Anthony Narrando
A fumaça do meu cigarro se dissipava no ar, subindo como se quisesse escapar da cidade que parecia me engolir. Eu observava a rua vazia, o som das buzinas distantes ecoando na madrugada. Mas minha mente estava fixada em Ana Kelly. Ela tinha saído do bar sem nem olhar para trás, como se não tivesse deixado uma marca em mim. Mas ela deixou. — Interessante — murmurei, soltando uma baforada de fumaça e segurando o copo de whisky com mais força do que o normal. Não estava com pressa de voltar para casa. Algo me dizia que ainda tinha algo em aberto. Fiquei ali, absorvendo o clima da cidade, tentando entender o que ela significava, mas também sentindo uma provocação constante. Aquela mulher não era fácil. E eu gostava disso. Nenhuma mulher que virasse as costas para mim era comum. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei. O barman passou por mim novamente, limpando o balcão sem pressa. — Conhece ela? — perguntei, jogando a pergunta como se fosse uma conversa qualquer, mas na verdade, estava caçando mais informações. Ele olhou para mim, então, para a porta de onde Ana Kelly havia saído, antes de responder com um sorriso torto: — Ela não parece ser de fácil acesso, meu chapa. A moça é fogo. A amiga dela, a Karen, é quem manda nessa história. Mas... Ela chegou há pouco tempo, sabe? Parece que está em busca de algo novo. Não sei bem o que, mas... quem é da cidade acaba ouvindo as histórias. Ajeitei o relógio no pulso, pensando nas palavras dele. A chave estava ali. Karen. Essa era a peça que eu precisava. — Valeu. — Dei um sorriso curto, mas sem graça. O barman não precisava saber mais do que já sabia. Dei um último gole no whisky e saí para a rua fria. A cidade estava mais viva do que nunca, e eu me sentia imune ao caos ao meu redor. Ao meu redor, tudo tinha um ritmo. Mas Ana Kelly? Ela estava fora de sintonia, e eu adorava um desafio. Horas depois, estava sentado no meu carro, estacionado em uma rua silenciosa. O vento cortava, mas minha atenção estava completamente na tela do meu celular. Tinha feito a lição de casa. Conseguir o número dela foi fácil. Quando você tem os contatos certos, nada é realmente difícil. Dedo sobre a tela. Ligação para Ana Kelly...... Esperei....Nada. Mais uma vez, liguei. E mais uma vez, a tela ficou quieta. Ela sabia que eu estava tentando. Sabia que tinha visto a chamada. Mas não atendeu. A mulher tinha marra, isso era certo. Um sorriso se formou no canto da minha boca. Eu já estava me divertindo. — Vamos ver até onde você aguenta me ignorar, Ana Kelly. — Aquele pensamento alto, com os olhos vidrados na tela do celular. Não ia ser fácil, eu sabia. Mas o jogo só começa quando ambos entram nele. E eu nunca perco. Não costumo perder. Ajeitei o banco e passei a mão pela cabeça. A cidade lá fora parecia um cenário perfeito. O som das ruas, o vento batendo nas árvores... mas tudo aquilo era só fundo. O que eu realmente queria era a atenção dela. Ela era diferente, e eu estava curioso demais para deixá-la escapar. Foi então que uma ideia surgiu. Abri a mensagem no celular e escrevi. Não estava disposto a esperar mais. O número dela já estava na minha lista, e a noite não ia acabar sem que eu deixasse minha marca. "Ana Kelly, sei que você é nova na cidade. Pode estar procurando algo. Trabalho talvez? Meu escritório fica na Rua X, número 300, segundo andar. Não custa dar uma passada por lá. Acredito que podemos trocar umas ideias. Você já me conhece, mas ainda estou querendo saber mais sobre você." Fechei os olhos por um instante, sabendo exatamente o que estava fazendo. Não havia espaço para hesitação. Se ela não atendesse a chamada, talvez a mensagem fosse mais eficaz. E, se ela fosse esperta, saberia que uma oferta como aquela não aparecia todos os dias. Um trabalho, uma oportunidade, e, quem sabe, uma chance de ela voltar a me ver. Reparei nas luzes da cidade através do vidro do carro e me senti mais perto de algo. Mais perto dela. "Não vai resistir," pensei, soltando um suspiro. Meu instinto estava afiando, mas estava mais do que claro: o jogo tinha começado, e eu estava pronto para levar Ana Kelly onde eu quisesse. Quando eu quisesse. A mensagem foi enviada. A ansiedade da espera começou a crescer. Mas isso era normal. O que vinha depois, eu sabia bem: um encontro, um jogo, e talvez mais. Eu nunca gostei de perder. E, com ela, eu não estava disposto a começar agora. Olhei rapidamente para o relógio. Já eram 3:00 da manhã. A cidade estava mais vazia do que nunca, mas na minha cabeça, as ideias estavam rodando a mil por hora. Ana Kelly, o número que tinha acabado de conseguir, a mensagem que tinha enviado… E, claro, o trabalho, a rotina, as coisas que não podiam parar. Mas, mesmo com tudo isso, algo ainda estava pendente. Mudei a rota do carro sem pensar duas vezes. O instinto não falha. A cabeça ainda quente, acelerando de forma quase instintiva, eu segui direto para o apartamento de Carla. Já sabia o caminho de cor. Estacionei na frente do prédio, o vento da madrugada cortando, mas nada que fosse suficiente para esfriar a raiva que estava queimando por dentro. O porteiro me viu chegando. Não precisei dizer nada. Ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e, como sempre, me liberou sem hesitar. Eu sabia que ele entendia como as coisas funcionavam. Passei direto, sem parar, e já cheguei batendo na porta. — Anthony! O que você tá fazendo aqui? — Carla perguntou, fechando o hobby tentando cobrir o baby doll.......Anthony Narrando Ela balançou a cabeça negandö, ainda com cara de quem estava dormindo. Mas ao me ver, o sorriso se desfez rapidamente. Não era mais a mesma Carla de antes. — Você, aqui? Fala sério cara. — Ela falou com um tom ácido, tentando disfarçar a surpresa com um olhar desconfiado. — Claro que sim, Carla. Não tenho tempo para joguinhos. — Disse, empurrando a porta com força e entrando. Ela tentou recuar, mas não tinha mais espaço. — Achou que ia sair assim, sem mais nem menos? Que ia arrumar um "romancezinho" e me deixar? — Minha voz saiu em um rosnado. Ela cruzou os braços, tentando manter a pose. — Eu te avisei, Anthony. Eu não sou mais sua secretária. Não sou mais nada. Você só queria essa vida de merdä, cheia de mulheres e putarïa. Eu queria um amor, algo real. Eu ri, não de diversão, mas de desdém. Carla sempre foi assim, cheia de ilusão, pensando que eu ia mudar por ela. O problema é que ela não me conhecia como pensava que conhecia. — Amor? — Falei, me aproximand
Ana Kelly Narrando Fiquei encarando o telefone por um bom tempo, a tela iluminando meu rosto na penumbra do quarto. Meu dedo passava distraidamente sobre a tela, sem coragem de responder a mensagem de Anthony. Ele me deixou desconfortável, mas ao mesmo tempo, havia algo intrigante em sua insistência. Respirei fundo antes de finalmente tomar a decisão de responder. Toquei na tela, digitando uma resposta rápida, mas antes de enviar, hesitei. Ele tinha sido claro sobre o que queria: saber se eu queria falar com ele ou se era sobre o emprego que ele mencionou. Mas eu sabia que ele estava indo rápido demais. Algo em seu tom, na forma como ele se expôs, me fez perceber que ele não estava interessado apenas em um simples trabalho. Demorei para responder, a mente girando. No momento em que decidi que devia enviar algo para não deixar o silêncio tomar conta, o telefone vibrou novamente. Era ele, mais uma vez. Olhei a tela e hesitei mais um pouco, mas acabei atendendo. A voz dele veio
Anthony Narrando Quando desliguei o telefone, ainda estava com um sorriso estampado no rosto. Ela atendeu. Ela atendeu! Era o que eu mais queria. E mal sabia ela, mas ela seria minha. Tudo o que ela não percebeu na nossa conversa era que eu só estava começando o jogo. Cada palavra dela, cada resistência, só me fazia querer mais. Fiquei ali, com o telefone na mão, encarando a tela por mais um momento, tentando entender o que acontecia dentro de mim. Ela foi rude, direta demais, sem nenhuma emoção. Quase fria. E me perguntei: por que? Eu, que sempre consegui tudo o que queria — seja nos negócios, seja nas mulheres — não entendia como ela não se derretia ao meu charme. Não era normal. Nenhuma mulher, até agora, me enfrentou dessa maneira. Mas algo nela... algo nela mexeu comigo. Ela mal sabe, mas ela vai ser minha, eu só preciso ter paciência. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto enquanto a ideia se firmava na minha cabeça. Não era só desejo. Era mais. Algo mais profundo. A
Ana Kelly NarrandoDesci as escadas devagar, sentindo ainda o peso da noite mal dormida. O cheiro de café fresco invadiu minhas narinas antes mesmo de eu chegar à cozinha. Quando coloquei os pés no cômodo, Karen já estava sentada à mesa, comendo uma torrada, e me olhou com aquele ar de quem já sabia que eu tinha algo para contar.— Bom dia, dorminhoca! — Ela disse, com um sorriso malandro. — Dormiu bem?Revirei os olhos, pegando uma xícara e me servindo de café antes de responder.— Dormir? Mal fechei os olhos e você já estava pulando na minha cama.Ela deu de ombros, mastigando mais um pedaço da torrada.— Sinal de que você precisava acordar. Mas enfim, vai, conta. Você tá com essa cara aí...Sentei à mesa, respirando fundo antes de soltar:— Anthony me ligou.Karen travou os lábios na mesma hora, desviando o olhar como se estivesse escondendo alguma coisa. Eu franzi a testa, estreitando os olhos para ela.— Karen... Como ele conseguiu meu número?Ela engoliu seco, deu um sorrisinho
Anthony NarrandoSaí do restaurante sentindo o sangue quente correndo nas veias. Encontrar Ana Kelly daquele jeito, por acaso, só me provava o óbvio: era questão de tempo até ela se entregar.A maneira como ela me olhava, tentando disfarçar o desconforto, me divertia. Não era medo, era resistência. E isso só me deixava mais instigado.Entrei no carro e bati as mãos no volante, ainda com um sorriso no rosto.— Tá fugindo até quando, princesa? — murmurei para mim mesmo.Peguei o celular e abri nossa última conversa. Pensei em mandar uma mensagem, mas decidi esperar um pouco. Não queria que ela achasse que eu estava desesperado.Mas a verdade é que eu estava obcecado.Ela não é como as outras. Não caí nas minhas investidas, não sorri fácil, e aquele olhar desafiador fazia meu ego gritar.Dirigi de volta para o escritório, ainda com a cena fresca na mente. Ela de cabelo preso, a pele limpa, sem exageros, sem tentar chamar atenção. Mas era impossível não notar.Ao chegar, saí do carro e fu
Ana Kelly Narrando O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Desde a última ligação de Anthony, eu tentei ignorá-lo, mas a verdade é que ele era insistente. Todos os dias ele mandava mensagens curtas, diretas, como se estivesse certo de que eu responderia. Não respondi nenhuma.Mas o problema é que eu pensava nele....Karen percebeu. — Você tá fugindo dele por quê? — perguntou enquanto se jogava no sofá ao meu lado. — Porque ele é perigoso. — Felei, e ela franziu a testa me encarando. — Perigoso como? Ele parece mais um milionário mimado do que um mafioso. — Não sei explicar… ele tem algo que… — Como se ele tivesse o mundo aos seus pés. — Te assusta? — Ela pergunta e eu fiquei em silêncio. Karen sorriu de lado. — Ou te atrai? — Revirei os olhos e me levantei. — Eu não vim pra cá pra me envolver com ninguém. — Falei com tom de voz um pouco alterado. — Mas você já tá envolvida, amiga. Só não percebeu ainda. Joguei uma almofada nela e subi para o quarto, bufando. Ma
Anthony narrando O olhar de Ana estava atento a cada movimento meu, e eu sabia que ela estava tentando se proteger, mas a maneira como ela me observava, um misto de desconfiança e curiosidade, me fazia saber que, mesmo tentando resistir, ela não estava completamente alheia ao que estava acontecendo entre nós. Ela entrou em meu jogo, mesmo que não admitisse. A noite estava boa, a conversa fluía, e eu podia sentir que ela começava a relaxar, mesmo que um pouco. Eu estava ali para conquistar sua confiança, para descobrir até onde ela iria se entregar a essa tensão que se criava entre nós. Não era só desejo físico — embora isso também estivesse claro, talvez mais claro para mim do que para ela. Mas havia algo mais. Algo que eu sabia que ela sentia também, mas que não queria aceitar. Quando finalmente saímos do restaurante, eu podia ver que ela estava dividida. A tensão no ar era palpável. Ela se virou para mim, como se estivesse tentando achar uma saída, e não pude evitar. Aproximei-me
Ana Kelly Narrando Eu ainda sentia o gosto dele nos meus lábios. O toque, a pressão, a intensidade daquele beijo... Meu corpo fervia, minha mente em guerra. Como ele, que mal me conhecia, conseguia me envolver desse jeito? Eu nunca quis me apegar a ninguém, mas Anthony parecia ter outros planos.Entrei em casa sentindo o coração disparado. Ele não saía da minha cabeça, e isso me irritava. Quem era esse cara? O que ele queria comigo? Ele sabia exatamente o que estava fazendo.Assim que pisei na sala, Karen me encarou de braços cruzados, já esperando fofoca.— E aí? Como foi? — Ela perguntou com aquele olhar curioso, pronta para ouvir cada detalhe.Me joguei no sofá, passei a língua nos lábios ainda sentindo o gosto do beijo e suspirei.— Eu não sei, Karen... — Comecei, tentando organizar os pensamentos. — Esse Anthony... Ele tem alguma coisa, sabe? O cara sabe exatamente o que fazer pra me deixar fora de controle. O beijo foi tão... intenso. Eu tentei resistir, mas não deu.Karen arqu