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O Limite da Traição
O Limite da Traição
Por: Vanessa Oliveira
Não sabia que seria assim

Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.

— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.

— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.

— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.

— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega bêbado todo dia! — falou, ajudando-o a se levantar e caminhando até o banheiro.

— Mas eu não tô bêbado! Que isso?! Olha, eu posso caminhar normalmente! — Tentou ir sozinho e derrubou o abajur do aparador do corredor por onde caminhavam.

Jéssica correu para catar os cacos e depois seguiu o marido até o banheiro, um pouco frustrada com a situação. Jogou os cacos no lixo e o ajudou a se despir.

— Que droga, Leonardo! Vai acordar o Breno desse jeito! Ele teve problemas para dormir essa noite, está doentinho, não faz muito tempo que conseguiu pegar no sono — ela falou, jogando o marido no box e ligando a água gelada.

— Blá blá blá... problemas de mãe... blá blá blá... eu não me importo. — ele debochou, se arrepiando com a água fria. — Claro que eu vou acordar meu filho, ele tem que saber que o pai dele está em casa! FILHOOOOOO! BEBÊ, O PAPAI CHEGOU! — Leonardo gritava do chuveiro, gesticulando e fazendo a maior bagunça.

Jéssica, tentando fazê-lo se calar, terminou molhada e irritada quando ouviu o choro do menino. Deixou o homem sozinho e foi atender o filho.

Ela se empenhou muito para fazer Breno se acalmar. Ele chorava muito, assustado com os gritos. Leonardo continuava fazendo um escândalo no banheiro.

— OH, JÉSSICA, ME AJUDA AQUI! JÉSSICA, SEU MARIDO PRECISA DE VOCÊ! JÉSSICAAAAA!

O escândalo de Leonardo era tamanho que os cachorros dos vizinhos começaram a latir, e a confusão se alastrou pelo bairro. Jéssica correu para o banheiro com Breno nos braços para tentar apoiar. Ele, sem nenhum pudor, colocava todo o peso do corpo nela e brincava com o filho sem o segurar ou fazer o mínimo esforço para se carregar até a cama.

Leonardo, um homem lindo de 1,90m, 25 anos, quase 100 kg de músculos perfeitamente trabalhados, cabelos loiros cortados em estilo “old money” para fazer jus ao status de ídolo que esse músico em ascensão está buscando. Os olhos verdes são seu maior charme.

Jéssica sentia os braços tremerem, respirava com dificuldade e caminhava muito devagar, se esforçando para aguentar o peso. Conseguiu guiar o marido até a cama sem deixar Breno cair. 

Ela tinha 1,60m, cabelos cacheados que estavam sempre presos, pele negra e viçosa. 18 anos e vários quilos acima do peso ideal, por conta da gravidez precoce. Teve que se casar com Leonardo quando descobriu a gravidez, pois a mãe a expulsou de casa assim que soube. Estava vivendo esse caos desde o primeiro dia de casada. Nunca teve um minuto de paz nessa relação.

Quando Leonardo dormiu e Breno também, ela caminhou até o chuveiro, juntando a bagunça que o marido deixou pelo caminho, e chorou silenciosamente. Nunca imaginou que a vida de casada seria tão difícil. Estava cuidando de tudo sozinha: casa, filho, e Leonardo ainda se sentia no direito de dar trabalho.

Sentiu saudades do avô; ele saberia como ajudá-la nesse momento. Era duro não ter ninguém para contar. Sua relação com sua família não era boa. A mãe era má com ela e com os irmãos. Nunca permitiu que criassem um vínculo de irmandade saudável. E com as amigas do trabalho não podia desabafar, pois tinha medo de que isso impactasse no trabalho, como viu acontecer com uma outra colega. Não tinha ninguém que pudesse orientar sobre o que fazer com esse marido.

Depois de tomar banho, ela se vestiu e levou o filho para Dona Guiomar, mãe de Leonardo, parecia morrer de amores pelo neto. Cuidava dele para que Jéssica conseguisse trabalhar. Dizia que fazia isso pelo filho. Jéssica não duvidava disso. Guiomar era a mãe que ela sonhava ter: atenciosa, carinhosa e muito protetora. Tratava Leonardo como um tesouro e a coisa mais especial do mundo.

— Cadê o bebê mais lindo da vovó? A mais ainda está doentinho? — Só de olhar, ela sabia que o neto não estava bem. Tratou de falar mais baixo e perguntar dos remédios, não queria perturbar a criança, que parecia sofrer mesmo dormindo.

— Pode dar a dipirona ao meio-dia. O outro eu dou depois que chegar. O Leonardo assustou ele, por isso está assim — Jéssica falou, sem pensar, se esqueceu de como a sogra era protetora com o filho.

— Como acordou ele? De propósito? Não fale assim, vão pensar que meu filho é um monstro! — A velha sibilava com raiva, não esquecendo da doença do neto.

— Ele chegou bêbado de novo e fez o maior escândalo. Até os vizinhos ouviram. Por isso o Breno está assustadinho.

— Imagina! Meu Leo, chegando bêbado? Jamais! Deve ser cansaço da noite de trabalho. Coitado, precisa trabalhar demais pra manter aquela casona chique que você obrigou ele a morar! — Ela nunca aprovou que os dois fossem para a casa de Jéssica, queria o filho debaixo da asa dela.

— Verdade, Dona Guiomar. Deixe-me ir para não chegar atrasada no MEU trabalho. Tchau, filhotinho, a mamãe já volta. — Deu um beijo no filho e saiu sem se despedir. Era inútil tentar convencer a sogra de que Jéssica bancava quase tudo em casa e Leonardo contribuía com pouquíssimo.

Sabia que toda a doçura de Guiomar era para Leonardo e para o Breno. Para Jéssica, só sobravam as acusações, reclamações e apontamentos. Nenhum carinho.

No supermercado, onde Jéssica trabalhava, o gerente a chamou para um convite especial.

— Oi, Jéssica. Bom dia! — Luan chegou todo sorridente. — Posso falar com você um instante? — convidou-a para a sala do café, que sabia estar vazia naquela hora.

— Claro — Jéssica respondeu, indo com muito medo. Não podia perder esse emprego de jeito nenhum.

— Então, pode ficar tranquila que está tudo bem. Acontece que estamos com uma vaga para um treinamento administrativo. Eu posso fazer a indicação e queria indicar você, se você quiser.

— Eu quero sim, Luan. Seria ótimo! — Jéssica ficou muito empolgada com a ideia. Quando havia esse treinamento, sempre vinha uma promoção. Um aumento ajudaria a economizar para a escolinha do Breno. Ela se preocupava muito com o futuro do filho. Queria muito que ele tivesse uma vida melhor que a dela.

— Certo, então eu vou te colocar na lista e você pode ir às 13h para a sala de treinamento. — Luan estava sendo muito gentil ultimamente. Começou a notar o quanto Jéssica parecia cansada e fazia o que podia para facilitar o trabalho dela.

— Obrigada, Luan! — ela agradeceu com um abraço e foi para o seu posto. Não queria abusar da boa vontade dele. Assim que se sentou no seu caixa, Janete já estava esperando para saber o que Luan queria com ela.

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