CAPÍTULO QUATRO

UMA CORRIDA DE CARRO AO VIVO!

Túlio a deixou na porta da escola de músicas e quando desligou o carro, geralmente ele nem desligava e tão logo ele descia, ele ia embora. Tendo desligado dessa vez o automóvel, olhou para ela e Cloe esperou, sabia que ele queria lhe dizer algo.

— Gosta de corridas de carros? – Perguntou meio tímido, coisa rara e Cloe abriu um sorriso para ele.

— Adoro! Sempre assisto pela tv aos domingos, mas nunca fui a uma corrida. Por isso você está sempre com esse carro esportivo?

— Curto muito carros potentes e esportivos. Vamos comigo à uma corrida hoje à noite?

Cloe foi pega de surpresa, não imaginava que ele a convidaria para esse tipo de evento, mas se lembrou que hoje seria a noite em que o professor Oscar lhes daria aula após às dezoito horas.

Túlio percebeu a indecisão no rosto dela, achando que ela não gostaria de acompanhá-lo, falou:

— Está tudo bem se não quiser ir.

— Quero sim, Túlio, acontece que hoje terei aulas à noite e meu professor não anda lá muito animado comigo desde aquele dia. Mas tenho muita curiosidade para ver de perto uma corrida. Quer saber, iremos sim e obrigada por me convidar. – O sorriso que lhe deu, deixou-o mole e aquecido por dentro e então ela desceu do carro animada e ao chegar aos degraus da escada, olhou para trás e ele ainda a olhava, abanando a mão para ele, ela subiu os degraus e foi para a aula. Encontrou Hanna de frente a sala e indo juntas ao banheiro, ela contou tudo para a amiga. O infortúnio que passara, achando que seria linchada por Milla, Shay e Jake e lhe contando também da corrida que iria.

— Minha nossa, Cloe! – Hanna a mirava do reflexo do espelho abismada, lavando as mãos na pia. – Sua vida deu um giro de trezentos e oitenta graus com esse chefe de gangue!

— Fale baixo – ela pediu. – Quer que escutem e retirem minha bolsa? Vamos, preciso dar tudo de mim na aula agora, já que não irei vir à noite.

Hanna percebeu que os olhos da amiga estavam brilhando e isso desde quando conhecera Túlio.

Quando Canibal a buscou dessa vez na aula e não Túlio, ela imaginou que ele devia estar ocupado, ficou entristecida, mas o veria mais tarde. E foi Gringo quem a buscou às dezenove horas em sua casa, Túlio o mandou pára buscá-la e se encontrariam na corrida. Cloe não se permitiu se entristecer ao ver que não era ele a buscá-la de novo, mas cumprimentou Gringo efusivamente.

— Uau, você está fabulosa! – Gringo exclamou quando ela abriu a porta. Ela havia mesmo caprichado; vestia um macacão jeans estilo jardineira e um top branco por baixo, sandálias baixas de tiras amarradas até o meio das canelas, os cabelos pretos estavam amarrados em um rabo de cavalo e a maquiagem leve, dava-lhe destaque, com um batom rosa claro, delineador preto nos olhos e sombra azul, ficara satisfeita com o resultado. Usava brincos de argola prateados, já que prendera os cabelos, optou por exagerar no tamanho dos brincos e estava linda. 

Gringo era muito bonito, e de uma maneira diferente de Túlio, pouca coisa mais alto, tinha os cabelos curtos e tão pretos que reluziam e também seus olhos de cílios grandes eram negros como a noite. Não era tão forte quanto Túlio, era mais magro, os dentes largos, queixo quadrado e barba sempre feita, lhe conferia uma beleza mais comum, era, como  Hanna costumava dizer, de parar o trânsito, sem dúvidas. Já Túlio tinha uma beleza mais rústica, cabelos à altura dos ombros, caíam em cachos desalinhados, a barba cerrada, olhos azuis, os dentes meio encavalados, era uma perdição, belezas diferentes, mas lindos, sem dúvida alguma.

— Obrigada – ela o agradeceu e pegou no aparador perto da sala sua bolsinha. Voltando para ele na porta, ela notou que ele continuava olhando-a. – O que foi?

— Entendo o motivo do chefe estar tão interessado em você. – Gringo falou e deixou-a sem saber o que responder. Não era a primeira vez que o pegava observando-a e admirando-a e saber que o chefe dele estava realmente interessado nela, deixou-a empolgada.

— Vamos? – Ela pediu, esperando ele sair para trancar a porta.

A corrida aconteceria no estádio Super Star Rancing e quando Gringo lhe disse, ela deu gritinhos de alegria. Principalmente quando soube que se sentaria bem na frente e poderia ver de bem pertinho. Ficou ainda mais empolgada por saber que Túlio era um dos participantes da corrida e agora ela entendia o porquê de não ter ido buscá-la.

Chegaram ao estádio e ela o viu em frente a porta de entrada, falando com pessoas que com certeza eram responsáveis pela corrida. Mesmo estando atento à conversa séria que estava tendo, ela viu os olhos dele se iluminarem ao vê-la. Ao contrário de Gringo que a olhara de cima a baixo, Túlio capturou os olhos dela com os seus e não se desviou até ela estar ao seu lado, parecendo estar hipnotizado.

— Olá. Você está linda!

— Oi, vai correr também? – Ela estava mesmo surpresa. Ficara envergonhada com o elogio dele. Túlio vestia um macacão verde quase fluorescente com nomes de  marcas de patrocinadores na frente e atrás e estava esplêndido nessa vestimenta. O macacão o cobria dos pés à cabeça, os braços cobertos até o pulso, os cabelos soltos e rebeldes, os cachos que não permitiam ser domados, conferia uma beleza tão surreal a ele, que Cloe sentiu um frêmito em seu baixo-ventre. Ele tinha o poder de excitá-la mesmo estando coberto dos pés à cabeça.

— Pois é – ele falou e Cloe não quis atrapalhá-lo, seguindo Gringo, subiram as escadas para entrarem no estádio e tomarem posse dos lugares. Alguns motoristas afoitos já se encontravam acelerando seus carros, ansiosos, mal podiam esperar começar. Ela havia sido avisada por Gringo que estava quase na hora de começar quando chegaram e estando já em seus lugares previlegiados, aguardaram e logo foram recompensados com o aviso que saía dos muitos auto-falantes espelhados pelo estádio. Ela podia ver Túlio ao lado do carro, já pronto e encontrou os olhos dele que a procurava nos bancos das arquibancadas.

Ela não sabia que o coração dele, pela primeira vez em uma corrida, batia freneticamente unicamente porque ela estava ali e o assistiria. Transformando o nervosismo em pensamentos voltados à corrida, passou a se sentir invencível e quando a corrida começou, Cloe viu que o carro dele foi o primeiro a sair. Ela era acostumada a assistir às corridas e o narrador dali, falava o mesmo que o dos programas que ela assistia, sua voz saía pelos auto-falantes e ele dizia que Túlio queimara a largada e que isso poderia prejudicá-lo. Mas ele não parava e fazia as curvas desajeitado, como amador e não como o cara que corria há anos! Cloe percebeu que roía as unhas.

— Ele está diferente – falou Gringo no ouvido dela. – Não costuma fazer essas manobras.

Cloe chacoalhou a cabeça em concordância e manteve os olhos fixos na pista de corrida. Só conseguia ver o carro de Túlio. O narrador continuava narrando, falava de cada corredor, cada nome e voltava ao de Túlio, dizendo o mesmo que Gringo havia dito, que ele estava distraído e diferente e quando o carro dele saiu da pista e ela viu fumaça, não consegui segurar um grito e se pôr de pé.

— O que houve? – Gritou ela para ser ouvida por Gringo acima da voz do narrador. Cloe estava enraivecida com o problema que dera no carro dele e o culpava por ter saído tão rápido e ter feito curvas insanas.Planejava xingá-lo, ah, se iria! Mas o próprio narrador respondeu:

— Parece que Túlio está tendo problemas com seu carro, pessoal. Vamos aguardar que ele volte à pista e tente compensar…

A voz do homem se perdeu na mente de Cloe, ansiosa, ela via técnicos e mecânicos acudindo Túlio e os outros participantes passando correndo por ele, ganhando a dianteira. Ela nunca tinha vibrado e sofrido tanto em uma corrida e quando ele voltou à disputa, ela respirou aliviada e novamente ficou histérica e batia o pé no chão, inconscientemente a cada corredor que ele ultrapassou. No que pareceram horas, a corrida estava chegando ao fim e Túlio estava novamente chegando ao primeiro lugar, faltavam apenas três corredores para ele ultrapassar e ganhar e sem perceber que Gringo a assistia, contendo a risada, sem olhar para a pista, ele achava muito mais interessante assistir as reações dela, eram muito mais divertidas, ela se remexia no assento até que gritou e pulou quando Túlio atingiu a linha de chegada como vencedor. Cloe pulava e agarrada a Gringo, fazia-o também pular junto.

O pensamento de acabar com ele sumiu de sua mente quando o viu vencer e quando ele desceu do carro, retirou o capacete, os cabelos cacheados dourados rebeldes soltos, e rindo para ela, veio até ela e Gringo que os esperavam ao lado da pista eveio e a abraçou. Cleo aproveitou aquele momento mágico, a raiva esquecida, a preocupação desaparecida, ela só se deixava ser abraçada por ele que a retirou do chão, as mãos em sua cintura, o cheiro dele se impregnando nela, ela estava feliz. Feliz como não se lembrava de já ter sido antes.

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