Tara
Em frente ao espelho, fecho o último botão da minha blusa social branca, deslizando em seguida as mãos pela saia lápis que realçava minhas curvas.
Meu cabelo estava preso em um coque quase perfeito, assim como a maquiagem suave daquela manhã. Após mais uma olhada no espelho, me afastei dele, pegando minha bolsa. Eu sabia que não estava esquecendo nada, o que significava que para enfrentar o trânsito caótico de Nova York.
Minutos mais tarde, atravesso o amplo saguão da empresa em direção ao elevador. O ambiente estava impregnado com uma atmosfera de seriedade, as pessoas movendo-se com determinação e foco em mais um dia de trabalho.
Entro no elevador com outras pessoas, e o silêncio reina enquanto o ascensor sobe, andar por andar, em seu ritmo tranquilo. É como se cada andar fosse um pequeno intervalo de tempo, onde as pessoas são deixadas em seus destinos específicos.
À medida que avançamos, somos reduzidos a apenas dois: eu e outro homem. Quando as portas se abrem finalmente, ele segue pelo corredor adjacente. Eu sigo em frente, adentrando o espaço familiar da recepção.
A secretária do dia anterior ergue-se de sua mesa com um sorriso afável. Seus trajes coloridos e cabelos meticulosamente arrumados indicam uma personalidade vibrante e calorosa, alguém que parece estar sempre de bom humor, irradiando um sorriso constante.
Deduzi instantaneamente que ela era o tipo de pessoa que mantinha um bom humor constante e um sorriso nos lábios, independentemente das circunstâncias.
— Olá novamente — Cumprimento com um aceno enquanto me aproximava — Como estão as coisas essa manhã?
Seu sorriso se alargou um pouco mais, iluminando ainda mais seu rosto.
— Bom dia! Nada de muito excitante ainda, mas estamos apenas começando, não é?
Ergo as sobrancelhas, me forçando a ser gentil, mesmo não querendo.
— Sr. Delaney já chegou.
— Oh! — diz em extâse, apontando um dedo na minha direção — Ainda não, o que dá tempo de revisar todos os compromissos de hoje e checar a agenda dele — Outro sorriso surge em seguida.
Assinto lentamente, forçando um breve sorriso, apreciando sua disposição inabalável.
— É verdade. Bem, acho que vou começar o dia com uma xícara de café. Tenha um bom dia!
Ela acenou em resposta enquanto eu me afastava, sentindo-me revigorado pela breve interação. Era reconfortante saber que, mesmo em meio à rigidez corporativa, ainda havia espaço para um pouco de calor humano. Até demais.
Ao adentrar a sala, sou saudada por um ambiente que parece ter sido meticulosamente preparado.
Um aroma fresco de limpeza permeia o ar, como se cada canto da sala tivesse sido minuciosamente polido momentos antes da minha chegada.
Os móveis estão dispostos de forma estratégica, criando um fluxo harmonioso no espaço. Cada objeto parece ter sido cuidadosamente colocado em seu devido lugar, sem um único deslize.
No entanto, algo chama minha atenção de imediato: a ausência de porta-retratos. Enquanto meu olhar vagueia pela mesa retangular em busca de lembranças capturadas em fotografias, não encontro nenhum vestígio delas. É como se o Sr. Delaney tivesse escolhido deliberadamente manter sua mesa livre de qualquer registro pessoal.
Essa ausência de fotografias sorridentes ou lembranças de momentos felizes me causa estranheza. Esperava encontrar imagens de um último feriado em Aspen ou talvez momentos especiais com a família e amigos.
Enquanto me inclinava sobre a mesa, examinando a agenda meticulosamente organizada do Sr. Delaney, um arrepio percorre minha espinha.
Consciente da necessidade de manter as aparências, finjo estar totalmente absorto no trabalho, mesmo que meu coração esteja acelerado pela sensação de ser observado.
Com um movimento sutil, ergo o canto da boca em um sorriso contido, desviando meu olhar para as janelas panorâmicas que oferecem uma visão deslumbrante do topo dos prédios.
Imagino o que passaria pela mente do Sr. Delaney ao me olhar nos olhos, no entanto, quando finalmente reúno coragem para me virar, não encontro o homem que esperava ver.
Em vez disso, me deparo com uma figura desconhecida, cujos olhos me observam com curiosidade.
Uma onda de desconforto se espalha por mim enquanto tento disfarçar minha surpresa com um sorriso educado, ansioso para descobrir quem é essa pessoa e qual é o motivo de sua presença na sala do Sr. Delaney.
Encaro sua mão ao ser estendida em minha direção, antes de voltar a encará-lo.
— Suponho que seja a nova secretária — Ele recolhe a mão poucos segundos depois, quando não há nenhum contato — Mason Teller — Balanço a cabeça de um lado para o outro, imaginando que deveria ser apenas mais um funcionário curioso, querendo fazer amizade ou algo do tipo.
Fecho a agenda sobre a mesa, girando os calcanhares, disposta em demonstrar que a última coisa que queria naquele momento era fazer amizade.
— Ocuparei o lugar do meu padrasto pelos próximos meses — Paro de andar a poucos passos da porta, acreditando que não havia escutado direito.
— O que disse? — pergunto, o olhando por cima do ombro. Ele continuava no mesmo lugar, com as mãos dentro da calça clara e do terno que lhe cabia muito bem e que, quase realçava a beleza que tinha.
Os cabelos molhares e cortados, estavam penteados para trás. Não havia se quer uma barba ou indício dela em seu rosto e, seus olhos... bem, tinha a impressão que brilhavam no rosto com um leve sorriso nos lábios vermelhos.
— Otto está se aposentando, mas se tudo der certo, dentro de alguns meses terá outra pessoa no meu lugar.
Não me importava qual era a função dele, as palavras dele não paravam de girar em um espiral em minha mente.
Simplesmente não acreditava que Otto estava se aposentando, logo agora que havia conseguido um meio de me vingar por tudo que fez.
Podia sentir a frustração e a raiva me dominando pouco a pouco e, por um momento esqueci aonde estava. Pressiono meus lábios com força, tencionando o maxilar, encarando um ponto invisível em minha frente, já me imaginando tendo que refazer todos meus planos e no tempo que isto demoraria.
— Poderia me trazer um café? — Ele pergunta de repente, rodeando a mesa, para só então se sentar na cadeira de couro.
Fuzilo ele com o olhar, deixando óbvio o que se passava dentro de mim.
— Pode muito bem fazer isso — murmuro séria, batendo a porta da sala ao sair.
Mason Deixei de ser racional no momento em que entrei na sala que agora me pertencia e me deparei com uma bela de uma bunda inclinada na minha direção.A saia que a vestia, parecia ser justa, o tecido bom, pois não conseguia ver o formato da calcinha que a mulher na minha frente usava ou se não usava.Não quis imaginar o tipo de calcinha, pois não queria no primeiro dia sendo presidente da empresa ser acusado de assedio, mas pude olhar com atenção a medida que me aproximava e quando estava perto o bastante, inalei profundamente o perfume que seu corpo exalava; diferente da maioria das mulheres que conhecia, não era um perfume doce ou que lembrava alguma flor que não fazia ideia de qual era o nome.O aroma que me envolve é como uma brisa fresca em uma manhã de outono, sutil e intrigante.Não é doce nem floral, mas sim uma mistura de notas amadeiradas e cítricas que dançam delicadamente ao meu redor.Quando ela se vira de repente na minha direção, nossos corpos ficam separados por pou
TaraAo adentrar no pequeno apartamento, libero um suspiro pesado e descontente, jogando minha bolsa descuidadamente sobre o sofá antes de andar em direção à cozinha, após remover os saltos são prontamente perto da porta, libertando meus pés de sua prisão desconfortável.A mente minha fervilha de pensamentos negativos, e as palavras ásperas ecoavam em minha cabeça.Aquele idiota, xingo mentalmente, enquanto me movo com passos largos em direção ao armário onde guardo uma garrafa de conhaque.Não é a primeira vez que me socorro na bebida, que descobri ter um gosto peculiar há alguns meses. Uma herança não tão bem-vinda da minha mãe, cujo hábito de beber excessivamente sempre me causou angústia.No entanto, o conhaque se tornou um refúgio, uma maneira de escapar temporariamente da pressão e da dor que parecem sufocar cada aspecto da minha vida.Enquanto sirvo um pouco da bebida âmbar em um copo, sinto um certo alívio se infiltrar em minha alma inquieta. É como se cada gole fosse uma peq
Mason— Bom dia, Sr. Teller — diz Mayra, assim que passo por sua mesa. Acabo por a cumprimentar com um sorriso, sem parar de andar, entendendo finalmente o por quê Otto escolheu estar cercado por mulheres.Estar cercado por mulheres perfumadas logo cedo, deixava as coisas um pouco melhores, homens não tinham graça alguma, já as mulheres... eram um bálsamo para os olhos.Diminuo os passos ao me aproximar da mesa da minha secretária, esperando encontrá-la ali. Checo o horário no relógio do pulso andando em direção da minha sala, sendo nocauteado por um cheiro de rosas assim que passo pela porta.Franzo o cenho ao andar devagar em direção da minha mesa, notando diversos pedaços de pétalas de cor pêssego rasgadas por toda parte. À medida que me aproximo, o coração se aperta, antecipando o que vou encontrar. E ali, mais à frente, em cima da minha mesa, está o que deveria ser o buquê que mandei na noite passada para o endereço que Jen me mandou. É como se um vendaval tivesse passado por a
Era hora do almoço e poderia ignorar Mason, colocar uma distância segura entre nós, sem que perdesse a cabeça e acabasse sendo presa antes do tempo.Aperto o botão do térreo, quando o vi sair de sua sala.— Segura o elevador! — Inclino a cabeça para o lado, sem mover um músculo se quer, o observando correr e entrar no último segundo no espaço. Sorrindo, ele me olha, respirando pelos lábios entre aberto — Vai almoçar com alguém?— Não é da sua conta — digo encarando o visor dos andares.— Se importa se almoçasse com você? — Viro o rosto em sua direção, estreitando os olhos — Poderíamos almoçar juntos, como bons colegas de trabalho.Fecho meus olhos, massageando as pálpebras, tencionando meu maxilar. O único momento de paz que tinha além do final do expediente, Mason queria estragar com sua presença insuportável.Ainda assim, se quisesse minha vingança, teria que continuar fazendo pequenos sacrifícios.— Tudo bem — digo quando as portas do elevador se abrem.— Sério? — Ele pergunta sem
MasonTara não entrou em minha sala até o final do expediente, me deixando sem saber se ela havia mais uma vez interpretado mal a situação ou se simplesmente estava mantendo uma distância segura.A incerteza pairava no ar, mas no fundo, não importava muito. Não estava disposto a desistir tão facilmente.Estava me preparando para ir embora, pouco tempo depois do final do expediente, ciente de que Tara já deveria ter ido embora, quando a porta da sala abre.— Ainda aqui? — digo ao ver Jen andando em minha direção.— Estava esperando todos irem.— Por quê?— Mason — diz sorrindo, só então ergo o olhar e percebo que já havia desabotoando os primeiros botões da blusa social que vestia.— O que está fazendo? — pergunto sério.— O que acha que estou fazendo? — Ela morde o lábio inferior, tentando ser sexy.Solto o ar dos pulmões.— Estou sem tempo para isso.— O quê?Jen era uma mulher legal, sem dúvida. Ela tinha um jeito cativante e uma personalidade encantadora.No entanto, nunca a enxer
TaraEnquanto termino meu jantar, me movo de um lado para o outro na cozinha, desfrutando da sensação familiar e reconfortante de preparar uma refeição.Cozinhar sempre foi mais do que apenas uma tarefa para mim — era uma forma de expressão, uma maneira de conectar-me com minhas raízes e com as memórias preciosas que compartilhei com minha mãe.Desde que os problemas de saúde dela se tornaram mais persistentes, fui forçada a assumir o controle da situação, e isso incluía assumir as rédeas da cozinha.Me lembro vividamente dos dias em que minha mãe, confinada a uma cadeira de rodas, me ensinava os segredos da culinária enquanto ainda era apenas um pré-adolescente.Quando queria trazer um sorriso ao rosto dela, preparava seu prato favorito, recriando os sabores e aromas que tanto a confortavam.Com o aroma reconfortante do macarrão com molho branco preenchendo o ar, me acomodo diante do balcão da cozinha, ansiosa para saborear a refeição que preparei com tanto cuidado.Cada garfada é u
MasonPermaneço em um canto da sala de estar, observando silenciosamente a pequena agitação ao meu redor.Gemma, com sua habilidade natural para socializar, divide sua atenção entre os convidados, mantendo um sorriso gracioso no rosto.Minha tia, junto com seu marido e seus dois filhos adolescentes, está presente, contudo a atenção dos filhos está em outro lugar, entretidos com os dispositivos eletrônicos em suas mãos. Enquanto isso, uma amiga íntima da minha mãe se envolve em uma conversa animada com Gemma, compartilhando risadas e confidências.Do outro lado da sala, vejo Otto, com seus cabelos brancos característicos, envolvido em uma conversa com o marido da minha tia.A expressão séria em seus rostos sugere que o assunto provavelmente gira em torno de negócios, talvez até mesmo sobre ações, considerando o histórico de Otto no mundo financeiro.Enquanto os observo, me sinto um tanto deslocado, como se estivesse à margem daquela realidade social. Minha mente vagueia para longe, bus
TaraÀ medida que o telefone sobre minha mesa insistia em tocar incessantemente.Cada vez que atendia, a mesma desculpa era dada: Mason entrará em contato em breve. No entanto, a verdade era que Mason estava atrasado há uma hora, e cada tentativa de ligação para seu celular resultava em uma chamada direcionada para a caixa-postal.Minha paciência estava chegando ao limite. Cada toque do telefone parecia uma provocação da parte de Mason, um lembrete constante da falta de compromisso e da situação cada vez mais tensa em que me encontrava. A irritação crescia dentro de mim a cada segundo que passava.Na última tentativa de ligação, minha paciência finalmente se esgotou. A voz tensa e irada transpareceu em minhas palavras enquanto exprimia minha frustração para o vazio do telefone. Com um suspiro de exasperação, desligo o telefone, resignado ao fato de que a única coisa que poderia fazer era arrastar Mason até a empresa.— Aonde você vai? — Mayra pergunta, quando passo por sua mesa.— Ach