2011 - Oito anos antes
A Delilah é minha também!
A garota de 17 anos riu com alguma coisa que a melhor amiga da mãe havia falado e balançou de leve as mãos ao olhar o corredor dos quartos de Viviana e Marcelo. A moça era sua amiga desde sempre, não ligando em nada para diferença de idade que as duas tinham. Enquanto Viviana estava com 22, fazendo faculdade e fingindo, ainda que vergonhosamente, namorar com Enrico, irmão de Angel, para agradar duas loucas que atendiam por Lau e Lottie, a mais nova estava no fim do colegial, decidindo sobre fazer faculdade ou não, para possivelmente sair de casa, e ainda nutria uma paixão ferrada e platônica pelo melhor amigo do irmão e irmão mais velho da amiga.
Poderia não ser tão complicado se não fossem a mãe dela e a dele fantasiando até o casamento dos dois juntos. Angel sacudiu a cabeça afastando todos aqueles pensamentos mais bobocas do mundo, era completamente esquisito gostar tanto de alguém que nem parecia notar ela. Mas ah, ele não se importaria de descer para comer bolo também, se importaria? A garota apostava que não e com o convite mais furado do mundo em mente, a moça se preparou para chamá-lo na porta do quarto, mas ao invés disso, sua atenção foi presa por um bichinho muito fofo, que parecia bem bravo ao lutar com um tênis velho.DE QUEM ERA AQUELE CACHORRINHO BEBÊ?- Ai, meu Deus! Que fofinho! – o gritinho dela despertou a atenção do bichinho, que parou de uma vez de morder o sapato, ficando a postos para o que quer que fosse. Angel arregalou os olhos, se segurando para não assustá-lo ainda mais e sentou pertinho do Chihuahua. – Oi, fofinho! – a mão dela se aproximou devagar e logo a moça conseguiu fazer carinho na cabeça do cachorro, o fazendo deitar no chão de barriga para cima.Angel sorriu encantada com a fofura do pet e não tardou a sentar no chão para brincar com o pequenino, que com certeza, era dos irmãos Gallo. Uma pena sua mãe não deixar ela ter um cachorro.- Você já tem nome? – a pergunta saiu em voz bem boba, fazendo o chihuahua abanar o rabinho, mesmo que estivesse deitado no chão. – Socorro! Você é menina! – Angel riu alto ao se deparar com a descoberta da vez. – Você é muito lindinha! Quem te trouxe para cá, coisa fofa? – a vozinha de criança saiu uma das mais engraçadas possíveis, quando ela estava adorando transbordar seu amor por aquele bichinho tão pequeno.- Delilah! – a voz de Marcelo sobressaiu em todo o corredor, fazendo o estômago da garota contrair e revirar ao mesmo tempo. O quão ridículo era aquilo? Seja menos criança sua, idiota! – Delilah, cadê você? – o rapaz chamou pela nova companhia mais uma vez e finalmente teve uma resposta, ainda que trêmula.- Tá brincando comigo! – Angel fechou os olhos com força ainda tentando se controlar na tremelica sem sentido.- Angel? Oi! – o rapaz sorriu largamente ao abrir de vez a porta do quarto. – Achou a pestinha? – Marcelo riu levemente, fazendo as bochechas ficarem salientes e a garota quase infartar com a fofura, embora se praguejasse por aquilo.- Não tem problema, né? Estava brincando um pouquinho com ela. – a moça fez carinho mais uma vez na cadelinha, pegando-a de vez no colo. – Ela é sua, ?- Imagina, sem problemas! – Marcelo piscou rapidamente, sem saber que uma simples piscada era capaz de quase matar a pobre criatura. – É minha, sim! Adotei tem dois dias. – o garoto sorriu para o cachorrinho e agachou em frente a Angel, começando a fazer carinho em Delilah.- Ela é muito fofinha e simpática! Já lambeu minha cara quase toda! – os dois riram, ela bem mais envergonhada e nervosa que ele. Por que droga Marcelo precisava ser tão bonito e abaixar tão perto dela? – Delilah o nome, certo?- Sim, Delilah! Ela estava brincando com meu tênis?- Sim, sacudindo esse treco fedorento! – a garota fez uma careta bem fingida e ouviu o melhor amigo do irmão soltar uma gargalhada mais do que espontânea.- Não é fedorento!!! – Marcelo retrucou em protesto.- Você tem chulé! – Angel esganiçou como se sua vida dependesse daquilo.- Fica mais fácil de ela me conhecer pelo cheiro! – ele foi óbvio, arrancando dela a maior careta de nojo existente.- Que. Nojo! – a garota simulou um arrepio que o fez rir alto mais uma vez. Por que a risada de Marcelo era tão contagiante?- Se eu te disser que comprei brinquedo aos montes e ela encarnou em dois tênis meus. Eu posso com isso? – ele sacudiu de leve a cabeça, ainda com um sorriso bonito para cadelinha.- Ela é um amorzinho! – Angel afagou a cabeça da cadelinha, vendo-a se contorcer com o carinho em seu colo. – É verdade que você vai sair de casa? – a pergunta foi direcionada a Marcelo, à medida que a garota parecia bem apreensiva com a possível afirmativa.- Não tá fácil convencer a dona Charlotte, mas vou! – ele afirmou animado, mesmo ainda concentrado na sua futura companhia.- Vai morar em outra cidade?- Não, eu só cansei de ser inquilino dos meus pais! – o rapaz deu de ombro e os dois riram baixo.- Você não é inquilino deles! – a garota usou de um tom de voz mais do que óbvio, principalmente quando mantinha toda a atenção nele, esperando que ele fizesse o mesmo e olhasse para ela. – E não dá para ir muito longe, eu preciso ir visitar a Delilah!- Não vai ser para longe, ou minha mãe me mata! Então você pode ir visitar a Delilah, a gente vai adorar, não é? – o filho mais velho dos Gallo sorriu grandemente, deixando a garota trêmula mais uma vez. Não importava quantas vezes ele sorrisse tão lindo daquele jeito, ela sempre ficaria trêmula e nervosa.- Ano que vem eu acho que vou morar com a Viviana em Toronto. – Angel suspirou um pouco ansiosa e até receosa com a ideia, ainda era um pouco assustador pensar em sair de casa. Ela mordeu a boca levemente ao ponderar a ideia mais uma vez e umedeceu os lábios. – Não sei se quero realmente, mas eu passei, então preciso ir.- Não exatamente, Angel. Você ainda é novinha, não precisa fazer o que não quer, muito pelo contrário. Ainda tem bastante tempo para decidir como vai aproveitar e planejar sua vida. – ele tentou explanar a situação, mostrando que ela tinha bem mais opções do que achava que tinha e mesmo sem a intenção, fez a moça torcer o nariz em dizer que ela era novinha.- Sem dar uma de pedagogo para cima de mim! – ela arregalou de leve os olhos e os dois riram. – Mas eu quero fazer faculdade e fui aceita. Então...- Sem zombar da minha formação! – Marcelo protestou sobre a piada e suspirou de leve. – É... Pode ser difícil no começo, mas você tira de letra!!!- Eu espero! – Angel pronunciou meio eufórica. – Você sabe que a dona Lau tá quase expulsando a gente de casa, né? Eu e o Enrico mal pensamos em sair e ela já planejou destruir todos os quartos reserva para fazer sei lá o quê! – a declaração veio um pouco indignada e o garoto riu alto.- Se eu tivesse que morar com o Enrico, eu também expulsava! – o garoto zoou só para ver Angel sair em defesa do irmão como sempre acontecia.- Para! O Enrico é maravilhoso. A gente é mais amigo do que irmão, quando ele não surta.- O problema é que ele surta bastante! – Marcelo arregalou os olhos só para confirmar a veracidade da informação e ouviu a gargalhada estrondosa da menina.- Idiota! – o xingamento saiu sem qualquer licença, fazendo-a perceber que tinha dito merda e se praguejar eternamente por aquilo. Onde já se viu, chamar o garoto de idiota sem mais nem menos? Ela não estava conversando com o Gabriel, por que raios saía xingando os outros? – Desculpa!!!- Pelo quê? – Marcelo vincou as sobrancelhas, confuso com o pedido de desculpas mais repentino que ele já tinha visto.- Ter te chamado de idiota, mas é força do hábito de fazer isso com o Gabriel! – a justificativa veio tão depressa quanto a brincadeira e arrancou um sorriso divertido do rapaz.- Angel!!! – ele abraçou-a de lado com a maior força, deixando a garota à beira de um colapso. – Não precisa pedir desculpas por isso! Nós somos amigos e amigos são assim! – outra piscadela surgiu, fazendo Angel entrar em uma espiral de sentimentos em que metade deles se referiam a choro por ser chamada de amiga e a outra metade, a alegria pela mesma classificação.- Tudo bem! – o resmungo animado saiu da boca dela.- Agora gostei! – a exclamação animada do rapaz mais velho sete anos, veio acompanhada de um beijo apertado e carinhoso na bochecha, que havia causado as reações mais confusas dentro de uma garota tão pequena. Céus, como seria a sensação daqueles mesmos lábios na boca dela?- Mas eu... – Angel se afastou de uma vez do causador de tanto reboliço, entregando Delilah a ele. – Preciso ir, ou sua mãe desiste de me dar bolo. Eu vim só lavar a mão. – a adolescente bateu as mãos no short e ainda com o estômago revirado, viu Marcelo encher a cachorrinha de carinho.- Eu e a bebê estaremos aqui. Né, Delilah? – ele tratou o animalzinho pequeno como se fosse uma criança e ouviu a risada desgovernada da amiga mais nova. – A gente vai esperar a Angel.Angel respirou fundo mais uma vez e seguiu direto pro banheiro do corredor, precisava lavar as mãos e acalmar de vez a droga do coração. Deixe de ser burra, garota, ele não é mais do que o melhor amigo do seu irmão, além de ser irmão da sua melhor amiga.-x-x-x-Um mês depoisSe arrependimento matasse...A garota ajeitou a roupa no corpo e sacudiu o cabelo, ansiosa só de esperar queMarcelo abrisse a porta. O rapaz tinha mudado para um apartamento próprio há umas três semanas e mesmo perante todos os choros de Charlotte, ela parecia ter entendido que aquilo era de uma imensa importância para ele, principalmente pelo fato de que o garoto já tinha 24 anos e precisava viver sozinho.Angel entendia bem o lado dos dois e não pretendia ir embora daquela cidade tão cedo, por mais que a vaga na faculdade em Toronto lhe aguardasse, depois que ela não passou nem perto de entrar na McGill.Ela respirou fundo ao ajeitar o cabelo rebelde no rabo de cavalo e apertou as mãos uma na outra em ansiedade assim que viu a maçaneta rodar, ensa
Eu odeio seu maldito irmão idiota!A garota entrou no quarto respirando fundo, frustrada, brava e decepcionada com o que tinha acabado de acontecer, ainda que soubesse que não tinha o menor direito daquilo.Marcelo nunca tinha lhe notado mesmo, não ia acontecer àquela altura do campeonato.Angel respirou fundo e apertou o telefone sem fio na mão, enquanto esperava queViviana atendesse ao telefonema.- EU ODEIO O SEU IRMÃO! – o grito injuriado fez a moça do outro lado da linha tomar um tremendo susto. – Odeio! Odeio com todo o meu ser e eu vou embora para Toronto e vou sequestrar a cachorra dele!-Ei, ei, ei, ei, fala devagar!–Viviana pediu confusa com toda aquela gritaria. Desde quandoAngel odiava seu irmão? Aquilo era meio doido, para falar a verdade. –Eu não entendi nada. Uma coisa por vez, m
Você é um grande idiota,EnricoValenthina !O homem parou a foto em frente à casa da irmã e respirou fundo. Não era possível queEnrico tinha deixado tudo chegar àquele ponto, sem falar deViviana que poderia ter dado uns cutucões nele em relação ao tratamento para comAngel.Marcelo sabia que não tinha feito nada de errado durante todos aqueles anos, mas possuía a plena certeza de que poderia ter evitado muitos constrangimentos, principalmente quando nem imaginava que a irmã mais nova dosValenthina tinha passado tanto tempo gostando dele.Bom, entender aquilo tinha sido o mais perturbador durante toda a viagem de volta para casa.Ele entrou na casa que osValenthina moravam e por já se sentir em casa, não tocou a campainha ou bateu à porta. Colocou o capacete no sofá claro que de
- E você planeja casar com ela e ter seis filhos? –Enrico cruzou os braços com uma das sobrancelhas arqueadas, sabendo bem que tinha ganhado aquela discussão quando viu o mais idiota da dupla bufar derrotado, ainda que mascarasse isso.- Sinceramente? Vai te catar! –Marcelo rolou os olhos e se encolheu um pouco mais na bancada.Não era possível que estivesse brigando com o melhor amigo da vida, por causa daquilo,Angel não era nenhuma inocente eEnrico sabia muito bem. Se ela queria, ela fazia e ninguém impedia o furacão que a menina mulher se tornava.- Não dá para conversar com você, eu me importo comAngel sim. Eu me senti um merda quando ela me contou tudo e sendo bem sincero, não estou melhor agora! – o suspiro escapou frustrado.O irmão da moça enfiou os dedos entre os cabelos e respirou fundo. Ele não ia intern
– Acabei comprando umas roupas legais e uma sandália para usar nas bodas. Pelo visto, vai ser o evento do ano, né?- Nem me fale! – o homem coçou a cabeça e se recostou no banco como se escorresse por lá. Essa história de aniversário de casamento em conjunto estava tirando o juízo dele, principalmente quandoMarcelo não tinha qualquer plano de casar, justamente para evitar aquele estresse.- Não sabia que você andava a pé! –Angel engatou a primeira marcha, pronta para sair do acostamento.- Comi demais no fim de semana. Tem que queimar a gordura! –Marcelo soltou uma risada espontânea quando afivelava o cinto de segurança e ouviu um resmungo duvidoso da garota.- Continua do mesmo jeito de antes dessa extrapolada. – ela alegou e pelo canto do olho, viu o homem dar de ombros. A moça suspirou e com a concentraç&
- Entregue, filhote exemplar! – ela desligou o automóvel e encolheu os ombros, fazendo um bico que tenderia a ser infantil, mas atingiu o amigo ao lado de uma forma completamente diferente.Ele soltou uma risada anasalada e entendeu que não fazia mal brincar um pouco com a situação que os dois tinham se metido, por mais que sua cabeça gritasse que ele se controlasse com certas brincadeiras que não conseguiria controlar em um futuro próximo.- Não vou te beijar, não adianta insistir! – o bico foi zoado prontamente.- Quem falou em beijo? Você quer um beijo? –Angel fez a linha confusa.- Você vai ser informada com antecedência. –Marcelo piscou extremamente sinuoso, vendo um sorriso malandro surgir nos lábios mais do que convidativos da filha mais nova dosValenthina . – Tchau,Angel, valeu pela carona! – os dois riram com
- Fala sério! -Angel voltou ao assunto de o melhor amigo tocar na banda e o abraçou mais uma vez. - Então a gente precisa almoçar para conversar sobre isso! - ela piscou.- Amanhã! - ele instituiu. - E não aceito resposta negativa!A despedida se instituiu com mais alguns beijinhos na bochecha e após um abraço apertado, cada um seguiu seu caminho na corrida matinal.Angel abraçou o irmão de lado e recebeu a casquinha mista com bastante gosto.- Vocês deveriam namorar! -Enrico soltou como se não fosse algo muito importante.- Eu sou uma bruxa desapegada, meu anjo! - a mulher fez um bico ridículo e os dois riram. - Minha missão no mundo é beijar homens solteiros e encantá-los.- Porra,Angel! - o mais velho soltou um berro esganiçado e apertou-a um pouco mais pelos ombros. - Mas vamos? Ou vão nos crucificar por demo
- É o que enfermeiro faz para cuidar de doente, não é? – ela piscou ao despejar apenas um comprido na palma da mão dele.Marcelo olhou para mão desgostoso e suspirou derrotado ao se encostar na bancada que contornava a pia.- Também acho. –Marcelo repetiu o piscado. – É seu trabalho, sua vocação!- Tapado! – a mulher xingou e os dois riram alto. – Toma a aspirina e eu vou procurar a compressa nas gavetas dessa casa.- Você que manda, enfermeira! – ele jogou a capsula na boca e com ajuda de um gole de água, sentiu ela descer rasgando a garganta.Marcelo fez uma careta desgostosa pelo incomodo e sacudiu de leve a cabeça como se aquilo fosse melhorar seu estado, mas pode considerar uma certa piora na atenção assim que viuAngel agachada perto da última gaveta dos armários. Óbvio que ela não e