CAPÍTULO TRÊS

ATAQUE GRATUITO

Túlio a levava para casa depois da luta que ela não assistiu até o final. Entrando no veículo, colocando o cinto, ele se virou para ela e perguntou:

— Você está bem?

Ele não era mesmo normal por lhe perguntar isso e olhando para fora do carro onde o povo dispersava, ela conseguiu sorrir:

— Se eu estou bem? Foi você quem acabou de lutar! Deixe-me ver – ela virou o rosto dele, segurando o queixo dele e olhando-lhe o rosto para que visse se havia ferimentos. – Pelo menos não acertaram de novo seu olho dessa vez. Não vou mais salvá-lo, esteja avisado. Uma vez por vida é o suficiente pra mim.

Ele também riu e ligou o carro. Não queria que ela percebesse que o toque dela tinha lhe causado sentimentos diferentes.

— Estou bem. Vamos embora? Onde estava indo?

— À manicure, mas já devo ter perdido minha hora agendada. Pode me deixar no salão dela mesmo assim.

— Gostou da música? – Ele deu uma rápida olhada para ela e continuou dirigindo.

— Amei, Túlio! Obrigada, veio bem a calhar.

— Ficou muito assustada?

— Claro que fiquei, cara, você sempre me assusta, sabia? – Ela falou em tom de brincadeira e ele desviou os olhos da rua só o suficiente para lhe falar com voz séria:

— Você também me assusta.

Cloe não sabia o que responder e ficaram calados até ele a deixar de frente ao salão da manicure.

Cloe passou o fim de semana pensando e revivendo toda a manhã incomum que tivera e na segunda pela manhã, lá estava ele, esperando-a na porta de sua casa para levá-la para a escola. Conversaram trivialidades, como o filme que assistiram no fim de semana e os ensaios dela para um evento que tocaria dali há dois meses. Virou rotina para os dois os momentos em que estavam juntos, ainda que só na ida e volta das aulas dela.

Em uma manhã em que Cloe se levantou mais cedo, após molhar suas plantas, se arrumar, tomar seu café e o esperar, ela notou que estava um pouco adiantada ou Túlio estava atrasado. Resolveu esperá-lo na calçada e logo Milla, Jake e Shay se juntaram à ela.

— Então, ficamos sabendo que está dando de cima do Túlio – Milla, que fazia dias que Cloe não via e nem eram amigas, apenas conhecidas, a abordou e sua postura corporal mostrava que ela estava pronta para briga.

— Desculpe? – Cloe perguntou assustada.

— Desculpe, é o caralho! Cê tava enrabichada com o playboyzinho lá do Sambra, num tava? – Milla levantava a voz e dava passos à frente, ficando mais próxima à Cloe, talvez vendo que a garota recuava, vendo sua suposta fraqueza, a moça parecia crescer. Milla dava quase duas de Cloe, tanto em tamanho quanto em peso. Shay  e Jake pareciam querer ver sangue e se preparavam para se juntar à Milla. – Por que então veio se engraçar também pro lado do Túlio?!

— Milla, realmente não sei do que você está falando! – Cloe deu mais um passo para trás. – Namorei Cris uns dias e não estou namorando ninguém no momento, deve ser um mal entendido…

— Uma porra! Cê se acha, vadia, só porque toca piano, se acha melhor que nós aqui. Agora tá dando de cima do Túlio, achando que é a melhor de nós. Se enxerga, vadia, ele é muita areia pro seu caminhãozinho! – Ao dizer isso, Milla pareceu ficar ainda mais inflamada, a voz altíssima e Cloe viu que as três fariam picadinho dela e tentou entrar, abrindo o portão, mesmo de costas, tateava o portão na tentativa de abri-lo e pensava que não daria tempo de destrancar a porta antes delas a atacarem. Não via o carro de Túlio se aproximando, mas ouviu o motor de uma moto.

— Você é metida – Shay contribuía. – Deve tá dando igual doida pro Túlio, mas nós vamos abrir sua boceta de fora a fora com isso aqui! – Shay retirou da cintura, uma faca que até então estava coberta pela camiseta que usava. Cloe tremia e se sentia acuada, iriam acabar com ela e não a ouviam, por isso sabia que nada do que falasse adiantaria. Só tentava entrar em seu portão e se esconder em sua casa. Milla a impediu de passar pelo portão e entrar em sua casa e quando Cloe se virou, a mulher a segurou pelos cabelos com força, impedindo-a de sair.

— Ficou caladinha, né? Quer dizer que quem cala consente! – Enraivecida, Milla torcia os cabelos de Cloe, obrigando-a a se abaixar e ela já esperava a facada, quando o barulho da moto ficou mais alto, o escapamento barulhento anunciava que era uma moto forte e engolindo em seco, Cloe se virou sobre a mão pesada de Milla e viu quando o motoqueiro parou, apoiou a moto no descanso e retirou o capacete. Ela sabia que não era Túlio, pois o motoqueiro era mais alto e ela se deparou com Gringo.

— O que está acontecendo, Milla? – Ele veio andando devagar e Milla libertou os cabelos de Cloe. Shay e Jake também deram um passo para trás.

— Nada, Gringo, estávamos conversando com a Cloe. – Milla sorria para o homem, mas Cloe percebeu que estava assustada. O sorriso de Milla, ainda que falso, sumiu de seu rosto quando viu Túlio parado na calçada. Cloe também não o tinha visto ali. – Túlio? – A voz de Milla saiu esgarçada. Gringo se afastou e se encostou no carro de Túlio, ficou apenas assistindo e esperando ver o que as mulheres fariam.

— Então iam atacar Cloe, ou entendi errado? Será que sou louco? – Túlio espreitava as mulheres, o coração de Cloe nem tinha tempo de se recuperar e ainda batia descompassado.

— Não, é o que estávamos falando para Gringo, íamos conversar com ela, nada mais que isso.

— E são cabeleireiras? Por que você a agarrava pelos cabelos, ou sou mentiroso? Me corrija se eu estiver errado, por favor.

Até Cloe estava com medo dele, a frieza com que olhava para cada uma das três mulheres, mais parecia uma presa prestes a dar o bote e as mulheres sentiam isso. E por um ínfimo segundo em que ele só olhava para Milla, os punhos cerrados ao lado do corpo, claramente furioso, foi o suficiente para que Jake e Shay saíssem correndo e ele as ignorou, concentrando-se somente em Milla e fazendo-a se encolher, a espera dos golpes.

— Creio que dado os fatos, que um ou dois dedos quebrados seriam o suficiente, o que prefere? Cabeça raspada e dois dedos quebrados ou cabelos ilesos e cinco dedos quebrados? – Túlio falava baixo, nem Gringo conseguia ouvir de onde estava, mas Cloe e a mulher ouviam-no muito bem e Milla se ajoelhou desesperada e tremendo. Túlio estava a um passo dela quando Cloe pediu:

— Não! Por favor, Túlio, não a machuque – a voz dela saiu baixa, o pedido era sincero e pareceu o fazer parar, mas não olhava para ela ainda, seus olhos gélidos ainda estavam sobre Milla, ansioso para puni-la, parecia sentir o gosto de sangue. – Por favor, estou atrasada para a aula. – Ela pediu com mais firmeza na voz e mais alto. Ele então a olhou, a expressão se acalmando como que em um passe de mágica, os punhos cerrados sendo relaxados.

— Vamos então? – Ele lhe perguntou, se distanciando de Milla.

— Sim – Cloe correu até o carro dele para tirá-lo dali logo. Gringo ria para eles, relaxado apoado no carro de Túlio, pegou seu capacete e saiu dali acelerando, o motor potente da moto rugindo até que sumisse de vista.

Túlio nem olhou para Milla que permanecia no mesmo lugar, caída de joelhos e pálida como a morte. Abrindo a porta para Cloe, Túlio deu a volta, sentou-se no banco do motorista e foram embora dali.

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