O sul da atual Espanha é conhecido como a região da Andaluzia, o Al- Andalus, como era chamada na época medieval, quando dominada pelos árabes e seus descendentes.
Ao caminhar pelas cidades andaluzes é impossível não se impressionar com o legado deixado pelos povos islâmicos. A Grande Mesquita de Córdoba, o palácio de Alhambra em Granada, os inúmeros alcazares (palácios e fortalezas reais), a arquitetura das construções e dos palacetes medievais demonstram a riqueza e a vasta tradição cultural dos governantes árabes. A retomada da Andaluzia pelos reinos cristãos, chamada de Reconquista pelos historiadores, durou centenas de anos e alternou períodos de paz e de batalhas.
ANO 1225, Cazorla, Andaluzia. O sol ardia sobre os picos rochosos das montanhas, nas árvores das florestas e nas plantações de oliveiras que rodeavam Cazorla, uma vila em meio ao al- Andaluz, o sul da península ibérica.Cercada por muralhas, as casas brancas e ruas de pedras estendiam-se ao lado de uma vertente escarpada. Acima delas, as torres e muros altos de um castelo destacavam-se na paisagem montanhosa.Com tantas defesas, est
Ano 1235, Arredores de CórdobaDistante algumas milhas das muralhas de Córdoba, dois exércitos confrontavam-se em colinas opostas sob o sol quente da manhã de verão.Na fileira da frente do exército cristão, vestindo uma armadura que lhe cobria o peito e parte das pernas e uma túnica vermelha sobre ela, Aaron observava os cavaleiros árabes que ocupavam o outro lado do campo. Os inimigos montavam cavalos ágeis e erguiam as espadas em ameaça, berrando brados ululantes de guerra.Ao examiná-los, os olhos azuis escuros de Aaron tornaram-se ainda mais sombrios e o rosto coberto parcialmente por um capacete contorceu-se de ódio. Há dez anos, desde que deixara suas terras, ele vivia para a g
Duzentos anos atrás, Córdoba havia sido uma das principais cidades dos califados árabes do Ocidente e uma das mais populosas do mundo.A grande mesquita na região central transformara-se em um local de peregrinação; palácios e jardins dominavam as ruas. Um aqueduto trazia água limpa e abundante para os banhos públicos, fontes, cascatas e lagos artificiais que a enfeitavam. Grandes filósofos haviam morado nela, atraídos pela enorme biblioteca, orgulho de um povo que prezava o conhecimento, a ciência e as artes. Quando a paz reinava, nobres árabes e europeus de diferentes religiões eram educados em suas escolas.Após a morte do grande chanceler que a governava, a disputa pelo poder trouxera uma inevitável decadência. Intrigas intermin&aacut
Layla estava parada ao lado de Ibn Russud, o médico, e da filha dele, Rebeca, e os observava atentamente.O médico usava o quipá dos judeus na cabeça cobrindo parte dos cabelos grisalhos e vestia uma túnica longa e escura. A filha, uma jovem bonita de cabelos morenos e lisos presos em um penteado simples, também usava um vestido escuro e sem adornos.Ambos haviam ajoelhado ao lado do cavaleiro que permanecia desacordado com o rosto pálido e a respiração entrecortada, e após limparem o ferimento dele com uma poção, suturavam as bordas da ferida. Depois de um tempo Ibn Russud levantou-se, enquanto a filha terminava o curativo com mãos hábeis.– Muitas vezes,
Aaron abriu as pálpebras com um gemido. A lateral do corpo e o ombro latejavam de dor e sua vista embaçava-se; o rosto queimava e a boca estava seca como se tivesse caminhado pelas areias do deserto.– Água... – esforçou-se para pronunciar a palavra.Alguém levantou sua cabeça e encostou a borda de um copo em seus lábios. Sedento, ele começou a beber com sofreguidão, e depois tossiu, meio engasgado.– Calma! – a voz de uma mulher disse. Uma voz que o fazia lembrar-se de tâmaras doces e verões encalorados.Ele piscou para dissipar a névoa que toldava sua visão e estreitou os olhos, desejando ver a dona da voz. Um par de olhos verdes o fitaram de perto e o fizeram pestanejar, indagando-se se ainda sonhava.
O peito de Aaron ardia, não somente com a dor da ferida, mas também com a dor de uma angústia quase mortal.Quando acordava, Layla estava ao seu lado; quando dormia, estava em seus sonhos. Sabia agora que ela não era uma cortesã como pensara de início, mas sim a senhora da casa, irmã do maldito lechuguino[1] que o havia capturado.A inimiga o en
Aaron acomodou-se nos travesseiros, tentando pensar em qualquer outra coisa. Ignorando o ardor que queimava seu peito, ele respirou fundo algumas vezes, esforçando-se para voltar a atenção ao local onde estava, um quarto grande de janelas amplas que se abriam para um jardim.Quando Layla ausentava-se, o tempo demorava a passar. Ele já decorara o número dos azulejos que enfeitavam a parede. O teto era desenhado em relevos de marfim e os móveis de madeira se pareciam com obras de arte. Ainda não se reencontrara com o irmão de Layla, mas este de certo era extremamente rico.Um rapazinho mimado, querendo mostrar aos amigos e ao emir que era um guerreiro. E com a sorte de um principiante, o lechuguino Com as mãos atrás das costas, Yasi andava de um lado ao outro diante das estantes repletas de livros na ampla biblioteca.Ele mordia os lábios e murmurava consigo mesmo com uma expressão preocupada. Após a morte dos pais, tornara-se o chefe da casa e responsável pelo bem estar de todos. Os inúmeros criados e homens de armas do palacete viviam em paz, os negócios herdados do pai – aluguéis de casas pelas principais cidades de al-Andalus e participação em pequenos comércios - continuavam a prosperar mesmo durante a guerra contra os castelhanos.Contudo, ele se descuidara da maior de suas obrigações, o futuro de Layla.Tanto o pai como ele já deveriam a ter casado, mas não o haviam feito porque a amavam demais e não queriam se afastar dela. E agora ele sofria as consequ&eRebeca