Capítulo 02 Anthony

Anthony Narrando

O silêncio entre mim e Bárbara era quase tão grande quanto a merda que ela acabara de presenciar.

— Você precisa superar isso. Ela não é a primeira a te deixar, e não será a última. — Bárbara soltou, quebrando o silêncio.

— Se veio aqui pra dar lição de moral, a porta é a mesma por onde Carla saiu. — Firmei a voz, e ela revirou os olhos.

Bárbara sorriu de lado, aquele maldito sorrisinho de quem acha que entende tudo.

— Um dia você vai perceber que não pode controlar tudo. Mas talvez seja tarde demais quando isso acontecer. — Ela se virou para a porta.

— Some logo da minha frente. — Cuspi as palavras.

Ela saiu, e a única coisa que ficou foi o barulho do meu próprio sangue fervendo.

Meu maxilar travava. Minhas mãos fechavam com tanta força que as unhas quase rasgavam a pele. O gosto amargo da traição de Carla ainda queimava minha língua.

Odiava perder. E odeio ainda mais perder pra alguém que não merece.

Levantei bruscamente, empurrando a cadeira para trás. Fui até a janela de vidro e encarei a cidade lá fora. Respirei fundo. Foi inútil.

Meu telefone vibrou. Peguei o aparelho com força. O nome de Victor piscava na tela.

Ligação On

— Fala. — Atendi seco.

— Anthony, preciso que você venha até o escritório. É sobre o contrato com a MF Internacional. Tem uma cláusula que pode nos prejudicar se não agirmos rápido.

Negócios. Sempre negócios. Como se qualquer coisa fosse me interessar agora.

— Tô indo. — Desliguei na cara dele.

Ligação Off

Peguei o paletó e saí do escritório sem olhar pra ninguém. No elevador, tentei me recompor. As portas se abriram, e segui direto pro carro. O motorista me esperava, mas mandei ele sair.

— Eu dirijo. — Rosnei.

O caminho foi um borrão. A cena de Carla me deixando rodava na minha cabeça como um maldito pesadelo.

Ela se foi como se eu fosse descartável. Como se eu nunca tivesse significado nada.

Quando cheguei no escritório de Victor, estacionei com brutalidade e desci do carro sem paciência. A secretária dele tentou falar algo, mas passei direto.

Entrei na sala fechando a porta com força.

— O que foi? — Disparei.

Victor me estudou antes de soltar um suspiro.

— Antes de falarmos sobre o contrato, você parece prestes a matar alguém. Aconteceu algo?

Ri sem humor. Peguei o uísque que ele sempre deixava por perto e virei tudo.

— Carla se demitiu. Vai casar. — Joguei, direto.

Victor arqueou as sobrancelhas.

— E você deixou?

— Como assim, deixei? Ela não me deu escolha. Simplesmente largou tudo e saiu.

— Você rasgou a carta de demissão, certo? — Ele perguntou e eu fiquei em silêncio.

— Sabia. — Ele riu, balançando a cabeça.

— Não nasci pra perder nada. — Falei sentindo a porrä da raiva me consumir.

— Então por que perdeu Carla? — Ele rebateu.

Meus olhos estreitaram.

— Isso não tem nada a ver com...

— Tem tudo a ver. — Ele me cortou. — Você não quer perder, mas será que, em algum momento, Carla realmente era sua?

O silêncio pesou.

Meu peito subia e descia rápido. Minhas mãos coçavam para socar algo.

Victor suspirou.

— Olha, Anthony, você não tá com cabeça pra reunião hoje. — Ele pegou a pasta. — Vai tomar um ar, esfriar a cabeça. Amanhã a gente resolve.

Ele se aproximou, me deu um tapinha no ombro, algo incomum vindo dele.

— E não esquece o que te falei sobre Carla. Às vezes, perder é a única forma de perceber o quanto já estava perdido antes.

Ele saiu.

Fiquei ali, sozinho, encarando a mesa. Minha respiração pesada preenchia o silêncio. Logo depois, saí também, voltando pro prédio onde ficava o meu escritório. Estacionei na minha vaga e subi direto pra minha sala. Meu celular vibrou.

Anthony: Tá na hora de marcar a reunião. Vou passar lá depois, já terminei com a MF Internacional.

Joguei o telefone na mesa e passei a mão pelo rosto.

Eu ia agir. Ia resolver isso do meu jeito.

E, dessa vez, Carla não ia simplesmente sair da minha vida como se nunca tivesse estado nela.

Meus passos ecoavam pelo escritório enquanto eu caminhava de um lado para o outro, a mente fervendo. O que Carla achava? Que podia simplesmente ir embora sem olhar para trás? Que eu ia aceitar isso como um qualquer? O dia passou voado e não nada produtivo.

— Isso não vai ficar assim… — murmurei para mim mesmo, sentindo o gosto da raiva na boca.

Passei a mão pelo cabelo, tentando organizar os pensamentos, mas tudo só piorava. Peguei o copo de uísque e virei o resto do líquido de uma vez. Nada adiantava. O peito ardia, a respiração pesada.

— Mulher nenhuma brinca comigo. Eu que decido quando alguém sai da minha vida.

Odiava essa sensação de descontrole, como se eu fosse apenas mais um na história dela. Eu nunca fui um homem que alguém deixa. Eu domino, eu comando.

Antes que explodisse qualquer coisa dentro daquele escritório, agarrei as chaves do carro e saí. O som da porta batendo fez algumas pessoas olharem, mas ignorei. Andei até o estacionamento, o corpo ainda carregado de tensão.

Entrei no carro e bati a porta com força. Liguei o motor e acelerei sem rumo pela cidade. O rádio tocava alguma coisa irritante, então desliguei. O silêncio era pior.

— Ela realmente acha que vai me esquecer? Que eu sou um capítulo encerrado?

Soltei um riso seco.

— Eu não aprendi a ouvir "não". — Sussurrei mim mesmo.

Dirigi sem rumo por alguns minutos, até que um bar chamou minha atenção. Parei o carro e saí, ainda sentindo aquela energia pesada no corpo.

Assim que entrei, fui direto para o balcão. Me joguei no banco, sem paciência, sem pressa. Pedi um whisky duplo, e enquanto esperava, olhei ao redor.

Duas mulheres estavam sentadas próximas, rindo e conversando como se o mundo lá fora não existisse. Uma delas olhou para mim de relance e sorriu.

Apoiei o cotovelo no balcão e passei a língua pelos lábios.

— Talvez eu precise de uma distração… — Falei olhando pra morena de cabelos negros.

Peguei o copo que o barman colocou à minha frente e levei à boca, sem tirar os olhos da loira.

Hoje à noite, eu não ia sair dali sozinho.......

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