Ana Kelly Narrando
Desci as escadas devagar, sentindo ainda o peso da noite mal dormida. O cheiro de café fresco invadiu minhas narinas antes mesmo de eu chegar à cozinha. Quando coloquei os pés no cômodo, Karen já estava sentada à mesa, comendo uma torrada, e me olhou com aquele ar de quem já sabia que eu tinha algo para contar. — Bom dia, dorminhoca! — Ela disse, com um sorriso malandro. — Dormiu bem? Revirei os olhos, pegando uma xícara e me servindo de café antes de responder. — Dormir? Mal fechei os olhos e você já estava pulando na minha cama. Ela deu de ombros, mastigando mais um pedaço da torrada. — Sinal de que você precisava acordar. Mas enfim, vai, conta. Você tá com essa cara aí... Sentei à mesa, respirando fundo antes de soltar: — Anthony me ligou. Karen travou os lábios na mesma hora, desviando o olhar como se estivesse escondendo alguma coisa. Eu franzi a testa, estreitando os olhos para ela. — Karen... Como ele conseguiu meu número? Ela engoliu seco, deu um sorrisinho sem graça e tentou fingir que não sabia de nada. — Ah... Sei lá... Cruzei os braços, levantando a sobrancelha, já sabendo a resposta antes mesmo de ouvir. — Karen, você passou meu número pra ele? Ela fez uma careta e colocou as mãos para cima, se rendendo. — Amiga, calma! Eu tava dormindo, ele mandou mensagem e eu só... passei. Soltei um suspiro, passando a mão no rosto. — E eu achando que ele era vidente. Karen riu, tentando aliviar o clima. — Ai, Ana, pelo amor de Deus, qual o problema? O cara é bonito, bem-sucedido... Você não perde nada em conhecer melhor. Revirei os olhos, pegando um pedaço de bolo no prato. — O problema, Karen, é que eu não tô aqui pra isso. Eu vim pra recomeçar, pra viver tranquila, não pra ter macho me ligando no meio da madrugada se achando meu dono. Ela revirou os olhos. — Ai, para de drama! Conhecer gente nova não mata ninguém. E, sinceramente, depois daquele teu ex escroto, um pouco de diversão não faria mal. Respirei fundo, deixando a tensão sair aos poucos. Karen tinha razão em parte. Eu precisava seguir em frente, mas não sabia se Anthony era a melhor pessoa pra isso. — Tá bom, tá bom. Eu entendi sua intenção, obrigada. Mas faz um favor? Não passa mais meu número pra ninguém sem me avisar. Ela colocou a mão no peito, fingindo indignação. — Prometo, majestade! Soltei um riso e tomei mais um gole de café, já me sentindo mais leve. Talvez fosse um bom dia para deixar as preocupações de lado e apenas aproveitar. Terminamos o café da manhã com Karen toda animada, enquanto eu ainda tentava processar os últimos acontecimentos. — E aí, quais são os planos pro dia? — perguntei, esperando que ela falasse sobre trabalho ou algo do tipo. Mas Karen sorriu de lado e bateu a mão na mesa. — Hoje eu tô à sua disposição, madame. Vou te apresentar essa cidade direito. Levantei uma sobrancelha. — Sério? Achei que você ia trabalhar. — E te deixar aqui entediada? Nunca! Vamos dar um rolê, conhecer os melhores lugares. Sorveteria, bares, as lanchonetes que eu mais gosto... Quem sabe até um karaokê mais tarde. Soltei uma risada, me levantando junto com ela. — Tá bom, me convenceu. Vamos nessa. Saímos de casa e passamos horas explorando a cidade. Karen ia me mostrando cada canto, explicando onde as pessoas costumavam se reunir, onde a comida era boa, e até onde rolavam os melhores drinks. — Aqui, Ana, essa sorveteria tem o melhor milkshake da cidade. Sério, você precisa provar. — Ela falou eu olhei para o lugar e me animei. — Então bora pedir um! — falei rindo, entrando com ela na sorveteria. Depois de muito andar, acabamos entrando em um restaurante para almoçar. Eu estava distraída, olhando o cardápio, quando senti alguém esbarrar em mim. — Opa, foi mal— comecei a falar, mas parei assim que ergui o olhar. Era Anthony. Ele sorriu de canto, com aquele olhar intenso de sempre. — Bom te ver de novo, Ana Kelly. Fiquei sem reação por um segundo. Karen olhou para mim e depois para ele, arqueando a sobrancelha. — Te achei. — Ele disse baixinho, sem tirar os olhos de mim. E foi ali que eu soube... Esse encontro não foi coincidência. — Eu não estava perdido senhor Anthony. — Falei rindo sem graça. Meu corpo travou por um instante ao encarar Anthony tão de perto. O jeito que ele me olhava, como se já soubesse que ia me encontrar, me deixou desconfortável. — Te achei. — Ele repetiu, sem tirar os olhos de mim, e um arrepio subiu pela minha espinha. Karen, que até então só observava, resolveu se meter. — Ué, vocês marcaram de se encontrar? — perguntou, cruzando os braços. — Não. — respondi rápido, antes que ele inventasse alguma coisa. — Ainda não. — Anthony corrigiu, um sorrisinho de canto no rosto. Suspirei, tentando manter a calma. — O que você está fazendo aqui? — Perguntei, tentando não demonstrou um nervosismo. Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, inclinando levemente a cabeça. — Almoçando. E você? — O mesmo. — falei seca, mas ele continuava com aquele olhar intenso, analisando cada detalhe. Karen pigarreou e puxou o cardápio da minha mão. — Vamos pedir, Ana? Ou tem alguma coisa que precisa ser resolvida primeiro? — ela lançou um olhar sugestivo para mim. Anthony riu baixinho. — Espero que esteja aproveitando a cidade. — Estou, obrigada. — Respondi firme, tentando deixar claro que não queria prolongar a conversa. Ele ficou me encarando por mais alguns segundos e então olhou para Karen. — Cuida bem dela. — disse, como se desse uma ordem. Karen revirou os olhos e riu. — Ela não precisa de babá. — Falou cheia de graça. Ele ignorou o comentário e voltou a me encarar antes de dar um passo para trás. — Nos vemos em breve, Ana Kelly. — Falou me olhando de cima embaixo. E sem dizer mais nada, virou as costas e saiu do restaurante. Soltei um suspiro pesado, sentindo meu coração acelerado. — Ana… o que foi isso? — Karen perguntou de olhos arregalados. — Eu queria saber também. — Respondi, ainda sentindo o peso daquele olhar em mim.....Anthony NarrandoSaí do restaurante sentindo o sangue quente correndo nas veias. Encontrar Ana Kelly daquele jeito, por acaso, só me provava o óbvio: era questão de tempo até ela se entregar.A maneira como ela me olhava, tentando disfarçar o desconforto, me divertia. Não era medo, era resistência. E isso só me deixava mais instigado.Entrei no carro e bati as mãos no volante, ainda com um sorriso no rosto.— Tá fugindo até quando, princesa? — murmurei para mim mesmo.Peguei o celular e abri nossa última conversa. Pensei em mandar uma mensagem, mas decidi esperar um pouco. Não queria que ela achasse que eu estava desesperado.Mas a verdade é que eu estava obcecado.Ela não é como as outras. Não caí nas minhas investidas, não sorri fácil, e aquele olhar desafiador fazia meu ego gritar.Dirigi de volta para o escritório, ainda com a cena fresca na mente. Ela de cabelo preso, a pele limpa, sem exageros, sem tentar chamar atenção. Mas era impossível não notar.Ao chegar, saí do carro e fu
Ana Kelly Narrando O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde a última ligação de Anthony, eu tentei ignorá-lo, mas a verdade é que ele era insistente. Todos os dias ele mandava mensagens curtas, diretas, como se estivesse certo de que eu responderia. Não respondi nenhuma.Mas o problema é que eu pensava nele....Karen percebeu. — Você tá fugindo dele por quê? — perguntou enquanto se jogava no sofá ao meu lado. — Porque ele é perigoso. — Felei, e ela franziu a testa me encarando. — Perigoso como? Ele parece mais um milionário mimado do que um mafioso. — Não sei explicar… ele tem algo que… — Como se ele tivesse o mundo aos seus pés. — Te assusta? — Ela pergunta e eu fiquei em silêncio. Karen sorriu de lado. — Ou te atrai? — Revirei os olhos e me levantei. — Eu não vim pra cá pra me envolver com ninguém. — Falei com tom de voz um pouco alterado. — Mas você já tá envolvida, amiga. Só não percebeu ainda. Joguei uma almofada nela e subi para o quarto, bufando. Ma
Anthony narrando O olhar de Ana estava atento a cada movimento meu, e eu sabia que ela estava tentando se proteger, mas a maneira como ela me observava, um misto de desconfiança e curiosidade, me fazia saber que, mesmo tentando resistir, ela não estava completamente alheia ao que estava acontecendo entre nós. Ela entrou em meu jogo, mesmo que não admitisse. A noite estava boa, a conversa fluía, e eu podia sentir que ela começava a relaxar, mesmo que um pouco. Eu estava ali para conquistar sua confiança, para descobrir até onde ela iria se entregar a essa tensão que se criava entre nós. Não era só desejo físico — embora isso também estivesse claro, talvez mais claro para mim do que para ela. Mas havia algo mais. Algo que eu sabia que ela sentia também, mas que não queria aceitar. Quando finalmente saímos do restaurante, eu podia ver que ela estava dividida. A tensão no ar era palpável. Ela se virou para mim, como se estivesse tentando achar uma saída, e não pude evitar. Aproximei-me
Ana Kelly Narrando Eu ainda sentia o gosto dele nos meus lábios. O toque, a pressão, a intensidade daquele beijo... Meu corpo fervia, minha mente em guerra. Como ele, que mal me conhecia, conseguia me envolver desse jeito? Eu nunca quis me apegar a ninguém, mas Anthony parecia ter outros planos.Entrei em casa sentindo o coração disparado. Ele não saía da minha cabeça, e isso me irritava. Quem era esse cara? O que ele queria comigo? Ele sabia exatamente o que estava fazendo.Assim que pisei na sala, Karen me encarou de braços cruzados, já esperando fofoca.— E aí? Como foi? — Ela perguntou com aquele olhar curioso, pronta para ouvir cada detalhe.Me joguei no sofá, passei a língua nos lábios ainda sentindo o gosto do beijo e suspirei.— Eu não sei, Karen... — Comecei, tentando organizar os pensamentos. — Esse Anthony... Ele tem alguma coisa, sabe? O cara sabe exatamente o que fazer pra me deixar fora de controle. O beijo foi tão... intenso. Eu tentei resistir, mas não deu.Karen arqu
Karen Cristina Narrando A vida me deu limões, mas eu transformei em limonada com maracujá, gelo e tudo que tem direito. Quem me conhece sabe: Karen Cristina, 28 anos, 1,70m, sarada do jeito que a vida me fez e sem medo de ostentar. Não tem essa de se esconder, miga, porque eu me amo e pronto. Meu cabelo cacheado é volumoso, e se o vento bagunça, é porque eu sou dona do vento. E não, não sou dessas que fica chorando por nada, não. Se a vida me derrubou, eu levanto e vou para o rolê de cabeça erguida. Afinal, quem não luta, desiste. Agora, falar da Ana Kelly, minha amiga... Essa menina chegou aqui em casa toda perdida, os olhos tão confusos que eu soube logo: essa garota tá precisando de uma amiga de verdade. E eu, minha filha, sou amiga para todas as horas. Era um dia como outro qualquer quando disse que estava vindo. No outro dia, ela bateu na minha porta. A expressão dela, meio abatida, fez meu coração apertar. Eu sabia que ela tava fugindo de alguma coisa, mas eu não sou de perg
Capítulo: Anthony A mulher mexeu comigo de um jeito que eu nem sei explicar. Desde que senti o gosto da boca dela, não consegui mais esquecer. Putä que pariu, aquilo foi bom demais. Passei a noite inteira com a voz dela na minha cabeça, rodando sem parar, e por incrível que pareça, dormi melhor do que nunca. Acordei com o despertador apitando, bati a mão no botão e espreguicei forte antes de levantar de um pulo. Direto pro banheiro, rotina é rotina, e eu não saio de casa sem meu banho matinal. A água gelada bateu no meu corpo e deu aquele choque de realidade. Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando organizar as ideias. Mas a verdade é que a única coisa que eu queria organizar era um jeito de ver a Ana de novo. Depois do banho, já saí do quarto com a toalha enrolada na cintura, vesti uma roupa leve e desci as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que Josefa já tinha preparado. — Bom dia, patrão! — Josefa falou toda animada, já colocando a mesa. — Bom dia, minha velh
Ana Kelly Narrando Cruzei os braços e encarei Anthony, tentando manter a compostura. O homem tinha a audácia de me jogar um pedido de casamento na cara como se fosse a solução mágica pra minha vida. Respirei fundo, porque se eu não organizasse meus pensamentos, ia acabar mandando ele pra puta que pariu sem nem perceber. — Olha, Anthony, eu vim até aqui porque, sim, você tá insistindo demais. Mas também porque eu realmente preciso de um emprego. Eu tô na cidade há pouco tempo e não quero depender da Karen pra tudo. Sei que ninguém tem obrigação de arcar com minhas despesas, e não acho justo jogar isso pra cima dela. — Ele me cortou antes que eu continuasse. — Por isso que eu não quero você como minha funcionária. Quero você como minha mulher. — Dei uma gargalhada debochada, balançando a cabeça. — Tá de brincadeira comigo, né? Você tá me achando o quê? Uma coitadinha? Quer que eu me case com você pra bancar minhas contas? Pra me marcar nessa cidade como a mulher do Anthony? Os olh
Anthony Narrando Eu andava de um lado para o outro dentro da sala, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Nunca fui de levar um fora, ainda mais assim, na cara dura, na frente de todo mundo. O que essa mulher tem na cabeça? Qualquer outra teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas não, Ana Kelly fez questão de me rejeitar.— Merda! — Rosnei, passando a mão no cabelo, tentando acalmar o sangue fervendo.Peguei o telefone e disquei rápido.Ligação On — Fica de olho nela. Quero saber onde vai, com quem fala, se tá precisando de alguma coisa. Mas sem ela perceber. — Fui direto ao ponto.— Pode deixar, chefe. — A voz do outro lado confirmou.Ligação Off Desliguei o celular e joguei ele na mesa. Se Ana Kelly achou que ia sair da minha vida assim, sem mais nem menos, estava enganada.A porta se abriu sem cerimônia, e Estevão entrou como se fosse dono do lugar. Fechou a porta atrás de si e abriu os braços.— De qual é, meu amigo? — Já chegou perguntandoCruzei os braços, soltando um