Capítulo 04 Anthony

Anthony Narrando

A fumaça do meu cigarro se dissipava no ar, subindo como se quisesse escapar da cidade que parecia me engolir. Eu observava a rua vazia, o som das buzinas distantes ecoando na madrugada. Mas minha mente estava fixada em Ana Kelly. Ela tinha saído do bar sem nem olhar para trás, como se não tivesse deixado uma marca em mim. Mas ela deixou.

— Interessante — murmurei, soltando uma baforada de fumaça e segurando o copo de whisky com mais força do que o normal. Não estava com pressa de voltar para casa. Algo me dizia que ainda tinha algo em aberto.

Fiquei ali, absorvendo o clima da cidade, tentando entender o que ela significava, mas também sentindo uma provocação constante. Aquela mulher não era fácil. E eu gostava disso. Nenhuma mulher que virasse as costas para mim era comum. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei.

O barman passou por mim novamente, limpando o balcão sem pressa.

— Conhece ela? — perguntei, jogando a pergunta como se fosse uma conversa qualquer, mas na verdade, estava caçando mais informações.

Ele olhou para mim, então, para a porta de onde Ana Kelly havia saído, antes de responder com um sorriso torto:

— Ela não parece ser de fácil acesso, meu chapa. A moça é fogo. A amiga dela, a Karen, é quem manda nessa história. Mas... Ela chegou há pouco tempo, sabe? Parece que está em busca de algo novo. Não sei bem o que, mas... quem é da cidade acaba ouvindo as histórias.

Ajeitei o relógio no pulso, pensando nas palavras dele. A chave estava ali. Karen. Essa era a peça que eu precisava.

— Valeu. — Dei um sorriso curto, mas sem graça. O barman não precisava saber mais do que já sabia.

Dei um último gole no whisky e saí para a rua fria. A cidade estava mais viva do que nunca, e eu me sentia imune ao caos ao meu redor. Ao meu redor, tudo tinha um ritmo. Mas Ana Kelly? Ela estava fora de sintonia, e eu adorava um desafio.

Horas depois, estava sentado no meu carro, estacionado em uma rua silenciosa. O vento cortava, mas minha atenção estava completamente na tela do meu celular. Tinha feito a lição de casa. Conseguir o número dela foi fácil. Quando você tem os contatos certos, nada é realmente difícil.

Dedo sobre a tela. Ligação para Ana Kelly...... Esperei....Nada.

Mais uma vez, liguei. E mais uma vez, a tela ficou quieta. Ela sabia que eu estava tentando. Sabia que tinha visto a chamada. Mas não atendeu. A mulher tinha marra, isso era certo. Um sorriso se formou no canto da minha boca. Eu já estava me divertindo.

— Vamos ver até onde você aguenta me ignorar, Ana Kelly. — Aquele pensamento alto, com os olhos vidrados na tela do celular.

Não ia ser fácil, eu sabia. Mas o jogo só começa quando ambos entram nele. E eu nunca perco. Não costumo perder.

Ajeitei o banco e passei a mão pela cabeça. A cidade lá fora parecia um cenário perfeito. O som das ruas, o vento batendo nas árvores... mas tudo aquilo era só fundo. O que eu realmente queria era a atenção dela. Ela era diferente, e eu estava curioso demais para deixá-la escapar.

Foi então que uma ideia surgiu.

Abri a mensagem no celular e escrevi. Não estava disposto a esperar mais. O número dela já estava na minha lista, e a noite não ia acabar sem que eu deixasse minha marca.

"Ana Kelly, sei que você é nova na cidade. Pode estar procurando algo. Trabalho talvez? Meu escritório fica na Rua X, número 300, segundo andar. Não custa dar uma passada por lá. Acredito que podemos trocar umas ideias. Você já me conhece, mas ainda estou querendo saber mais sobre você."

Fechei os olhos por um instante, sabendo exatamente o que estava fazendo. Não havia espaço para hesitação. Se ela não atendesse a chamada, talvez a mensagem fosse mais eficaz. E, se ela fosse esperta, saberia que uma oferta como aquela não aparecia todos os dias. Um trabalho, uma oportunidade, e, quem sabe, uma chance de ela voltar a me ver.

Reparei nas luzes da cidade através do vidro do carro e me senti mais perto de algo. Mais perto dela.

"Não vai resistir," pensei, soltando um suspiro. Meu instinto estava afiando, mas estava mais do que claro: o jogo tinha começado, e eu estava pronto para levar Ana Kelly onde eu quisesse. Quando eu quisesse.

A mensagem foi enviada. A ansiedade da espera começou a crescer. Mas isso era normal. O que vinha depois, eu sabia bem: um encontro, um jogo, e talvez mais.

Eu nunca gostei de perder. E, com ela, eu não estava disposto a começar agora.

Olhei rapidamente para o relógio. Já eram 3:00 da manhã. A cidade estava mais vazia do que nunca, mas na minha cabeça, as ideias estavam rodando a mil por hora. Ana Kelly, o número que tinha acabado de conseguir, a mensagem que tinha enviado… E, claro, o trabalho, a rotina, as coisas que não podiam parar. Mas, mesmo com tudo isso, algo ainda estava pendente.

Mudei a rota do carro sem pensar duas vezes. O instinto não falha. A cabeça ainda quente, acelerando de forma quase instintiva, eu segui direto para o apartamento de Carla. Já sabia o caminho de cor. Estacionei na frente do prédio, o vento da madrugada cortando, mas nada que fosse suficiente para esfriar a raiva que estava queimando por dentro.

O porteiro me viu chegando. Não precisei dizer nada. Ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e, como sempre, me liberou sem hesitar. Eu sabia que ele entendia como as coisas funcionavam. Passei direto, sem parar, e já cheguei batendo na porta.

— Anthony! O que você tá fazendo aqui? — Carla perguntou, fechando o hobby tentando cobrir o baby doll.......

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