Capítulo 3

Tara

Em frente ao espelho, fecho o último botão da minha blusa social branca, deslizando em seguida as mãos pela saia lápis que realçava minhas curvas.

Meu cabelo estava preso em um coque quase perfeito, assim como a maquiagem suave daquela manhã. Após mais uma olhada no espelho, me afastei dele, pegando minha bolsa. Eu sabia que não estava esquecendo nada, o que significava que para enfrentar o trânsito caótico de Nova York.

Minutos mais tarde, atravesso o amplo saguão da empresa em direção ao elevador. O ambiente estava impregnado com uma atmosfera de seriedade, as pessoas movendo-se com determinação e foco em mais um dia de trabalho.

Entro no elevador com outras pessoas, e o silêncio reina enquanto o ascensor sobe, andar por andar, em seu ritmo tranquilo. É como se cada andar fosse um pequeno intervalo de tempo, onde as pessoas são deixadas em seus destinos específicos.

À medida que avançamos, somos reduzidos a apenas dois: eu e outro homem. Quando as portas se abrem finalmente, ele  segue pelo corredor adjacente. Eu sigo em frente, adentrando o espaço familiar da recepção.

A secretária do dia anterior ergue-se de sua mesa com um sorriso afável. Seus trajes coloridos e cabelos meticulosamente arrumados indicam uma personalidade vibrante e calorosa, alguém que parece estar sempre de bom humor, irradiando um sorriso constante.

 Deduzi instantaneamente que ela era o tipo de pessoa que mantinha um bom humor constante e um sorriso nos lábios, independentemente das circunstâncias.

— Olá novamente —  Cumprimento com um aceno enquanto me aproximava — Como estão as coisas essa manhã?

Seu sorriso se alargou um pouco mais, iluminando ainda mais seu rosto.

— Bom dia! Nada de muito excitante ainda, mas estamos apenas começando, não é?

Ergo as sobrancelhas, me forçando a ser gentil, mesmo não querendo.

— Sr. Delaney já chegou.

— Oh! — diz em extâse, apontando um dedo na minha direção — Ainda não, o que dá tempo de revisar todos os compromissos de hoje e checar a agenda dele — Outro sorriso surge em seguida.

Assinto lentamente, forçando um breve sorriso, apreciando sua disposição inabalável.

— É verdade. Bem, acho que vou começar o dia com uma xícara de café. Tenha um bom dia!

Ela acenou em resposta enquanto eu me afastava, sentindo-me revigorado pela breve interação. Era reconfortante saber que, mesmo em meio à rigidez corporativa, ainda havia espaço para um pouco de calor humano. Até demais.

Ao adentrar a sala, sou saudada por um ambiente que parece ter sido meticulosamente preparado.

Um aroma fresco de limpeza permeia o ar, como se cada canto da sala tivesse sido minuciosamente polido momentos antes da minha chegada.

Os móveis estão dispostos de forma estratégica, criando um fluxo harmonioso no espaço. Cada objeto parece ter sido cuidadosamente colocado em seu devido lugar, sem um único deslize.

No entanto, algo chama minha atenção de imediato: a ausência de porta-retratos. Enquanto meu olhar vagueia pela mesa retangular em busca de lembranças capturadas em fotografias, não encontro nenhum vestígio delas. É como se o Sr. Delaney tivesse escolhido deliberadamente manter sua mesa livre de qualquer registro pessoal.

Essa ausência de fotografias sorridentes ou lembranças de momentos felizes me causa estranheza. Esperava encontrar imagens de um último feriado em Aspen ou talvez momentos especiais com a família e amigos.

Enquanto me inclinava sobre a mesa, examinando a agenda meticulosamente organizada do Sr. Delaney, um arrepio percorre minha espinha.

Consciente da necessidade de manter as aparências, finjo estar totalmente absorto no trabalho, mesmo que meu coração esteja acelerado pela sensação de ser observado.

Com um movimento sutil, ergo o canto da boca em um sorriso contido, desviando meu olhar para as janelas panorâmicas que oferecem uma visão deslumbrante do topo dos prédios.

Imagino o que passaria pela mente do Sr. Delaney ao me olhar nos olhos, no entanto, quando finalmente reúno coragem para me virar, não encontro o homem que esperava ver.

Em vez disso, me deparo com uma figura desconhecida, cujos olhos me observam com curiosidade.

Uma onda de desconforto se espalha por mim enquanto tento disfarçar minha surpresa com um sorriso educado, ansioso para descobrir quem é essa pessoa e qual é o motivo de sua presença na sala do Sr. Delaney.

Encaro sua mão ao ser estendida em minha direção, antes de voltar a encará-lo.

— Suponho que seja a nova secretária — Ele recolhe a mão poucos segundos depois, quando não há nenhum contato — Mason Teller — Balanço a cabeça de um lado para o outro, imaginando que deveria ser apenas mais um funcionário curioso, querendo fazer amizade ou algo do tipo.

Fecho a agenda sobre a mesa, girando os calcanhares, disposta em demonstrar que a última coisa que queria naquele momento era fazer amizade.

— Ocuparei o lugar do meu padrasto pelos próximos meses — Paro de andar a poucos passos da porta, acreditando que não havia escutado direito.

— O que disse? — pergunto, o olhando por cima do ombro. Ele continuava no mesmo lugar, com as mãos dentro da calça clara e do terno que lhe cabia muito bem e que, quase realçava a beleza que tinha.

Os cabelos molhares e cortados, estavam penteados para trás. Não havia se quer uma barba ou indício dela em seu rosto e, seus olhos... bem, tinha a impressão que brilhavam no rosto com um leve sorriso nos lábios vermelhos.

— Otto está se aposentando, mas se tudo der certo, dentro de alguns meses terá outra pessoa no meu lugar.

Não me importava qual era a função dele, as palavras dele não paravam de girar em um espiral em minha mente.

Simplesmente não acreditava que Otto estava se aposentando, logo agora que havia conseguido um meio de me vingar por tudo que fez.

Podia sentir a frustração e a raiva me dominando pouco a pouco e, por um momento esqueci aonde estava. Pressiono meus lábios com força, tencionando o maxilar, encarando um ponto invisível em minha frente, já me imaginando tendo que refazer todos meus planos e no tempo que isto demoraria.

— Poderia me trazer um café? — Ele pergunta de repente, rodeando a mesa, para só então se sentar na cadeira de couro.

Fuzilo ele com o olhar, deixando óbvio o que se passava dentro de mim.

— Pode muito bem fazer isso — murmuro séria, batendo a porta da sala ao sair.

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