Ana Kelly Narrando
Fiquei encarando o telefone por um bom tempo, a tela iluminando meu rosto na penumbra do quarto. Meu dedo passava distraidamente sobre a tela, sem coragem de responder a mensagem de Anthony. Ele me deixou desconfortável, mas ao mesmo tempo, havia algo intrigante em sua insistência. Respirei fundo antes de finalmente tomar a decisão de responder. Toquei na tela, digitando uma resposta rápida, mas antes de enviar, hesitei. Ele tinha sido claro sobre o que queria: saber se eu queria falar com ele ou se era sobre o emprego que ele mencionou. Mas eu sabia que ele estava indo rápido demais. Algo em seu tom, na forma como ele se expôs, me fez perceber que ele não estava interessado apenas em um simples trabalho. Demorei para responder, a mente girando. No momento em que decidi que devia enviar algo para não deixar o silêncio tomar conta, o telefone vibrou novamente. Era ele, mais uma vez. Olhei a tela e hesitei mais um pouco, mas acabei atendendo. A voz dele veio instantaneamente, sem qualquer tipo de espera. Ligação On — Oi, Ana, finalmente você decidiu atender. — A voz dele era firme, mas havia algo de… urgente nela. — Então, me diz, você quer conversar comigo ou é sobre o emprego mesmo? Eu estava sem palavras por um segundo. Ele falava tão direto, como se já soubesse o que eu iria dizer. Respirei fundo, tentando manter a calma. — Bom, eu pensei que fosse melhor falar sobre o emprego... — minha voz estava um pouco vacilante. — Sério? — Ele soou levemente surpreso, o tom mudando um pouco. — Eu pensei que, quem sabe, a gente poderia falar sobre algo mais, algo mais interessante. Eu vi algo em você, Ana. Algo que não vejo em nenhuma outra mulher. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Isso não estava indo na direção que eu esperava. Ele estava indo rápido demais, e eu nem sabia como reagir. — Anthony, a gente trocou poucas palavras. Como você pode ver algo assim em mim? — Respondi, tentando ser direta. — Eu sou nova aqui. Não estou atrás de nada, muito menos de relações. Houve uma pausa. Eu podia sentir que ele estava pensando em algo antes de continuar. — É exatamente isso que me fascina. Você não está atrás de nada, mas, mesmo assim, me atrai. — Ele falou com um tom de voz quase sedutor. — Quero te conhecer melhor, Ana. Não só como possível funcionária. Eu quero saber quem você é de verdade. Eu ri nervosamente, tentando não demonstrar o quão incomodada estava. Isso era sério demais, rápido demais, e eu mal sabia quem ele realmente era. — Você não pode me conhecer, Anthony. Você não passou nem 40 minutos perto de mim e mal trocamos cinco frases. — A minha voz vacilava, tentando manter o tom leve, mas a verdade é que aquilo estava me deixando desconfortável. — Como você pode já ter esse tipo de percepção sobre mim? Ele deu uma risada suave, quase como se estivesse se divertindo com a minha resistência. — Porque eu vejo mais do que você imagina, Ana. — Ele disse, com um tom possessivo. — Eu vejo você. Sei que tem muito mais por trás dessa sua fachada de menina séria. Quero descobrir cada pedacinho disso. Eu tentei rir, mas meu estômago virou um pouco com a pressão. Era estranho demais, até mesmo para mim. — Você é muito direto, Anthony... — Falei tentando manter o tom descontraído. — Eu não estou aqui para isso. Minha vibda para a cidade não foi em busca de um relacionamento, quem sabe uma amizade, mas nada mais. Ele não parecia disposto a deixar aquilo passar. — Amizade? Você está brincando, né? — Ele riu de novo, essa risada com um tom de certeza. — Acho que não, Ana. Eu vejo a forma como você me olha. Eu sei que você sente algo também. Não adianta fugir disso. Eu balancei a cabeça, tentando desviar o foco. Estava ficando cansada disso. — Você é insistente, sabia? — Eu disse, tentando desarmá-lo. — Mas, olha... já está tarde, eu estou com sono. Ele pareceu perceber que eu estava começando a recuar um pouco, mas não desistiu. Ele foi mais suave dessa vez, mas ainda tinha aquele tom de quem não aceita um “não” como resposta. — Eu vou deixar você dormir, Ana. Mas saiba que eu não desisto fácil. — Ele fez uma pausa. — Eu quero que você venha até o meu escritório amanhã. Vou esperar por você. Vou te mostrar a cidade. Eu hesitei, me sentindo pressionada, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim queria ser firme. — Tá bom. Amanhã eu não sei. Mas vamos ver um dia. — Eu disse, tentando soar mais tranquila, e então, sem esperar mais nada, desliguei o telefone rapidamente. Ligação Off Meu coração estava acelerado, mas eu estava determinada a manter distância. Eu sabia que não podia me deixar levar por aquele jogo que ele estava jogando. Ele podia ser charmoso, mas eu não estava à venda. E, por mais que eu tentasse me convencer disso, havia algo dentro de mim que não estava tão certa assim. Me levantei rapidamente, caminhando até o banheiro. Amarrando o cabelo num coque folgado alto, respirei fundo, encarando meu reflexo no espelho. — Ana Kelly, Ana Kelly... — Falei baixinho, quase me xingando. — Você fugiu de um relacionamento abusivo e agora encontra um doido desses pela frente. Não sei se tô afim de trabalhar com alguém assim. Suspirei, passando a mão pela testa, tentando espantar as dúvidas que estavam surgindo. Voltei para o quarto e me joguei na cama. Olhei para o telefone, ainda vibrando, e coloquei no modo silencioso. O dia estava amanhecendo e eu sabia que precisava descansar. Mal eu fechei os olhos, senti o colchão afundar e Karen saltar na cama, me fazendo quase cair. — Você é louca! Que horas são? — Perguntei, tentando equilibrar o sono com o susto. Ela deu uma risada, animada como sempre, sem nem um pingo de noção de horário. — São 9 horas da manhã, ué. — Ela respondeu, rindo da minha cara. Eu balancei a cabeça, ainda sem acreditar. — Caramba, já? — Respondi, esticando os braços e me espreguiçando, tentando fazer sentido do que estava acontecendo. Fechei os olhos novamente, mas a ansiedade do dia já estava tomando conta de mim. — É, já. O dia amanheceu! — Karen falou, como se fosse algo óbvio. Respirei fundo, o cheiro de café começando a invadir o ambiente. — Levanta logo e faz sua higiene. — Karen disse, com aquele tom de dona de casa mandona. — Vamos descer tomar café e depois dar uma volta. Fiz uma careta, mas sabia que não ia adiantar discutir. Me levantei da cama e fui em direção ao banheiro. As coisas iam ficando cada vez mais complicadas, mas, ao mesmo tempo, não sabia se podia me dar ao luxo de recuar........Anthony Narrando Quando desliguei o telefone, ainda estava com um sorriso estampado no rosto. Ela atendeu. Ela atendeu! Era o que eu mais queria. E mal sabia ela, mas ela seria minha. Tudo o que ela não percebeu na nossa conversa era que eu só estava começando o jogo. Cada palavra dela, cada resistência, só me fazia querer mais. Fiquei ali, com o telefone na mão, encarando a tela por mais um momento, tentando entender o que acontecia dentro de mim. Ela foi rude, direta demais, sem nenhuma emoção. Quase fria. E me perguntei: por que? Eu, que sempre consegui tudo o que queria — seja nos negócios, seja nas mulheres — não entendia como ela não se derretia ao meu charme. Não era normal. Nenhuma mulher, até agora, me enfrentou dessa maneira. Mas algo nela... algo nela mexeu comigo. Ela mal sabe, mas ela vai ser minha, eu só preciso ter paciência. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto enquanto a ideia se firmava na minha cabeça. Não era só desejo. Era mais. Algo mais profundo. A
Ana Kelly NarrandoDesci as escadas devagar, sentindo ainda o peso da noite mal dormida. O cheiro de café fresco invadiu minhas narinas antes mesmo de eu chegar à cozinha. Quando coloquei os pés no cômodo, Karen já estava sentada à mesa, comendo uma torrada, e me olhou com aquele ar de quem já sabia que eu tinha algo para contar.— Bom dia, dorminhoca! — Ela disse, com um sorriso malandro. — Dormiu bem?Revirei os olhos, pegando uma xícara e me servindo de café antes de responder.— Dormir? Mal fechei os olhos e você já estava pulando na minha cama.Ela deu de ombros, mastigando mais um pedaço da torrada.— Sinal de que você precisava acordar. Mas enfim, vai, conta. Você tá com essa cara aí...Sentei à mesa, respirando fundo antes de soltar:— Anthony me ligou.Karen travou os lábios na mesma hora, desviando o olhar como se estivesse escondendo alguma coisa. Eu franzi a testa, estreitando os olhos para ela.— Karen... Como ele conseguiu meu número?Ela engoliu seco, deu um sorrisinho
Anthony NarrandoSaí do restaurante sentindo o sangue quente correndo nas veias. Encontrar Ana Kelly daquele jeito, por acaso, só me provava o óbvio: era questão de tempo até ela se entregar.A maneira como ela me olhava, tentando disfarçar o desconforto, me divertia. Não era medo, era resistência. E isso só me deixava mais instigado.Entrei no carro e bati as mãos no volante, ainda com um sorriso no rosto.— Tá fugindo até quando, princesa? — murmurei para mim mesmo.Peguei o celular e abri nossa última conversa. Pensei em mandar uma mensagem, mas decidi esperar um pouco. Não queria que ela achasse que eu estava desesperado.Mas a verdade é que eu estava obcecado.Ela não é como as outras. Não caí nas minhas investidas, não sorri fácil, e aquele olhar desafiador fazia meu ego gritar.Dirigi de volta para o escritório, ainda com a cena fresca na mente. Ela de cabelo preso, a pele limpa, sem exageros, sem tentar chamar atenção. Mas era impossível não notar.Ao chegar, saí do carro e fu
Ana Kelly Narrando O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde a última ligação de Anthony, eu tentei ignorá-lo, mas a verdade é que ele era insistente. Todos os dias ele mandava mensagens curtas, diretas, como se estivesse certo de que eu responderia. Não respondi nenhuma.Mas o problema é que eu pensava nele....Karen percebeu. — Você tá fugindo dele por quê? — perguntou enquanto se jogava no sofá ao meu lado. — Porque ele é perigoso. — Felei, e ela franziu a testa me encarando. — Perigoso como? Ele parece mais um milionário mimado do que um mafioso. — Não sei explicar… ele tem algo que… — Como se ele tivesse o mundo aos seus pés. — Te assusta? — Ela pergunta e eu fiquei em silêncio. Karen sorriu de lado. — Ou te atrai? — Revirei os olhos e me levantei. — Eu não vim pra cá pra me envolver com ninguém. — Falei com tom de voz um pouco alterado. — Mas você já tá envolvida, amiga. Só não percebeu ainda. Joguei uma almofada nela e subi para o quarto, bufando. Ma
Anthony narrando O olhar de Ana estava atento a cada movimento meu, e eu sabia que ela estava tentando se proteger, mas a maneira como ela me observava, um misto de desconfiança e curiosidade, me fazia saber que, mesmo tentando resistir, ela não estava completamente alheia ao que estava acontecendo entre nós. Ela entrou em meu jogo, mesmo que não admitisse. A noite estava boa, a conversa fluía, e eu podia sentir que ela começava a relaxar, mesmo que um pouco. Eu estava ali para conquistar sua confiança, para descobrir até onde ela iria se entregar a essa tensão que se criava entre nós. Não era só desejo físico — embora isso também estivesse claro, talvez mais claro para mim do que para ela. Mas havia algo mais. Algo que eu sabia que ela sentia também, mas que não queria aceitar. Quando finalmente saímos do restaurante, eu podia ver que ela estava dividida. A tensão no ar era palpável. Ela se virou para mim, como se estivesse tentando achar uma saída, e não pude evitar. Aproximei-me
Ana Kelly Narrando Eu ainda sentia o gosto dele nos meus lábios. O toque, a pressão, a intensidade daquele beijo... Meu corpo fervia, minha mente em guerra. Como ele, que mal me conhecia, conseguia me envolver desse jeito? Eu nunca quis me apegar a ninguém, mas Anthony parecia ter outros planos.Entrei em casa sentindo o coração disparado. Ele não saía da minha cabeça, e isso me irritava. Quem era esse cara? O que ele queria comigo? Ele sabia exatamente o que estava fazendo.Assim que pisei na sala, Karen me encarou de braços cruzados, já esperando fofoca.— E aí? Como foi? — Ela perguntou com aquele olhar curioso, pronta para ouvir cada detalhe.Me joguei no sofá, passei a língua nos lábios ainda sentindo o gosto do beijo e suspirei.— Eu não sei, Karen... — Comecei, tentando organizar os pensamentos. — Esse Anthony... Ele tem alguma coisa, sabe? O cara sabe exatamente o que fazer pra me deixar fora de controle. O beijo foi tão... intenso. Eu tentei resistir, mas não deu.Karen arqu
Karen Cristina Narrando A vida me deu limões, mas eu transformei em limonada com maracujá, gelo e tudo que tem direito. Quem me conhece sabe: Karen Cristina, 28 anos, 1,70m, sarada do jeito que a vida me fez e sem medo de ostentar. Não tem essa de se esconder, miga, porque eu me amo e pronto. Meu cabelo cacheado é volumoso, e se o vento bagunça, é porque eu sou dona do vento. E não, não sou dessas que fica chorando por nada, não. Se a vida me derrubou, eu levanto e vou para o rolê de cabeça erguida. Afinal, quem não luta, desiste. Agora, falar da Ana Kelly, minha amiga... Essa menina chegou aqui em casa toda perdida, os olhos tão confusos que eu soube logo: essa garota tá precisando de uma amiga de verdade. E eu, minha filha, sou amiga para todas as horas. Era um dia como outro qualquer quando disse que estava vindo. No outro dia, ela bateu na minha porta. A expressão dela, meio abatida, fez meu coração apertar. Eu sabia que ela tava fugindo de alguma coisa, mas eu não sou de perg
Capítulo: Anthony A mulher mexeu comigo de um jeito que eu nem sei explicar. Desde que senti o gosto da boca dela, não consegui mais esquecer. Putä que pariu, aquilo foi bom demais. Passei a noite inteira com a voz dela na minha cabeça, rodando sem parar, e por incrível que pareça, dormi melhor do que nunca. Acordei com o despertador apitando, bati a mão no botão e espreguicei forte antes de levantar de um pulo. Direto pro banheiro, rotina é rotina, e eu não saio de casa sem meu banho matinal. A água gelada bateu no meu corpo e deu aquele choque de realidade. Respirei fundo, esfregando o rosto, tentando organizar as ideias. Mas a verdade é que a única coisa que eu queria organizar era um jeito de ver a Ana de novo. Depois do banho, já saí do quarto com a toalha enrolada na cintura, vesti uma roupa leve e desci as escadas sentindo o cheiro do café da manhã que Josefa já tinha preparado. — Bom dia, patrão! — Josefa falou toda animada, já colocando a mesa. — Bom dia, minha velh