Ana Kelly Narrando Servi o café dele sem dizer uma única palavra. Mas, como sempre, Anthony não estava satisfeito em só existir na minha frente. Ele queria provar um ponto. — Fica aqui, Ana — ele disse, como se tivesse algum direito sobre mim. Ignorei completamente. Peguei a bandeja e virei as costas, indo atender outra mesa. Eu não ia dar o gostinho de ver que aquilo me afetava. Mas ele não desistiu. — Seu Arnaldo! — chamou o dono do café, com aquele tom de quem sabe que tem poder e usa isso como uma arma. Seu Arnaldo veio até a mesa, educado como sempre. — Pois não, senhor Carter? — Eu pedi pra Ana sentar e me acompanhar. Acho que uma boa funcionária deve tratar bem os clientes, certo? — Eu me virei no mesmo instante. — Eu sou garçonete, Anthony. Não acompanhante de cliente. — Ele cruzou os braços, com aquele sorrisinho irritante de canto de boca. Seu Arnaldo coçou a cabeça, sem graça. — Ana, ele é um cliente importante. Não custa nada... — Custa sim! — interr
Anthony NarrandoMe afastei minimamente, mantendo as mãos na cintura dela, sentindo a respiração acelerada de Ana Kelly contra meu peito. Ela ainda tinha as mãos espalmadas contra mim, como se estivesse decidida a criar uma barreira entre nós. Mas eu sabia que, no fundo, essa barreira era tão frágil quanto ela queria que fosse.— Por que você foge tanto de mim? — minha voz saiu baixa, rouca, carregada de uma frustração que eu tentava esconder.Ela desviou o olhar, mas eu segurei seu queixo com delicadeza, forçando-a a me encarar.— Eu tô no horário de serviço, Anthony, não posso conversar agora.— É tão sério assim? Ou você tem medo de mim?Ela tentou se afastar, mas eu a puxei de volta, envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço sem esforço. O corpo dela se encaixava ao meu de uma forma que me fazia perder a noção do que era certo ou errado.— Coisas do meu passado... — ela começou, num tom incerto. — Mas não dá pra conversar agora, eu tô trabalhando.— Então me fala logo de uma
Ana Kelly NarrandoAssim que Anthony saiu do café, eu soltei todo o ar preso nos meus pulmões. Minhas pernas ainda estavam meio bambas, e eu precisava me segurar no balcão pra não mostrar o quanto aquele homem mexia comigo. Ele era perigoso, e não era só porque ele tinha dinheiro e poder. Ele era perigoso porque me fazia sentir coisas que eu jurei que nunca mais sentiria por homem nenhum.— Eu não acredito no que eu acabei de ver — Karen cruzou os braços, me encarando com aquele olhar de quem já ia começar um interrogatório. — Quer me explicar por que você deixou ele te beijar?Revirei os olhos e me afastei do balcão, pegando a bandeja pra tentar disfarçar minha tensão.— Eu não deixei! Ele que me segurou, e quando vi já tava acontecendo!Karen arqueou uma sobrancelha.— Sei… Você podia ter virado o rosto. Podia ter dado um tapa na cara dele. Podia ter gritado… Mas não fez nada disso.Suspirei, irritada.— Pelo amor de Deus, Karen! Você viu o jeito que ele me pegou? O olhar dele? Eu…
Vinícius Narrando Meu nome é Vinícius, tenho 35 anos, 1,80 m de altura, dono de uma academia na cidade. Microempresário, como gostam de chamar, mas, no fundo, eu sei que sou bem mais que isso. Sempre tive o jeito certo pra lidar com mulher. Na minha academia, nenhuma escapava. Foi assim com a Ana Kelly. Novinha, durinha, só tinha 18 anos quando apareceu lá. Ingênua. Eu percebi de cara que ela me olhava diferente, então fiz o que sempre fazia: cheguei junto. Ela caiu fácil, como todas caíam. No começo, foi divertido. Ela era cheia de fogo, grudada em mim como se eu fosse o único homem do mundo. Acabou aceitando casar depois de um tempo. Achei que ia ser tranquilo, que eu poderia continuar sendo eu, mas aí ela começou com esse papo de fidelidade. Me conhecer, ela conhecia. Sabia quem eu era, sabia como eu vivia. Por que inventar essa história de que eu deveria ser só dela? Nos dois primeiros anos, até tentei. Fiz um esforço, dei uma segurada. Mas não demorou pra eu perceber que nã
Anthony NarrandoO restaurante já estava movimentado quando entrei. Ambiente requintado, discretamente luxuoso, do jeito que eu gostava para fechar negócios. Bárbara já estava lá, revisando alguns documentos, e Estevão, como sempre, esbanjava confiança.Assim que nos aproximamos da mesa, os representantes da empresa já estavam à nossa espera. Dois homens e uma mulher, todos bem vestidos, com expressões neutras, mas claramente interessados no que tínhamos a oferecer.Sr. Martini, CEO da empresa, foi o primeiro a falar:— Sr. Carter, obrigado por nos receber. Estamos ansiosos para conhecer melhor sua linha de eletrônicos para a área da saúde. Seu nome já é forte no mercado, mas queremos entender melhor os diferenciais.Apertei sua mão firmemente, sentando-me de frente para ele.— Prazer em recebê-los. A Carter Electronics se destaca por inovação e precisão. Trabalhamos com montagem de placas eletrônicas, criação de sistemas exclusivos e comercialização de produtos de ponta. Mas o que re
Estevão NarrandoO carro deslizava pelas ruas movimentadas enquanto Anthony dirigia, com aquele olhar sério de sempre. Ele tinha acabado de dar um corte na Bárbara e ainda parecia com a mente cheia.— Quer falar sobre o que tá pegando, ou vai continuar nessa cara de poucos amigos? — Quebrei o silêncio, mexendo no botão do meu paletó.Ele bufou, mantendo os olhos na estrada.— Que eu me lembre, não virei sentimental pra ter que dividir pensamento.Ri baixo.— Relaxa, só achei que podia te ajudar. Mas já vi que você continua o mesmo, achando que tudo tem que girar ao seu redor.Anthony riu de canto, balançando a cabeça.— Me diz, Estevão, qual é a graça de ter tudo sob controle se você não pode ditar as regras?— A graça, meu amigo, é saber que nem tudo precisa estar sob o seu controle.Ele virou o rosto para mim rapidamente, arqueando a sobrancelha.— Agora virou filósofo?Dei de ombros.— Sempre fui mais pé no chão que você. Sabe qual a diferença entre nós dois?— Lá vem.— Você acha
Anthony NarrandoJoguei o carro na frente do prédio do Estevão e encostei. Ele soltou um suspiro satisfeito e olhou pra mim com aquele sorrisinho de quem ia se divertir.— Boa noite, irmão. — Ele disse, pegando o celular.— Boa noite o carälho. — Resmunguei. — Tu vai sair com a Karen e eu vou ficar aqui chupando o dedo.Ele riu.— Nem tudo é no grito, lembra?Revirei os olhos enquanto ele descia e acenava antes de entrar no prédio. Assim que ele sumiu da minha vista, engatei a marcha e fui direto pra casa.Quando cheguei, a Josefa já tava de saída. Ela me olhou e piscou com aquele ar de menina pidona.— Já tá indo embora, Josefa?Ela riu e pegou a bolsa.— Minha hora, doutor. Já fiz tudo que tinha que fazer.Puxei ela pra um abraço apertado e ela me deu um tapa leve no braço.— Para com isso, menino!— Tá bom, tá bom. — Soltei ela e fui até a geladeira, vendo os recados.— Tem coisa anotada na geladeira e na agenda eletrônica. — Ela avisou, conferindo se tinha pegado tudo.— Valeu, Jo
Ana Kelly Narrando Entrei em casa ainda sentindo o olhar do Anthony me queimando pelas costas. Por que eu aceitei sair com ele?— Vai sair? — Karen perguntou, pegando a bolsa.— Vou.— Hum… cuidado, hein. — Ela riu, me olhando com aquela cara de quem sabia das coisas.— Vai te catar, Karen. Ela riu mais alto, pegando as chaves.— O Estevão já tá vindo me buscar.— Bom encontro.Ela piscou pra mim e saiu antes que eu revidasse.Suspirei, indo direto pro banheiro. Preciso de um banho pra clarear a mente.Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre mim, tentando entender o que diabos o Anthony queria conversar comigo. Mas, na verdade, eu já sabia.Ele mencionou o Vinícius antes da ligação cair. Era isso.Ele quer saber sobre meu passado.... Mas até que ponto?Me enrolei na toalha, coloquei um vestido leve e prendi o cabelo. Passei um gloss rápido e saí de casa.Anthony já estava encostado no carro, olhando o celular. Assim que me viu, levantou o olhar e abriu a porta pra mim.—