O Cowboy e a mulher do mafioso
O Cowboy e a mulher do mafioso
Por: Carla Cadete
Capítulo 1

Capítulo 1

Milão - Itália

A tarde que estava tranquila na mansão Moretti foi rompida de forma abrupta. O jardineiro, que cuidava pacientemente das roseiras no jardim, parou de podar ao ouvir os gritos furiosos do patrão e o som de vidros se estilhaçando.

Dentro da imponente mansão, Giovanni Moretti, um dos mais temido chefe da máfia, estava à beira de perder o controle. Seus gritos ecoavam pelos corredores, e o ódio que sentia por seu pai era quase palpável. O homem era um vulcão prestes a explodir.

Seus olhos escureceram quando avistou a esposa entrando no escritório, observando a destruição que ele causara. Um lampejo de desgosto atravessou seu rosto.

— O que você está fazendo aqui? Saia! — Giovanni rugiu, virando-se abruptamente para pegar o telefone. Com uma pressa frenética, discou o número de um velho conhecido. — Paolo? "Ciao". Mande a garota para cá. Preciso me distrair.

Desligando o telefone com força, ele se voltou para a esposa, agora observando-a com desprezo.

— O que foi? Já mandei você sair. Não me provoque, ou você vai se arrepender. Além de tudo, o maldito do meu pai me traiu. Mas ele vai pagar com a vida!

Ela o encarou, sem dizer nada, deixando que o silêncio falasse por si. Sua mente a levou de volta ao início de tudo, quando Giovanni a cortejava com promessas de amor e luxo. Um ano de casamento, e esse mesmo homem havia se tornado seu maior pesadelo.

— Você está me traindo? — Sua voz saiu hesitante.

— Traindo? — Giovanni riu, um som sombrio e sem humor. — Você é fria demais para mim. Ultimamente, parece uma estátua de gelo na cama. Eu quero mulheres que gritem meu nome, que se entreguem sem limites. Algo que você nunca vai entender. Agora, suma da minha frente antes que eu perca a paciência.

— Eu não vou tolerar mais uma traição, Giovanni. — Seus olhos brilharam com raiva, coisa que ela estava reprimindo por meses.

— Como ousa falar comigo desse jeito? — O tom dele era letal, a fúria crescente. — Saia agora, ou eu mudo de ideia e você vai se lembrar de quem manda aqui.

— Não seria a primeira vez — respondeu, a voz firme, mas o corpo tremendo por dentro.

O comentário dela foi como um tapa na cara de Giovanni. Sem pensar, ele avançou sobre ela com a brutalidade de sempre. Agarrando-a pelos cabelos, ele a jogou com força contra a parede. Ela se retraiu, sabendo o que viria em seguida.

A mão dele se ergueu no ar, e o som seco do tapa preencheu a sala. Giulia caiu no chão, o gosto metálico do sangue enchendo sua boca enquanto o mundo ao seu redor escurecia. Giovanni a observou por um momento, antes de se virar, ignorando o corpo dela no chão.

Quando finalmente abriu os olhos, tudo ao seu redor estava quieto. Com uma dor intensa no rosto e no corpo, ela se arrastou até o sofá para conseguir se erguer, sabendo que aquele seria o último dia que passaria naquela casa. Ela não aguentaria mais. Era hora de fugir.

Antes de sair do escritório, Giulia escutou murmúrios abafados vindos de uma sala próxima. Eram gemidos, misturados com a voz de Giovanni, áspera e sem qualquer resquício de pudor. Seu coração apertou no peito. A confirmação que ela temia estava ali, em alto e claro som. Ele não só a maltratava, mas agora também a traía, sem se importar com quem estivesse por perto.

Determinada a escapar daquela vida sufocante, Giulia subiu para o quarto, aproveitando a distração do marido. Seus olhos ardiam pelas lágrimas não derramadas, mas a dor física era ainda mais intensa. O tapa deixara uma marca profunda em sua face, lembrando-a de que aquele seria seu último dia naquela prisão de luxo.

Andando pelos corredores vazios da mansão, ela percebeu algo incomum: a ausência dos seguranças. O caminho estava livre. Uma chance rara e preciosa de fugir.

Chegando ao quarto, Giulia pegou um celular que havia comprado às escondidas meses antes. Ligou para um contato confiável, combinando os detalhes de sua fuga. Sabia que não tinha muito tempo. Com agilidade, preparou uma mala com o essencial e uma bolsa cheia de dinheiro que tirou do cofre. Ela havia descoberto a combinação há algumas semanas, um golpe de sorte que agora poderia salvar sua vida.

Descendo com cautela até a garagem, onde seu carro estava estrategicamente posicionado, Giulia verificou se as câmeras tinham um ponto cego. Com a mala discretamente guardada no veículo, ela se permitiu um segundo de alívio.

Ao entrar no veículo, disfarçou a marca do tapa com maquiagem. Não podia chamar atenção.

Ela respirou fundo, suas mãos tremendo ao agarrar o volante. Cada fibra do seu ser gritava de medo, mas ela sabia que tinha que manter a calma. Sem hesitar, deu partida no carro e dirigiu em direção ao portão principal.

Surpreendentemente, os seguranças abriram o portão sem questionar.

Minutos depois, Giulia acelerava pela rodovia. Seu coração batia descompassado, e a sensação de estar sendo perseguida aumentava a cada quilômetro. Ao chegar ao aeroporto, encontrou seu contato no banheiro feminino. Ele estava disfarçado e pronto para ajudá-la.

— Aqui estão as passagens, o passaporte e seu novo documento — ele disse, entregando os documentos.

— Brasil? — Ela perguntou, surpresa ao ver o destino impresso nas passagens.

— Você precisa sumir. O país não importa, mas no Brasil você estará segura, ao menos por um tempo — respondeu ele, firme.

Giulia engoliu em seco. Ela queria fugir, queria se livrar de Giovanni e da vida que ele lhe impusera. Mas a incerteza de uma nova vida a milhares de quilômetros de distância era assustadora.

— Agora vá. Seu voo sai em uma hora. Não olhe para trás — disse o contato, com urgência.

Giulia agradeceu, segurando a ansiedade que se acumulava em seu peito. Ela se dirigiu ao guichê, onde um atendente verificou seu passaporte. Seu nome falso estava perfeito, mas o medo de ser descoberta fazia suas mãos suarem.

Liberada para o embarque, ela sentiu seu corpo ficar tenso ao avistar os capangas de Giovanni entrando no saguão, armados e prontos para encontrá-la. O coração dela disparou. Eles estavam próximos. Muito próximos.

Mas, contra todas as probabilidades, Giulia conseguiu embarcar. O alívio foi imediato, mas o pânico voltou quando ouviu o som de sirenes do lado de fora, antes de decolar.

O avião fechou as portas. As sirenes pareciam se aproximar, e Giulia mal conseguia respirar, mas, finalmente, sentiu o alívio quando as rodas do avião começaram a deslizar pela pista. A decolagem estava garantida. Ela fechou os olhos, permitindo que as lágrimas finalmente caíssem. Por pouco, muito pouco, ela escapara com vida.

Agora, ela teria que enfrentar um novo destino. E o Brasil seria seu refúgio.

***

Na mansão Moretti, o foi interrompido pelo som estridente de Giovanni esmurrando a mesa. Ele rangia os dentes, o rosto tomado por uma expressão de fúria incontrolável. Giulia, sua esposa, havia fugido. E o mais revoltante: estava a caminho do Brasil.

Ao desligar o telefone com um golpe, ele se levantou bruscamente, jogando a cadeira contra a parede e gritando cheio de ira. A notícia ecoava em sua mente como um tambor incessante. Ela ousara fugir, escapar de suas garras. Uma traição que ele jamais imaginara possível. Nunca a perdoaria.

Com passos rápidos, pegou o celular novamente, discando um número que não usava há muito tempo. Do outro lado da linha, atendeu uma voz grossa de alguém que devia muitos favores ao mafioso.

— Ela está indo para o Brasil. Eu quero Giulia de volta. Viva — ordenou, sem dar espaço para questionamentos. — Não me importa como vocês farão isso, apenas tragam-na. Se ela resistir, lidem com ela. Mas a quero viva.

A voz do outro lado concordou com um breve "Sim, senhor", e Giovanni desligou, sentindo o gosto amargo.

Ele se aproximou da janela, observando o jardim da mansão, as mãos ainda tremendo de raiva. Giulia podia correr, mas não havia lugar no mundo em que ele não pudesse encontrá-la. Giovanni sabia que, mais cedo ou mais tarde, sua esposa retornaria, arrastada de volta, se necessário. E quando isso acontecesse, ela conheceria o verdadeiro significado de ser sua prisioneira.

O mafioso respirou fundo, tentando controlar a maré de emoções que o dominava. O Brasil não era o fim da linha para Giulia. Apenas o começo de um jogo mais perigoso.

***

Giulia finalmente sentia o avião rasgar os céus, cada segundo a afastando do inferno que era a vida ao lado de Giovanni. No entanto, mesmo a milhares de metros de altura, sabia que o perigo estava longe de acabar. Ela tinha plena consciência de que Giovanni não aceitaria essa fuga tão facilmente.

Giulia finalmente pousou no Brasil, mas, ao invés de se esconder em uma grande cidade, decidiu fugir para o interior de Minas Gerais, buscando uma pequena cidade onde pudesse se camuflar. A tranquilidade do lugar seria a sua melhor proteção. O ônibus que a levou até a cidadezinha serpenteava por estradas rurais, e Giulia aproveitou o caminho para tentar acalmar as emoções em sua mente.

Ao descer na rodoviária, o ar era diferente, o clima era mais ameno, e a paisagem, bucólica.

"Aqui eles não me encontrarão", pensou.

Carregando a bolsa com dinheiro e a pequena mala, ela caminhou. Enquanto andava, passou em frente a um mercado pequeno, onde pretendia entrar para comprar mantimentos.

No entanto, antes de entrar, um barulho de pneu cantando no asfalto a paralisou. Uma criança corria despreocupada da calçada para atravessar a rua, e Giulia percebeu que um carro descia rapidamente pela estrada em sua direção, parecia fora de controle. Sem pensar duas vezes, ela largou sua bolsa no chão e correu com toda a força, conseguindo agarrar a menina que tinha cerca de dez anos no último segundo.

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