Capítulo 9Benedito, sempre atento, observou o jeito acanhado de Giulia ao olhar para Carlos. Aquilo era mais do que simples gentileza. "Tem coisa aí", pensou, mas ficou em silêncio, apenas dando um sorriso discreto enquanto todos voltavam ao trabalho após o almoço.Vitória foi para o quarto fazer seu dever de casa, deixando Giulia com algum tempo livre. Ela decidiu voltar para a área gourmet, onde encontrou o cozinheiro ocupado, se desdobrando para adiantar o trabalho. Ele lavava panelas enquanto monitorava uma massa no fogão, visivelmente apressado.Giulia, ainda um pouco tímida, ficou observando por um momento antes de se aproximar.- Posso ajudar com algo? - perguntou, a voz suave, mas com um toque de determinação.O cozinheiro olhou para ela, surpreso e, de certa forma, aliviado.- A dona quer me ajudar? Não precisa, não, dona. Aqui é meu trabalho, mas... se quiser, não vou recusar. Só toma cuidado para não se sujar, hein?Ela sorriu, e logo o cozinheiro lhe indicou algumas taref
Capítulo 10No dia seguinte...Giulia caminhava pelo corredor da casa com o coração acelerado. Cada passo que dava parecia ecoar sua ansiedade, mas ela sabia que não podia mais adiar essa conversa. As lembranças do que aconteceu e a possibilidade de mais perigos se aproximando a atormentavam, especialmente o medo de algo atingir Vitória. Isso era inaceitável para ela. Já era hora de contar tudo a Carlos.Ao passar pela janela, viu Matteo e os outros homens instalando câmeras pela fazenda. Cada movimento deles parecia confirmar que a situação estava se tornando mais séria. Eles estavam se preparando para algo maior, e Giulia sabia que parte disso era culpa do seu passado. Respirou fundo, tentando reunir a coragem que precisaria para encarar Carlos.Quando chegou à porta do escritório, parou por um instante, sentindo uma onda de medo e dúvida. "Será que ele vai me entender? Será que vai me culpar?", pensou. Mas havia algo maior em jogo, e ela não podia se dar ao luxo de hesitar. Bateu n
Capítulo 11Giulia subiu as escadas, ainda sentindo o toque de Carlos em seu rosto. Ao entrar no quarto, fechou a porta e se apoiou na superfície da penteadeira por um momento. A imagem no espelho refletia sua vulnerabilidade.Com um suspiro, ela começou a retocar a maquiagem, usando a base para cobrir a marca roxa sob seu olho e aplicando um pouco de rímel para realçar o olhar. Ao terminar, ela deu um passo atrás e se encarou, sentindo-se um pouco mais confiante, mas ciente de que os problemas ainda estavam longe de ser resolvidos.Depois de se sentir pronta, Giulia desceu até a sala, onde Vitória estava sentada no sofá, lendo um livro do Harry Potter. Assim que a viu, a menina levantou-se animada.- Giulia, vamos dar uma volta? - Vitória pediu, os olhos brilhando com expectativa.Giulia sorriu, tentando refletir a animação dela.- Claro, querida. Para onde você gostaria de ir? - Eu conheço um lago bonito! - Vitória exclamou, puxando Giulia pela mão. - Vem, é ali perto da colina!As
Capítulo 12Carlos entrou na cozinha da área gourmet e parou por um momento na porta. O cheiro de pão fresco no forno e o som de risadas preenchiam o ambiente. Ele observou sua filha, Vitória, radiante de felicidade enquanto brincava com Giulia e o cozinheiro Júlio.Ele ficou parado, contemplando aquela cena familiar e acolhedora. De repente, algo dentro dele despertou. Sentiu uma vontade imensa de fazer parte daquele momento. A felicidade no rosto de sua filha era algo que ele queria ver sempre, e ele percebeu que isso só era possível quando as pessoas ao redor estavam em harmonia.Sem pensar duas vezes, Carlos entrou na cozinha com um sorriso discreto.- Parece que estão se divertindo sem mim - brincou, fazendo Vitória rir e Giulia olhar para ele surpresa, com um brilho caloroso nos olhos.- Papai! - Vitória exclamou, correndo até ele com a massa ainda grudada nas mãos. - Estamos fazendo pizza e pães! Quer ajudar?Ele olhou para Júlio, que sorria de canto, claramente satisfeito em v
Capítulo 13Carlos olhou para Giulia por um momento, pensando nas inúmeras perguntas que rondavam sua mente. Ele queria entender melhor o que havia acontecido com ela, por que tinha fugido do país ao invés de procurar ajuda com a família. O que a levou a essa decisão tão drástica? No entanto, ele sabia que este não era o momento.Giulia estava magoada, e o roxo ainda disfarçado sob a maquiagem era um lembrete constante da dor que ela havia sofrido. Aquilo ainda o deixava profundamente irado. Se o marido dela realmente a amasse, jamais teria encostado a mão nela de forma tão cruel.Ele decidiu não tocar no assunto, pelo menos não naquela noite. Queria que o ambiente se mantivesse leve, então se levantou e pegou o controle da televisão.- Vou ligar a TV, procurar algo interessante para a gente assistir.Giulia assentiu levemente, ainda segurando a taça de vinho entre as mãos, os olhos vagando pelas chamas da lareira. Ela parecia tranquila, mas Carlos podia ver que o cansaço começava a p
Capítulo 14Ao entrar na área gourmet, Carlos observou Giulia enquanto ela se aproximava, o sorriso suave iluminando seu rosto. Ela era jovem, doce, e por mais que sua mente tentasse racionalizar o que estava acontecendo, algo em seu coração o puxava para ela de uma forma inexplicável.O sorriso dela o desarmava completamente, e a maneira como seus olhos brilhavam com genuína preocupação o fazia se sentir dividido entre o que considerava certo e o que desejava.- Está tudo bem? - Giulia repetiu, sua voz suave, enquanto olhava para ele com aquele carinho que ele não via há tempos, desde... desde que sua esposa se fora.Carlos piscou, tentando afastar o turbilhão de pensamentos. Ele respirou fundo, soltando o ar lentamente, e finalmente respondeu, a voz um pouco rouca.- Sim, Giulia... Está tudo bem. - Ele hesitou, mas a verdade que estava pesando em seu peito precisava ser dita. - Ou pelo menos, deveria estar.Giulia franziu levemente a testa, inclinando a cabeça de leve.- O que quer
Capítulo 15Carlos terminou de tomar o café, levantou-se e olhou para Giulia, que o observava com aquele sorriso caloroso. Ele sentiu seu coração acelerar, e por um breve momento, seu autocontrole quase falhou.- Eu... preciso continuar a colheita das uvas hoje - disse ele, tentando manter um tom casual, mas a intensidade do olhar dela parecia desnortear seus pensamentos. Ele limpou a garganta, como se tentasse esconder qualquer emoção que pudesse transparecer.- Claro, eu entendo - Giulia respondeu com um sorriso gentil.Carlos ficou parado por alguns segundos, o sorriso dela parecia iluminá-lo de uma forma que ele não conseguia explicar. Era o tipo de sorriso que o deixava vulnerável, e por mais que tentasse, não conseguia evitar ser afetado. Ele inclinou a cabeça brevemente, despedindo-se.- A gente se vê mais tarde. - Sua voz soou mais suave do que pretendia.- Até mais tarde - respondeu ela, ainda sorrindo, seus olhos seguindo-o enquanto ele se afastava.Carlos saiu da cozinha e
Capítulo 16Ele saiu da casa, tentando se livrar da confusão em sua mente. Caminhava com passos largos e firmes, como se estivesse em fuga de seus próprios pensamentos.Ao passar pela área externa, passou por Benedito, que o observou com curiosidade. Carlos passou como um furacão, sem dizer uma palavra, mal notando o funcionário que ficou ali parado, olhando ao redor, sem entender o que havia acontecido.Benedito coçou a cabeça e recolocou o chapéu. Ficou se perguntando se uma alma penada havia passado por ele, pois não via ninguém ao redor. Suspirando profundamente, começou a murmurar:- Misericórdia, meu Pai... - Benedito fez o sinal da cruz.Enquanto isso, Carlos chegava ao estábulo. Sentiu o cheiro da palha e dos cavalos, um odor reconfortante para ele. Sabia que ali, ele podia encontrar um pouco de paz. Passou a mão pelos arreios e equipamentos, tentando se acalmar."Eu não posso... não devia...", murmurou para si mesmo, esfregando o rosto com força, como se pudesse apagar o que