O sangue começou a escorrer rapidamente, e Gael se viu congelado por um breve momento.
A visão do sangue trouxe de volta lembranças de sua mãe, a poça vermelha ao redor de sua cabeça, o desespero de não poder fazer nada. Ele mal conseguia processar o que acontecia à sua volta, sentindo o corpo fraquejar. A dor física misturava-se com o trauma emocional. De repente, uma voz forte e firme o trouxe de volta à realidade. ___Fica calmo, senhor, você está ferido. Vou levá-lo para um pronto-socorro.Era um policial que, ao testemunhar parte da confusão, correu até ele enquanto seu parceiro perseguia o assaltante. O policial rapidamente pressionou o ferimento no braço de Gael com um pano, tentando estancar o sangue. ___ Você vai ficar bem, só precisa de cuidados médicos.Gael, ainda em choque, mal conseguiu responder. Ele foi colocado na viatura e, com as sirenes ligadas, levado diretamente para o hospital. No hospital, Gael foi encaminhado para a emergência, onde médicos e enfermeiros começaram a preparar os materiais para tratá-lo. Ele continuava em silêncio, a expressão dura escondendo a mistura de dor e frustração que sentia. Foi quando uma enfermeira jovem, baixinha e de expressão firme, entrou na sala. Ela tinha olhos determinados e uma postura confiante, que contrastava com sua aparência delicada. Gael a olhou com frieza, como fazia com todos ao seu redor, principalmente com quem não estava no mesmo nível social que ele. Apesar de sua origem humilde, quando experimentou o poder e como o dinheiro fazia as pessoas se curvarem a ele, inclusive as mulheres, acabou se tornando igual àquelas pessoas que pisaram nele quando era um menino pobre vendendo balas nos sinais e lavando carros em troca de alguns trocados. Seu sonho inocente e inalcançável na época era ganhar dinheiro suficiente para tirar sua mãe da vida que tinha, sempre exposta a todo tipo de homem e à violência, tanto que acabou morrendo pelas mãos de um deles. Gael se tornou um homem acostumado a ser tratado com reverência e servidão, mas a jovem enfermeira não parecia se importar com a frieza com que seus olhos azuis a encaravam. ____Deixe-me ver seu ferimento.-disse ela, aproximando-se sem hesitação. ____Eu estou bem.-Gael resmungou com irritação, tentando afastar o braço.Com o olhar frio e a atitude dele, Cecília sabia que ele seria mais um daqueles pacientes difíceis que, por ter dinheiro, se achavam superiores a todo mundo. Ela raramente costumava cuidar de pessoas assim, pois ali era um hospital público e ela sabia que homens como ele não eram socorridos ali, a não ser em casos de emergência como aquele. ____Pois eu penso exatamente o contrário. Se estivesse bem, não estaria aqui, sangrando assim e com essa expressão de dor que mal consegue disfarçar, senhor 'eu estou bem'." Respondeu Cecília com um tom firme, mas carregado de uma leve diversão. Gael ergueu o olhar, surpreso com a audácia dela. Poucas pessoas ousavam contradizê-lo, muito menos debochar dele abertamente. No entanto, ali estava ela, sustentando seu olhar frio e arrogante sem o menor sinal de intimidação, algo que o pegou completamente desprevenido. O sorriso de canto que brincava em seus lábios rosados parecia desafiá-lo. Lábios cheios, convidativos... tão tentadores que, mesmo em meio à dor e à irritação com a atitude dela, Gael se pegou imaginando como seria beijá-los. Mas o jeito arrogante e superior de Gael falou mais alto do que o desejo repentino e inesperado que sentira pela enfermeira. Para ele, ela era simplesmente atrevida demais, e sua insolência não passaria em branco. Ninguém debochava de Gael Ferraz impunemente. Se ele quisesse, com todo o poder e dinheiro que tinha, poderia facilmente arranjar um jeito de fazer com que aquela baixinha abusada fosse demitida. A ideia de se vingar daquela insolente tornou-se mais atraente do que qualquer impulso de desejo momentâneo que pudesse ter sentido. ___Você sabe quem eu sou? — Gael perguntou, a voz carregada de um desdém gelado. _____Para estar debochando de mim dessa forma? Se não sabe, vou me apresentar: sou Gael Ferraz, o homem que pode ser considerado dono de metade desta cidade. Com um simples estalar de dedos, posso exigir que você seja expulsa deste hospital por não fazer seu trabalho direito e ainda debochar dos seus pacientes. Cecília não se intimidou, seus olhos fixos nos de Gael com uma firmeza que desafiava a arrogância dele. ____Eu sei quem é desde o momento em que o vi. ela respondeu com calma. ____Afinal, quem nunca ouviu falar do poderoso Gael Ferraz? Mas se espera que eu o bajule ou o trate diferente de qualquer outro paciente, está perdendo seu tempo. Quanto a fazer meu trabalho direito, estou tentando, mas você não está ajudando nem um pouco, afastando o braço como se eu fosse lhe passar alguma doença contagiosa toda vez que tento examiná-lo para avaliar a profundidade do ferimento e ver se precisará de pontos. ___ Como assim? Só um médico pode avaliar se preciso de pontos ou não.-Gael continuou, tentando manter seu tom autoritário. ___E você é apenas uma enfermeira e muito insolente, por sinal. Me corrija se eu estiver errado.-Disse ele de forma arrogante.___Correto, senhor. Mas a médica de plantão está em uma cirurgia de emergência. Se ainda não notou, este é um hospital público, onde a escassez de médicos é grande, e na maioria das vezes o médico que estiver presente tem que priorizar os casos com riscos maiores. — disse ela, tentando se manter o mais educada e paciente possível, e depois continuou.___Portanto, ou me deixa cuidar do seu ferimento ou terá que usar todo seu dinheiro e poder para ser atendido em um lugar mais de acordo com seu status. A frustração de Cecília era palpável. Ela havia tido uma manhã difícil, enfrentando não apenas o comportamento arrogante de Gael, mas também o desrespeito de um jovem bêbado, filho de papai, que havia passado a mão nela. Ela relevou, sabendo que o rapaz estava fora de si, mas a amargura do momento ainda a afetava.___Você me deu uma boa ideia. É isso que vou fazer — disse Gael, com um olhar de superioridade. No entanto, ao tentar pegar o celular do bolso, esqueceu-se do braço ferido e e
Por outro lado, Cecília, enquanto tratava o ferimento, também notou a atração que Gael emanava. Era raro ela se fixar na aparência de um paciente, mas Gael era, sem dúvida, o homem mais bonito e atraente que ela já havia visto. Ela o conhecia por fotos em revistas e na internet, mas, ao vê-lo pessoalmente, sua beleza era ainda mais marcante. Ele tinha um corpo atlético, alto e com músculos definidos, mas sem exagero. Seu rosto exibia uma beleza que, com certeza, chamava atenção por onde passava. Apesar da atração, Cecília manteve o foco em sua tarefa. Ela se lembrou de que, por trás da aparência bela e atraente de Gael, havia uma personalidade que não a agradava de forma alguma. Ela costumava evitar pessoas com o temperamento dele e, principalmente, com sua posição social. Ao retornar sua atenção para o que estava fazendo, fez o possível para manter seus pensamentos focados apenas no atendimento que estava prestando. Com mãos delicadas e uma habilidade precisa, Cecília trat
Gael deu mais um passo em sua direção, tão próximo agora que ela podia sentir o calor de seu corpo.____ Quem falou em agressão? — murmurou ele, sua voz soando quase como um sussurro. ____ Existem muitas formas de punição bem mais interessantes, e eu tenho outra maneira de lidar com o seu atrevimento.Antes que Cecília pudesse responder, Gael a segurou pela cintura, puxando-a para mais perto com um movimento rápido e firme. Seus lábios capturaram os dela em um beijo intenso, roubado, que a pegou completamente de surpresa. Ela tentou resistir, empurrando o peito dele com força, mas a força de Gael a manteve presa contra seu corpo, nem parecia que ele estava com um dos braços feridos. Cecília lutou, seu corpo tenso enquanto sua mente gritava para se afastar. Mas o beijo de Gael era quente, invasivo, e por um instante, ela sentiu a força da atração que inesperadamente estava sentindo por ele superar a raiva. Suas mãos, que antes o empurravam, hesitaram por um breve segundo, e ela quase
Agora, com 24 anos, ela era uma mulher madura, endurecida pela vida, e sabia exatamente como lidar com homens assim.Ainda assim, o efeito que Gael tivera sobre ela era inegável. Suas palavras firmes, sua presença dominadora, e o toque de seus lábios ainda queimavam nos dela, como uma chama que não se apagava. Ele havia mexido com algo que Cecília pensava estar enterrado profundamente, uma parte dela que ela havia decidido ignorar após a decepção devastadora de seu passado.Cecília tinha certeza de que jamais veria Gael novamente. Seus mundos eram completamente opostos. Ele, com toda sua opulência e poder, certamente morava e circulava pelos bairros mais nobres da cidade, enquanto ela vivia no Morro Paraíso, um lugar dominado pelo tráfico e pela violência. Seus caminhos se cruzaram apenas porque ele, ferido, fora parar no hospital público onde ela trabalhava. Esse pensamento a trouxe um certo alívio. Homens como Gael representavam perigo, não apenas físico, mas emocional. Ele po
Horas depois, o barulho dos tiros começou a diminuir, e a tensão no ar parecia aliviar-se lentamente. Cecília observou, com uma mistura de alívio e impaciência, enquanto os policiais desciam com uma jovem mulher, filha de alguém influente, que havia se metido em problemas ao se emvolver com quem não devia e estava sendo resgatada. A cena parecia um reflexo cruel da desigualdade: uma patricinha recebendo resgate imediato, enquanto os moradores do morro, cujas vidas estavam em constante risco, eram deixados à própria sorte. Mas, apesar de sua revolta pela desigualdade social, naquele momento ela só queria subir e verificar se seus avós estavam bem. Com o final do confronto, ela se aproximou dos policiais, tentando encontrar alguma informação sobre a situação no morro. Com um misto de nervosismo e determinação, ela avançou pelas barreiras policiais.Finalmente, com a permissão para retornar ao morro, Cecília subiu pelas ruas ainda desertas, com o som das sirenes cada vez mais distante.
Cecília sentiu um arrepio subir pela espinha. Seu avô raramente falava com tanto cuidado. Ela pousou a xícara sobre a mesa, a mão trêmula.____ Como... como assim ele fugiu?Então por isso que a policia estava por aqui ? — A voz de Cecília falhou, a boca ficando seca.— Sim ,mas pelo que ouvimos falar foi também para resgatar a filha de um deputado que se meteu com um dos soldados do trafico e o pai inventou que ela foi sequestrada por ele ...mas quanto ao Tiago ,com certeza ele teve ajuda de alguns policiais corruptos que têm ligação com o tio dele e facilitaram sua fuga — disse seu avô, os olhos sombrios.___ Fizeram uma emboscada no caminho quando ele estava para ser transferido para outro presídio.Cecília olhou para sua avó, o coração batendo tão forte que ela sentia o pulsar em seus ouvidos.___Ele apareceu por aqui? Será que ele ainda lembra de mim? Afinal, já se passaram sete anos desde sua prisão — perguntou, mal reconhecendo sua própria voz.___ Não... — respondeu Dona Lurd
Quando finalmente terminaram de organizar as vacinas, já era tarde.Cecília foi até o vestiário, tomou um banho rápido e trocou o jeans e jaleco por um vestido negro, justo e curto, que ressaltava suas curvas.Sabia que era uma escolha ousada, mas não se importava. Precisava se sentir forte e confiante ,mesmo que fosse só na aparência.Caminhou até o ponto de ônibus, como fazia todos os dias, mas dessa vez algo a incomodava.O silêncio da rua estava pesado, e ela percebeu que um carro vinha lentamente logo atrás dela.Seu coração disparou. Seria Tiago?Ela apertou o passo, mas o carro continuava a segui-la, sem pressa. O medo a consumia, seus pensamentos corriam soltos. Será que. ele havia descoberto onde ela trabalhava?Quando finalmente parou no ponto de ônibus, o carro estacionou ao lado.Cecília congelou, o medo de ser Tiago a paralisava. Ela estava petrificada, o pavor apertando seu peito como uma corrente invisível.Mas, para sua surpresa, quem ela menos esperava estava ali,
Ela estava exausta, e a ideia de que ele tinha o controle da situação a fazia se sentir impotente.___ Porque lembra que eu falei que sou dono de metade dessa cidade? Isso quer dizer que até a polícia "come na minha mão". Acha que eles acreditariam em você se eu dissesse que está mentindo e que se trata apenas de uma briga de namorados? — A voz dele estava carregada de confiança. Ele parecia se divertir com o desconforto dela, o que só aumentava o desprezo e a raiva que Cecília estava sentindo por ele.— Eu te conheço há apenas 24 horas e já te detesto, sabia? — Cecília falou com raiva, seus olhos estreitos e o rosto corado de frustração. A irritação em sua voz era evidente, mas havia algo mais, uma emoção que ela lutava para esconder.— Por que não admite, Cecília, que o que você realmente detesta é o fato de se sentir tão atraída por mim quanto eu por você? — Ele respondeu com um sorriso arrogante, seu tom calmo e confiante. Sabia que suas palavras a atingiriam fundo, mexendo c