Anthony Narrando
Saí do restaurante sentindo o sangue quente correndo nas veias. Encontrar Ana Kelly daquele jeito, por acaso, só me provava o óbvio: era questão de tempo até ela se entregar. A maneira como ela me olhava, tentando disfarçar o desconforto, me divertia. Não era medo, era resistência. E isso só me deixava mais instigado. Entrei no carro e bati as mãos no volante, ainda com um sorriso no rosto. — Tá fugindo até quando, princesa? — murmurei para mim mesmo. Peguei o celular e abri nossa última conversa. Pensei em mandar uma mensagem, mas decidi esperar um pouco. Não queria que ela achasse que eu estava desesperado. Mas a verdade é que eu estava obcecado. Ela não é como as outras. Não caí nas minhas investidas, não sorri fácil, e aquele olhar desafiador fazia meu ego gritar. Dirigi de volta para o escritório, ainda com a cena fresca na mente. Ela de cabelo preso, a pele limpa, sem exageros, sem tentar chamar atenção. Mas era impossível não notar. Ao chegar, saí do carro e fui direto para o elevador. Assim que as portas se abriram no andar da minha sala, dei de cara com Bárbara de novo, agora encostada na mesa da recepcionista. — Tava te esperando. — Ela disse, mordendo o lábio inferior. Revirei os olhos e continuei andando. — Não tô com tempo pra isso, Bárbara. — Desde quando você não tem tempo pra mim? — Ela veio atrás, jogando o cabelo para o lado. Entrei na minha sala e ela veio junto. — Sai. — Qual o problema? — Ela cruzou os braços, irritada. — É alguma vadiä nova? Fui até minha cadeira e me joguei , acendendo um charuto. — Se toca, Bárbara. O que a gente teve já acabou faz tempo. Ela bufou, mas não se moveu. — Não acredito que tá dispensando isso tudo por causa de uma qualquer. Joguei a fumaça para o lado e encarei ela, rindo de canto. — A diferença entre você e ela é que ela não se j**a nos meus pés. Ela ficou vermelha de raiva. — Você vai se arrepender. — Já ouvi isso antes. — respondi, voltando minha atenção para o telefone. Bárbara bufou mais uma vez antes de sair batendo a porta. Peguei o celular e, sem pensar muito, digitei: "Ana Kelly, já decidiu quando vou te ver de novo?" Eu sabia que ela ia resistir, mas não por muito tempo. Acendi mais um charuto e encarei o celular, esperando a resposta dela. Mas Ana Kelly não respondeu de imediato. Ri de canto. Ela queria bancar a difícil, mas eu sabia que estava na cabeça dela. Uma mulher que realmente não se importava teria me ignorado no restaurante, não teria ficado sem jeito ao me ver. Soltei a fumaça devagar, tamborilando os dedos na mesa. A porta se abriu de novo, dessa vez era Victor, meu advogado. Ele entrou sem cerimônia e jogou uma pasta sobre a mesa. — A viagem tá confirmada. — ele disse. — Já? — Sim. Não tem como você escapar dessa, Anthony. Os investidores querem te ver pessoalmente. Fechei os olhos por um instante. Eu gostava de negócios, mas naquele momento minha cabeça estava em outra coisa — ou melhor, em outra pessoa. — Quantos dias? — Três, no mínimo. Mas dependendo do que resolver por lá, pode ser até cinco. Pensei rápido. Se eu ia viajar, precisava ver Ana Kelly antes. — Me passa os detalhes depois. — Já te mandei no e-mail. Victor me olhou com atenção. — O que tá acontecendo contigo? Desde quando você fica distraído desse jeito? — Ele perguntou eu apenas sorri, pegando meu celular de novo. — Nada que te interesse. — Faiei e Victor riu, negando com a cabeça. — Mulher. Só pode ser mulher. Não confirmei nem neguei. Quando ele saiu, olhei o celular mais uma vez. Nada. Ana Kelly estava testando minha paciência. Então, sem pensar duas vezes, disquei o número dela. Ela atendeu na terceira chamada. Ligação On — Já tão me ligando agora? — disse, e pude ouvir um tom de ironia na voz dela. Sorri, inclinando-me na cadeira. — Senti sua falta. Ela bufou. — Dá pra sentir falta de alguém que você mal conhece? — Dá quando esse alguém tem algo que me interessa. Ela riu, e eu soube que a tinha pegado. — E o que eu tenho que te interessa tanto? Joguei mais fumaça para o lado e murmurei: — Ainda tô descobrindo. Ela ficou em silêncio por um segundo. — Anthony, eu já te falei… não tô aqui pra arrumar confusão. — Quem disse que é confusão? — Se envolver com você me parece exatamente isso. — Ou uma experiência interessante. Ela riu de novo, mas não respondeu. — Vem jantar comigo hoje. — propus. — Nem pensar. — Acha que consegue fugir de mim pra sempre? — Acho que consigo não me envolver, e isso já é o bastante. Soltei um riso baixo. Ela era teimosa, e isso só me deixava mais curioso. — Então vamos fazer um trato. Se até o fim da semana você não quiser mais falar comigo, eu paro. Ela hesitou. — Isso me parece uma armadilha. — Se fosse, você já teria caído. Ela ficou em silêncio, e eu sabia que estava considerando. — Pensa nisso. — acrescentei. Ligação Off Antes que ela pudesse recusar de novo, desliguei. Eu sempre vencia. Ela só não sabia disso ainda.Ana Kelly Narrando O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde a última ligação de Anthony, eu tentei ignorá-lo, mas a verdade é que ele era insistente. Todos os dias ele mandava mensagens curtas, diretas, como se estivesse certo de que eu responderia. Não respondi nenhuma.Mas o problema é que eu pensava nele....Karen percebeu. — Você tá fugindo dele por quê? — perguntou enquanto se jogava no sofá ao meu lado. — Porque ele é perigoso. — Felei, e ela franziu a testa me encarando. — Perigoso como? Ele parece mais um milionário mimado do que um mafioso. — Não sei explicar… ele tem algo que… — Como se ele tivesse o mundo aos seus pés. — Te assusta? — Ela pergunta e eu fiquei em silêncio. Karen sorriu de lado. — Ou te atrai? — Revirei os olhos e me levantei. — Eu não vim pra cá pra me envolver com ninguém. — Falei com tom de voz um pouco alterado. — Mas você já tá envolvida, amiga. Só não percebeu ainda. Joguei uma almofada nela e subi para o quarto, bufando. Ma
Anthony narrando O olhar de Ana estava atento a cada movimento meu, e eu sabia que ela estava tentando se proteger, mas a maneira como ela me observava, um misto de desconfiança e curiosidade, me fazia saber que, mesmo tentando resistir, ela não estava completamente alheia ao que estava acontecendo entre nós. Ela entrou em meu jogo, mesmo que não admitisse. A noite estava boa, a conversa fluía, e eu podia sentir que ela começava a relaxar, mesmo que um pouco. Eu estava ali para conquistar sua confiança, para descobrir até onde ela iria se entregar a essa tensão que se criava entre nós. Não era só desejo físico — embora isso também estivesse claro, talvez mais claro para mim do que para ela. Mas havia algo mais. Algo que eu sabia que ela sentia também, mas que não queria aceitar. Quando finalmente saímos do restaurante, eu podia ver que ela estava dividida. A tensão no ar era palpável. Ela se virou para mim, como se estivesse tentando achar uma saída, e não pude evitar. Aproximei-me
Ana Kelly Narrando Eu ainda sentia o gosto dele nos meus lábios. O toque, a pressão, a intensidade daquele beijo... Meu corpo fervia, minha mente em guerra. Como ele, que mal me conhecia, conseguia me envolver desse jeito? Eu nunca quis me apegar a ninguém, mas Anthony parecia ter outros planos.Entrei em casa sentindo o coração disparado. Ele não saía da minha cabeça, e isso me irritava. Quem era esse cara? O que ele queria comigo? Ele sabia exatamente o que estava fazendo.Assim que pisei na sala, Karen me encarou de braços cruzados, já esperando fofoca.— E aí? Como foi? — Ela perguntou com aquele olhar curioso, pronta para ouvir cada detalhe.Me joguei no sofá, passei a língua nos lábios ainda sentindo o gosto do beijo e suspirei.— Eu não sei, Karen... — Comecei, tentando organizar os pensamentos. — Esse Anthony... Ele tem alguma coisa, sabe? O cara sabe exatamente o que fazer pra me deixar fora de controle. O beijo foi tão... intenso. Eu tentei resistir, mas não deu.Karen arqu
Karen Cristina Narrando A vida me deu limões, mas eu transformei em limonada com maracujá, gelo e tudo que tem direito. Quem me conhece sabe: Karen Cristina, 28 anos, 1,70m, sarada do jeito que a vida me fez e sem medo de ostentar. Não tem essa de se esconder, miga, porque eu me amo e pronto. Meu cabelo cacheado é volumoso, e se o vento bagunça, é porque eu sou dona do vento. E não, não sou dessas que fica chorando por nada, não. Se a vida me derrubou, eu levanto e vou para o rolê de cabeça erguida. Afinal, quem não luta, desiste. Agora, falar da Ana Kelly, minha amiga... Essa menina chegou aqui em casa toda perdida, os olhos tão confusos que eu soube logo: essa garota tá precisando de uma amiga de verdade. E eu, minha filha, sou amiga para todas as horas. Era um dia como outro qualquer quando disse que estava vindo. No outro dia, ela bateu na minha porta. A expressão dela, meio abatida, fez meu coração apertar. Eu sabia que ela tava fugindo de alguma coisa, mas eu não sou de perg
Capítulo: Anthony A mulher mexeu comigo de um jeito que eu nem sei explicar. Desde que senti o gosto da boca dela, não consegui mais esquecer. Putä que pariu, aquilo foi bom demais. Passei a noite inteira com a voz dela na minha cabeça, rodando sem parar, e por incrível que pareça, dormi melhor do que nunca. Acordei com o despertador apitando, bati a mão no botão e espreguicei forte antes de levantar de um pulo. Direto pro banheiro, rotina é rotina, e eu não saio de casa sem meu banho matinal. A água gelada bateu no meu corpo e deu aquele choque de realidade. Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando organizar as ideias. Mas a verdade é que a única coisa que eu queria organizar era um jeito de ver a Ana de novo. Depois do banho, já saí do quarto com a toalha enrolada na cintura, vesti uma roupa leve e desci as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que Josefa já tinha preparado. — Bom dia, patrão! — Josefa falou toda animada, já colocando a mesa. — Bom dia, minha velh
Ana Kelly Narrando Cruzei os braços e encarei Anthony, tentando manter a compostura. O homem tinha a audácia de me jogar um pedido de casamento na cara como se fosse a solução mágica pra minha vida. Respirei fundo, porque se eu não organizasse meus pensamentos, ia acabar mandando ele pra puta que pariu sem nem perceber. — Olha, Anthony, eu vim até aqui porque, sim, você tá insistindo demais. Mas também porque eu realmente preciso de um emprego. Eu tô na cidade há pouco tempo e não quero depender da Karen pra tudo. Sei que ninguém tem obrigação de arcar com minhas despesas, e não acho justo jogar isso pra cima dela. — Ele me cortou antes que eu continuasse. — Por isso que eu não quero você como minha funcionária. Quero você como minha mulher. — Dei uma gargalhada debochada, balançando a cabeça. — Tá de brincadeira comigo, né? Você tá me achando o quê? Uma coitadinha? Quer que eu me case com você pra bancar minhas contas? Pra me marcar nessa cidade como a mulher do Anthony? Os olh
Anthony Narrando Eu andava de um lado para o outro dentro da sala, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Nunca fui de levar um fora, ainda mais assim, na cara dura, na frente de todo mundo. O que essa mulher tem na cabeça? Qualquer outra teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas não, Ana Kelly fez questão de me rejeitar.— Merda! — Rosnei, passando a mão no cabelo, tentando acalmar o sangue fervendo.Peguei o telefone e disquei rápido.Ligação On — Fica de olho nela. Quero saber onde vai, com quem fala, se tá precisando de alguma coisa. Mas sem ela perceber. — Fui direto ao ponto.— Pode deixar, chefe. — A voz do outro lado confirmou.Ligação Off Desliguei o celular e joguei ele na mesa. Se Ana Kelly achou que ia sair da minha vida assim, sem mais nem menos, estava enganada.A porta se abriu sem cerimônia, e Estevão entrou como se fosse dono do lugar. Fechou a porta atrás de si e abriu os braços.— De qual é, meu amigo? — Já chegou perguntandoCruzei os braços, soltando um
Ana Kelly NarrandoAinda não estava conseguia acreditar no que o Anthony fez. Saí do escritório sem nem olhar para trás, pensando: eu sou mesmo uma besta?. Só porque tenho essa carinha de boneca? Mas depois de tudo o que passei nas mãos do Vinícius, jamais cairia de cabeça em outro relacionamento sem saber onde estou pisando. Eu senti um arrepio só de lembrar do jeito que ele me olhou no primeiro dia, naquele bar. Na mesma noite, ele me ligou, me deixando em pânico. Meu coração disparava, e Karen insistia que eu deveria dar uma chance, que não devia ser dura nem comigo mesma, nem com ele.— Não me olha com essa cara — falei para Karen, que me olhava de cara fechada, porque eu não deixei ela lá em cima batendo boca com a Bárbara.— Com certeza aquela mulherzinha foi rejeitada por ele, né? Mulher rejeitada, eu conheço de longe. Mulher recalcada, conheço de vista... — Ela foi praticamente o caminho todo resmungando, falando mal da secretária do Anthony.Mas o jeito que aquela mulher me o