Capítulo 6
Carlos, depois de verificar que tudo estava tranquilo, voltou para a área gourmet para pegar uma bandeja com chá e pães caseiros. Ao retornar para a sala, seus olhos estavam atentos, ainda preocupado com o ataque. Ele sabia que aquilo não havia sido por acaso, e a tensão crescia dentro dele. Ao entrar na sala, observou as duas, e seu coração apertou por um segundo ao ver Vitória cuidando de Giulia com tanto carinho. Giulia, por sua vez, já parecia mais consciente, embora ainda visivelmente abalada. — Como está se sentindo? — Carlos perguntou, pousando a bandeja na mesinha de centro. — Melhor… acho que um dia me acostumo a levar coronhadas — ela tentou brincar, mas a dor no lado da cabeça não permitiu que continuasse rindo. Carlos sorriu de leve, mas seus olhos não esconderam a preocupação. Ele se abaixou ao lado dela, seus dedos passando pela lateral do rosto de Giulia, verificando o machucado. — Nós vamos aumentar a segurança na fazenda. Não posso permitir que algo assim aconteça de novo. Giulia o olhou, surpresa com o cuidado que ele demonstrava. — Você realmente acha que eles vão voltar? — ela perguntou. Carlos suspirou profundamente, ajustando o chapéu na cabeça. — Eu tenho certeza. E, para isso, já estou trazendo alguém para ajudar — ele disse, em um tom mais firme. — Alguém? — Giulia franziu o cenho, curiosa. — Sim, um velho amigo. Na verdade, um dos poucos em quem posso confiar cegamente. O nome dele é Mateo Villar. Ele era policial, especializado em crimes organizados, mas agora trabalha como segurança particular. É o melhor em seu campo, e vamos precisar dele. Giulia assentiu, confiando no julgamento de Carlos. Havia algo nesse homem que a fazia sentir-se mais segura, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Vitória, que estava em silêncio, olhou para o pai com olhos arregalados. — Esse Mateo... ele é bravo como o senhor, papai? — perguntou, tentando quebrar a tensão. Carlos soltou uma risada baixa. — Talvez até mais. Mas ele sabe proteger quem está sob sua guarda. Vocês vão gostar dele. *** Mais tarde naquela noite, enquanto o silêncio tomava conta da fazenda, um carro escuro parou na entrada. Mateo Villar desceu do veículo. Alto, com cabelos castanhos escuros levemente ondulados, uma barba bem aparada e um olhar firme, ele era exatamente o que Giulia imaginava de um homem que trabalhava como segurança. Carlos o cumprimentou com um forte aperto de mão e o trouxe para dentro da casa. Mateo avaliou rapidamente o ambiente, notando cada detalhe. — A fazenda está diferente desde a última vez que vim — Mateo comentou, antes de virar seu olhar para Giulia. — Essa é Giulia — Carlos apresentou. — A pessoa que você vai nos ajudar a proteger. Mateo olhou diretamente para Giulia, que se sentiu um pouco intimidada pela intensidade do olhar, mas ele sorriu de leve, dissipando um pouco da tensão. — Não se preocupe — disse Mateo, a voz grave e serena. — Enquanto eu estiver aqui, ninguém vai tocar em você. Carlos levou Mateo até o escritório, fechando a porta atrás deles para garantir privacidade. Mateo, com a postura firme, olhou para Carlos com uma expressão dura. — O que houve? — Carlos perguntou, sem rodeios, enquanto se encostava na mesa com os braços cruzados. Mateo foi direto ao ponto, seus olhos cerrados em desconfiança. — Você conhece essa mulher? — ele perguntou, com a voz baixa e grave, quase como se temesse a resposta. Carlos franziu o cenho, balançando a cabeça. — Não, não conheço. Ela apareceu aqui hoje, salvou minha filha, e agora... estamos nessa confusão. Mateo bufou, descrente. Ele andou até a janela e olhou para fora por um momento, como se tentasse organizar seus pensamentos antes de continuar. — Se aqueles capangas vieram atrás dela, boa coisa ela não é. — Mateo virou-se de volta para Carlos, os olhos fixos no amigo. — Você realmente acredita que ela é só uma turista perdida? Carlos hesitou, mas logo respondeu com firmeza: — Eu não sei. Tudo o que vi foi uma mulher tentando proteger minha filha. E isso é o suficiente para eu dar um voto de confiança, pelo menos por enquanto. Mateo não parecia convencido. Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Carlos. — Precisamos ser cautelosos, Carlos. Você sabe como essas coisas funcionam. Pessoas assim... nunca aparecem do nada. — Mateo deu uma pausa, estudando o rosto de Carlos. — E eu vi o jeito que ela olhou para você, e como você a olhou de volta. Só espero que essa sua confiança não te custe caro. Carlos olhou para o chão por um momento, refletindo sobre as palavras de Mateo. Ele sabia que o amigo tinha razão em desconfiar, mas algo dentro dele dizia que Giulia não era o problema. Ainda assim, não podia ignorar o perigo que agora os cercava. — Vou descobrir o que está acontecendo — disse Carlos. — E vou fazer isso à minha maneira. Mateo o encarou por um segundo, avaliando se o amigo estava sendo sensato ou se já estava envolvido demais. No fim, assentiu com a cabeça, aceitando a decisão de Carlos, mas sem baixar a guarda. — Tudo bem, só não deixe isso fugir do controle. — Ele se virou para sair, mas antes de abrir a porta, acrescentou: — Se precisar de mim, sabe onde me encontrar. Vou fazer o necessário para protegê-los. Voltarei o mais rápido possível. Carlos observou Mateo sair. Saiu do escritório logo após Mateo, a conversa ainda está martelando em sua cabeça. Ele sabia que o amigo tinha razão para desconfiar, mas algo o impelia a acreditar em Giulia, mesmo sem conhecê-la direito. Caminhou pela casa até encontrá-la sentada no sofá, Vitória ainda ao seu lado. — Como ela está? — perguntou Carlos. — Melhor, mas ainda um pouco tonta — respondeu Vitória, preocupada. Carlos assentiu e se aproximou de Giulia. — Vamos te levar para descansar — ele disse suavemente. Sem protestar, Giulia aceitou a ajuda de Carlos para se levantar. Vitória observou com atenção enquanto o pai a guiava pelo corredor, subindo as escadas com cuidado, passo a passo, para não sobrecarregar Giulia, que ainda se sentia fraca. O silêncio entre eles era confortável, e Carlos sentia que cuidar dela naquele momento era a única coisa certa a fazer, apesar das incertezas que rondavam sua mente. Ao chegarem ao andar superior, Carlos abriu a porta de um quarto acolhedor, decorado de maneira simples, mas com um toque rústico que combinava com o estilo da fazenda. Ele levou a mala dela até o canto do quarto e a colocou ao lado da cama. — Esse é seu quarto — disse ele, sua voz baixa e tranquila. — Se precisar de alguma coisa, o meu quarto é logo ao lado. Giulia, ainda um pouco zonza, mas grata, olhou para ele com olhos cansados, mas sinceros. — Obrigada, Carlos — murmurou ela, sua voz suave. — Eu... realmente aprecio tudo o que você está fazendo. Ele assentiu, o rosto sério, mas com um brilho de preocupação nos olhos. — Descanse. Amanhã será um novo dia. É um ditado brasileiro. Ela sorriu e olhou para a porta onde estava Vitória que disse boa noite e foi para o próprio quarto. Então, Carlos tocou a aba do chapéu e saiu dizendo boa noite, fechando a porta suavemente atrás de si. Minutos depois, Giulia se deitou na cama e ficou olhando as estrelas pelo vidro da janela e dormiu. Um sono profundo e cheio de paz, diferente do que vivia na mansão do marido.Capítulo 7O som do telefone batendo com força contra a mesa ecoou pela sala luxuosa. Giovanni Moretti, o marido de Giulia, estava frustrado, seus olhos faiscando de raiva enquanto esfregava o rosto com as mãos. Mais uma vez, seus informantes haviam falhado em localizá-la.— Como é possível que uma mulher desapareça assim? — ele grunhiu, a voz pesada com a frustração acumulada.Seu braço direito, Paolo, observava o chefe com cautela, medindo suas palavras antes de falar.— Ela não quer ser encontrada, senhor. Fugiu para um país vasto como o Brasil, e os contatos de lá estão tendo dificuldade de rastreá-la após o sumiço de alguns capangas.Giovanni apertou os punhos com força, os dedos quase cravando na madeira da mesa.— Não é possível que eles sejam tão incompetentes! Ela não pode ir tão longe! Quero todos os meus homens em cada cidade daquele país. Ela não vai escapar.Paolo assentiu, hesitante.— Vou redobrar os esforços, senhor. Mas talvez seja melhor considerarmos outra abordagem
Capítulo 8Giulia piscou, ligeiramente envergonhada, ao perceber o quanto havia revelado. Tentando mudar de assunto, disse:— Eu não vi a Vitória.Carlos sorriu, relaxando um pouco mais na cadeira.— Ela está na escola. Meio dia e meia ela estará de volta — explicou ele, enquanto tomava outro gole de café. — Preciso que vá até a rua asfaltada buscar ela. Fica um pouco longe da entrada da fazenda. Você sabe dirigir?Giulia assentiu, mostrando interesse.— Sei. É só me mostrar onde fica, eu decoro fácil o caminho. Tenho uma excelente memória.Carlos arqueou uma sobrancelha, surpreso com a segurança dela.— Ótimo. Eu te mostro no mapa da fazenda. Confesso que é um alívio saber que pode ajudar. Vitória vai gostar de te ver lá.Carlos levantou-se e foi até uma moldura na parede, onde havia um mapa da fazenda e da região ao redor. Com calma e precisão, ele ensinou Giulia o caminho, apontando os pontos de referência, mas o que mais chamou a atenção dela foi a maneira como ele se guiava pelo
Capítulo 9Benedito, sempre atento, observou o jeito acanhado de Giulia ao olhar para Carlos. Aquilo era mais do que simples gentileza. "Tem coisa aí", pensou, mas ficou em silêncio, apenas dando um sorriso discreto enquanto todos voltavam ao trabalho após o almoço.Vitória foi para o quarto fazer seu dever de casa, deixando Giulia com algum tempo livre. Ela decidiu voltar para a área gourmet, onde encontrou o cozinheiro ocupado, se desdobrando para adiantar o trabalho. Ele lavava panelas enquanto monitorava uma massa no fogão, visivelmente apressado.Giulia, ainda um pouco tímida, ficou observando por um momento antes de se aproximar.- Posso ajudar com algo? - perguntou, a voz suave, mas com um toque de determinação.O cozinheiro olhou para ela, surpreso e, de certa forma, aliviado.- A dona quer me ajudar? Não precisa, não, dona. Aqui é meu trabalho, mas... se quiser, não vou recusar. Só toma cuidado para não se sujar, hein?Ela sorriu, e logo o cozinheiro lhe indicou algumas taref
Capítulo 10No dia seguinte...Giulia caminhava pelo corredor da casa com o coração acelerado. Cada passo que dava parecia ecoar sua ansiedade, mas ela sabia que não podia mais adiar essa conversa. As lembranças do que aconteceu e a possibilidade de mais perigos se aproximando a atormentavam, especialmente o medo de algo atingir Vitória. Isso era inaceitável para ela. Já era hora de contar tudo a Carlos.Ao passar pela janela, viu Matteo e os outros homens instalando câmeras pela fazenda. Cada movimento deles parecia confirmar que a situação estava se tornando mais séria. Eles estavam se preparando para algo maior, e Giulia sabia que parte disso era culpa do seu passado. Respirou fundo, tentando reunir a coragem que precisaria para encarar Carlos.Quando chegou à porta do escritório, parou por um instante, sentindo uma onda de medo e dúvida. "Será que ele vai me entender? Será que vai me culpar?", pensou. Mas havia algo maior em jogo, e ela não podia se dar ao luxo de hesitar. Bateu n
Capítulo 11Giulia subiu as escadas, ainda sentindo o toque de Carlos em seu rosto. Ao entrar no quarto, fechou a porta e se apoiou na superfície da penteadeira por um momento. A imagem no espelho refletia sua vulnerabilidade.Com um suspiro, ela começou a retocar a maquiagem, usando a base para cobrir a marca roxa sob seu olho e aplicando um pouco de rímel para realçar o olhar. Ao terminar, ela deu um passo atrás e se encarou, sentindo-se um pouco mais confiante, mas ciente de que os problemas ainda estavam longe de ser resolvidos.Depois de se sentir pronta, Giulia desceu até a sala, onde Vitória estava sentada no sofá, lendo um livro do Harry Potter. Assim que a viu, a menina levantou-se animada.- Giulia, vamos dar uma volta? - Vitória pediu, os olhos brilhando com expectativa.Giulia sorriu, tentando refletir a animação dela.- Claro, querida. Para onde você gostaria de ir? - Eu conheço um lago bonito! - Vitória exclamou, puxando Giulia pela mão. - Vem, é ali perto da colina!As
Capítulo 12Carlos entrou na cozinha da área gourmet e parou por um momento na porta. O cheiro de pão fresco no forno e o som de risadas preenchiam o ambiente. Ele observou sua filha, Vitória, radiante de felicidade enquanto brincava com Giulia e o cozinheiro Júlio.Ele ficou parado, contemplando aquela cena familiar e acolhedora. De repente, algo dentro dele despertou. Sentiu uma vontade imensa de fazer parte daquele momento. A felicidade no rosto de sua filha era algo que ele queria ver sempre, e ele percebeu que isso só era possível quando as pessoas ao redor estavam em harmonia.Sem pensar duas vezes, Carlos entrou na cozinha com um sorriso discreto.- Parece que estão se divertindo sem mim - brincou, fazendo Vitória rir e Giulia olhar para ele surpresa, com um brilho caloroso nos olhos.- Papai! - Vitória exclamou, correndo até ele com a massa ainda grudada nas mãos. - Estamos fazendo pizza e pães! Quer ajudar?Ele olhou para Júlio, que sorria de canto, claramente satisfeito em v
Capítulo 13Carlos olhou para Giulia por um momento, pensando nas inúmeras perguntas que rondavam sua mente. Ele queria entender melhor o que havia acontecido com ela, por que tinha fugido do país ao invés de procurar ajuda com a família. O que a levou a essa decisão tão drástica? No entanto, ele sabia que este não era o momento.Giulia estava magoada, e o roxo ainda disfarçado sob a maquiagem era um lembrete constante da dor que ela havia sofrido. Aquilo ainda o deixava profundamente irado. Se o marido dela realmente a amasse, jamais teria encostado a mão nela de forma tão cruel.Ele decidiu não tocar no assunto, pelo menos não naquela noite. Queria que o ambiente se mantivesse leve, então se levantou e pegou o controle da televisão.- Vou ligar a TV, procurar algo interessante para a gente assistir.Giulia assentiu levemente, ainda segurando a taça de vinho entre as mãos, os olhos vagando pelas chamas da lareira. Ela parecia tranquila, mas Carlos podia ver que o cansaço começava a p
Capítulo 1Milão - ItáliaA tarde que estava tranquila na mansão Moretti foi rompida de forma abrupta. O jardineiro, que cuidava pacientemente das roseiras no jardim, parou de podar ao ouvir os gritos furiosos do patrão e o som de vidros se estilhaçando.Dentro da imponente mansão, Giovanni Moretti, um dos mais temido chefe da máfia, estava à beira de perder o controle. Seus gritos ecoavam pelos corredores, e o ódio que sentia por seu pai era quase palpável. O homem era um vulcão prestes a explodir.Seus olhos escureceram quando avistou a esposa entrando no escritório, observando a destruição que ele causara. Um lampejo de desgosto atravessou seu rosto.— O que você está fazendo aqui? Saia! — Giovanni rugiu, virando-se abruptamente para pegar o telefone. Com uma pressa frenética, discou o número de um velho conhecido. — Paolo? "Ciao". Mande a garota para cá. Preciso me distrair.Desligando o telefone com força, ele se voltou para a esposa, agora observando-a com desprezo.— O que foi?