Jéssica foi acordada com um som suave e sorrisos tímidos.
Abriu os olhos devagar, ainda com o rosto marcado pela noite difícil, e viu Breno, Maria e Caio entrando no quarto equilibrando uma bandeja de café da manhã decorada de maneira bem peculiar.
Frutas cortadas em formatos engraçados, panquecas com carinhas, flores improvisadas de papel e até um bilhete escrito com letras coloridas.
— Surpresa! — Hugo anunciou, orgulhoso.
Maria dava pulinhos de alegria e Caio, ainda um pouco retraído, sorria de canto, segurando uma garrafinha com o suco favorito da mãe.
— Você demorou pra acordar e decidimos fazer isso — disse Breno, com um jeitinho tímido.
— Tivemos medo de que não estivesse bem — completou Hugo, fazendo questão de ressaltar que as coisas estavam melhorando.
O coração de Jé
O cheiro de café ainda pairava no ar quando Hugo apareceu na sala já pronto, camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos e a expressão tranquila e carinhosa que ele sempre fazia questão de manter — mesmo quando tudo dentro dele estava em pedaços.As crianças corriam pela casa em busca de meias, mochilas e algum material de última hora. Jéssica, entre uma olhadela no celular e um aviso sobre escovar os dentes, o olhou com intenção.— Hoje eu levo todo mundo — ele disse, com naturalidade. — Já organizei meus horários.— Imagina. Não precisa se preocupar, eu cuido disso. — Jéssica gostava de passar mais tempo com os filhos.— Não é incômodo. Eu preciso disso. — Hugo estava muito abalado com tudo naquele momento.Ela assentiu com um aceno pequeno. Não
— Que cara péssima, — Alexandre falou assim que Hugo pisou na sala. — Bom dia pra você também. — Hugo cumprimentou e caminhou até sua mesa. — Infelizmente, hoje será um dia longo e cansativo. Adoraria amenizar para você, mas não será possível. — O que é agora? — Nosso querido concorrente Valdo está de novo espalhando desinformação a nosso respeito. — Alexandre disse com cara bem irritada. — Qual o tamanho do estrago? — Hugo esfregou os olhos irritado. — Três montadoras pedindo auditoria. E a versão de luxo da Ferrari está sendo atrasada até verificarem a procedência do cliente. Não aguento mais lidar com esse sujeitinho! — Alexandre bateu na mesa irritado. — Vou fazer umas ligações e não temo as auditorias. Sabemos que está tudo certo. — O problema é o tempo que perdemos com isso. O que há com você? Por que está com essa cara? — Alexandre mudou de assunto com bastante facilidade. Hugo estava de pé, de costas para a
Jéssica entrou com o coração ainda disparado. Estava mesmo disposta a beijar Hugo. Esquecer, nos lábios dele, todo o desarranjo que estava vivendo.Assim que passou pela portaria, recebeu um aviso da secretária do RH pedindo que ela subisse direto para a sala da gerência. Arqueou as sobrancelhas, surpresa."Será que fiz algo errado?", pensou, o coração acelerando com a velha ansiedade. Estava farta de más notícias.Mas não era bronca. Era convite.— Doutora Jéssica, gostaríamos de conversar sobre o seu futuro por aqui — disse a coordenadora de residência com um sorriso profissional, mas gentil. — Estamos muito satisfeitos com seu desempenho. O hospital tem planos de ampliar o atendimento ambulatorial, e acreditamos que você poderia liderar uma das áreas.Jéssica piscou, sem entender.— Liderar… como assim?— Você poderá montar seu próprio consultório dentro da ala de especialidades. Terá autonomia para organizar a agenda, as linhas de
Jéssica caminhava para a sala de atendimentos, ainda um pouco atordoada com o que acabara de acontecer. Assim que se acomodou, um buquê de flores foi entregue, acompanhado de um cartão discreto. Ao ler a mensagem, franziu a testa com desgosto: “Me ligue, precisamos conversar. — Leonardo.”Ela não respondeu de imediato, o descaramento daquela frase pairando no ar como uma provocação. Estava em um turbilhão de sentimentos, mas não tinha qualquer intenção de ceder à pressão emocional de Leonardo.— Esse idiota acha mesmo que vou me rastejar atrás dele? — murmurou. — É muita cara de pau.Ia jogar as flores fora, mas hesitou. As flores eram belas. Inocentes até.— Glória, coloca lá na sala de descanso de vocês.— Que lindas, doutora! A senhora não vai lev
Clara entrou no escritório com um sorriso satisfeito nos lábios, seguida por Amanda, assistente de Leonardo, que trazia uma notícia que a beneficiaria muito. Ela se aproximou, sentou-se com elegância e, sem perder tempo, soltou a informação que fazia seu coração bater mais forte.— Leonardo, tenho uma grande novidade. Fechei uma turnê fora do país. Serão 30 shows em 15 países diferentes. — Clara falava com um brilho nos olhos, a expressão de quem sabia o poder que essa notícia teria sobre ele.Leonardo levantou os olhos, sentindo a ansiedade tomar conta de seu corpo. Ele não gostava da ideia de se afastar de casa agora, ainda mais em um momento tão delicado, com tudo o que acontecia com Jéssica e Breno. O som daquelas palavras reverberou na sua mente, e logo ele tentou esconder o desconforto.— Trinta shows? Isso da
Leonardo chegou à escola para o trabalho social. Tinha tanto charme pessoal que, mesmo com o ocorrido com Jéssica e Hugo, conseguiu manter o plano e continuar frequentando a escola. A única questão era que não poderia se aproximar de Breno novamente, sob o risco de acabar com tudo. Achou a condição injusta, mas, enfim, preferia vê-lo de longe do que não vê-lo.Caminhava para a sala que receberia a turma nova e viu um aluno na turma de educação. Breno estava entre eles, jogando basquete de maneira incrível. O homem olhava com orgulho, vendo que o filho herdara as habilidades dele para os esportes. Leonardo teve que se controlar muito para não ir até lá e jogar com o menino.— Professor, já estamos prontos. — Uma aluna o chamou para a sala de música, retirando-o do momento de pai coruja.— Ok. Vamos lá... Quero saber o
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem