Capítulo 03 Ana Kelly

Ana Kelly Narrando

O vento frio da cidade me atingiu assim que desci do ônibus. A sensação era de que o mundo ao meu redor era maior do que eu conseguiria lidar.

Meu nome é Ana Kelly, tenho 25 anos. Até ontem eu tinha um emprego, hoje eu sou uma turista, morena, de cabelos negros e longos, um corpo que, dentro dos seus padrões, pode até chamar atenção.

Mas, vim de um relacionamento abusivo. Na verdade, o motivo de eu estar aqui, nesta cidade, é porque precisava deixar o passado para trás e dar a volta por cima.

Prédios altos se erguiam, suas sombras cobrindo as calçadas apressadas, e o som incessante de carros e buzinas me deixava levemente tonta. “Bem-vinda à metrópole”, pensei, tentando reunir coragem para dar meu primeiro passo naquele novo cenário.

Uníca coisa feliz nesta cidade nova, é Karen, minha melhor amiga, ela conseguiu um quarto para mim em seu apartamento minúsculo. O plano é simples: eu ficarei aqui até encontrar um emprego e estabilizar minha vida.

Saí dos meus pensamentos ao ouvir Karen me chamando para ir ao barzinho. Não pensei duas vezes e saímos juntas.

Quando chegamos ao bar essa noite, depois de um dia cansativo, eu só quero relaxar. Estávamos sentadas no balcão quando percebi que um homem me observava. Alto, porte confiante, olhar penetrante. Ele se aproximou sem cerimônia.

— Você parece deslocada — disse, com um tom seguro, quase arrogante.

Ergui uma sobrancelha.

— E você parece acostumado a falar o que pensa, mesmo quando ninguém pergunta. — Falei dando um gole na minha bebida.

Um sorriso de canto surgiu nos lábios dele.

— Anthony. — Ele se apresentou, como se esperasse que eu ficasse impressionada.

Não fiquei.

— Ana Kelly — respondi, sem emoção.

Ele se inclinou um pouco mais perto, e seu perfume marcante preencheu o espaço entre nós.

— Nome bonito. Assim como você. — Ele soltou a cantada mais barata do mercado.

Revirei os olhos.

— Se está tentando me impressionar, vai precisar de mais que elogios baratos. — Falei travando o maxilar fazendo um bico.

Ele riu baixo, como se tivesse gostado do desafio.

— Gosto de mulher com personalidade. — Ele por Deus lábios de um jeito sensual, e eu balancei a cabeça negando.

— E eu gosto de homens que sabem ouvir um “não”.

O sorriso dele diminuiu. Anthony não parecia do tipo que aceitava rejeição com facilidade.

— Quem disse que eu aceito um “não” logo de cara?

Inclinei-me um pouco, sem medo de encará-lo.

— O tipo de homem que não entende um “não” é o tipo de homem que eu evito.

Karen assistia à cena com um sorriso travesso, mas sabia quando eu não estava brincando.

— Vamos, Ana — ela disse, puxando minha mão.

Levantei-me sem olhar para trás. Mas antes que eu desse mais dois passos, Anthony segurou meu pulso com delicadeza, mas firmeza suficiente para me fazer parar.

— Você ainda vai mudar de ideia — afirmou, sem um pingo de dúvida.

Soltei meu braço devagar, olhando nos olhos dele.

— Boa sorte com isso.

Saí do bar sem olhar para trás, mas sentindo aquele olhar fixo em mim, como se Anthony não estivesse acostumado a perder.

E eu sabia que ele não ia deixar essa noite ser apenas um encontro sem importância.

A brisa fria da noite cortava a pele enquanto eu e Karen caminhávamos de volta para casa. O barulho da cidade parecia mais distante, abafado pelo turbilhão de pensamentos que giravam na minha cabeça.

— Você realmente deu um gelo no cara — Karen comentou, rindo enquanto chutava uma pedrinha na calçada.

Suspirei, enfiando as mãos no bolso do casaco.

— Ele me pareceu do tipo que não aceita um “não” com facilidade. — Falei olhando pro chão.

— Exatamente o tipo que gosta de um desafio — ela disse, arqueando a sobrancelha.

Revirei os olhos.

— Não estou interessada. — falei e Karen deu de ombros.

— Você que sabe. Mas tenho certeza de que ele não vai esquecer você tão cedo.

A última coisa que eu queria era ser lembrada por um homem daquele jeito. O olhar dele ainda queimava na minha mente, como se tivesse enxergado mais do que eu queria mostrar.

Quando chegamos no apartamento, Karen bocejou alto, largando os sapatos no meio da sala.

— Vou capotar. O dia foi longo.

— Vai lá. Vou tomar um banho.

Ela desapareceu no quarto, e eu fui direto para o banheiro. A água quente deslizou sobre minha pele, levando embora o frio da rua, mas não o desconforto que aquele encontro tinha deixado em mim. Fechei os olhos e, sem querer, flashes do passado tomaram conta da minha mente.

As palavras cortantes. As mãos firmes demais no meu braço. O medo de errar qualquer coisa e pagar caro por isso.

Sacudi a cabeça, tentando afastar as lembranças.

— Deus me livre de homem assim — murmurei para mim mesma, rindo sem humor enquanto me secava.

Vesti uma camisa larga e me joguei na cama, encarando o teto. A mente ainda estava agitada, mas o cansaço finalmente começava a pesar.

Foi quando o telefone vibrou na mesinha ao lado.

Franzi o cenho e peguei o aparelho. A tela mostrava uma chamada de um número desconhecido, mas o que me fez gelar foi a foto.

Era ele.O cara do bar. Eu sabia o número, mas a foto dele brilhava na tela.

Meus dedos apertaram o celular, o coração batendo mais rápido.

— Como é que ele conseguiu meu número? — murmurei, irritada.

O telefone continuava vibrando na minha mão.

Eu não atendi.

Mas também não consegui ignorar o arrepio que percorreu minha espinha......

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App