Capítulo 3
Carlos estacionou a caminhonete em frente à imensa casa rústica. Giulia ficou imediatamente encantada com a beleza simples e acolhedora da casa rústica. - A casa é linda - disse Giulia, ainda admirada enquanto saía do carro. Carlos sorriu, notando a expressão no rosto dela, e levou a mala e sacolas para dentro. Giulia o seguiu, seus olhos ainda presos na paisagem ao redor, onde a vastidão dos campos verdes parecia se estender pelo horizonte. Enquanto Vitória corria para a área gourmet para ver o que os cozinheiros tinham preparado para o café da tarde, Carlos tirou o chapéu, passando a mão pelos cabelos castanhos antes de recolocá-lo de maneira prática e habitual. - Fique à vontade - disse ele com um aceno de cabeça, enquanto caminhava em direção ao escritório. Giulia o seguiu, curiosa. O escritório era aconchegante, com móveis de madeira escura e paredes decoradas com prateleiras cheias de livros e alguns troféus de montaria. Carlos abriu uma gaveta e, sem cerimônia, puxou um coldre duplo, colocando-o na cintura e ajustando-o nas pernas. Giulia observou em silêncio, fascinada com a calma com que ele pegava duas armas e começava a carregá-las com a mesma precisão de quem já fez aquilo centenas de vezes. Ele pegou uma caixa de munição e colocou nos bolsos, suas mãos trabalhando com rapidez, mas sem qualquer sinal de pressa. Antes de sair, ele olhou para Giulia, que ainda estava observando cada movimento dele. - Se quiser pegar um cavalo e dar uma volta, fique à vontade. Só não vá muito longe para não se perder - disse ele enquanto caminhava até a porta da frente, o tom firme, mas não autoritário. Giulia assentiu com a cabeça, um leve sorriso nos lábios, ainda fascinada com o lugar. Embora tivesse crescido cercada por luxo e ostentação, havia algo naquela simplicidade que a atraía profundamente. Carlos abriu a porta e saiu, deixando Giulia sozinha, absorvendo tudo à sua volta. Giulia seguiu Carlos até o estábulo. Ela o observou enquanto ele selava um cavalo branco de crina longa e brilhante. A cena era quase hipnotizante, e ela não conseguiu conter o comentário. - Ele é lindo - disse, admirada. Carlos olhou por cima do ombro e sorriu de leve. - Ela é linda - corrigiu com suavidade. - Essa aqui é a Floco de Neve, a égua mais ágil e rápida da fazenda. - Ele parou por um momento, puxando a sela com firmeza e ajustando as correias. - Mas é a única que você não deve montar. Ela exige muito do cavaleiro e precisa de mãos experientes. Não quero que você corra nenhum risco. Giulia assentiu, respeitando o aviso, mas algo dentro dela despertou. A ideia de cavalgar por aquelas terras abertas, sentir o vento nos cabelos e deixar um pouco da tensão para trás era tentadora. Antes que pudesse se conter, as palavras saíram de sua boca. - Posso ir com você? - perguntou, surpreendendo até a si mesma com a espontaneidade. Carlos parou por um momento, olhando-a nos olhos como se estivesse avaliando a pergunta. Depois de alguns segundos, um leve sorriso puxou os cantos de seus lábios. - Claro - respondeu. - Vou fazer a ronda da tarde pela fazenda, seria bom ter companhia. Giulia sentiu-se empolgada e sorriu. Ele terminou de selar a égua, e então caminhou até outro compartimento do estábulo para preparar um cavalo para ela, um belo animal castanho. - Este aqui é o Tormenta. É dócil, mas rápido quando precisa. Vai se dar bem com ele - disse Carlos, entregando-lhe as rédeas e pegando um chapéu de palha entregando para ela. Giulia acariciou o pescoço do cavalo, sentindo o calor da pele e o movimento dos músculos por baixo da pelagem brilhante. Com a ajuda de Carlos, ela montou, ajustando-se na sela. Carlos subiu em Floco de Neve com uma naturalidade que mostrava o quanto estava acostumado à vida ali. Ele deu um leve toque com os calcanhares na lateral da égua, que começou a trotar tranquilamente à frente. - Vamos dar uma olhada nos limites das cercas - explicou enquanto avançavam em um ritmo confortável. - Sempre verifico se está tudo em ordem antes do pôr do sol. Com a seca desse ano, temos que ficar atentos a qualquer problema. Giulia seguiu ao lado dele, o vento suave acariciando seu rosto enquanto cavalgavam por entre as vastas planícies. O silêncio entre eles era confortável, apenas interrompido pelo som dos cascos dos cavalos no chão e o farfalhar das árvores ao redor. - Esse lugar é incrível - disse ela depois de alguns minutos, quebrando o silêncio. - Não imaginava que pudesse ser tão... tranquilo. Carlos olhou para ela, os olhos sob a aba do chapéu brilhando com certa curiosidade. - É um bom lugar para recomeçar - disse ele, em um tom que sugeria que ele sabia mais do que estava dizendo. Ela sorriu, mas não respondeu de imediato. Havia uma verdade nas palavras dele que a tocava de uma maneira inesperada. A vida no interior, longe do caos que ela havia deixado para trás, de repente parecia a escolha certa. - E você, Giulia? O que te trouxe até essa parte do mundo? - Carlos perguntou, sem pressa. Ela mordeu o lábio, ponderando por um momento se deveria responder com sinceridade ou apenas mudar de assunto. Mas algo no jeito direto dele a fez confiar e lhe contar uma parte da verdade. - Eu... precisava de um recomeço. As coisas ficaram complicadas na minha vida, e achei que um lugar tranquilo como esse seria o melhor para... me reorganizar - disse, tentando não revelar muito. Carlos assentiu, como se compreendesse. - Bom, aqui você terá todo o espaço que precisar para isso. O caminho os levou até uma colina que oferecia uma vista deslumbrante da fazenda abaixo, com cercas se estendendo até onde os olhos alcançavam. Ele parou o cavalo e olhou ao redor, atento aos detalhes. - Tudo parece em ordem por aqui. - Carlos comentou, satisfeito. - Vamos descer até o riacho e dar uma olhada no gado. Giulia apenas assentiu, sentindo-se cada vez mais conectada àquele lugar. Eles chegaram a uma parte alta, de onde era possível ver o riacho que cortava as terras da fazenda. A vista era incrível, mas Giulia não conseguia se concentrar apenas na paisagem. De repente, seus olhos se voltaram para Carlos, o cowboy ao seu lado. Algo nele chamava a atenção de uma forma irresistível. Ele era muito mais velho do que ela, mas as laterais levemente grisalhas de seus cabelos lhe davam um charme que a fazia morder o lábio, sem perceber. Seus olhos eram atentos, como os de uma águia, sempre vigilantes, captando cada movimento ao redor. Mas não era só isso. O porte dele, a maneira como se movia com tanta naturalidade sobre o cavalo, a imponência de sua altura, os músculos visíveis através da camisa de botão que ele usava, tudo nele exalava charme. Ela mal se dava conta de que o estava observando por tempo demais, até que Carlos, com um leve sorriso no canto dos lábios, a olhou de soslaio e comentou com uma voz rouca e provocante: - Está reparando muito, não acha? Giulia ficou vermelha, surpresa por ter sido flagrada. Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse pensar em qualquer coisa, um som ensurdecedor de um motor rasgou o silêncio da tarde. - Que diabos...? - murmurou Carlos, franzindo o cenho. Ele virou a cabeça, focando seus olhos na direção do barulho, e viu um carro acelerando em alta velocidade, quebrando a cerca e vindo diretamente em direção a eles. O instinto de Carlos foi imediato; ele puxou as rédeas de Floco de Neve, virando a égua para o lado, enquanto gritava para Giulia. - Saia do caminho! O coração de Giulia disparou. Ela puxou as rédeas de Tormenta com força, mas o cavalo sentiu seu medo e começou a se agitar. Apoiando-se nos estribos, ela tentou manter o controle, enquanto Carlos, com uma habilidade impressionante, puxou sua égua para frente, parando próximo de Giulia e estendendo o braço. - Aqui, pega minha mão! - ordenou ele. Sem hesitar, Giulia segurou a mão de Carlos com força, e ele a puxou para perto, tirando-a do cavalo fazendo se sentar atrás dele. - Segure-se em mim! - Carlos ordenou, a voz firme e sem hesitação.Capítulo 4Giulia mal teve tempo de se acomodar atrás dele antes que o carro fizesse uma curva brusca e começasse a persegui-los. O motor roncava ferozmente, e a poeira subia no ar. O coração de Giulia batia descontroladamente enquanto ela se agarrava à cintura de Carlos, sentindo a dureza dos músculos dele sob as mãos.Sem perder tempo, Carlos sacou um de seus revólveres com uma mão, enquanto segurava as rédeas da égua com a outra. Com uma precisão surpreendente, ele virou o corpo para o lado, ainda trotando, e mirou no carro que se aproximava rapidamente. Sem hesitar, ele disparou.O som do tiro ecoou. O tiro foi certeiro, mas o vidro do carro era blindado. O projétil ricocheteou, e ele rosnou de frustração.— Droga! — Carlos rosnou, enquanto puxava as rédeas de Floco de Neve, fazendo a égua acelerar. — Segure firme!Giulia se apertou mais contra ele, o medo crescendo a cada segundo que passava. O carro estava se aproximando rápido demais.— Malditos... — resmungou, tentando ajustar
Capítulo 5O som repentino de um tiro ecoou no ar. Ele se virou rapidamente e viu que o capanga que foi atingido no ombro estava tentando acerta-lo. Sem hesitar, Carlos sacou o revólver e, com um tiro certeiro, tirou a vida do homem, eliminando a ameaça de uma vez por todas.Ele respirou fundo, os olhos percorrendo a área ao redor. Ao longe, avistou Floco de Neve se aproximando. A égua, com seu instinto afiado, voltou para o local, pronta para ajudar. Carlos, sem perder tempo, levantou Giulia do chão, a colocou cuidadosamente sobre a égua e subiu logo em seguida, segurando-a firme enquanto cavalgavam de volta para casa.Quando chegaram à fazenda, Carlos desceu do cavalo e carregou Giulia para dentro. Ele a colocou gentilmente no sofá da sala. Vitória, que estava do lado de fora, viu seu pai chegando com Giulia nos braços e correu para dentro, preocupada.- Pai, o que aconteceu com ela? - perguntou Vitória, já ao lado de Giulia, visivelmente ansiosa.- Ela está bem, só tomou uma pancad
Capítulo 6Carlos, depois de verificar que tudo estava tranquilo, voltou para a área gourmet para pegar uma bandeja com chá e pães caseiros. Ao retornar para a sala, seus olhos estavam atentos, ainda preocupado com o ataque. Ele sabia que aquilo não havia sido por acaso, e a tensão crescia dentro dele.Ao entrar na sala, observou as duas, e seu coração apertou por um segundo ao ver Vitória cuidando de Giulia com tanto carinho. Giulia, por sua vez, já parecia mais consciente, embora ainda visivelmente abalada.— Como está se sentindo? — Carlos perguntou, pousando a bandeja na mesinha de centro.— Melhor… acho que um dia me acostumo a levar coronhadas — ela tentou brincar, mas a dor no lado da cabeça não permitiu que continuasse rindo.Carlos sorriu de leve, mas seus olhos não esconderam a preocupação. Ele se abaixou ao lado dela, seus dedos passando pela lateral do rosto de Giulia, verificando o machucado.— Nós vamos aumentar a segurança na fazenda. Não posso permitir que algo assim a
Capítulo 7O som do telefone batendo com força contra a mesa ecoou pela sala luxuosa. Giovanni Moretti, o marido de Giulia, estava frustrado, seus olhos faiscando de raiva enquanto esfregava o rosto com as mãos. Mais uma vez, seus informantes haviam falhado em localizá-la.— Como é possível que uma mulher desapareça assim? — ele grunhiu, a voz pesada com a frustração acumulada.Seu braço direito, Paolo, observava o chefe com cautela, medindo suas palavras antes de falar.— Ela não quer ser encontrada, senhor. Fugiu para um país vasto como o Brasil, e os contatos de lá estão tendo dificuldade de rastreá-la após o sumiço de alguns capangas.Giovanni apertou os punhos com força, os dedos quase cravando na madeira da mesa.— Não é possível que eles sejam tão incompetentes! Ela não pode ir tão longe! Quero todos os meus homens em cada cidade daquele país. Ela não vai escapar.Paolo assentiu, hesitante.— Vou redobrar os esforços, senhor. Mas talvez seja melhor considerarmos outra abordagem
Capítulo 8Giulia piscou, ligeiramente envergonhada, ao perceber o quanto havia revelado. Tentando mudar de assunto, disse:— Eu não vi a Vitória.Carlos sorriu, relaxando um pouco mais na cadeira.— Ela está na escola. Meio dia e meia ela estará de volta — explicou ele, enquanto tomava outro gole de café. — Preciso que vá até a rua asfaltada buscar ela. Fica um pouco longe da entrada da fazenda. Você sabe dirigir?Giulia assentiu, mostrando interesse.— Sei. É só me mostrar onde fica, eu decoro fácil o caminho. Tenho uma excelente memória.Carlos arqueou uma sobrancelha, surpreso com a segurança dela.— Ótimo. Eu te mostro no mapa da fazenda. Confesso que é um alívio saber que pode ajudar. Vitória vai gostar de te ver lá.Carlos levantou-se e foi até uma moldura na parede, onde havia um mapa da fazenda e da região ao redor. Com calma e precisão, ele ensinou Giulia o caminho, apontando os pontos de referência, mas o que mais chamou a atenção dela foi a maneira como ele se guiava pelo
Capítulo 9Benedito, sempre atento, observou o jeito acanhado de Giulia ao olhar para Carlos. Aquilo era mais do que simples gentileza. "Tem coisa aí", pensou, mas ficou em silêncio, apenas dando um sorriso discreto enquanto todos voltavam ao trabalho após o almoço.Vitória foi para o quarto fazer seu dever de casa, deixando Giulia com algum tempo livre. Ela decidiu voltar para a área gourmet, onde encontrou o cozinheiro ocupado, se desdobrando para adiantar o trabalho. Ele lavava panelas enquanto monitorava uma massa no fogão, visivelmente apressado.Giulia, ainda um pouco tímida, ficou observando por um momento antes de se aproximar.- Posso ajudar com algo? - perguntou, a voz suave, mas com um toque de determinação.O cozinheiro olhou para ela, surpreso e, de certa forma, aliviado.- A dona quer me ajudar? Não precisa, não, dona. Aqui é meu trabalho, mas... se quiser, não vou recusar. Só toma cuidado para não se sujar, hein?Ela sorriu, e logo o cozinheiro lhe indicou algumas taref
Capítulo 10No dia seguinte...Giulia caminhava pelo corredor da casa com o coração acelerado. Cada passo que dava parecia ecoar sua ansiedade, mas ela sabia que não podia mais adiar essa conversa. As lembranças do que aconteceu e a possibilidade de mais perigos se aproximando a atormentavam, especialmente o medo de algo atingir Vitória. Isso era inaceitável para ela. Já era hora de contar tudo a Carlos.Ao passar pela janela, viu Matteo e os outros homens instalando câmeras pela fazenda. Cada movimento deles parecia confirmar que a situação estava se tornando mais séria. Eles estavam se preparando para algo maior, e Giulia sabia que parte disso era culpa do seu passado. Respirou fundo, tentando reunir a coragem que precisaria para encarar Carlos.Quando chegou à porta do escritório, parou por um instante, sentindo uma onda de medo e dúvida. "Será que ele vai me entender? Será que vai me culpar?", pensou. Mas havia algo maior em jogo, e ela não podia se dar ao luxo de hesitar. Bateu n
Capítulo 11Giulia subiu as escadas, ainda sentindo o toque de Carlos em seu rosto. Ao entrar no quarto, fechou a porta e se apoiou na superfície da penteadeira por um momento. A imagem no espelho refletia sua vulnerabilidade.Com um suspiro, ela começou a retocar a maquiagem, usando a base para cobrir a marca roxa sob seu olho e aplicando um pouco de rímel para realçar o olhar. Ao terminar, ela deu um passo atrás e se encarou, sentindo-se um pouco mais confiante, mas ciente de que os problemas ainda estavam longe de ser resolvidos.Depois de se sentir pronta, Giulia desceu até a sala, onde Vitória estava sentada no sofá, lendo um livro do Harry Potter. Assim que a viu, a menina levantou-se animada.- Giulia, vamos dar uma volta? - Vitória pediu, os olhos brilhando com expectativa.Giulia sorriu, tentando refletir a animação dela.- Claro, querida. Para onde você gostaria de ir? - Eu conheço um lago bonito! - Vitória exclamou, puxando Giulia pela mão. - Vem, é ali perto da colina!As