Anthony Narrando
O silêncio entre mim e Bárbara era quase tão grande quanto a merda que ela acabara de presenciar. — Você precisa superar isso. Ela não é a primeira a te deixar, e não será a última. — Bárbara soltou, quebrando o silêncio. — Se veio aqui pra dar lição de moral, a porta é a mesma por onde Carla saiu. — Firmei a voz, e ela revirou os olhos. Bárbara sorriu de lado, aquele maldito sorrisinho de quem acha que entende tudo. — Um dia você vai perceber que não pode controlar tudo. Mas talvez seja tarde demais quando isso acontecer. — Ela se virou para a porta. — Some logo da minha frente. — Cuspi as palavras. Ela saiu, e a única coisa que ficou foi o barulho do meu próprio sangue fervendo. Meu maxilar travava. Minhas mãos fechavam com tanta força que as unhas quase rasgavam a pele. O gosto amargo da traição de Carla ainda queimava minha língua. Odiava perder. E odeio ainda mais perder pra alguém que não merece. Levantei bruscamente, empurrando a cadeira para trás. Fui até a janela de vidro e encarei a cidade lá fora. Respirei fundo. Foi inútil. Meu telefone vibrou. Peguei o aparelho com força. O nome de Victor piscava na tela. Ligação On — Fala. — Atendi seco. — Anthony, preciso que você venha até o escritório. É sobre o contrato com a MF Internacional. Tem uma cláusula que pode nos prejudicar se não agirmos rápido. Negócios. Sempre negócios. Como se qualquer coisa fosse me interessar agora. — Tô indo. — Desliguei na cara dele. Ligação Off Peguei o paletó e saí do escritório sem olhar pra ninguém. No elevador, tentei me recompor. As portas se abriram, e segui direto pro carro. O motorista me esperava, mas mandei ele sair. — Eu dirijo. — Rosnei. O caminho foi um borrão. A cena de Carla me deixando rodava na minha cabeça como um maldito pesadelo. Ela se foi como se eu fosse descartável. Como se eu nunca tivesse significado nada. Quando cheguei no escritório de Victor, estacionei com brutalidade e desci do carro sem paciência. A secretária dele tentou falar algo, mas passei direto. Entrei na sala fechando a porta com força. — O que foi? — Disparei. Victor me estudou antes de soltar um suspiro. — Antes de falarmos sobre o contrato, você parece prestes a matar alguém. Aconteceu algo? Ri sem humor. Peguei o uísque que ele sempre deixava por perto e virei tudo. — Carla se demitiu. Vai casar. — Joguei, direto. Victor arqueou as sobrancelhas. — E você deixou? — Como assim, deixei? Ela não me deu escolha. Simplesmente largou tudo e saiu. — Você rasgou a carta de demissão, certo? — Ele perguntou e eu fiquei em silêncio. — Sabia. — Ele riu, balançando a cabeça. — Não nasci pra perder nada. — Falei sentindo a porrä da raiva me consumir. — Então por que perdeu Carla? — Ele rebateu. Meus olhos estreitaram. — Isso não tem nada a ver com... — Tem tudo a ver. — Ele me cortou. — Você não quer perder, mas será que, em algum momento, Carla realmente era sua? O silêncio pesou. Meu peito subia e descia rápido. Minhas mãos coçavam para socar algo. Victor suspirou. — Olha, Anthony, você não tá com cabeça pra reunião hoje. — Ele pegou a pasta. — Vai tomar um ar, esfriar a cabeça. Amanhã a gente resolve. Ele se aproximou, me deu um tapinha no ombro, algo incomum vindo dele. — E não esquece o que te falei sobre Carla. Às vezes, perder é a única forma de perceber o quanto já estava perdido antes. Ele saiu. Fiquei ali, sozinho, encarando a mesa. Minha respiração pesada preenchia o silêncio. Logo depois, saí também, voltando pro prédio onde ficava o meu escritório. Estacionei na minha vaga e subi direto pra minha sala. Meu celular vibrou. Anthony: Tá na hora de marcar a reunião. Vou passar lá depois, já terminei com a MF Internacional. Joguei o telefone na mesa e passei a mão pelo rosto. Eu ia agir. Ia resolver isso do meu jeito. E, dessa vez, Carla não ia simplesmente sair da minha vida como se nunca tivesse estado nela. Meus passos ecoavam pelo escritório enquanto eu caminhava de um lado para o outro, a mente fervendo. O que Carla achava? Que podia simplesmente ir embora sem olhar para trás? Que eu ia aceitar isso como um qualquer? O dia passou voado e não nada produtivo. — Isso não vai ficar assim… — murmurei para mim mesmo, sentindo o gosto da raiva na boca. Passei a mão pelo cabelo, tentando organizar os pensamentos, mas tudo só piorava. Peguei o copo de uísque e virei o resto do líquido de uma vez. Nada adiantava. O peito ardia, a respiração pesada. — Mulher nenhuma brinca comigo. Eu que decido quando alguém sai da minha vida. Odiava essa sensação de descontrole, como se eu fosse apenas mais um na história dela. Eu nunca fui um homem que alguém deixa. Eu domino, eu comando. Antes que explodisse qualquer coisa dentro daquele escritório, agarrei as chaves do carro e saí. O som da porta batendo fez algumas pessoas olharem, mas ignorei. Andei até o estacionamento, o corpo ainda carregado de tensão. Entrei no carro e bati a porta com força. Liguei o motor e acelerei sem rumo pela cidade. O rádio tocava alguma coisa irritante, então desliguei. O silêncio era pior. — Ela realmente acha que vai me esquecer? Que eu sou um capítulo encerrado? Soltei um riso seco. — Eu não aprendi a ouvir "não". — Sussurrei mim mesmo. Dirigi sem rumo por alguns minutos, até que um bar chamou minha atenção. Parei o carro e saí, ainda sentindo aquela energia pesada no corpo. Assim que entrei, fui direto para o balcão. Me joguei no banco, sem paciência, sem pressa. Pedi um whisky duplo, e enquanto esperava, olhei ao redor. Duas mulheres estavam sentadas próximas, rindo e conversando como se o mundo lá fora não existisse. Uma delas olhou para mim de relance e sorriu. Apoiei o cotovelo no balcão e passei a língua pelos lábios. — Talvez eu precise de uma distração… — Falei olhando pra morena de cabelos negros. Peguei o copo que o barman colocou à minha frente e levei à boca, sem tirar os olhos da loira. Hoje à noite, eu não ia sair dali sozinho.......Ana Kelly NarrandoO vento frio da cidade me atingiu assim que desci do ônibus. A sensação era de que o mundo ao meu redor era maior do que eu conseguiria lidar. Meu nome é Ana Kelly, tenho 25 anos. Até ontem eu tinha um emprego, hoje eu sou uma turista, morena, de cabelos negros e longos, um corpo que, dentro dos seus padrões, pode até chamar atenção.Mas, vim de um relacionamento abusivo. Na verdade, o motivo de eu estar aqui, nesta cidade, é porque precisava deixar o passado para trás e dar a volta por cima.Prédios altos se erguiam, suas sombras cobrindo as calçadas apressadas, e o som incessante de carros e buzinas me deixava levemente tonta. “Bem-vinda à metrópole”, pensei, tentando reunir coragem para dar meu primeiro passo naquele novo cenário.Uníca coisa feliz nesta cidade nova, é Karen, minha melhor amiga, ela conseguiu um quarto para mim em seu apartamento minúsculo. O plano é simples: eu ficarei aqui até encontrar um emprego e estabilizar minha vida.Saí dos meus pensame
Anthony Narrando A fumaça do meu cigarro se dissipava no ar, subindo como se quisesse escapar da cidade que parecia me engolir. Eu observava a rua vazia, o som das buzinas distantes ecoando na madrugada. Mas minha mente estava fixada em Ana Kelly. Ela tinha saído do bar sem nem olhar para trás, como se não tivesse deixado uma marca em mim. Mas ela deixou. — Interessante — murmurei, soltando uma baforada de fumaça e segurando o copo de whisky com mais força do que o normal. Não estava com pressa de voltar para casa. Algo me dizia que ainda tinha algo em aberto. Fiquei ali, absorvendo o clima da cidade, tentando entender o que ela significava, mas também sentindo uma provocação constante. Aquela mulher não era fácil. E eu gostava disso. Nenhuma mulher que virasse as costas para mim era comum. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei. O barman passou por mim novamente, limpando o balcão sem pressa. — Conhece ela? — perguntei, jogando a pergunta como se fosse uma conversa qualquer, mas na
Anthony Narrando Ela balançou a cabeça negandö, ainda com cara de quem estava dormindo. Mas ao me ver, o sorriso se desfez rapidamente. Não era mais a mesma Carla de antes. — Você, aqui? Fala sério cara. — Ela falou com um tom ácido, tentando disfarçar a surpresa com um olhar desconfiado. — Claro que sim, Carla. Não tenho tempo para joguinhos. — Disse, empurrando a porta com força e entrando. Ela tentou recuar, mas não tinha mais espaço. — Achou que ia sair assim, sem mais nem menos? Que ia arrumar um "romancezinho" e me deixar? — Minha voz saiu em um rosnado. Ela cruzou os braços, tentando manter a pose. — Eu te avisei, Anthony. Eu não sou mais sua secretária. Não sou mais nada. Você só queria essa vida de merdä, cheia de mulheres e putarïa. Eu queria um amor, algo real. Eu ri, não de diversão, mas de desdém. Carla sempre foi assim, cheia de ilusão, pensando que eu ia mudar por ela. O problema é que ela não me conhecia como pensava que conhecia. — Amor? — Falei, me aproximand
Anthony NarrandoEu, Anthony Carter, 35 anos, CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do país, sou conhecido por ser implacável. Não por prazer, mas porque aprendi, desde cedo, que a vida não tem piedade. Meu pai, Richard Carter, não teve a menor cerimônia em me ensinar isso. E eu aprendi bem a lição. O mundo é uma selva, e quem vacila morre. Simples assim.Minha empresa, minha reputação, meu controle — isso não está à venda. E a traição? Não, eu não tolero traição. Não aquelas dramáticas, que os tolos se apaixonam, mas as reais, as de quem se volta contra você. Lealdade é tudo. Ou você é meu, ou você não é.Foi isso que me fez quase explodir quando Carla entrou na minha sala com aquele semblante fechado. Sabia que algo estava errado antes mesmo dela abrir a boca. Ela entrou com aquela pasta nas mãos, o semblante sério demais, e o ar estava pesado.— Desculpe, Anthony, mas... preciso conversar com você.Eu a olhei com desconfiança. Carla sempre foi a mais eficiente, a mais leal,