A água quente escorria pelos ombros de Jéssica, mas não era capaz de aquecer o frio que morava dentro dela.
Voltou para o hospital no automático, atendeu no automático, fez tudo o que precisava para concluir o dia de maneira funcional.
Mas seu interior estava cheio de uma angústia sufocante.
Encostada na parede do box, com os joelhos encolhidos contra o peito e o rosto escondido entre os braços, ela chorava em silêncio.
Como vinha fazendo nos últimos dias. Só que naquela noite, doía mais. Doía fundo.
Breno mal falava com ela.
"Mentirosa..." foi como ele a intitulou.
Desde aquele encontro na escola, tudo parecia desmoronar ainda mais. Ele escolheu Hugo com os olhos, com o corpo, com o coração.
E, mesmo que ela compreendesse, mesmo que reconhecesse o amor imenso que Hugo dava ao menino, ainda assim… doía. Porque ela era a mãe. Ou deveria ser.
Parecia que os filhos estavam dispostos a perdoar apenas Hugo e con
Jéssica foi acordada com um som suave e sorrisos tímidos.Abriu os olhos devagar, ainda com o rosto marcado pela noite difícil, e viu Breno, Maria e Caio entrando no quarto equilibrando uma bandeja de café da manhã decorada de maneira bem peculiar.Frutas cortadas em formatos engraçados, panquecas com carinhas, flores improvisadas de papel e até um bilhete escrito com letras coloridas.— Surpresa! — Hugo anunciou, orgulhoso.Maria dava pulinhos de alegria e Caio, ainda um pouco retraído, sorria de canto, segurando uma garrafinha com o suco favorito da mãe.— Você demorou pra acordar e decidimos fazer isso — disse Breno, com um jeitinho tímido.— Tivemos medo de que não estivesse bem — completou Hugo, fazendo questão de ressaltar que as coisas estavam melhorando.O coração de Jé
O cheiro de café ainda pairava no ar quando Hugo apareceu na sala já pronto, camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos e a expressão tranquila e carinhosa que ele sempre fazia questão de manter — mesmo quando tudo dentro dele estava em pedaços.As crianças corriam pela casa em busca de meias, mochilas e algum material de última hora. Jéssica, entre uma olhadela no celular e um aviso sobre escovar os dentes, o olhou com intenção.— Hoje eu levo todo mundo — ele disse, com naturalidade. — Já organizei meus horários.— Imagina. Não precisa se preocupar, eu cuido disso. — Jéssica gostava de passar mais tempo com os filhos.— Não é incômodo. Eu preciso disso. — Hugo estava muito abalado com tudo naquele momento.Ela assentiu com um aceno pequeno. Não
— Que cara péssima, — Alexandre falou assim que Hugo pisou na sala. — Bom dia pra você também. — Hugo cumprimentou e caminhou até sua mesa. — Infelizmente, hoje será um dia longo e cansativo. Adoraria amenizar para você, mas não será possível. — O que é agora? — Nosso querido concorrente Valdo está de novo espalhando desinformação a nosso respeito. — Alexandre disse com cara bem irritada. — Qual o tamanho do estrago? — Hugo esfregou os olhos irritado. — Três montadoras pedindo auditoria. E a versão de luxo da Ferrari está sendo atrasada até verificarem a procedência do cliente. Não aguento mais lidar com esse sujeitinho! — Alexandre bateu na mesa irritado. — Vou fazer umas ligações e não temo as auditorias. Sabemos que está tudo certo. — O problema é o tempo que perdemos com isso. O que há com você? Por que está com essa cara? — Alexandre mudou de assunto com bastante facilidade. Hugo estava de pé, de costas para a
Jéssica entrou com o coração ainda disparado. Estava mesmo disposta a beijar Hugo. Esquecer, nos lábios dele, todo o desarranjo que estava vivendo.Assim que passou pela portaria, recebeu um aviso da secretária do RH pedindo que ela subisse direto para a sala da gerência. Arqueou as sobrancelhas, surpresa."Será que fiz algo errado?", pensou, o coração acelerando com a velha ansiedade. Estava farta de más notícias.Mas não era bronca. Era convite.— Doutora Jéssica, gostaríamos de conversar sobre o seu futuro por aqui — disse a coordenadora de residência com um sorriso profissional, mas gentil. — Estamos muito satisfeitos com seu desempenho. O hospital tem planos de ampliar o atendimento ambulatorial, e acreditamos que você poderia liderar uma das áreas.Jéssica piscou, sem entender.— Liderar… como assim?— Você poderá montar seu próprio consultório dentro da ala de especialidades. Terá autonomia para organizar a agenda, as linhas de
Jéssica caminhava para a sala de atendimentos, ainda um pouco atordoada com o que acabara de acontecer. Assim que se acomodou, um buquê de flores foi entregue, acompanhado de um cartão discreto. Ao ler a mensagem, franziu a testa com desgosto: “Me ligue, precisamos conversar. — Leonardo.”Ela não respondeu de imediato, o descaramento daquela frase pairando no ar como uma provocação. Estava em um turbilhão de sentimentos, mas não tinha qualquer intenção de ceder à pressão emocional de Leonardo.— Esse idiota acha mesmo que vou me rastejar atrás dele? — murmurou. — É muita cara de pau.Ia jogar as flores fora, mas hesitou. As flores eram belas. Inocentes até.— Glória, coloca lá na sala de descanso de vocês.— Que lindas, doutora! A senhora não vai lev
Clara entrou no escritório com um sorriso satisfeito nos lábios, seguida por Amanda, assistente de Leonardo, que trazia uma notícia que a beneficiaria muito. Ela se aproximou, sentou-se com elegância e, sem perder tempo, soltou a informação que fazia seu coração bater mais forte.— Leonardo, tenho uma grande novidade. Fechei uma turnê fora do país. Serão 30 shows em 15 países diferentes. — Clara falava com um brilho nos olhos, a expressão de quem sabia o poder que essa notícia teria sobre ele.Leonardo levantou os olhos, sentindo a ansiedade tomar conta de seu corpo. Ele não gostava da ideia de se afastar de casa agora, ainda mais em um momento tão delicado, com tudo o que acontecia com Jéssica e Breno. O som daquelas palavras reverberou na sua mente, e logo ele tentou esconder o desconforto.— Trinta shows? Isso da
Leonardo chegou à escola para o trabalho social. Tinha tanto charme pessoal que, mesmo com o ocorrido com Jéssica e Hugo, conseguiu manter o plano e continuar frequentando a escola. A única questão era que não poderia se aproximar de Breno novamente, sob o risco de acabar com tudo. Achou a condição injusta, mas, enfim, preferia vê-lo de longe do que não vê-lo.Caminhava para a sala que receberia a turma nova e viu um aluno na turma de educação. Breno estava entre eles, jogando basquete de maneira incrível. O homem olhava com orgulho, vendo que o filho herdara as habilidades dele para os esportes. Leonardo teve que se controlar muito para não ir até lá e jogar com o menino.— Professor, já estamos prontos. — Uma aluna o chamou para a sala de música, retirando-o do momento de pai coruja.— Ok. Vamos lá... Quero saber o
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega