Capítulo: Anthony
A mulher mexeu comigo de um jeito que eu nem sei explicar. Desde que senti o gosto da boca dela, não consegui mais esquecer. Putä que pariu, aquilo foi bom demais. Passei a noite inteira com a voz dela na minha cabeça, rodando sem parar, e por incrível que pareça, dormi melhor do que nunca. Acordei com o despertador apitando, bati a mão no botão e espreguicei forte antes de levantar de um pulo. Direto pro banheiro, rotina é rotina, e eu não saio de casa sem meu banho matinal. A água gelada bateu no meu corpo e deu aquele choque de realidade. Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando organizar as ideias. Mas a verdade é que a única coisa que eu queria organizar era um jeito de ver a Ana de novo. Depois do banho, já saí do quarto com a toalha enrolada na cintura, vesti uma roupa leve e desci as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que Josefa já tinha preparado. — Bom dia, patrão! — Josefa falou toda animada, já colocando a mesa. — Bom dia, minha velha. Como sempre, salvando minha manhã. — Ela riu e cruzou os braços. — Salvando nada! Mas vou ter que ganhar um aumento de salário porque aqui eu já sou empregada, babá e agora até secretária. — Falou de um jeito que dói impossível segura. Soltei uma risada e puxei uma cadeira pra ela sentar. — Senta aí e toma café comigo. O aumento tá garantido, você merece. — Falei apoiando os Meus cotovelos na mesa. Josefa bateu palmas e se sentou com um sorriso satisfeito. A gente tomou café juntos enquanto ela passava minha agenda da manhã. Eu tentava prestar atenção, mas minha cabeça já estava na Ana. Assim que terminei, levantei, dei um beijo na testa de Josefa e fui pro banheiro escovar os dentes. Saí de casa já ligando o som do carro, aumentando o volume e deixando "Dona da Minha Raiva" tocar enquanto eu batia no volante e acompanhava a música. Fui cantando no caminho, olhando no relógio pra ver se estava no horário certo. Quando cheguei, estacionei e já entrei direto na empresa, mas assim que pisei lá dentro, ouvi a voz da Bárbara, alterada. — Como assim vocês querem falar com o Anthony? Não tem vaga aberta para secretária. Se não tem vaga, vocês podem dar a volta e sair. O sangue subiu na hora. Minha voz saiu alta, grossa, cortando aquele teatro dela. — Desde quando você é dona da empresa, Bárbara? A mulher congelou e virou pra mim, engolindo em seco. Meus olhos foram direto para Ana Kelly e, porrä, meu coração deu uma vacilada nas batidas. Ela tava linda, daquele jeito que me fez perder a cabeça desde o primeiro momento. — Eu só tava resolvendo, Anthony. Não tem vaga, então achei que... — Achou errado. Você não decide quem entra ou sai da minha empresa. Se tem alguém que manda aqui, sou eu. Então da próxima vez, segura essa língua antes de sair destratando alguém. Ela abaixou a cabeça e murmurou um pedido de desculpas, mas eu já não estava nem ouvindo. Fiz sinal pra Ana e Karen me acompanharem. — Vamos pra minha sala. — Ana hesitou um pouco antes de entrar, parecia meio sem graça. — Desculpa, eu não queria incomodar... — Incomodar nada. Eu que devo desculpas pelo jeito que te trataram aqui dentro. Ela me olhou por um segundo e depois abaixou o olhar. A mulher podia tentar resistir, mas eu via no rosto dela que estava balançada. Antes que a gente pudesse continuar, Bárbara bateu na porta e entrou sem ser chamada. — Vou participar da reunião? — Pisquei devagar, respirando fundo antes de responder. — Não. O dono da empresa sou eu, e você não passa de uma secretária auxiliar. — O rosto dela ficou vermelho de raiva. — Eu sou a sua secretária! — Não, você é auxiliar. E se quiser continuar no cargo, aprende seu lugar. — Ela resmungou e saiu batendo o salto no chão. Karen soltou uma risadinha e me olhou com uma sobrancelha arqueada. — Parece que tem gente aqui que não sabe lidar com hierarquia. — Soltei um riso de canto e fiz sinal pra elas sentarem. Ana sentou bem na minha frente e, caralhö, era impossível me concentrar. Aquela morena com rosto de boneca me desconcertava de um jeito que nenhuma outra mulher conseguiu. A sala ficou em silêncio por alguns segundos, mas na minha mente, um milhão de coisas estavam acontecendo. Eu precisava da Ana mais perto. Eu queria ela. Simples assim. Deixei meu olhar cravado no dela e soltei, sem rodeios: — Ana, casa comigo. Ela arregalou os olhos, surpresa. Karen olhou de um jeito misturado entre choque e diversão. — O quê? — Ana murmurou, parecendo confusa. — Cruzei os braços e repeti, dessa vez mais firme: — Casa comigo. O silêncio que veio depois foi pesado. Ana Kelly piscou algumas vezes, sem saber o que responder..... E agora, o que ela ia fazer? Ana Kelly levantou as mãos, os olhos arregalados de surpresa. Ela parecia totalmente sem palavras, mas conseguiu se recompor rapidamente. — Então, não era uma proposta de emprego, era uma proposta de casamento? — A voz dela estava um pouco ríspida, mas havia um brilho de dúvida e curiosidade nos olhos. Eu não desisti, mantive meu olhar fixo nela, minha presença dominando o ambiente. — Exatamente. Eu não quero você trabalhando pra mim, Ana. Eu quero você ao meu lado. Ela balançou a cabeça, parecendo ainda em choque. Quando ela se levantou, pronta pra sair, fui atrás. Não ia deixar ela fugir assim. — Onde você pensa que vai? — Fui firme, minha mão foi rápida e a segurei pelo pulso, impedindo que ela saísse. Ela me encarou, claramente irritada. — Me larga, Anthony. Você está indo longe demais. Karen observava, toda descontraída como sempre, mas dessa vez ela parecia mais atenta, como se estivesse analisando a situação. — E aí, Karen, pode dar licença? Só quero uma conversa, com a Ana pode? — Falei com a voz mais suave, olhando pra Karen. Eu sabia que ela não ia me contrariar. Karen olhou para Ana Kelly pra mim e, depois de um momento, soltou um suspiro. — Eu vou me retirar, pra vocês conversarem. — Ela falou e a Ana olhou pra ela. — Só mais uma coisa, não faz isso, Anthony. Você já está indo além. — Ela apontou pra uma das portas do lado dentro da minha sala. — Vai lá, Karen, fica à vontade. — Falei sem tirar os olhos da Ana. Ana me olhou com um misto de raiva e confusão, e, por fim, se virou e se sentou cruzando os braços. Assim que a porta se fechou atrás karen, deixando nós dois as sós. Agora eu só precisava de uma coisa: fazer Ana Kelly entender que ela era minha.........Ana Kelly Narrando Cruzei os braços e encarei Anthony, tentando manter a compostura. O homem tinha a audácia de me jogar um pedido de casamento na cara como se fosse a solução mágica pra minha vida. Respirei fundo, porque se eu não organizasse meus pensamentos, ia acabar mandando ele pra puta que pariu sem nem perceber. — Olha, Anthony, eu vim até aqui porque, sim, você tá insistindo demais. Mas também porque eu realmente preciso de um emprego. Eu tô na cidade há pouco tempo e não quero depender da Karen pra tudo. Sei que ninguém tem obrigação de arcar com minhas despesas, e não acho justo jogar isso pra cima dela. — Ele me cortou antes que eu continuasse. — Por isso que eu não quero você como minha funcionária. Quero você como minha mulher. — Dei uma gargalhada debochada, balançando a cabeça. — Tá de brincadeira comigo, né? Você tá me achando o quê? Uma coitadinha? Quer que eu me case com você pra bancar minhas contas? Pra me marcar nessa cidade como a mulher do Anthony? Os olh
Anthony Narrando Eu andava de um lado para o outro dentro da sala, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Nunca fui de levar um fora, ainda mais assim, na cara dura, na frente de todo mundo. O que essa mulher tem na cabeça? Qualquer outra teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas não, Ana Kelly fez questão de me rejeitar.— Merda! — Rosnei, passando a mão no cabelo, tentando acalmar o sangue fervendo.Peguei o telefone e disquei rápido.Ligação On — Fica de olho nela. Quero saber onde vai, com quem fala, se tá precisando de alguma coisa. Mas sem ela perceber. — Fui direto ao ponto.— Pode deixar, chefe. — A voz do outro lado confirmou.Ligação Off Desliguei o celular e joguei ele na mesa. Se Ana Kelly achou que ia sair da minha vida assim, sem mais nem menos, estava enganada.A porta se abriu sem cerimônia, e Estevão entrou como se fosse dono do lugar. Fechou a porta atrás de si e abriu os braços.— De qual é, meu amigo? — Já chegou perguntandoCruzei os braços, soltando um
Ana Kelly NarrandoAinda não estava conseguia acreditar no que o Anthony fez. Saí do escritório sem nem olhar para trás, pensando: eu sou mesmo uma besta?. Só porque tenho essa carinha de boneca? Mas depois de tudo o que passei nas mãos do Vinícius, jamais cairia de cabeça em outro relacionamento sem saber onde estou pisando. Eu senti um arrepio só de lembrar do jeito que ele me olhou no primeiro dia, naquele bar. Na mesma noite, ele me ligou, me deixando em pânico. Meu coração disparava, e Karen insistia que eu deveria dar uma chance, que não devia ser dura nem comigo mesma, nem com ele.— Não me olha com essa cara — falei para Karen, que me olhava de cara fechada, porque eu não deixei ela lá em cima batendo boca com a Bárbara.— Com certeza aquela mulherzinha foi rejeitada por ele, né? Mulher rejeitada, eu conheço de longe. Mulher recalcada, conheço de vista... — Ela foi praticamente o caminho todo resmungando, falando mal da secretária do Anthony.Mas o jeito que aquela mulher me o
Ana Kelly Narrando Um dos funcionários, um homem de uns 30 e poucos anos, me olhou e sorriu. Ele parecia o tipo de pessoa que não fazia questão de ser simpático, mas algo na forma como me encarou fez eu perceber que ele estava curioso.— Você vai se dar bem aqui, hein — ele disse, dando uma olhada no meu jaleco. — Aqui é tudo tranquilo, mas a galera é exigente. Melhor já ir se acostumando.— Pode deixar que eu gosto de desafio — respondi, tentando passar confiança. Eu sabia que a tarefa não seria fácil, mas estava decidida a dar o meu melhor.Karen apareceu ao meu lado, sorrindo como uma criança no Natal. Ela estava visivelmente feliz com a situação.— Isso aí, amiga, você vai arrebentar! — disse ela, dando um tapinha nas minhas costas.— Eu espero — respondi, tentando esconder a ansiedade que ainda estava no meu peito. Olhei para o homem que tinha falado comigo antes. — E você, já trabalha aqui há quanto tempo?— Uns três anos — respondeu ele, agora me encarando com mais interesse.
Anthony NarrandoDois dias se passaram, e a raiva ainda fervia dentro de mim. Não era nem só raiva, era decepção, era aquela sensação de estar perdendo tempo, de estar sendo feito de idiota. Eu tentava focar no trabalho, mas minha cabeça voltava para o mesmo lugar. Sempre ela. Ana Kelly.Sentei-me na grande mesa de reuniões da empresa, encarando os gráficos e relatórios projetados na tela à frente. Meu pai, o Sr. Carter, explicava algo sobre os novos investimentos, mas minha mente estava longe.— Anthony, você pode repetir o que eu acabei de dizer? — a voz firme do meu pai cortou meus devaneios.Pisquei algumas vezes, voltando ao presente.— Claro — respondi automaticamente, endireitando a postura.Ele cruzou os braços, me olhando de forma impaciente.— Então?Silêncio. Eu não fazia ideia do que ele tinha falado.— Como certeza é mulher, a única coisa que tiraria o foco de Anthony Carter.Bárbara, a assistente, resmungou alguma coisa ao meu lado. Não entendi, mas pelo tom, era alguma
Karen NarrandoEu já tinha dado a ideia para ela de ir até o café comigo, mas Ana Kelly sempre tinha aquela história de que não queria atrapalhar, nem muito menos se aproveitar da minha boa vontade. Ela dizia que não queria entrar no serviço por compaixão, por ter vindo de uma comunidade pequena, que estava sofrendo emocionalmente, blá, blá, blá, aquela conversa toda de que iria se virar sozinha, sem precisar da ajuda dos outros. E foi justamente essa mentalidade que quase fez ela cair em um casamento arranjado com o Anthony. Eu sabia que ela estava tentando encontrar o seu caminho, mas os homens ao redor dela só complicavam as coisas.De repente, eu fui tirada dos meus pensamentos por uma risada animada. Ela estalou os dedos e entrou no quarto toda feliz, já vestida com a roupa que ia usar para o café.— Karen, olha aqui, troquei o chip, viu? Agora nem o Anthony nem o Vinícius vão mais encher meu saco! — ela disse, com um sorriso largo no rosto, cheio de confiança.Eu a olhei de cima
Ana Kelly Narrando Servi o café dele sem dizer uma única palavra. Mas, como sempre, Anthony não estava satisfeito em só existir na minha frente. Ele queria provar um ponto. — Fica aqui, Ana — ele disse, como se tivesse algum direito sobre mim. Ignorei completamente. Peguei a bandeja e virei as costas, indo atender outra mesa. Eu não ia dar o gostinho de ver que aquilo me afetava. Mas ele não desistiu. — Seu Arnaldo! — chamou o dono do café, com aquele tom de quem sabe que tem poder e usa isso como uma arma. Seu Arnaldo veio até a mesa, educado como sempre. — Pois não, senhor Carter? — Eu pedi pra Ana sentar e me acompanhar. Acho que uma boa funcionária deve tratar bem os clientes, certo? — Eu me virei no mesmo instante. — Eu sou garçonete, Anthony. Não acompanhante de cliente. — Ele cruzou os braços, com aquele sorrisinho irritante de canto de boca. Seu Arnaldo coçou a cabeça, sem graça. — Ana, ele é um cliente importante. Não custa nada... — Custa sim! — interr
Anthony NarrandoMe afastei minimamente, mantendo as mãos na cintura dela, sentindo a respiração acelerada de Ana Kelly contra meu peito. Ela ainda tinha as mãos espalmadas contra mim, como se estivesse decidida a criar uma barreira entre nós. Mas eu sabia que, no fundo, essa barreira era tão frágil quanto ela queria que fosse.— Por que você foge tanto de mim? — minha voz saiu baixa, rouca, carregada de uma frustração que eu tentava esconder.Ela desviou o olhar, mas eu segurei seu queixo com delicadeza, forçando-a a me encarar.— Eu tô no horário de serviço, Anthony, não posso conversar agora.— É tão sério assim? Ou você tem medo de mim?Ela tentou se afastar, mas eu a puxei de volta, envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço sem esforço. O corpo dela se encaixava ao meu de uma forma que me fazia perder a noção do que era certo ou errado.— Coisas do meu passado... — ela começou, num tom incerto. — Mas não dá pra conversar agora, eu tô trabalhando.— Então me fala logo de uma