boca. — Só porque é bonito?

— Luke nos disse que quando uma garota nova chega à boate, Valentin e Teodoro dormem com elas para saber o limite de cada uma. Não podem mandar elas para certos clientes sabendo que não resistiriam.

— Parece que eles cuidam das garotas. - Lilian olhou para Cassius desacreditando do que foi dito e logo teve os olhos do seu parceiro em cima de si. — Não que seja algo bom.

— Claro que não é algo bom. - Reclamou ela e ouviu Teodoro chegar e depois de tudo que foi dito, Lilian ficou impressionada junto dos outros.

— Achei que fosse brincadeira quando Oscar deu nossa estrela a Tristan. - Mike murmurou e fixou os olhos em Lilian que olhava para seu notebook segurando os fones de ouvido como se fossem a última coisa que faria no mundo.

Realmente, quando Jannie disse que Lilian era uma mulher bonita, mas que nunca sorria, tinha razão. Parecia fissurada e ainda apaixonada pelo pai de sua filha. Um grande desperdício, porque ela poderia ser feliz com quem quisesse.

Jannie foi chamada a sala de Oscar o que fez os quatro dentro da sala agarrar aqueles fones com medo do que poderia acontecer. Oscar era esperto e muito inteligente, ele poderia ter descoberto assim que chegou à casa. No entanto, o que foi dito ali deixou todo mundo ainda mais confuso. Tanto que assim que foi ordenado que Teodoro levasse a garota ao quarto de Tristan, Lilian deixou os fones e simplesmente saiu da sala, não iria querer ouvir nada daquilo.

O único lugar naquela delegacia em que ela podia ficar a vontade era o telhado, e olhando para as estrelas daquela noite cheia de confusão em sua cabeça, ela riu, riu de si mesma e de toda aquela historia. Oscar estava errado em relação ao sentimento de Tristan para consigo. Não havia amor, e ela tinha certeza.

— Delegada? - Lilian não virou para saber quem lhe chamava, simplesmente esperou que a pessoa se aproximasse o que demorou alguns minutos até se deparar com Mike ao seu lado. — Achei que tivesse passando mal quando saiu daquele jeito.

— Achou isso mesmo? Ou foi outra coisa? - Virou para ele que fez o mesmo. — Cassius deve achar que vim chorar.

— É, algo assim. Jannie disse que não iria se aproximar de Tristan porque você gosta dele, mas acho que deu tudo errado.

— Não gosto do Tristan. - Bradou devagar — Certo que ele é o pai da minha filha e tudo que quero é vê-lo atrás das grades, mas não há amor, apenas ódio, e uma fome de vingança.

— Então acho que é o contrario.

— Oscar também esta errado, Mike. Não há amor entre a gente, é apenas ódio. Eu posso te confirmar isso porque naquela noite em que ele esteve nessa delegacia, Tristan deixou bem claro seus sentimentos. Os meus também ficaram no passado.

— Ele a mandou ir embora - Lilian só deu de ombros, não queria saber se realmente tinham ido para a cama. Jannie tinha que fazer seu trabalho e se isso incluía seduzir aquele homem, que fizesse.

— Quais são seus planos quando ela conseguir prendê-los?

Lilian pensou um pouco antes de responder.

— Quando a família Bennett aparecer presa, eu vou querer conversar com cada um, em especial, com Tristan. Não porque o amo, mas porque quero deixar claro quem é a garota por quem ele se apaixonou. Quero deixar claro que, ele foi enganado e preso, e quem nos ajudou a fazer isso. Essa vai ser minha vingança.

— Todo mundo diz que você é uma mulher centrada e completamente profissional. - Lilian o olhou outra vez e acabou lhe oferecendo um sorriso gentil. — Quer tomar alguma coisa? Está fria à noite e você está tensa.

— Não sei se é apropriado para eu sair por ai com você, afinal, ainda é meu guarda-costas. - Se aproximou um pouco de Mike que riu de lado. — Talvez precise mesmo me distrair de algum jeito.

— Tudo bem. Vamos indo.

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