Karen Cristina Narrando
A vida me deu limões, mas eu transformei em limonada com maracujá, gelo e tudo que tem direito. Quem me conhece sabe: Karen Cristina, 28 anos, 1,70m, sarada do jeito que a vida me fez e sem medo de ostentar. Não tem essa de se esconder, miga, porque eu me amo e pronto. Meu cabelo cacheado é volumoso, e se o vento bagunça, é porque eu sou dona do vento. E não, não sou dessas que fica chorando por nada, não. Se a vida me derrubou, eu levanto e vou para o rolê de cabeça erguida. Afinal, quem não luta, desiste. Agora, falar da Ana Kelly, minha amiga... Essa menina chegou aqui em casa toda perdida, os olhos tão confusos que eu soube logo: essa garota tá precisando de uma amiga de verdade. E eu, minha filha, sou amiga para todas as horas. Era um dia como outro qualquer quando disse que estava vindo. No outro dia, ela bateu na minha porta. A expressão dela, meio abatida, fez meu coração apertar. Eu sabia que ela tava fugindo de alguma coisa, mas eu não sou de perguntar logo de cara. Cada um tem seu tempo. Mas agora, vendo ela jogada no sofá, o celular na mão, os olhos arregalados depois daquela ligação com o tal do Anthony, eu não aguentei. — Ana Kelly, esse cara tá sendo doido. E não tô falando no bom sentido. — Cruzei os braços, olhando pra ela. Ela respirou fundo e balançou a cabeça. — Eu sei... Mas ao mesmo tempo, sei lá. Ele tem esse jeito, essa certeza... Me pega de um jeito que eu não sei explicar. — Tá maluca, mulher? — Falei, me sentando do lado dela. — Tu saiu de uma relação merda, onde não tinha controle da tua vida, e agora aparece esse cara já querendo mandar em tudo? Você precisa focar no que veio fazer aqui, não num macho mandão. Ela me olhou, pensativa. — Eu sei que tem razão. Eu só... Eu não sei, Karen. Ele me confunde. Revirei os olhos e peguei o celular dela da mão. — Confunde nada, Ana. Ele tá te testando. Tá vendo até onde pode ir. E tu, em vez de dar um chega pra lá, tá deixando. — Eu não tô deixando! — Ah, não? Então amanhã, às oito, quando ele chegar aqui te esperando, tu vai fazer o quê? Ela ficou muda. — É, amiga. Você tem que decidir agora. E eu vou te ajudar. Sabe como? — Peguei meu próprio celular e abri o W******p. — O que você tá fazendo? — Ela perguntou, desconfiada. — Tô mandando mensagem pro meu chefe. Quero saber se ele pode te dar um teste lá na empresa. Você veio pra cá pra recomeçar, não pra cair na mesma cilada de sempre. Ela ficou me olhando, como se estivesse absorvendo aquilo. — Você realmente acha que eu devo fazer isso? — Eu acho que você precisa focar em você. Em ter sua independência, seu dinheiro, sua paz. E depois, se um cara valer a pena, aí você vê o que faz. Mas não antes. Ela suspirou, e pela primeira vez na noite, vi um brilho diferente nos olhos dela. Mandei a mensagem, sorri e joguei o celular pro lado. — Pronto. Agora é só esperar a resposta. Ana Kelly me olhou e sorriu de leve. — Obrigada, Karen. — Tamo junta, amiga. Sempre. Eu sorri para Ana Kelly, mas já sabia que minha amiga ainda tava presa nos próprios pensamentos. E eu não ia deixar isso acontecer. Mulher nenhuma merece ficar se torturando por causa de homem, ainda mais um que já chega querendo mandar. Bati a palma das mãos e levantei do sofá. — Bora, mulher! Levanta essa bundä daí! — Ela me olhou, confusa. — O quê? — Eu disse que bora! Se arrumar, fazer um skin care, ver um filme bom ou botar uma música alta e dançar no meio da sala! Ela riu, cruzando os braços. — Você é doida. — Doida não, esperta. Tu acha que eu vou deixar minha amiga ficar aqui sofrendo, pensando em macho, enquanto a vida tá acontecendo lá fora? Que nada! Peguei o controle e coloquei um funk antigo na TV, aumentando o volume. — Ah não, Karen... — Ah sim! — Segurei na mão dela e puxei. — Se tu não quiser dançar, pelo menos me faz companhia. Ela suspirou, mas sorriu. — Tá bom, tá bom. — É isso que eu gosto! Eu já tava rebolando quando a campainha tocou. — Quem será? — Ana Kelly perguntou, me olhando com receio. — Se for alguma surpresa desagradável, já sabe: a gente manda tomar no cu e fecha a porta. Ela gargalhou, e isso já fez minha noite valer a pena. Fui até a porta e abri. — Ah, até que enfim! — Rita entrou como um furacão, jogando a bolsa no sofá. — Oi pra você também, querida. — Vocês já comeram? Porque eu tô morrendo de fome! — Eu comi, mas já estou com fome de novo. — Ana Kelly respondeu. — Então bora pedir um japa? — Rita sugeriu. — Eu topo! — Falei, pegando o celular. Enquanto a gente discutia os pedidos, Ana Kelly finalmente parecia mais leve. O celular dela vibrou algumas vezes, e vi o nome de Anthony na tela, mas ela ignorou. Um ponto pra mim. A gente tava escolhendo os sushis quando meu celular vibrou. — Calma aí, deixa eu ver isso aqui. Peguei o telefone e franzi a testa ao ver a notificação. Era uma mensagem de um número desconhecido. "Boa noite, Karen. Sei que você é próxima da Ana Kelly. Quero que a leve neste endereço amanhã às oito da manhã. Estamos esperando por ela para a entrevista." Meu coração bateu mais forte. Era ele. Anthony. Olhei pra Ana Kelly, que tava distraída, conversando com Rita sobre qual combo de sushi pedir. Filho da mãe. Ele vai jogar pesado mesmo e vai acabar prendendo ela a ele.. Respirei fundo e bloqueei o telefone, sem responder. Eu não ia contar nada agora. Primeiro, ia esperar pra ver como minha amiga tava no dia seguinte. Mas já deu para perceber: Anthony não era um homem que aceitava um "não" como resposta. Olhei para o telefone olhei para Kelly, balancei a cabeça e me juntei a ela.....Capítulo: Anthony A mulher mexeu comigo de um jeito que eu nem sei explicar. Desde que senti o gosto da boca dela, não consegui mais esquecer. Putä que pariu, aquilo foi bom demais. Passei a noite inteira com a voz dela na minha cabeça, rodando sem parar, e por incrível que pareça, dormi melhor do que nunca. Acordei com o despertador apitando, bati a mão no botão e espreguicei forte antes de levantar de um pulo. Direto pro banheiro, rotina é rotina, e eu não saio de casa sem meu banho matinal. A água gelada bateu no meu corpo e deu aquele choque de realidade. Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando organizar as ideias. Mas a verdade é que a única coisa que eu queria organizar era um jeito de ver a Ana de novo. Depois do banho, já saí do quarto com a toalha enrolada na cintura, vesti uma roupa leve e desci as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que Josefa já tinha preparado. — Bom dia, patrão! — Josefa falou toda animada, já colocando a mesa. — Bom dia, minha velh
Ana Kelly Narrando Cruzei os braços e encarei Anthony, tentando manter a compostura. O homem tinha a audácia de me jogar um pedido de casamento na cara como se fosse a solução mágica pra minha vida. Respirei fundo, porque se eu não organizasse meus pensamentos, ia acabar mandando ele pra puta que pariu sem nem perceber. — Olha, Anthony, eu vim até aqui porque, sim, você tá insistindo demais. Mas também porque eu realmente preciso de um emprego. Eu tô na cidade há pouco tempo e não quero depender da Karen pra tudo. Sei que ninguém tem obrigação de arcar com minhas despesas, e não acho justo jogar isso pra cima dela. — Ele me cortou antes que eu continuasse. — Por isso que eu não quero você como minha funcionária. Quero você como minha mulher. — Dei uma gargalhada debochada, balançando a cabeça. — Tá de brincadeira comigo, né? Você tá me achando o quê? Uma coitadinha? Quer que eu me case com você pra bancar minhas contas? Pra me marcar nessa cidade como a mulher do Anthony? Os olh
Anthony Narrando Eu andava de um lado para o outro dentro da sala, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Nunca fui de levar um fora, ainda mais assim, na cara dura, na frente de todo mundo. O que essa mulher tem na cabeça? Qualquer outra teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas não, Ana Kelly fez questão de me rejeitar.— Merda! — Rosnei, passando a mão no cabelo, tentando acalmar o sangue fervendo.Peguei o telefone e disquei rápido.Ligação On — Fica de olho nela. Quero saber onde vai, com quem fala, se tá precisando de alguma coisa. Mas sem ela perceber. — Fui direto ao ponto.— Pode deixar, chefe. — A voz do outro lado confirmou.Ligação Off Desliguei o celular e joguei ele na mesa. Se Ana Kelly achou que ia sair da minha vida assim, sem mais nem menos, estava enganada.A porta se abriu sem cerimônia, e Estevão entrou como se fosse dono do lugar. Fechou a porta atrás de si e abriu os braços.— De qual é, meu amigo? — Já chegou perguntandoCruzei os braços, soltando um
Ana Kelly NarrandoAinda não estava conseguia acreditar no que o Anthony fez. Saí do escritório sem nem olhar para trás, pensando: eu sou mesmo uma besta?. Só porque tenho essa carinha de boneca? Mas depois de tudo o que passei nas mãos do Vinícius, jamais cairia de cabeça em outro relacionamento sem saber onde estou pisando. Eu senti um arrepio só de lembrar do jeito que ele me olhou no primeiro dia, naquele bar. Na mesma noite, ele me ligou, me deixando em pânico. Meu coração disparava, e Karen insistia que eu deveria dar uma chance, que não devia ser dura nem comigo mesma, nem com ele.— Não me olha com essa cara — falei para Karen, que me olhava de cara fechada, porque eu não deixei ela lá em cima batendo boca com a Bárbara.— Com certeza aquela mulherzinha foi rejeitada por ele, né? Mulher rejeitada, eu conheço de longe. Mulher recalcada, conheço de vista... — Ela foi praticamente o caminho todo resmungando, falando mal da secretária do Anthony.Mas o jeito que aquela mulher me o
Ana Kelly Narrando Um dos funcionários, um homem de uns 30 e poucos anos, me olhou e sorriu. Ele parecia o tipo de pessoa que não fazia questão de ser simpático, mas algo na forma como me encarou fez eu perceber que ele estava curioso.— Você vai se dar bem aqui, hein — ele disse, dando uma olhada no meu jaleco. — Aqui é tudo tranquilo, mas a galera é exigente. Melhor já ir se acostumando.— Pode deixar que eu gosto de desafio — respondi, tentando passar confiança. Eu sabia que a tarefa não seria fácil, mas estava decidida a dar o meu melhor.Karen apareceu ao meu lado, sorrindo como uma criança no Natal. Ela estava visivelmente feliz com a situação.— Isso aí, amiga, você vai arrebentar! — disse ela, dando um tapinha nas minhas costas.— Eu espero — respondi, tentando esconder a ansiedade que ainda estava no meu peito. Olhei para o homem que tinha falado comigo antes. — E você, já trabalha aqui há quanto tempo?— Uns três anos — respondeu ele, agora me encarando com mais interesse.
Anthony NarrandoDois dias se passaram, e a raiva ainda fervia dentro de mim. Não era nem só raiva, era decepção, era aquela sensação de estar perdendo tempo, de estar sendo feito de idiota. Eu tentava focar no trabalho, mas minha cabeça voltava para o mesmo lugar. Sempre ela. Ana Kelly.Sentei-me na grande mesa de reuniões da empresa, encarando os gráficos e relatórios projetados na tela à frente. Meu pai, o Sr. Carter, explicava algo sobre os novos investimentos, mas minha mente estava longe.— Anthony, você pode repetir o que eu acabei de dizer? — a voz firme do meu pai cortou meus devaneios.Pisquei algumas vezes, voltando ao presente.— Claro — respondi automaticamente, endireitando a postura.Ele cruzou os braços, me olhando de forma impaciente.— Então?Silêncio. Eu não fazia ideia do que ele tinha falado.— Como certeza é mulher, a única coisa que tiraria o foco de Anthony Carter.Bárbara, a assistente, resmungou alguma coisa ao meu lado. Não entendi, mas pelo tom, era alguma
Karen NarrandoEu já tinha dado a ideia para ela de ir até o café comigo, mas Ana Kelly sempre tinha aquela história de que não queria atrapalhar, nem muito menos se aproveitar da minha boa vontade. Ela dizia que não queria entrar no serviço por compaixão, por ter vindo de uma comunidade pequena, que estava sofrendo emocionalmente, blá, blá, blá, aquela conversa toda de que iria se virar sozinha, sem precisar da ajuda dos outros. E foi justamente essa mentalidade que quase fez ela cair em um casamento arranjado com o Anthony. Eu sabia que ela estava tentando encontrar o seu caminho, mas os homens ao redor dela só complicavam as coisas.De repente, eu fui tirada dos meus pensamentos por uma risada animada. Ela estalou os dedos e entrou no quarto toda feliz, já vestida com a roupa que ia usar para o café.— Karen, olha aqui, troquei o chip, viu? Agora nem o Anthony nem o Vinícius vão mais encher meu saco! — ela disse, com um sorriso largo no rosto, cheio de confiança.Eu a olhei de cima
Ana Kelly Narrando Servi o café dele sem dizer uma única palavra. Mas, como sempre, Anthony não estava satisfeito em só existir na minha frente. Ele queria provar um ponto. — Fica aqui, Ana — ele disse, como se tivesse algum direito sobre mim. Ignorei completamente. Peguei a bandeja e virei as costas, indo atender outra mesa. Eu não ia dar o gostinho de ver que aquilo me afetava. Mas ele não desistiu. — Seu Arnaldo! — chamou o dono do café, com aquele tom de quem sabe que tem poder e usa isso como uma arma. Seu Arnaldo veio até a mesa, educado como sempre. — Pois não, senhor Carter? — Eu pedi pra Ana sentar e me acompanhar. Acho que uma boa funcionária deve tratar bem os clientes, certo? — Eu me virei no mesmo instante. — Eu sou garçonete, Anthony. Não acompanhante de cliente. — Ele cruzou os braços, com aquele sorrisinho irritante de canto de boca. Seu Arnaldo coçou a cabeça, sem graça. — Ana, ele é um cliente importante. Não custa nada... — Custa sim! — interr