Capítulo 5
O som repentino de um tiro ecoou no ar. Ele se virou rapidamente e viu que o capanga que foi atingido no ombro estava tentando acerta-lo. Sem hesitar, Carlos sacou o revólver e, com um tiro certeiro, tirou a vida do homem, eliminando a ameaça de uma vez por todas. Ele respirou fundo, os olhos percorrendo a área ao redor. Ao longe, avistou Floco de Neve se aproximando. A égua, com seu instinto afiado, voltou para o local, pronta para ajudar. Carlos, sem perder tempo, levantou Giulia do chão, a colocou cuidadosamente sobre a égua e subiu logo em seguida, segurando-a firme enquanto cavalgavam de volta para casa. Quando chegaram à fazenda, Carlos desceu do cavalo e carregou Giulia para dentro. Ele a colocou gentilmente no sofá da sala. Vitória, que estava do lado de fora, viu seu pai chegando com Giulia nos braços e correu para dentro, preocupada. - Pai, o que aconteceu com ela? - perguntou Vitória, já ao lado de Giulia, visivelmente ansiosa. - Ela está bem, só tomou uma pancada na cabeça. Fica aqui com ela. Vou ao escritório fazer uma ligação - Carlos respondeu, tentando manter a calma, mas ainda com o rosto marcado pela tensão do confronto. No escritório, ele pegou o telefone e discou rapidamente. - Marcos? Preciso da sua ajuda. Tem que ser feita uma limpeza no riacho. Vou te explicar depois - disse Carlos, a voz firme, mas carregada de urgência. Após desligar, Carlos retornou à sala. Giulia ainda estava desacordada, com Vitória ao seu lado, segurando sua mão. - Ela vai ficar bem? - perguntou Vitória, preocupada. Carlos se ajoelhou ao lado de Giulia, verificando seu estado mais uma vez. Ele suspirou, passando a mão no rosto antes de responder: - Vai sim, filha. Ela só precisa descansar um pouco. Vitória, com o rosto marcado pela preocupação, passou delicadamente a mão pelos cabelos vermelhos de Giulia. No entanto, ao sentir uma umidade, seu coração disparou. Quando olhou para seus dedos, viu que estavam manchados de sangue. - Papai! - exclamou, a voz tremendo de pânico. - Ela está machucada! Olha o sangue! Carlos, que estava ao lado delas, imediatamente se levantou ao ouvir o alarme da filha. Ele se aproximou rapidamente, afastando os cabelos de Giulia para examinar o ferimento com mais atenção. A coronhada que ela havia levado tinha aberto um corte. - Droga - murmurou Carlos, sentindo a adrenalina subir novamente. - Não é tão grave quanto parece, mas precisamos limpar isso e estancar o sangue. Vitória, ainda assustada, observava atentamente os movimentos rápidos e eficientes do pai. Carlos correu até a cozinha, pegando um kit de primeiros socorros, enquanto Vitória permanecia ao lado de Giulia, segurando sua mão. - Ela vai ficar bem, pai? - perguntou Vitória, ainda com os olhos cheios de preocupação. - Vai, filha, vai sim - respondeu Carlos, voltando para a sala com gaze, antisséptico e bandagens nas mãos. Ele se ajoelhou ao lado de Giulia, limpando cuidadosamente o ferimento enquanto falava. - O corte não é profundo. Eu já lidei com coisas bem piores na fazenda. Só precisamos mantê-la em repouso por um tempo. Enquanto ele trabalhava, Giulia começou a dar sinais de que estava recobrando a consciência. Seus olhos se abriram lentamente, e ela gemeu baixinho, sentindo uma dor aguda na cabeça. - O que... o que aconteceu? - murmurou ela, tentando entender onde estava. - Calma, você está segura agora - disse Carlos, com a voz mais suave. Giulia piscou algumas vezes, focando em Vitória e depois em Carlos. A dor ainda era intensa, mas o sorriso no rosto dele a fez relaxar um pouco. - Obrigada - disse ela, respirando fundo. - E os homens... eles foram embora? Carlos assentiu, concentrado em terminar o curativo. - Acabou, por enquanto. Mas temos que ficar atentos. Não sabemos quem eram ou o que queriam. Giulia tentou se sentar, mas Carlos colocou a mão em seu ombro, gentilmente a impedindo. - Fica deitada, Giulia. Você precisa descansar. Não se preocupe, eu vou cuidar de tudo - disse ele, com um olhar firme e protetor. Vitória sorriu, aliviada por ver que Giulia estava acordada, e ainda segurando sua mão, disse: - Você nos assustou! Eu achei que... que tinha sido pior. Mas ainda bem que meu pai está cuidando de você. Giulia sorriu fraco, sentindo o carinho na voz da menina. A situação ainda era confusa para ela, mas estava grata por estar em um lugar seguro. - Parece que cheguei aqui causando mais confusão do que queria - brincou Giulia, apesar da dor. - Não se preocupe com isso agora. Fique com ela, querida. Vou pedir para fazerem algo para comer - disse Carlos, lançando um olhar de tranquilidade para a filha antes de sair. Vitória assentiu e, assim que ele saiu, voltou sua atenção totalmente para Giulia, passando delicadamente a mão pelos cabelos vermelhos e lisos. Giulia, ainda um pouco tonta, estava prestes a agradecer quando seus ouvidos foram capturados por uma melodia suave. Dos lábios de Vitória, saiu uma bela canção, doce e carregada de emoção. Giulia ficou quieta, ouvindo enquanto a menina entoava as palavras de "Evidências", uma famosa canção sertaneja. A afinação perfeita de Vitória e a intensidade com que ela cantava surpreenderam Giulia. A letra da música, repleta de sentimentos de amor e dúvida, ressoou profundamente no coração de Giulia, que já estava vulnerável pelos acontecimentos do dia. - Quando digo que deixei de te amar... É porque eu te amo... Giulia piscou algumas vezes, impressionada. A voz da garota tinha um tom doce, mas poderoso, capaz de envolver qualquer um que a ouvisse. Quando Vitória chegou ao final da música, encontrou o olhar de Giulia, que parecia emocionada. - Você... você canta lindamente - disse Giulia, a voz um pouco rouca. Vitória sorriu timidamente, corando um pouco. - Obrigada. Eu sempre gostei dessa música, ela me faz pensar na mamãe. Giulia assentiu. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Carlos voltou à sala. - O pessoal está preparando algo leve para você. Carlos olhou para Vitória, percebendo o ambiente tranquilo que havia se instalado entre as duas. - O que vocês estavam fazendo? - perguntou ele, notando o olhar sereno de Giulia. Vitória deu de ombros, um sorriso discreto nos lábios. - Só estava cantando um pouquinho. - Ah, sim. Vitória adora cantar, parece que a música está no sangue dela. Giulia sorriu, ainda se sentindo mais leve depois de ouvir a canção. - Ela tem muito talento.Capítulo 6Carlos, depois de verificar que tudo estava tranquilo, voltou para a área gourmet para pegar uma bandeja com chá e pães caseiros. Ao retornar para a sala, seus olhos estavam atentos, ainda preocupado com o ataque. Ele sabia que aquilo não havia sido por acaso, e a tensão crescia dentro dele.Ao entrar na sala, observou as duas, e seu coração apertou por um segundo ao ver Vitória cuidando de Giulia com tanto carinho. Giulia, por sua vez, já parecia mais consciente, embora ainda visivelmente abalada.— Como está se sentindo? — Carlos perguntou, pousando a bandeja na mesinha de centro.— Melhor… acho que um dia me acostumo a levar coronhadas — ela tentou brincar, mas a dor no lado da cabeça não permitiu que continuasse rindo.Carlos sorriu de leve, mas seus olhos não esconderam a preocupação. Ele se abaixou ao lado dela, seus dedos passando pela lateral do rosto de Giulia, verificando o machucado.— Nós vamos aumentar a segurança na fazenda. Não posso permitir que algo assim a
Capítulo 7O som do telefone batendo com força contra a mesa ecoou pela sala luxuosa. Giovanni Moretti, o marido de Giulia, estava frustrado, seus olhos faiscando de raiva enquanto esfregava o rosto com as mãos. Mais uma vez, seus informantes haviam falhado em localizá-la.— Como é possível que uma mulher desapareça assim? — ele grunhiu, a voz pesada com a frustração acumulada.Seu braço direito, Paolo, observava o chefe com cautela, medindo suas palavras antes de falar.— Ela não quer ser encontrada, senhor. Fugiu para um país vasto como o Brasil, e os contatos de lá estão tendo dificuldade de rastreá-la após o sumiço de alguns capangas.Giovanni apertou os punhos com força, os dedos quase cravando na madeira da mesa.— Não é possível que eles sejam tão incompetentes! Ela não pode ir tão longe! Quero todos os meus homens em cada cidade daquele país. Ela não vai escapar.Paolo assentiu, hesitante.— Vou redobrar os esforços, senhor. Mas talvez seja melhor considerarmos outra abordagem
Capítulo 8Giulia piscou, ligeiramente envergonhada, ao perceber o quanto havia revelado. Tentando mudar de assunto, disse:— Eu não vi a Vitória.Carlos sorriu, relaxando um pouco mais na cadeira.— Ela está na escola. Meio dia e meia ela estará de volta — explicou ele, enquanto tomava outro gole de café. — Preciso que vá até a rua asfaltada buscar ela. Fica um pouco longe da entrada da fazenda. Você sabe dirigir?Giulia assentiu, mostrando interesse.— Sei. É só me mostrar onde fica, eu decoro fácil o caminho. Tenho uma excelente memória.Carlos arqueou uma sobrancelha, surpreso com a segurança dela.— Ótimo. Eu te mostro no mapa da fazenda. Confesso que é um alívio saber que pode ajudar. Vitória vai gostar de te ver lá.Carlos levantou-se e foi até uma moldura na parede, onde havia um mapa da fazenda e da região ao redor. Com calma e precisão, ele ensinou Giulia o caminho, apontando os pontos de referência, mas o que mais chamou a atenção dela foi a maneira como ele se guiava pelo
Capítulo 9Benedito, sempre atento, observou o jeito acanhado de Giulia ao olhar para Carlos. Aquilo era mais do que simples gentileza. "Tem coisa aí", pensou, mas ficou em silêncio, apenas dando um sorriso discreto enquanto todos voltavam ao trabalho após o almoço.Vitória foi para o quarto fazer seu dever de casa, deixando Giulia com algum tempo livre. Ela decidiu voltar para a área gourmet, onde encontrou o cozinheiro ocupado, se desdobrando para adiantar o trabalho. Ele lavava panelas enquanto monitorava uma massa no fogão, visivelmente apressado.Giulia, ainda um pouco tímida, ficou observando por um momento antes de se aproximar.- Posso ajudar com algo? - perguntou, a voz suave, mas com um toque de determinação.O cozinheiro olhou para ela, surpreso e, de certa forma, aliviado.- A dona quer me ajudar? Não precisa, não, dona. Aqui é meu trabalho, mas... se quiser, não vou recusar. Só toma cuidado para não se sujar, hein?Ela sorriu, e logo o cozinheiro lhe indicou algumas taref
Capítulo 10No dia seguinte...Giulia caminhava pelo corredor da casa com o coração acelerado. Cada passo que dava parecia ecoar sua ansiedade, mas ela sabia que não podia mais adiar essa conversa. As lembranças do que aconteceu e a possibilidade de mais perigos se aproximando a atormentavam, especialmente o medo de algo atingir Vitória. Isso era inaceitável para ela. Já era hora de contar tudo a Carlos.Ao passar pela janela, viu Matteo e os outros homens instalando câmeras pela fazenda. Cada movimento deles parecia confirmar que a situação estava se tornando mais séria. Eles estavam se preparando para algo maior, e Giulia sabia que parte disso era culpa do seu passado. Respirou fundo, tentando reunir a coragem que precisaria para encarar Carlos.Quando chegou à porta do escritório, parou por um instante, sentindo uma onda de medo e dúvida. "Será que ele vai me entender? Será que vai me culpar?", pensou. Mas havia algo maior em jogo, e ela não podia se dar ao luxo de hesitar. Bateu n
Capítulo 11Giulia subiu as escadas, ainda sentindo o toque de Carlos em seu rosto. Ao entrar no quarto, fechou a porta e se apoiou na superfície da penteadeira por um momento. A imagem no espelho refletia sua vulnerabilidade.Com um suspiro, ela começou a retocar a maquiagem, usando a base para cobrir a marca roxa sob seu olho e aplicando um pouco de rímel para realçar o olhar. Ao terminar, ela deu um passo atrás e se encarou, sentindo-se um pouco mais confiante, mas ciente de que os problemas ainda estavam longe de ser resolvidos.Depois de se sentir pronta, Giulia desceu até a sala, onde Vitória estava sentada no sofá, lendo um livro do Harry Potter. Assim que a viu, a menina levantou-se animada.- Giulia, vamos dar uma volta? - Vitória pediu, os olhos brilhando com expectativa.Giulia sorriu, tentando refletir a animação dela.- Claro, querida. Para onde você gostaria de ir? - Eu conheço um lago bonito! - Vitória exclamou, puxando Giulia pela mão. - Vem, é ali perto da colina!As
Capítulo 12Carlos entrou na cozinha da área gourmet e parou por um momento na porta. O cheiro de pão fresco no forno e o som de risadas preenchiam o ambiente. Ele observou sua filha, Vitória, radiante de felicidade enquanto brincava com Giulia e o cozinheiro Júlio.Ele ficou parado, contemplando aquela cena familiar e acolhedora. De repente, algo dentro dele despertou. Sentiu uma vontade imensa de fazer parte daquele momento. A felicidade no rosto de sua filha era algo que ele queria ver sempre, e ele percebeu que isso só era possível quando as pessoas ao redor estavam em harmonia.Sem pensar duas vezes, Carlos entrou na cozinha com um sorriso discreto.- Parece que estão se divertindo sem mim - brincou, fazendo Vitória rir e Giulia olhar para ele surpresa, com um brilho caloroso nos olhos.- Papai! - Vitória exclamou, correndo até ele com a massa ainda grudada nas mãos. - Estamos fazendo pizza e pães! Quer ajudar?Ele olhou para Júlio, que sorria de canto, claramente satisfeito em v
Capítulo 13Carlos olhou para Giulia por um momento, pensando nas inúmeras perguntas que rondavam sua mente. Ele queria entender melhor o que havia acontecido com ela, por que tinha fugido do país ao invés de procurar ajuda com a família. O que a levou a essa decisão tão drástica? No entanto, ele sabia que este não era o momento.Giulia estava magoada, e o roxo ainda disfarçado sob a maquiagem era um lembrete constante da dor que ela havia sofrido. Aquilo ainda o deixava profundamente irado. Se o marido dela realmente a amasse, jamais teria encostado a mão nela de forma tão cruel.Ele decidiu não tocar no assunto, pelo menos não naquela noite. Queria que o ambiente se mantivesse leve, então se levantou e pegou o controle da televisão.- Vou ligar a TV, procurar algo interessante para a gente assistir.Giulia assentiu levemente, ainda segurando a taça de vinho entre as mãos, os olhos vagando pelas chamas da lareira. Ela parecia tranquila, mas Carlos podia ver que o cansaço começava a p