2019/3

– Eu queria um namorado de revista e você queria uma garota para sexo. Não encaixava. – ela deu de ombros e o viu suspirar frustrado.

Como raios a situação tinha chegado aquele estado e ele sequer tinha percebido? Aquilo era culpa da mania horrorosa de Charlotte e Lauren em querer juntar os filhos a força.

- Você sabe que é verdade! – ela acusou e o homem fez a maior cara de dor.

- Infelizmente, eu sei.

- Céus, eu deveria ter ficado calada. Não achei que você fosse ficar assim. – a garota soltou uma baforada de ar, enquanto se enchia com o macarrão que estava tão gostoso.

- Não, não deveria. Talvez sim, mas agora já era! – Marcelo bebeu mais um grande gole do vinho e decidiu que era hora de mudar a postura. Parecer assustado e apavorado não iria resolver nada, só deixar Angel chateada pela incrível falta de reação.

O dono da escolinha de música largou tudo do seu lado da bancada e sem mais demoras, percorreu o pequeno espaço até Angel, abraçando-a com força de lado. Ela aproveitou o momento fofinho e o abraçou fortemente com os dois braços, ouvindo um grunhido engraçado sair da boca do amigo como se ela fosse alguém extremamente fofinho. Feito isso, a mulher gargalhou.

- Não se magoa com isso. Eu entendo perfeitamente o seu lado! – a frase acompanhou a risada, o fazendo rir junto e escorar perto dela na bancada depois de beijá-la na cabeça.

- Desculpa o retardado do seu amigo? – o bico surgiu manhoso nos lábios dele.

- Para! Eu estou me sentindo uma vaca! – Angel fez outro ainda maior. – Faz séculos, tem mais nem graça. Relaxa!

- Mesmo assim, eu quero ser perdoado pela amiga mais linda que eu tenho! – o bico de Marcelo quase dobrou no queixo, fazendo-a arquear uma das sobrancelhas muito bem feitas.

Ah, qual é? Linda? Ele podia fazer melhor que aquilo. Se aquela brincadeira já tinha começado, que ela fosse até o fim com os devidos elogios que Angel merecia. Embora ela tivesse superado bem toda a história, nunca era tarde demais para ouvir Marcelo dizendo que ela havia crescido e não era mais uma garotinha.

- Eu sei que você pode fazer melhor. – a mais nova dos Valenthina piscou ao cutucar a barriga do outro, se praguejando miseravelmente por fazer aquilo e sentir o abdome durinho daquela peste. – Amiga linda você tem de monte!

- Angel, Angel... – Marcelo ponderou o afronte dela quase gritando que o elogio que ele queria dar, ele não podia.

- Coloca a culpa no vinho e faz que nem eu quando falei da minha queda por você. – a mulher arqueou a sobrancelha sem se dar conta do teor da frase e completou: – Eu quero ouvir você dizer que eu cresci.

- E como cresceu! – ele suspirou meio desesperado com o tom malicioso que tinha saído da sua boca. – Tá gostosa pra caramba!

- Oi? – a mulher quase encostou o queixo no chão ao ouvir aquilo saindo da boca dele. Marcelo estava mesmo falando aquilo? Socorro! Ele só poderia estar bêbado. Quando ela mais esperava um mulherão, ele soltava que ela estava gostosa.

- Você... – ele apontou sem perceber com quem estava falando. – Tá gostosa! – e ouviu uma gargalhada estrondosa, a gargalhada mais característica da garota. – AI MERDA! – Marcelo arregalou os olhos querendo se matar pelo momento e findou caindo na risada com ela, até remoer o assunto e finalmente perceber algo que havia passado despercebido. – Espera... – o Gallo vincou as sobrancelhas. – Você disse que tem uma queda por mim?

- Eu disse tinha, Marcelo! – ela frisou bem o passado que era para ter sido esboçado. – E eu esperei “mulherão” sair da sua boca, não você me jogar na cara que eu era gostosa! – Angel encarnou a pose ofendida para tentar mudar de assunto.

- Você disse tenho! – Marcelo foi firme, ignorando a mudança parcial de assunto. Ah que ele ia tirar aquele assunto a limpo, oh se ia.

- Tinha. – a mulher mudou a postura brincalhona, afinal quem sabia dos sentimentos dela era ela e se ela dizia que tinha passado, é porque tentava acreditar naquilo todo santo dia. Óbvio que não tinha mais qualquer devoção esquisita pelo cara, mas uma queda por aquele maravilhoso homem, ela tinha.

- Você usou no presente! – sério que ele iria começar analisar os tempos verbais nas frases? Marcelo era professor de música, não de gramática. Ainda que fosse pedagogo.

- E o que diabos você quer que eu faça? – Angel abriu os braços como se aquilo fosse o intimidar e rapidamente viu a postura do amigo mudar, ganhando um ar completamente proibido.

Que Deus a perdoasse, mas a mulher seria capaz de mantê-lo em cárcere privado até que satisfizesse todos os seus desejos mais reprimidos, principalmente quando envolvia os dois pelados e embolados fossem em uma cama, sofá, banheiro ou até em cima daquela bancada. Céus, quando a casa tinha ficado tão quente? E o mais importante, quando Marcelo havia chegado tão perto ao ponto de estar quase entre suas pernas?

- Que você me beije. – o sussurro saiu envolvente demais ao ponto de fazê-la fechar os olhos só para ouvir a voz baixa. Sentir a mão que já deslizava sob sua cintura, ansiando colar ainda mais o corpo dos dois naquele pequeno espaço na cozinha.

- Você quer que eu te beije? – Angel teve forças para retrucar, mesmo com aquele cheiro envolvente e amadeirado do perfume dele tão perto de si. Era questão de tempo até que ele agarrasse sua nuca e a deixasse molinha?

- Quero que você me beije. - o pedido baixo vibrou nos lábios dela, não restando outra opção a não ser beijá-lo.

Os dedos sorrateiros tomaram a nuca dela sem qualquer pudor, deixando-a completamente rendida ao jeito que os lábios e a língua dele se moviam em sua boca. Talvez fosse a ideia de que tudo aquilo era proibido, mas Angel nunca tinha experimentado um beijo tão bom na sua vida e o mesmo vinha de Marcelo. Era assustador pensar em tudo que já tinha acontecido e perceber o quanto os dois estavam atracados no meio da pequena cozinha, mas era maravilhoso na mesma proporção, não parecia errado e muito menos fora de contexto. Simplesmente, o jeito que os corpos dos dois se encaixavam e ficavam a vontade no meio daquele beijo era algo certo e até familiar demais. O homem apertou ainda mais a mão entre os cabelos da nuca dela, sentindo-a quase enfiar as unhas em seus braços como se o puxasse ainda mais para perto do corpo. Que Angel não inventasse de o abraçar também com as pernas, ou a merda estava feita, não seria qualquer esforço colocar a mulher em cima da bancada da cozinha e dar seguimento a algo que já começava a lhe fazer falta.

Ela mordeu a boca dele, puxando o lábio do cara entre os dentes e ouviu um suspiro sofrido de quem não estava gostando nadinha de ter perdido a linha do beijo. Angel soltou uma risada desesperada até certo ponto e tentou respirar fundo, mas teve seus lábios capturados em mais um beijo faminto, dando a entender que o homem não queria parar tão cedo. E na verdade, nem ela queria, mas sabia que provavelmente aquilo atingiria níveis péssimos e era melhor não acabar com uma maravilhosa convivência.

- Marcelo... – o pequeno chamado acompanhado de uma mão aberta no peito enorme dele, fez com que o homem respirasse fundo e frustrado ao mesmo tempo, ainda passando o nariz e os lábios nos dela. – Eu não quero que você sinta pena de mim, ou qualquer coisa do tipo... Porque não vai acontecer. – ela manteve os olhos fechados e respirou aliviada em saber que ele tinha entendido só pelo enrijecer do corpo.

- Ei, Angel, olha para mim. – Marcelo pediu ao segurar o rosto dela, virando para direcionar ao seu.

- Eu não quero que você perca seu tempo e sua paciência comigo porque eu disse isso e você se dói por nunca ter notado nada na minha época de adolescência. Eu não quero nada que não seja 100% real. – ela abriu os olhos claros e brilhantes só para ver a expressão arrependida e dolorosa dele, restava saber se por ter sido um cara idiota na adolescência, ou por ser extremamente sensível agora. Marcelo Gallo era um enigma dos mais engraçados de desvendar. – E não adianta dizer que é real, não tem como algo ser real depois de uma hora de conversa e um deslize meu.

- Eu não estou compensando nada, Angel. Na verdade, eu estou disposto a tentar!

- Não! – o grito esganiçado da garota desencadeou uma reação de susto nele, das mais engraçadas, inclusive. – Não encarna o espírito daquelas duas, pelo amor de Deus! – a garota suspirou meio exausta com aquilo tudo. Ela não deveria ter aberto a boca grande, não deveria ter dado abertura e muito menos ter beijado Marcelo, mas a merda já estava feita mesmo!

- Você tem certeza? – o homem fez carinho no rosto dela, fazendo com que a mulher acomodasse ainda mais o rosto contra sua mão.

- Absoluta! – Angel soltou um esganiço mais do que óbvio.

Não dava para ser criança àquele ponto, principalmente quando sabia que nada daquilo iria ter futuro se continuasse. Marcelo era um dos tais caras que ela não se envolveria apenas por diversão. Por quê? Ele tinha uma carga pesada demais do seu lado, mais conhecida como Charlotte e ela outro peso gigantesco, que também atendia por Lauren.

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