Desafio e Desejo

___Correto, senhor. Mas a médica de plantão está em uma cirurgia de emergência. Se ainda não notou, este é um hospital público, onde a escassez de médicos é grande, e na maioria das vezes o médico que estiver presente tem que priorizar os casos com riscos maiores. — disse ela, tentando se manter o mais educada e paciente possível, e depois continuou.

___Portanto, ou me deixa cuidar do seu ferimento ou terá que usar todo seu dinheiro e poder para ser atendido em um lugar mais de acordo com seu status.

A frustração de Cecília era palpável.

Ela havia tido uma manhã difícil, enfrentando não apenas o comportamento arrogante de Gael, mas também o desrespeito de um jovem bêbado, filho de papai, que havia passado a mão nela. Ela relevou, sabendo que o rapaz estava fora de si, mas a amargura do momento ainda a afetava.

___Você me deu uma boa ideia. É isso que vou fazer — disse Gael, com um olhar de superioridade. No entanto, ao tentar pegar o celular do bolso, esqueceu-se do braço ferido e emitiu um gemido involuntário de dor.

Cecília observou a cena com um misto de compaixão e frustração. Ela viu o sofrimento no rosto de Gael e, por um momento, sentiu uma onda de simpatia. Mas sabia que, devido ao orgulho dele, qualquer oferta de ajuda seria rejeitada.

Ele havia dispensado sua assistência anteriormente, e não havia motivo para acreditar que mudaria de ideia agora. Com um suspiro contido, Cecília se manteve firme, focada em seu trabalho. A decisão de não oferecer ajuda, apesar da dor visível de Gael, era uma questão de princípio. Ela sabia que, se ele não reconhecesse a necessidade de assistência por conta própria, não havia muito que pudesse fazer para mudar isso. Enquanto ele lutava contra a dor e a teimosia, ela continuava a preparar os materiais necessários, pronta para agir assim que ele aceitasse sua ajuda.

___Bem, já que o senhor dispensou a minha ajuda, eu vou atender quem está precisando dela e não a dispense como o senhor acabara de fazer. — disse Cecília, depois de um momento de hesitação se realmente deveria deixar ele aguardar que alguém viesse buscá-lo para ser atendido em algum hospital particular caríssimo que certamente deve ser mais de acordo com seu status.

___Espere! — ele exclamou, a dor tornando-se insuportável.

___Está doendo demais. Faça o seu trabalho, eu vou cooperar. Provavelmente, como o trânsito costuma ficar caótico a essa hora no Rio, quando meus seguranças chegarem, já estarei morto do jeito que estou sangrando. Cecília, que já havia de qualquer forma decidido agir como a boa profissional que é e cuidar dele, e só estava indo pegar a tesoura para cortar a manga de sua camisa social, aproximou-se novamente dele, com um semblante mais resignado.

___Vou te dar um conselho, Cecília — disse Gael, lendo o nome no crachá dela.

___Se quer conservar seu emprego, é melhor controlar sua língua afiada. Com esse temperamento, acho que escolheu a profissão errada. Geralmente, enfermeiras não perdem a paciência tão rapidamente e muito menos abandonam quem precisa de seus cuidados como ia fazer. — disse ele com um sorriso claramente a provocando.Cecília suspirou, seu olhar cansado, mas resoluto.

___Primeiramente, eu não ia abandoná-lo, embora tenha sido você quem dispensou minha ajuda, e eu estou na profissão certa. Estudei muito para chegar até aqui. Só que hoje definitivamente não é o meu dia.

Com um último olhar determinado, Cecília se concentrou em tratar o ferimento de Gael, tomando todas as providências necessárias para estancar o sangramento e avaliar a necessidade de pontos.

O contraste entre sua frieza profissional e a arrogância de Gael criava uma tensão palpável, mas sua dedicação ao trabalho era inegável. Ela sabia que, por mais difícil que fosse, seu papel era manter a calma e oferecer o melhor atendimento possível, independentemente das circunstâncias.Enquanto Cecília tratava o ferimento, Gael, agora mais resignado, observava-a com um olhar atento

. Ele notou o quanto ela era jovem e bonita, notando que devia ser pelo menos uma década mais nova que ele. Sua pele era clara e suave, seus olhos castanhos profundos, o nariz ligeiramente arrebitado com algumas sardas que eram um charme a mais para seu rosto tão belo. Os lábios cheios, tentadores.

O cabelo escuro e longo caía sedoso pelas costas, alcançando a cintura, e mesmo com o jaleco largo, era difícil não notar também o quanto o corpo dela era perfeito e cheio de curvas, cheinha nos lugares certos, sua figura era de uma beleza que Gael não podia ignorar, aliás, dificilmente um homem não notaria o quanto ela é linda se não estivesse tão cego pela arrogância como ele estava assim que foi atendido por ela. De repente, ele se viu reagindo a ela e desviou os olhos rapidamente para evitar que seu corpo desse sinais evidentes de que ele estava a desejando naquele exato momento.

Os sentimentos que a enfermeira atrevida despertava nele eram algo que não experimentava há muito tempo, e ele não queria de forma alguma passar pelo constrangimento que seu corpo revelasse o quanto ela havia mexido com ele e muito menos pensasse que tinha algum poder sobre ele pelo fato dele desejá-la.

Demonstrar qualquer sentimento, mesmo que fosse desejo, sem ser a hora exata para isso era motivo de fraqueza para ele, e fraco era coisa que ele nunca fora, não era e nunca será. Pensou Gael consigo mesmo.

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