Capítulo 6

 Mason

— Bom dia, Sr. Teller — diz Mayra, assim que passo por sua mesa. Acabo por a cumprimentar com um sorriso, sem parar de andar, entendendo finalmente o por quê Otto escolheu estar cercado por mulheres.

Estar cercado por mulheres perfumadas logo cedo, deixava as coisas um pouco melhores, homens não tinham graça alguma, já as mulheres... eram um bálsamo para os olhos.

Diminuo os passos ao me aproximar da mesa da minha secretária, esperando encontrá-la ali. Checo o horário no relógio do pulso andando em direção da minha sala, sendo nocauteado por um cheiro de rosas assim que passo pela porta.

Franzo o cenho ao andar devagar em direção da minha mesa, notando diversos pedaços de pétalas de cor pêssego rasgadas por toda parte.

 À medida que me aproximo, o coração se aperta, antecipando o que vou encontrar. E ali, mais à frente, em cima da minha mesa, está o que deveria ser o buquê que mandei na noite passada para o endereço que Jen me mandou. É como se um vendaval tivesse passado por ali, deixando apenas destroços para trás.

O buquê está todo estrupiado, suas flores despetaladas, caídas em desordem, um retrato da devastação. A mensagem no verso do cartão amassado que o acompanhava chama minha atenção, com uma letra rápida e nada feminina: “Poderia ser você em pedaços pela sala, mas achei mais conveniente ser esse buquê ridículo.”

Ridículo?!, grito na minha cabeça incrédulo. Aquelas rosas custaram 21 milhões! Será que pelo menos ela estava ciente disso?

Amasso mais uma vez o cartão, o jogando sob minha mesa, colocando minhas mãos na cintura, notando ao virar Tara na porta da minha sala, impecavelmente bonita, mas sem esboçar se quer um sorriso.

Com certeza aquela mulher não era normal.

— Poderia ter dito que não gostou — Forço um sorriso — A maioria das mulheres gostam de rosas.

— Não sou como a maioria das mulheres — Inspiro, fechando os olhos por uns segundos. Certo, mereci isso, concluo.

— Pelo menos pensou melhor.

Ela mantém os dedos cruzados das mãos em frente do corpo.

— Não pensei, por hora preciso desse emprego — Em seguida, ela gira os calcanhares, saindo meu campo de visão.

Invés de estar com raiva, só conseguia pensar: Que mulher era aquela?, com um leve sorriso no rosto.

A pedido de Tara, a moça da limpeza limpou todas as pétalas da sala, com uma expressão que deixava claro que queria saber o que havia acontecido. Seus olhos inquisitivos pareciam implorar por uma explicação, mas, em vez disso, ela apenas deixou a sala novamente limpa e saiu sem que eu percebesse. Minutos depois, Tara entra na minha sala, enumerando tudo o que tinha naquela manhã.

Enquanto ela falava, colocando papéis em minha frente para assinar, lutava para prestar atenção em suas palavras. Minha mente estava divagando, incapaz de se concentrar em qualquer coisa além das imagens do buquê destroçado e da mensagem dilacerante que havia encontrado momentos antes.

Observo seus lábios se movendo, mas as palavras parecem distantes, ecoando em minha mente enquanto tento processar o que aconteceu.

Seu corpo, os gestos delicados e o jeito como ela se movimenta pela sala, tudo parece em câmera lenta, como se o tempo estivesse se arrastando diante da minha perplexidade.

— Espero não estar interrompendo — Desvio o olhar de Tara para Gemma que entrava na sala. Tara sustenta o olhar Gemma ao passar por ela, a olhando com atenção — Sua secretária? — Gemma volta a olhar para mim, quando a porta se fecha.

— Mais bonita do que a Sra. Lars.

Sra. Lars começou a trabalhar para Otto assim que ele assumiu a presidência, dizem que ela estava em sua melhor forma, quando assumiu o cargo de secretária e que até mesmo teve um caso com o meu padrasto que, mesmo com todos ops boatos correndo pela empresa e correndo o risco de assinar o pedido de divórcio da Gemma, ela foi secretária dele até se aposentar.

— E como estão as coisas por aqui? — Ela anda devagar pela sala.

— Normais dentro do possível — digo assinando os papéis que Tara havia colocado sobre minha mesa.

Ela vira o rosto na minha direção.

— Se precisar de ajuda, não hesite em falar com Jen.

— Não acho que vou precisar — Ergo o olhar dos papéis, encontrando seus olhos — Minha secretária parece fazer o serviço completo.

— Só espero que ela não vá parar na sua cama. Essa cadeira... — Ela  suspira, voltando para frente da mesa — costuma corromper as pessoas.

Um breve silêncio se instala, até que ela continua a andar, talvez sentindo falta dos porta-retratos que um dia havia colocado ali.  

— E ele como está?

— Tentando aceitar que nunca mais sentará nessa cadeira — Ela para atrás da minha cadeira, massageando meus ombros, pouco antes se inclinar sobre mim — No fundo ele sabe que você é a melhor opção para a empresa e que merece uma segunda chance.

Não me sentia o mesmo desde o acidente. Cada momento era uma luta contra as memórias dolorosas que insistiam em assombrar meus pensamentos.

Parecia que uma névoa densa havia se instalado em minha mente, obscurecendo qualquer vislumbre de esperança ou fé no futuro. Por causa disso, uma voz interior insistente repetia que eu não merecia uma segunda chance.

Gemma, no entanto, deixava claro o contrário. Com sua presença constante e seu apoio inabalável, tentava me mostrar que havia luz além da escuridão em eu estava imerso. Mesmo que não quisesse estar ali, mesmo que cada célula do meu ser clamasse por isolamento e solidão.

Enquanto ela falava, tentando me envolver em conversas cotidianas ou em questões de trabalho, minha mente vagava para além da sala, para além daquele momento presente. Eu me encontrava perdido em um turbilhão de pensamentos conflitantes, lutando para encontrar uma saída desse labirinto emocional em que me via aprisionado.

— Vai ficar tudo bem, querido — diz depositando um beijo em minha bochecha, antes de andar em direção da porta — E não vou mais ocupar seu tempo.

Encaro os papéis em minha frente, o olhar fixo em um ponto invisível, enquanto movia lentamente a caneta em minha mão, antes de suspirar e voltar ao trabalho, voltando para a minha ansiedade que consistia em esperar Tara entrar na minha sala.

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