2019/2

- Nossa, uma delícia mesmo. Obrigado! – o homem suspirou tentando não pensar besteira com o corpo da criatura tão perto do seu.

Praguejando-se terrivelmente pôr em uma fração de segundos ter pensado em se referir a ela daquele jeito. Porra, Marcelo! Era a irmãzinha do Enrico… que puta que pariu, estava um mulherão, principalmente na personalidade. Quando Angel tinha mudado tanto?

A mulher se afastou rindo com a cantoria repentina do amigo e escorou levemente na bancada, vendo o showzinho se seguir com uma coreografia péssima.

- Que horrível, Marcelo! - o grito estrondoso o fez gargalhar e rebolar ainda mais, mesmo que incrivelmente desajeitado. – Virou gogo-boy?

- Vim me apresentar em Toronto, sabia não? – ele entrou na vibe das brincadeiras, ouvindo-a rir completamente espontânea. Talvez fosse até efeito do vinho nos dois, mas o ambiente estava tão familiar que trazia certas lembranças.

- Mas me conta, gogo-boy. Como estão as coisas por lá? – a mulher tomou mais um gole de vinho e se escorou a bancada, prontinha para ouvir tudo que ele tinha a dizer.

- Tudo ótimo! – ele se animou para responder. – Uma correria imensa, mas que eu não vivo sem. – um sorriso largo escapou ao se referir a escolinha de música que ele tinha junto com Enrico, irmão de Angel.

- E os seus pais? – ela soltou um gritinho tão eufórico quanto. – A Charlotte tinha uma paciência enorme comigo. – Angel negou com um aceno divertido, sabendo que a paciência da mãe dele ia bem mais além do que apenas paciência. Charlotte e Lauren haviam colocado na cabeça a incrível ideia de que os filhos tinham que ficar juntos, não importava como fosse.

Se já tinham juntado um casal, não iam sossegar até juntar o outro!

- Estão ótimos! – um sorriso imenso surgiu nos lábios avermelhados. – E sentem muito a sua falta, aparece lá um dia! Minha mãe realmente te adora. – Marcelo fez o convite e ela afirmou com um aceno frenético.

- Pode deixar, quando eu for visitar os meus velhinhos, corro lá para ver os seus! – Angel disse divertida e os dois riram baixo. – Eu não sei como ela aguentava meu chororô por vocês não quererem andar comigo. – a mulher fez um bico de ressentimento bem fingido. – Nossa, eu era muito chata!

- Hey! – o homem protestou sacudindo a colher de pau. – Não era assim, a gente queria andar com você sim e era chata nada. Chato era o seu irmão com todo aquele complexo de proteção. – a careta veio por parte dupla, Marcelo por saber que nem de longe precisava daquilo e Angel por pensar que Enrico não pararia tão cedo com aquilo.

- Não! Vocês não queriam andar comigo, só a Viviana que sempre me amou desde que eu era um filhote. – eles riram pela comparação e logo ela lembrou de um filhote que já tinha alegrado a sua vida. – MEU DEUS! E A DELILAH?

- Cresceu! Tá velha! – o homem gargalhou com a expressão indignada da mais nova e desviou da rolha que voou no meio da cozinha. – Mais brava do que nunca, fica brava com todo mundo, aposto que até com você se chegar perto dela!

- Óbvio que não! Ela me ama! – Angel deu de ombros com uma expressão convencida e os dois riram mais uma vez. – Você que era um chato. Você e o Enrico cansaram de me passar a perna. Eu tinha um ódio ferrado!

- Perdoa o moleque idiota! – Gallo inclinou a cabeça de leve, fazendo um biquinho extremamente fofo e que convencia qualquer um. – Mas hoje em dia eu garanto, eu te adoro! – ele apagou o fogo da comida e aspirando o cheiro gostoso na cozinha, abriu um sorriso imenso e convidativo.

- Que horror! Eu não fiz nada para você na época. – Angel protestou para lá de ofendida com a declaração dele, ainda que fingisse tudo enquanto via aquele homem tão lindo montar dois aparatinhos com o maior cuidado e carinho. – Por que tanto ranço de mim?

- Não era ranço, Angel. – o bico de súplica aumentou. – Era idiotice de quem se achava O adulto! – Marcelo disse ao montar o aparato dela bem em frente a mulher na bancada, o rolinho perfeito de macarrão com o molho por cima e algumas azeitonas espalhadas, lembrando perfeitamente a dona Lau.

- Eu só tinha 16 anos, poxa! – ela recebeu o aparato com a mesma gratidão que ele havia entregue, aspirando o aroma que lhe atingia em cheio. – Você era um idiota. – a garota riu ainda presa no cheiro da comida.

- Não poderia concordar mais! – Marcelo soltou uma risada convicta de que ela estava certa.

- Você não é obrigado a me ouvir te xingar! – a mulher tomou o resto do vinho na taça e sem mais demoras, os dois sentaram a ilha na intenção de comer aquele macarrão que estava com uma cara ótima.

- Mas passou. – o homem deu de ombros e realmente ele estava certo, mas se tinha passado, ela poderia contar o que movia a situação, certo? Claro que podia, os dois eram adultos, no máximo iriam rir alto e verbalizar o fato de tanta devoção ter sido ridículo. – Agora você pode gostar de mim, eu presto. – uma grande garfada no macarrão foi dada, o deixando com as bochechas bem maiores do que o habitual.

Ela respirou fundo e ao ajeitar a massa no garfo, tomou fôlego para falar.

- Deus, eu sei que eu vou me arrepender disso para o resto da minha vida. – Angel fechou os olhos com força e antes que provasse da comida, soltou: – Mas porra, Gallo, eu tinha um crush desgraçado em você!

De repente a cabeça do homem que estava baixa e concentrada em comer, levantou de uma vez com as bochechas maiores ainda e uma expressão de espanto que ela nunca tinha visto na vida. Marcelo engoliu tudo que estava na boca de uma vez e fez uma careta horrenda por, com certeza, ter passado rasgando na garganta.

- Chega a ser ridículo! – Angel completou o tiro, vendo o homem tornar a ficar verde.

- O quê? Em mim? – ele piscou já entrando em completo pavor com aquilo, embora risse meio desesperado. Céus, será possível que todas as brincadeiras sem sentido da sua mãe tinham um fundo de verdade? Droga, Gallo, olha o que você tinha feito a garota passar!

- É, tapado! Em você. Não ri que a coisa é séria! E era tão descarado que sua mãe percebeu. – Angel sacudiu a cabeça para mostrar o quão aquilo era óbvio.

- Minha mãe não percebeu! – o esganiço saiu desafinado. – Você gostava de mim...? – o mais velho riu completamente desacreditado daquilo, ainda que seu subconsciente gritasse que ela estava sendo sincera.

- Eu era apaixonada por você, Marcelo! – ela arregalou levemente os olhos, vendo-o perder ainda mais a cor rosada dos lábios. Será que já dava para ficar em alerta para RCP*? – E a Charlotte percebeu sim, ah se percebeu! Na verdade, eu acho que ela tem dó de mim até hoje, por causa disso. – Angel soltou uma risada espontânea em lembrar do quão idiota era, mas não ouviu o melhor amigo do irmão fazer o mesmo.

Marcelo colocou a mão no peito e tentou concentrar na respiração, não dava para desmaiar ali. Uma, ele era um homem feito e podia muito bem lidar com a situação, principalmente porque tinha que agir com maturidade igual a Angel. E duas, ela tinha falado tudo no passado, não é como se um mulherão daqueles continuasse com aquela visão infantil perante ele.

- Marcelo...? – a enfermeira chamou um tanto receosa e recebeu o olhar meio apavorado do homem que procurava a taça de vinho vagando por ali. – Era algo infantil, eu era uma garota idiota. Você, melhor amigo do meu irmão, lindo, legal, me dava atenção... Mais clichê minha vida não podia ser. – ela tentou explicar a situação e o viu virar a bebida toda de uma vez. – HEY! Vai com calma! – Angel esticou as mãos, ponderando se tinha feito certo em contar aquilo. Talvez não, mas já era. – Era da idade, relaxa! Era fase, o Enrico sabe de tudo isso!

- Enrico sabe? – o grito indignado surgiu juntamente com a careta desgostosa. – Eu vou matar aquele cara! – o resmungo saiu entredentes, tão bravo quanto ele estava com o amigo por nunca ter sequer mencionado aquilo.

- Não, você não vai matar ninguém! – ela esticou as mãos, já mergulhada na convicção de que não deveria ter aberto a boca sobre aquilo. – Enfia no juízo que você sabendo ou não, não iria mudar nada em como você me olhava, Marcelo. Ia apenas causar um afastamento entre nós dois.

- Que droga! Que vergonha, Gallo. – ele choramingou enfiando o rosto nas mãos e causou uma risada alta na, então, amiga. – Não ri! – o esganiço se fez presente.

- Qual é? Ia ser pior se você soubesse, veja meu lado! – a mulher soltou uma gargalhada estrondosa pelas expressões do amigo. – Isso tem uns oito anos, não dá para não rir.

- Mas eu fui um grande idiota com você! – o homem movimentou as mãos como se aquilo fosse deixar seu desespero mais aparente. – Me desculpa, Angel. Sério, eu era um idiota. – o pedido saiu meio suplicante quando ele agarrou as mãos dela, na tentativa que o pedido surtisse total efeito. A mulher soltou uma risada parcialmente construída em desespero com aquela enxurrada de gentileza.

- Não exatamente! – Angel sacudiu as mãos dele na tentativa de tirar aquele peso horrível do peito. Talvez ela nem devesse ter tocado na droga do assunto, principalmente quando a pena estampada na cara do Marcelo lhe dava ânsia. – Você não era um idiota comigo, só não me dava bola. Eu tinha 16 anos, meu Deus. Que bom que você nem me olhava, sério! – mais uma tentativa frustrada de fazê-lo não se sentir tão mal e o homem se deu por vencido, soltando uma breve risada.

- Passou, Angel. O importante é isso. – o Gallo mais velho dos irmãos, disse com certo alívio na voz e ao se esticar sobre a bancada, beijou a testa da amiga com todo carinho habitante nele. Ainda que seu cérebro gritasse para que ele deixasse de ser um tapado e consequentemente, de vê-la como uma garotinha indefesa.

- Eu sei que sim! – a garota tomou fôlego. – Então relaxa. Você não ia andar de mãos dadas comigo para cima e para baixo. Sua idealização de namoro na época era muito diferente da minha.

- Nisso você tá certa, provavelmente eu não ia mesmo. – ele coçou a cabeça meio impaciente em começar a pensar em tudo aquilo. Sua cabeça iria explodir!

- Nós estávamos em fases diferentes da vida. Você era atrativo por ser mais velho e, teoricamente, menos babaca que os garotos do colégio. O que acabou sendo mais. – Angel riu ao ver a cara de bunda presente nele.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo