O LANCE
O LANCE
Por: Angel de Oliveira
2019/1

Angel se xingou ao constatar seu atraso astronômico pelo visor do celular e abriu a porta de uma vez. E embora a mulher não tivesse exatamente culpa do seu atraso, ainda se sentia responsável por deixar o melhor amigo do irmão sozinho e preso no apartamento. Ela fechou os olhos com força sentindo um cheiro que não sentia há uns bons meses, na verdade, a última vez que ela tinha sentido o cheiro daquele tempero havia sido quando sua mãe tinha ido lhe visitar.

Ele não poderia estar cozinhando!

A confirmação veio junto com a surpresa de encontrar um homem incrivelmente lindo, sereno e entretido na sua pequena cozinha, deixando-a imersa na vontade de prendê-lo ali pelo resto do mês quem sabe, ou talvez até do ano. Não era entendível ao primeiro impacto, mas a garota se perguntava como ele tinha ficado tão mais lindo e gostoso ao longo do tempo, embora soubesse que o imenso crush que ela tinha nutrido e ainda perdurava, mesmo que pouco, no melhor amigo do irmão, poderia intensificar ainda mais as coisas.

- Não, não, não, Marcelo! - ela fez um bico de choro bem fingido, enquanto jogava as bolsas no sofá do apartamento. - Eu não acredito!

- O que foi? - o homem lançou um sorriso divertido, à medida que fazia a linha desentendido.

- Eu disse que a gente ia sair! - Angel esganiçou ao ponto de fazê-lo rir. - Desculpa o atraso! - o bico formado nos lábios dela o fez menear a mão, mostrando que pouco importava.

- Não tem problema, a gente janta aqui mesmo! Você já me carregou a semana toda para lá e para cá, o mínimo que eu poderia fazer era cozinhar para gente. - o cuidado na voz do mais velho quase a fez derreter em cima das próprias pernas.

- Você tá trabalhando. Você é visita! - a garota se debruçou por cima do balcão como se ainda tentasse protestar a boa ação dele. Afinal todos dois estavam destruídos da semana. - Minha mãe me mataria se visse isso.

- Sua mãe não tá aqui, sua mãe não vai saber! E nem a minha mão vai cair por cozinhar, eu gosto. - ele riu divertido com a careta que Angel fez. - Mas vai lá, toma um banho, bota um pijama legal e volta. Nosso jantar é aqui! - Marcelo piscou mais uma vez em um curto espaço de tempo, arrancando um suspiro derrotado dela.

- Sério mesmo que você tá cozinhando? - Angel inclinou de leve a cabeça em uma olhada até mais discreta pelo corpo dele, à medida que se praguejava por desejá-lo tão terrivelmente. Controle-se, garota, você não tem mais 15 anos!

- Estou! - Marcelo soltou uma risada divertida, reparando em como ela tinha olhos tão profundos. Basicamente uma imensidão que ele se afogaria fácil, fácil. Se não fosse a irmãzinha do seu melhor amigo, claro. - Até melhor do que a gente sair, porque aí eu já agradeço pela estadia. - o sorriso foi bonito. - Isso! Jantar de agradecimento!

- Você não existe! - a garota suspirou, finalmente se dando por vencida e o viu comemorar em ter conseguido convencê-la. Os dois riram!

- Existo sim! Estou no mundo há 32 anos. – o homem piscou sapeca, despertando nela a reação mais indiscreta de suspiro e risada, seguidos.

- Sei bem. – ela passou a mão pelos cabelos curtos e umedeceu os lábios. Marcelo não iria morrer se ficasse um pouco sozinho. – Eu vou para o banho, já volto. Não demoro! – Angel mandou um beijo alado e sumiu rapidamente pelo corredor, se praguejando por ter pensado tanta sacanagem em uma frase tão curta.

O banho foi mais rápido do que ela planejava, ainda mantendo na cabeça que não era cordial deixá-lo esperando mais tempo depois de ter ficado o dia todo sozinho. Ela colocou um pijama de seda escuro que não estava encaixado em qualquer categoria de sedução, era apenas a roupa de dormir preferida da garota. Confortável, bonita e apresentável até mesmo se tivesse visitas em casa.

- Tchará! – o gritinho da garota preencheu a cozinha, assim como a imagem dela abrindo os braços, trazendo de volta a lembrança de uma menina que ele conhecia muito bem e sabia que aos poucos, tinha sumido.

- Uau! Era pijama, não terninho de gala! – Marcelo brincou enquanto mexia o molho na panela, fazendo Angel se inflar com o comentário.

- Sério? Achei que era um super jantar, não podia fazer feio. Quer beber alguma coisa? – a enfermeira soltou uma risada frouxa, deixando a entender que ele estava em casa.

- Quero! – Marcelo levantou a cabeça em busca do pacote de papel na bancada. – Tem vinho na sacola em cima da mesa. – o homem apontou a induzindo a olhar. – Pega, por favor?

- Não acredito que você comprou vinho. – a mulher sentiu a boca salivar só em lembrar do sabor da bebida alcoólica, já se mexendo para tirar a garrafa da sacola de papel. – SOCORRO! Esse é maravilhoso, eu ganhei de presente uma vez! – os olhos de Angel brilharam em ver a bebida argentina, uma das melhores que ela já tinha bebido. – Você tem bom gosto! – ela soltou um gritinho que o fez rir e chamá-la com um aceno de mão.

- Vem experimentar a comida!

- Ainda tenho direito a degustação? Nossa senhora. Você devia voltar mais vezes por aqui! – o convite divertido pulou da boca dela, ainda que a garota ansiasse que ele voltasse mesmo mais vezes e mais íntimo a cada visita, se possível.

- Sempre que der! – o homem piscou. Os dois riram. – Vem provar! – Marcelo insistiu mais uma vez e ela tomou fôlego da forma mais fingida, andando na direção do amigo. Um ato de cuidado tomou forma assim que o cozinheiro da rodada soprou levemente a massa enganchada ao garfo na intenção de que a comida quente não queimasse a boca dela.

- Que delícia! – os olhos arregalados denunciaram que o sabor estava magnífico e sem esperar por mais nada, Angel agarrou o rosto dele, dando o beijo apertado na bochecha que fez o homem rir mais do que satisfeito. – Deus, essa massa só lembra a minha mãe!

- Certeza que não tá nem parecida com a dela, mas sabia que você ia gostar! – ele riu alto com a animação dela e mesmo sabendo que a comida não chegava aos pés da que Lauren fazia, abraçou-a de lado como um ato de agradecimento pelo elogio, completado por um beijo forte na bochecha.

Ela travou com a atitude dele em fazer aquilo, sentindo o baixo ventre se revirar e se praguejando por desejar aquela criatura que parecia ainda mais irresistível a cada ano que passava. Marcelo poderia muito bem já ter começado ficar barrigudo com a idade, mas não, ele insistia em estar incrivelmente gostoso no auge dos 32 anos.

- Tá bom mesmo? – a curiosidade estampada nos olhos dele a fez acenar freneticamente que sim e logo soltar do meio abraço.

- Maravilhoso! – Angel disse coberta de euforia enquanto colocava o vinho nas duas taças dispostas ao balcão. Era querer demais aquele homem ali todo santo dia? – Eu nem imaginava que você lembrava disso. – ela tomou um gole do vinho, empurrando de leve o copo para mais perto dele.

- Me puxei! – o músico soltou uma gargalhada espontânea, carregando a risada dela junto. – Era o mínimo que eu podia fazer! – ele piscou mais uma vez, despertando vontades libertinas na mais nova ali. Angel soltou o ar pelo nariz e mordeu de leve a boca.

- A questão é que você prestou atenção! Você é unha e carne com meu irmão, não comigo. – a garota explicou a situação o vendo dar de ombros como se aquilo não importasse.

- Você também é minha amiga, Angel. – Marcelo verbalizou uma das frases que mais tinha machucado a mulher há alguns anos, embora surtisse um efeito bem diferente na presente data.

- Sim, mas a diferença de idade já influiu bastante. – a enfermeira apontou ao tomar mais um gole de vinho, sabendo que aquele era seu fraco nas bebidas. Se quisessem matá-la, era só envenenar uma boa garrafa de vinho argentino.

- Quando a gente era mais novo, sim. Mas agora passou, Angel, somos adultos. - Marcelo riu baixo e até meio desconfortável.

- Não vai beber? É uma delícia! - ela abriu um sorriso cordial ao levantar a taça de vidro, o vendo apontar para as panelas como se aquela fosse a desculpa do século. - Ah para, não é como se você ficasse alterado com uma tacinha boba de vinho. Não faça essa desfeita, Mr. Gallo. Se é para ser despedida, vamos fazer ser despedida!

- Estou ocupado, só se você me der na boca! - a frase saiu bem mais safada e maliciosa do que a intenção, fazendo-a suspirar e logo prender o cabelo no topo da cabeça. Por que vinho sempre dava um calor infernal?

- Mas só o vinho na boca? - o resmungo quase inaudível escapou da boca da moça, enquanto Marcelo ainda esperava a resposta da proposta brincalhona. - Eu vou ser bem legal com você, vai abre a boca! - Angel riu meio desesperada com a situação e o ajudou com a bebida arroxeada, ficando extremamente perto do corpo volumoso.

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