Ana Kelly Narrando
O vento frio da cidade me atingiu assim que desci do ônibus. A sensação era de que o mundo ao meu redor era maior do que eu conseguiria lidar. Meu nome é Ana Kelly, tenho 25 anos. Até ontem eu tinha um emprego, hoje eu sou uma turista, morena, de cabelos negros e longos, um corpo que, dentro dos seus padrões, pode até chamar atenção. Mas, vim de um relacionamento abusivo. Na verdade, o motivo de eu estar aqui, nesta cidade, é porque precisava deixar o passado para trás e dar a volta por cima. Prédios altos se erguiam, suas sombras cobrindo as calçadas apressadas, e o som incessante de carros e buzinas me deixava levemente tonta. “Bem-vinda à metrópole”, pensei, tentando reunir coragem para dar meu primeiro passo naquele novo cenário. Uníca coisa feliz nesta cidade nova, é Karen, minha melhor amiga, ela conseguiu um quarto para mim em seu apartamento minúsculo. O plano é simples: eu ficarei aqui até encontrar um emprego e estabilizar minha vida. Saí dos meus pensamentos ao ouvir Karen me chamando para ir ao barzinho. Não pensei duas vezes e saímos juntas. Quando chegamos ao bar essa noite, depois de um dia cansativo, eu só quero relaxar. Estávamos sentadas no balcão quando percebi que um homem me observava. Alto, porte confiante, olhar penetrante. Ele se aproximou sem cerimônia. — Você parece deslocada — disse, com um tom seguro, quase arrogante. Ergui uma sobrancelha. — E você parece acostumado a falar o que pensa, mesmo quando ninguém pergunta. — Falei dando um gole na minha bebida. Um sorriso de canto surgiu nos lábios dele. — Anthony. — Ele se apresentou, como se esperasse que eu ficasse impressionada. Não fiquei. — Ana Kelly — respondi, sem emoção. Ele se inclinou um pouco mais perto, e seu perfume marcante preencheu o espaço entre nós. — Nome bonito. Assim como você. — Ele soltou a cantada mais barata do mercado. Revirei os olhos. — Se está tentando me impressionar, vai precisar de mais que elogios baratos. — Falei travando o maxilar fazendo um bico. Ele riu baixo, como se tivesse gostado do desafio. — Gosto de mulher com personalidade. — Ele por Deus lábios de um jeito sensual, e eu balancei a cabeça negando. — E eu gosto de homens que sabem ouvir um “não”. O sorriso dele diminuiu. Anthony não parecia do tipo que aceitava rejeição com facilidade. — Quem disse que eu aceito um “não” logo de cara? Inclinei-me um pouco, sem medo de encará-lo. — O tipo de homem que não entende um “não” é o tipo de homem que eu evito. Karen assistia à cena com um sorriso travesso, mas sabia quando eu não estava brincando. — Vamos, Ana — ela disse, puxando minha mão. Levantei-me sem olhar para trás. Mas antes que eu desse mais dois passos, Anthony segurou meu pulso com delicadeza, mas firmeza suficiente para me fazer parar. — Você ainda vai mudar de ideia — afirmou, sem um pingo de dúvida. Soltei meu braço devagar, olhando nos olhos dele. — Boa sorte com isso. Saí do bar sem olhar para trás, mas sentindo aquele olhar fixo em mim, como se Anthony não estivesse acostumado a perder. E eu sabia que ele não ia deixar essa noite ser apenas um encontro sem importância. A brisa fria da noite cortava a pele enquanto eu e Karen caminhávamos de volta para casa. O barulho da cidade parecia mais distante, abafado pelo turbilhão de pensamentos que giravam na minha cabeça. — Você realmente deu um gelo no cara — Karen comentou, rindo enquanto chutava uma pedrinha na calçada. Suspirei, enfiando as mãos no bolso do casaco. — Ele me pareceu do tipo que não aceita um “não” com facilidade. — Falei olhando pro chão. — Exatamente o tipo que gosta de um desafio — ela disse, arqueando a sobrancelha. Revirei os olhos. — Não estou interessada. — falei e Karen deu de ombros. — Você que sabe. Mas tenho certeza de que ele não vai esquecer você tão cedo. A última coisa que eu queria era ser lembrada por um homem daquele jeito. O olhar dele ainda queimava na minha mente, como se tivesse enxergado mais do que eu queria mostrar. Quando chegamos no apartamento, Karen bocejou alto, largando os sapatos no meio da sala. — Vou capotar. O dia foi longo. — Vai lá. Vou tomar um banho. Ela desapareceu no quarto, e eu fui direto para o banheiro. A água quente deslizou sobre minha pele, levando embora o frio da rua, mas não o desconforto que aquele encontro tinha deixado em mim. Fechei os olhos e, sem querer, flashes do passado tomaram conta da minha mente. As palavras cortantes. As mãos firmes demais no meu braço. O medo de errar qualquer coisa e pagar caro por isso. Sacudi a cabeça, tentando afastar as lembranças. — Deus me livre de homem assim — murmurei para mim mesma, rindo sem humor enquanto me secava. Vesti uma camisa larga e me joguei na cama, encarando o teto. A mente ainda estava agitada, mas o cansaço finalmente começava a pesar. Foi quando o telefone vibrou na mesinha ao lado. Franzi o cenho e peguei o aparelho. A tela mostrava uma chamada de um número desconhecido, mas o que me fez gelar foi a foto. Era ele.O cara do bar. Eu sabia o número, mas a foto dele brilhava na tela. Meus dedos apertaram o celular, o coração batendo mais rápido. — Como é que ele conseguiu meu número? — murmurei, irritada. O telefone continuava vibrando na minha mão. Eu não atendi. Mas também não consegui ignorar o arrepio que percorreu minha espinha......Anthony Narrando A fumaça do meu cigarro se dissipava no ar, subindo como se quisesse escapar da cidade que parecia me engolir. Eu observava a rua vazia, o som das buzinas distantes ecoando na madrugada. Mas minha mente estava fixada em Ana Kelly. Ela tinha saído do bar sem nem olhar para trás, como se não tivesse deixado uma marca em mim. Mas ela deixou. — Interessante — murmurei, soltando uma baforada de fumaça e segurando o copo de whisky com mais força do que o normal. Não estava com pressa de voltar para casa. Algo me dizia que ainda tinha algo em aberto. Fiquei ali, absorvendo o clima da cidade, tentando entender o que ela significava, mas também sentindo uma provocação constante. Aquela mulher não era fácil. E eu gostava disso. Nenhuma mulher que virasse as costas para mim era comum. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei. O barman passou por mim novamente, limpando o balcão sem pressa. — Conhece ela? — perguntei, jogando a pergunta como se fosse uma conversa qualquer, mas na
Anthony Narrando Ela balançou a cabeça negandö, ainda com cara de quem estava dormindo. Mas ao me ver, o sorriso se desfez rapidamente. Não era mais a mesma Carla de antes. — Você, aqui? Fala sério cara. — Ela falou com um tom ácido, tentando disfarçar a surpresa com um olhar desconfiado. — Claro que sim, Carla. Não tenho tempo para joguinhos. — Disse, empurrando a porta com força e entrando. Ela tentou recuar, mas não tinha mais espaço. — Achou que ia sair assim, sem mais nem menos? Que ia arrumar um "romancezinho" e me deixar? — Minha voz saiu em um rosnado. Ela cruzou os braços, tentando manter a pose. — Eu te avisei, Anthony. Eu não sou mais sua secretária. Não sou mais nada. Você só queria essa vida de merdä, cheia de mulheres e putarïa. Eu queria um amor, algo real. Eu ri, não de diversão, mas de desdém. Carla sempre foi assim, cheia de ilusão, pensando que eu ia mudar por ela. O problema é que ela não me conhecia como pensava que conhecia. — Amor? — Falei, me aproximand
Ana Kelly Narrando Fiquei encarando o telefone por um bom tempo, a tela iluminando meu rosto na penumbra do quarto. Meu dedo passava distraidamente sobre a tela, sem coragem de responder a mensagem de Anthony. Ele me deixou desconfortável, mas ao mesmo tempo, havia algo intrigante em sua insistência. Respirei fundo antes de finalmente tomar a decisão de responder. Toquei na tela, digitando uma resposta rápida, mas antes de enviar, hesitei. Ele tinha sido claro sobre o que queria: saber se eu queria falar com ele ou se era sobre o emprego que ele mencionou. Mas eu sabia que ele estava indo rápido demais. Algo em seu tom, na forma como ele se expôs, me fez perceber que ele não estava interessado apenas em um simples trabalho. Demorei para responder, a mente girando. No momento em que decidi que devia enviar algo para não deixar o silêncio tomar conta, o telefone vibrou novamente. Era ele, mais uma vez. Olhei a tela e hesitei mais um pouco, mas acabei atendendo. A voz dele veio
Anthony Narrando Quando desliguei o telefone, ainda estava com um sorriso estampado no rosto. Ela atendeu. Ela atendeu! Era o que eu mais queria. E mal sabia ela, mas ela seria minha. Tudo o que ela não percebeu na nossa conversa era que eu só estava começando o jogo. Cada palavra dela, cada resistência, só me fazia querer mais. Fiquei ali, com o telefone na mão, encarando a tela por mais um momento, tentando entender o que acontecia dentro de mim. Ela foi rude, direta demais, sem nenhuma emoção. Quase fria. E me perguntei: por que? Eu, que sempre consegui tudo o que queria — seja nos negócios, seja nas mulheres — não entendia como ela não se derretia ao meu charme. Não era normal. Nenhuma mulher, até agora, me enfrentou dessa maneira. Mas algo nela... algo nela mexeu comigo. Ela mal sabe, mas ela vai ser minha, eu só preciso ter paciência. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto enquanto a ideia se firmava na minha cabeça. Não era só desejo. Era mais. Algo mais profundo. A
Ana Kelly NarrandoDesci as escadas devagar, sentindo ainda o peso da noite mal dormida. O cheiro de café fresco invadiu minhas narinas antes mesmo de eu chegar à cozinha. Quando coloquei os pés no cômodo, Karen já estava sentada à mesa, comendo uma torrada, e me olhou com aquele ar de quem já sabia que eu tinha algo para contar.— Bom dia, dorminhoca! — Ela disse, com um sorriso malandro. — Dormiu bem?Revirei os olhos, pegando uma xícara e me servindo de café antes de responder.— Dormir? Mal fechei os olhos e você já estava pulando na minha cama.Ela deu de ombros, mastigando mais um pedaço da torrada.— Sinal de que você precisava acordar. Mas enfim, vai, conta. Você tá com essa cara aí...Sentei à mesa, respirando fundo antes de soltar:— Anthony me ligou.Karen travou os lábios na mesma hora, desviando o olhar como se estivesse escondendo alguma coisa. Eu franzi a testa, estreitando os olhos para ela.— Karen... Como ele conseguiu meu número?Ela engoliu seco, deu um sorrisinho
Anthony NarrandoSaí do restaurante sentindo o sangue quente correndo nas veias. Encontrar Ana Kelly daquele jeito, por acaso, só me provava o óbvio: era questão de tempo até ela se entregar.A maneira como ela me olhava, tentando disfarçar o desconforto, me divertia. Não era medo, era resistência. E isso só me deixava mais instigado.Entrei no carro e bati as mãos no volante, ainda com um sorriso no rosto.— Tá fugindo até quando, princesa? — murmurei para mim mesmo.Peguei o celular e abri nossa última conversa. Pensei em mandar uma mensagem, mas decidi esperar um pouco. Não queria que ela achasse que eu estava desesperado.Mas a verdade é que eu estava obcecado.Ela não é como as outras. Não caí nas minhas investidas, não sorri fácil, e aquele olhar desafiador fazia meu ego gritar.Dirigi de volta para o escritório, ainda com a cena fresca na mente. Ela de cabelo preso, a pele limpa, sem exageros, sem tentar chamar atenção. Mas era impossível não notar.Ao chegar, saí do carro e fu
Ana Kelly Narrando O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde a última ligação de Anthony, eu tentei ignorá-lo, mas a verdade é que ele era insistente. Todos os dias ele mandava mensagens curtas, diretas, como se estivesse certo de que eu responderia. Não respondi nenhuma.Mas o problema é que eu pensava nele....Karen percebeu. — Você tá fugindo dele por quê? — perguntou enquanto se jogava no sofá ao meu lado. — Porque ele é perigoso. — Felei, e ela franziu a testa me encarando. — Perigoso como? Ele parece mais um milionário mimado do que um mafioso. — Não sei explicar… ele tem algo que… — Como se ele tivesse o mundo aos seus pés. — Te assusta? — Ela pergunta e eu fiquei em silêncio. Karen sorriu de lado. — Ou te atrai? — Revirei os olhos e me levantei. — Eu não vim pra cá pra me envolver com ninguém. — Falei com tom de voz um pouco alterado. — Mas você já tá envolvida, amiga. Só não percebeu ainda. Joguei uma almofada nela e subi para o quarto, bufando. Ma
Anthony narrando O olhar de Ana estava atento a cada movimento meu, e eu sabia que ela estava tentando se proteger, mas a maneira como ela me observava, um misto de desconfiança e curiosidade, me fazia saber que, mesmo tentando resistir, ela não estava completamente alheia ao que estava acontecendo entre nós. Ela entrou em meu jogo, mesmo que não admitisse. A noite estava boa, a conversa fluía, e eu podia sentir que ela começava a relaxar, mesmo que um pouco. Eu estava ali para conquistar sua confiança, para descobrir até onde ela iria se entregar a essa tensão que se criava entre nós. Não era só desejo físico — embora isso também estivesse claro, talvez mais claro para mim do que para ela. Mas havia algo mais. Algo que eu sabia que ela sentia também, mas que não queria aceitar. Quando finalmente saímos do restaurante, eu podia ver que ela estava dividida. A tensão no ar era palpável. Ela se virou para mim, como se estivesse tentando achar uma saída, e não pude evitar. Aproximei-me