Estavam num almoço de comemoração. O feat estourou nos primeiros lugares de audiência em todas as plataformas de música e nas rádios. A banda Pegasus foi convidada pela prefeitura de Pedra Branca para fazer uma apresentação com a banda de Leonardo.
Todos estavam felizes, principalmente Clara. Seu plano deu certo: Hugo parou de fazer tantas perguntas e acreditava em tudo o que ela dizia sobre o dinheiro e os trabalhos que ela fazia fora do escopo normal.
Faltava uma única peça para o seu quebra-cabeça se encaixar como o planejado. E algo dizia que isso aconteceria hoje. Ramon, empresário da banda Pegasus, tinha uma proposta para fazer a Leonardo.
— Garotos, tenho que dizer: notamos o potencial de vocês. A aceitação do público foi muito rápida e vocês têm tudo para chegar ao topo. Conversei com a gravadora e estamos prontos para assinar um contrato com vocês.
Os olhos de Leonardo brilharam de êxtase nesse momento. Era exatamente o que ele queria. Seu esforço em aguentar a Clara finalmente teve algum resultado.
— Estamos prontos para fazer a negociação assim que vocês quiserem — respondeu Leonardo pela banda. Todos concordavam que queriam muito esse contrato. Era a hora de ser grande.
— Esta é a proposta inicial. Avaliem e me digam se faz sentido para vocês. — Ruan estendeu uma pasta com documentos para Leonardo. Se aceitassem, precisariam fazer grandes mudanças, mas o resultado final valeria a pena.
Clara sugeriu um brinde. Não queria deixar transparecer o quanto estava empolgada com a situação. Era a última peça que faltava no seu quebra-cabeça de vida perfeita. Sabia que o contrato exigiria uma mudança de cidade. Esse era o momento.
— Um brinde ao sucesso e ao futuro! — sugeriu, com a taça de champanhe no mais alto que conseguia alcançar.
— Ao sucesso e ao futuro! — brindaram em uníssono. O futuro estava positivo.
Depois do almoço, enquanto estava em casa discutindo com a banda os termos do contrato, Leonardo entrou em desacordo com o restante do grupo, pois uma cláusula sobre o valor que receberiam não o agradou.
— Gente, isso aqui é um absurdo. Se for de acordo com o que está aqui, não vamos ganhar nada! 90% do lucro ficará para eles!
— Calma, Leo. É apenas o primeiro contrato. Depois que estivermos no topo, poderemos negociar do nosso jeito. — O amigo tinha medo de criar caso e perder a oportunidade que mudaria a vida deles.
— Um contrato de cinco anos! Vamos levar isso para um advogado. Ele saberá nos orientar melhor sobre a negociação. — Leonardo queria tirar o máximo de proveito da situação. Fazia isso em tudo o que se propunha a fazer na vida. Tirava o melhor que podia, a qualquer custo.
Discutiram por algum tempo, mas a vontade de Leonardo acabou ganhando. Não faria mal ter uma opinião de fora sobre o assunto. Resolvido isso, ele teria que ver o assunto da Clara. Por mais que protelasse, sabia que teria de acertar tudo com ela.
— Agora, nós dois, Leonardo. — Ela se levantou quando o último integrante da banda saiu. Faltavam poucas horas para Jéssica voltar para casa.
— Diga o que quer, Clara. É melhor dizer logo, porque a Jéssica está quase chegando. — O olhar baixo e o corpo rígido de quem está esperando pelo pior deram um alerta a Clara. Ela decidiu ir com calma, tentando melhorar o estado de espírito dele.
— Sabe, acho que nosso plano está funcionando exatamente como deveria. A música está estourada. O contrato está quase assinado. Eu cumpri tudo o que prometi para você.
Leonardo, com o estômago revirando, sentia o desespero batendo à sua porta conforme as palavras doces de Clara tomavam o rumo que ele sabia que chegaria.
— Está chegando a nossa hora. — Ela se debruçou sobre o corpo dele, de forma provocante, preparando o bote com cuidado.
— Clara, não é o melhor momento para falarmos sobre isso. A Jéssica deve chegar daqui a pouco. Você precisa ir.
— Em breve, vamos finalmente viver nossos sonhos e toda a felicidade que nós merecemos.
Essas palavras mudaram completamente o estado de espírito de Leonardo. O peito se estufou e um sorriso apareceu quando pensou no futuro de felicidade que finalmente viveria.
Os fãs se atirando aos pés dele com veneração, o dinheiro entrando por todos os lados, o reconhecimento pela sua genialidade musical finalmente viria e o elevaria ao topo. Clara, notando a mudança no estado de espírito de seu amado, aproveitou o momento.
— Partiremos assim que o contrato for assinado. Cuidarei de tudo. Ocupe-se apenas com a negociação.
Se despediram com um beijo apaixonado e um olhar cheio de desejo. Era excitante essa expectativa de dias gloriosos, regados a luxo e muita diversão.
Para aliviar a consciência, preparou um jantar romântico para a esposa e fizeram uma noite de jogos em família. Leonardo preparou uma atividade musical para que Breno também pudesse participar. Um momento único e muito especial. Jéssica se sentia cada vez mais confiante no marido e no futuro de sua família.
Completamente envolvida em tudo de bom que estava acontecendo ultimamente, em todas as áreas da vida, parecia viver um sonho que tinha desde menina: morar numa casa feliz e cheia de amor.
Até dona Guiomar estava com um humor superagradável e tratava Jéssica com mais gentileza e até algum carinho. Era doce nas palavras e preparava várias comidas que ela gostava, para que não precisasse fazer o jantar e cuidar do bebê.
Querida leitora, é uma honra dividir essa história com você. Espero te emocionar e entreter. Para isso preciso que você comente muito o que mais gosta para eu saber que está se divertindo. A Jéssica está realmente se deixando levar por todo o romantismo de Leonardo.
O dia começou como a continuação de um sonho. Leonardo estava na cama, o peito arfando num ritmo concentrado. Breno mamou apenas uma vez e seguia o pai no sono restaurador. Jéssica cuidadosamente retirou a coberta e, pé por pé, caminhou até o banheiro para um banho quente e hidratante com o kit caro que ganhara de presente do marido. Vestiu o uniforme que já estava passado e colocou o perfume favorito do marido. Com um toque de carinho todo especial, preparou o café da manhã de todos: a toalha de mesa rendada, a louça cara que herdara do avô, quitando o que ela mesma fizera para o momento. Não tinha motivos para não oferecer o melhor que possuía, pois estava recebendo tanto carinho ultimamente. Decidia se deveria acordar ou não o marido quando eles irromperam na cozinha. — Que mesa linda! Como você é caprichosa, meu amor. Um beijo selava a paixão mútua e cada vez maior que pairava sobre aquele lar. — Tudo para vocês. Bom dia, meu amor. Cadê o lindo da mamãe? Breno, de mãozinhas e
Do outro lado da cidade, Hugo estava em reunião com o detetive. O homem barrigudo iniciou o assunto sem muito tato. O tempo de carreira o ensinara algumas coisas sobre como proceder em situações desse tipo, principalmente quando as notícias eram tão graves.— Olha, menino, infelizmente, as notícias não são nada boas. Sua esposa está sendo infiel há bastante tempo, pelo que pude apurar. — Disse, direto e certeiro. Hugo não tinha tempo a perder, especialmente porque estava bastante desconfiado do comportamento de Clara ultimamente. Ela estava prestes a aprontar algo grande.— O quê?! Como essa m*****a teve coragem?! — Hugo desferiu um murro forte na mesa e lançou um olhar furioso para o pequeno homem à sua frente. Em choque com as fotos nas mãos, viu seu mundo desmoronar. Deu tudo o que tinha para fazer de Clara a estrela que ela queria ser, e veja só onde ela estava agora: traindo, enganando e mentindo para o homem que a ajudou durante todo esse tempo.— Sinto muito, rapaz. — O homem se
Depois que o homem saiu, Jéssica teve forças apenas para trancar o portão e voltou a chorar copiosamente. O que faria? Como sobreviveria sozinha sem Leonardo? Tudo o que sabia da vida, aprendeu com ele. E essa história de que ele fugiu com outra? Será verdade? Como nunca desconfiou de nada? Que tipo de mulher ela era, que não percebera nada? O que seria de Breno sem o pai? Eles eram tão apegados... Ligou para o telefone dele várias vezes. A cada tentativa, a mensagem dizia que o número não existia. Pensou em ligar para a sogra, mas sabia que ela não a ajudaria. Não tinha o contato de mais ninguém da banda. Estava largada à própria sorte. Toda essa confusão de informações, cobranças e medos crescia em sua mente, inundando seu coração de uma tristeza sem tamanho. Como ele teve coragem de abandoná-la? Por causa dele, ela havia desistido dos estudos! Por causa dele, foi expulsa de casa! Por causa dele, se entregou e foi mãe aos dezessete anos! Como ele pôde
Janete, sentindo-se no poder, tomou a decisão que estava em seu coração desde que assistiu à live de Hugo: tomaria tudo o que era de Jéssica, inclusive a admiração de Luan. Afinal, Jéssica nunca teve nada demais. Fez questão de mostrar o vídeo para todos no trabalho e inventar todas as histórias possíveis sobre o assunto. Aproveitava-se de sua proximidade com todos e mentia, certa de que ninguém ousaria questioná-la. Conseguir a vaga de Jéssica foi pouco; ela queria vê-la na sarjeta, como coisa repulsiva que ela era. Metida a melhor que todos, sempre de bom humor, sempre gentil. Jéssica sentiu a última facada, a apunhalada final no coração. Faltou-lhe o ar, e ela ficou paralisada por um minuto. Essa mulher se dizia sua amiga, a mais fiel. Garantiu que guardaria todos os segredos dela e a protegeria caso algo ruim acontecesse. E veja em que situação se encontrava agora. Sentiu a dor atravessar seu corpo de uma vez, mas não conseguia gritar, nem chorar. Era como se tivesse sido consu
Hugo chegou em casa furioso. Não conseguia se conformar por ter sido tão ingênuo! Aquela vadia o enganou por tantos anos, fazendo-se de boazinha para conquistar sua confiança. — M*****a! — Atirou um vaso na parede. Arrependeu-se logo em seguida, pois não queria assustar as crianças. Respirou aliviado ao perceber que elas não estavam chegando. Esquecera-se de que pedira à filha da vizinha para brincar com elas enquanto resolvia algo com Clara. Sua live foi um fracasso. Não conseguiu a exposição que desejava e fez papel de idiota. Depois que a raiva passou, restou-lhe a humilhação, a vergonha. Não sabia como enfrentaria os conhecidos no dia seguinte. Não fazia ideia de como sustentaria os filhos, já que seu trabalho era exclusivamente cuidar da carreira da esposa. Mais que um coração partido, ele tinha um buraco total na existência. Clara era todo o seu mundo. A dona do negócio onde ele trabalhava, a mãe de seus filhos, sua esposa. Sem ela, o que restava? Nada! Ele se sentia vazio e i
Hugo se culpava por tudo: a negligência com os filhos, a dor que eles passaram, a medo que deveriam sentir, o sumiço da mãe, sem nenhum tipo de despedida ou explicação. Todas essas emoções tomavam conta de seu peito. Uma pontada aguda o atravessou. Que tipo de homem não consegue proteger os filhos? Não sabe cuidar da família? Não percebe o que acontece dentro de sua própria casa? Andava pelo quarto observando os filhos dormindo, com os bracinhos perfurados pelas agulhas da bolsa com vitaminas. Mais do que remorso, o que mais o feria era o sentimento de parecer um ser desnecessário. Não servia para nada nesta vida miserável. Um homem que não protege a família é um inútil. Afundado nesse momento de autocomiseração, ouviu de longe a recepcionista falando algo sobre o cartão não ter sido aprovado e devolvendo o plástico para ele. Ele lhe deu outro, e outro, mas sempre voltava com a mesma expressão. — Desculpe, senhor, todos os cartões foram recusados. Sem o pagamento, não poderemos ate
Um novo dia trouxe um ânimo levemente melhorado para Jéssica. A tela do celular brilhou, informando que havia saldo na conta. Luan apressou o pagamento da rescisão e ainda exigiu que fosse paga uma indenização pelo que Janete fizera na frente de todos.Isso ajudava a manter as coisas, pelo menos, até o fim deste mês. Encontrar um novo emprego seria muito difícil. Ela pensava no que poderia encontrar nas pessoas quando saísse pela porta da frente. Não tinha nenhuma confiança em si mesma nesse momento.Era desafiador olhar para o futuro com positividade diante de tanta tristeza que a rodeava. Criava coragem para sair e enviar currículos quando alguém bateu na porta. Receosa sobre que tipo de visita receberia naquele momento, abriu devagar.— Mãe? Por um momento, teve a ilusão de que a mãe soubera da situação e viera até ali para ampará-la, prestar apoio e lhe acolher neste momento de dor tão grande.— Que bela palhaçada você arrumou, hein? Júlia entrou sem esperar convite. Queria ver co
Hugo pediu a ajuda do detetive para descobrir tudo sobre a mulher que encontrou na casa no dia da live. Seu semblante o impactou; parecia tão devastada quanto ele com o que aconteceu. Foi muito injusto com a moça e queria consertar isso. Ricardo tinha toda a razão. O linchamento virtual que Clara promoveu contra ele acabou com qualquer possibilidade de se reerguer em Pedra Branca. Nenhum contato sério quis fazer qualquer tipo de acordo com ele; as pessoas o olhavam como se fosse algum criminoso. Estava circulando entre os moradores do condomínio um abaixo-assinado para que fosse expulso. Recebeu apoio do pior tipo de gente que existe: abusadores de mulheres que achavam que ele era parte desse grupo asqueroso. Ia embora de Pedra Branca, recomeçar com os filhos em outro lugar, mas, antes, precisava se acertar com a pessoa que prejudicou, mesmo que sem querer. — Me deixa conversar com você um minuto. — Falou rápido, para que a moça não tivesse tempo de afastá-lo assim que o reconhecess