Anthony Narrando Eu andava de um lado para o outro dentro da sala, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Nunca fui de levar um fora, ainda mais assim, na cara dura, na frente de todo mundo. O que essa mulher tem na cabeça? Qualquer outra teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas não, Ana Kelly fez questão de me rejeitar.— Merda! — Rosnei, passando a mão no cabelo, tentando acalmar o sangue fervendo.Peguei o telefone e disquei rápido.Ligação On — Fica de olho nela. Quero saber onde vai, com quem fala, se tá precisando de alguma coisa. Mas sem ela perceber. — Fui direto ao ponto.— Pode deixar, chefe. — A voz do outro lado confirmou.Ligação Off Desliguei o celular e joguei ele na mesa. Se Ana Kelly achou que ia sair da minha vida assim, sem mais nem menos, estava enganada.A porta se abriu sem cerimônia, e Estevão entrou como se fosse dono do lugar. Fechou a porta atrás de si e abriu os braços.— De qual é, meu amigo? — Já chegou perguntandoCruzei os braços, soltando um
Ana Kelly NarrandoAinda não estava conseguia acreditar no que o Anthony fez. Saí do escritório sem nem olhar para trás, pensando: eu sou mesmo uma besta?. Só porque tenho essa carinha de boneca? Mas depois de tudo o que passei nas mãos do Vinícius, jamais cairia de cabeça em outro relacionamento sem saber onde estou pisando. Eu senti um arrepio só de lembrar do jeito que ele me olhou no primeiro dia, naquele bar. Na mesma noite, ele me ligou, me deixando em pânico. Meu coração disparava, e Karen insistia que eu deveria dar uma chance, que não devia ser dura nem comigo mesma, nem com ele.— Não me olha com essa cara — falei para Karen, que me olhava de cara fechada, porque eu não deixei ela lá em cima batendo boca com a Bárbara.— Com certeza aquela mulherzinha foi rejeitada por ele, né? Mulher rejeitada, eu conheço de longe. Mulher recalcada, conheço de vista... — Ela foi praticamente o caminho todo resmungando, falando mal da secretária do Anthony.Mas o jeito que aquela mulher me o
Ana Kelly Narrando Um dos funcionários, um homem de uns 30 e poucos anos, me olhou e sorriu. Ele parecia o tipo de pessoa que não fazia questão de ser simpático, mas algo na forma como me encarou fez eu perceber que ele estava curioso.— Você vai se dar bem aqui, hein — ele disse, dando uma olhada no meu jaleco. — Aqui é tudo tranquilo, mas a galera é exigente. Melhor já ir se acostumando.— Pode deixar que eu gosto de desafio — respondi, tentando passar confiança. Eu sabia que a tarefa não seria fácil, mas estava decidida a dar o meu melhor.Karen apareceu ao meu lado, sorrindo como uma criança no Natal. Ela estava visivelmente feliz com a situação.— Isso aí, amiga, você vai arrebentar! — disse ela, dando um tapinha nas minhas costas.— Eu espero — respondi, tentando esconder a ansiedade que ainda estava no meu peito. Olhei para o homem que tinha falado comigo antes. — E você, já trabalha aqui há quanto tempo?— Uns três anos — respondeu ele, agora me encarando com mais interesse.
Anthony NarrandoDois dias se passaram, e a raiva ainda fervia dentro de mim. Não era nem só raiva, era decepção, era aquela sensação de estar perdendo tempo, de estar sendo feito de idiota. Eu tentava focar no trabalho, mas minha cabeça voltava para o mesmo lugar. Sempre ela. Ana Kelly.Sentei-me na grande mesa de reuniões da empresa, encarando os gráficos e relatórios projetados na tela à frente. Meu pai, o Sr. Carter, explicava algo sobre os novos investimentos, mas minha mente estava longe.— Anthony, você pode repetir o que eu acabei de dizer? — a voz firme do meu pai cortou meus devaneios.Pisquei algumas vezes, voltando ao presente.— Claro — respondi automaticamente, endireitando a postura.Ele cruzou os braços, me olhando de forma impaciente.— Então?Silêncio. Eu não fazia ideia do que ele tinha falado.— Como certeza é mulher, a única coisa que tiraria o foco de Anthony Carter.Bárbara, a assistente, resmungou alguma coisa ao meu lado. Não entendi, mas pelo tom, era alguma
Karen NarrandoEu já tinha dado a ideia para ela de ir até o café comigo, mas Ana Kelly sempre tinha aquela história de que não queria atrapalhar, nem muito menos se aproveitar da minha boa vontade. Ela dizia que não queria entrar no serviço por compaixão, por ter vindo de uma comunidade pequena, que estava sofrendo emocionalmente, blá, blá, blá, aquela conversa toda de que iria se virar sozinha, sem precisar da ajuda dos outros. E foi justamente essa mentalidade que quase fez ela cair em um casamento arranjado com o Anthony. Eu sabia que ela estava tentando encontrar o seu caminho, mas os homens ao redor dela só complicavam as coisas.De repente, eu fui tirada dos meus pensamentos por uma risada animada. Ela estalou os dedos e entrou no quarto toda feliz, já vestida com a roupa que ia usar para o café.— Karen, olha aqui, troquei o chip, viu? Agora nem o Anthony nem o Vinícius vão mais encher meu saco! — ela disse, com um sorriso largo no rosto, cheio de confiança.Eu a olhei de cima
Ana Kelly Narrando Servi o café dele sem dizer uma única palavra. Mas, como sempre, Anthony não estava satisfeito em só existir na minha frente. Ele queria provar um ponto. — Fica aqui, Ana — ele disse, como se tivesse algum direito sobre mim. Ignorei completamente. Peguei a bandeja e virei as costas, indo atender outra mesa. Eu não ia dar o gostinho de ver que aquilo me afetava. Mas ele não desistiu. — Seu Arnaldo! — chamou o dono do café, com aquele tom de quem sabe que tem poder e usa isso como uma arma. Seu Arnaldo veio até a mesa, educado como sempre. — Pois não, senhor Carter? — Eu pedi pra Ana sentar e me acompanhar. Acho que uma boa funcionária deve tratar bem os clientes, certo? — Eu me virei no mesmo instante. — Eu sou garçonete, Anthony. Não acompanhante de cliente. — Ele cruzou os braços, com aquele sorrisinho irritante de canto de boca. Seu Arnaldo coçou a cabeça, sem graça. — Ana, ele é um cliente importante. Não custa nada... — Custa sim! — interr
Anthony NarrandoMe afastei minimamente, mantendo as mãos na cintura dela, sentindo a respiração acelerada de Ana Kelly contra meu peito. Ela ainda tinha as mãos espalmadas contra mim, como se estivesse decidida a criar uma barreira entre nós. Mas eu sabia que, no fundo, essa barreira era tão frágil quanto ela queria que fosse.— Por que você foge tanto de mim? — minha voz saiu baixa, rouca, carregada de uma frustração que eu tentava esconder.Ela desviou o olhar, mas eu segurei seu queixo com delicadeza, forçando-a a me encarar.— Eu tô no horário de serviço, Anthony, não posso conversar agora.— É tão sério assim? Ou você tem medo de mim?Ela tentou se afastar, mas eu a puxei de volta, envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço sem esforço. O corpo dela se encaixava ao meu de uma forma que me fazia perder a noção do que era certo ou errado.— Coisas do meu passado... — ela começou, num tom incerto. — Mas não dá pra conversar agora, eu tô trabalhando.— Então me fala logo de uma
Ana Kelly NarrandoAssim que Anthony saiu do café, eu soltei todo o ar preso nos meus pulmões. Minhas pernas ainda estavam meio bambas, e eu precisava me segurar no balcão pra não mostrar o quanto aquele homem mexia comigo. Ele era perigoso, e não era só porque ele tinha dinheiro e poder. Ele era perigoso porque me fazia sentir coisas que eu jurei que nunca mais sentiria por homem nenhum.— Eu não acredito no que eu acabei de ver — Karen cruzou os braços, me encarando com aquele olhar de quem já ia começar um interrogatório. — Quer me explicar por que você deixou ele te beijar?Revirei os olhos e me afastei do balcão, pegando a bandeja pra tentar disfarçar minha tensão.— Eu não deixei! Ele que me segurou, e quando vi já tava acontecendo!Karen arqueou uma sobrancelha.— Sei… Você podia ter virado o rosto. Podia ter dado um tapa na cara dele. Podia ter gritado… Mas não fez nada disso.Suspirei, irritada.— Pelo amor de Deus, Karen! Você viu o jeito que ele me pegou? O olhar dele? Eu…