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Nas mãos Do Destino
Nas mãos Do Destino
Por: Sandra Rummer
Meu vizinho/meu professor

Jade

O meu sobrado está posicionado lateralmente ao dele. A grande janela do meu quarto fica de frente para a janela do quarto dele. A minha é ampla, coberta por uma cortina de um suave rosa claro. A dele, por outro lado, permanece quase sempre nua, desimpedida. Ele só fecha as cortinas quando vai dormir.

Eu, que acreditava ter me apaixonado antes… hoje percebo que não gostava tanto assim do Liam. Foi muito fácil esquecê-lo. Se eu o amasse de verdade, não estaria tão encantada como estou agora por este meu vizinho, que também é o meu professor de produção de texto.

As conversas vindas do quarto ao lado chegam aos meus ouvidos — a minha mãe e a minha irmã Yasmin —, mas eu nem sequer presto atenção ao que estão dizendo. Os meus olhos estão vidrados na janela em frente, observando ele tirar a camiseta. A minha respiração é arrancada dos meus pulmões enquanto reparo no homem mais bonito que já vi. Os meus olhos se arregalam, fixos nos músculos definidos do seu peito, das suas costas e dos seus braços.

Allah! Ele é absurdamente lindo.

As garotas suspiram por ele, especialmente a minha amiga Samantha. Ela foi a maior incentivadora para que eu começasse a observá-lo, mas agora isso se tornou um vício.

Ouço os passos no corredor. Fecho as cortinas rapidamente e me afasto da janela a tempo de a minha mãe abrir a porta e acender as luzes. A minha irmã Yasmin, de apenas nove anos, a caçula da casa, está ao lado dela. Linda, vestida com um vestido rosa pálido.

A minha mãe me encara por alguns instantes.

— Jade, querida, estou indo ao cinema. Você quer ir conosco?

— Não, mamãe. Obrigada.

— Por que estava parada no meio do quarto, no escuro?

— Eu estava me levantando agora há pouco. Estava prestes a acender a luz quando você entrou.

— Ligue a luz do seu abajur primeiro. Você vai acabar caindo.

Forço um sorriso, tentando disfarçar o meu nervosismo.

— Está certo.

— Como eu disse, todos nós estamos indo ao cinema. Tem certeza de que não quer ir conosco?

Eu meneio a cabeça, sentando-me na cama.

— Não, podem ir. Vou ficar bem sozinha. Que filme vocês vão assistir?

A minha irmã Yasmin responde, animada:

— Um filme da Disney. A Bela e a Fera.

— É uma readaptação do desenho — a minha mãe explica.

— Hum, legal.

— Então, vai com a gente?

Deito-me na cama, desesperada para que elas saiam logo e eu possa voltar a espiar.

— Não, vou ficar.

A minha mãe dá de ombros.

— Tudo bem, então. Tem comida pronta na geladeira. É só colocar no micro-ondas.

— Está certo. Mas não quero nada agora.

Ela me observa com atenção, o olhar desconfiado.

— Você não está apaixonada novamente pelo cara errado, está?

— Claro que não, mamãe! Só estou sem fome.

A minha irmã mimada corre até a minha cama, puxando o meu caftan com insistência.

— Vamos, Jade! — Ela suplica com aquela voz irritantemente aguda.

Eu a encaro por um momento, tentando conter o meu aborrecimento.

— Outro dia eu vou, Yasmin. Hoje estou cansada.

— Deixe a Jade em paz. Vem, vamos Yasmin — a minha mãe diz, já impaciente.

A minha irmã bufa, mas acaba seguindo a minha mãe.

Assim que elas saem do quarto, eu corro até a porta, fecho-a rapidamente e apago as luzes. Com cuidado, abro as cortinas novamente e volto a observar aquela combinação explosiva.

Árabe lindo + forte + inteligente + simpático — não convencido = Eu completamente apaixonada.

Agora ele está se movimentando no quarto, organizando alguns livros no criado-mudo. Ele está vestido com um kandoora, a vestimenta árabe tradicional que o meu pai também costuma usar. Não consigo deixar de olhar para aquele queixo proeminente, os ossos bem marcados no rosto e os seus lindos olhos grandes e negros.

Ah, se eu bobear… eu me perco neles.

Ele sai do quarto e apaga as luzes. Faço um bico desapontada, com uma expressão de tristeza.

O meu pai é louco para que eu conheça alguém do nosso povo. O seu sonho é que eu me case com alguém de nossas origens. A sorte é que ele não conhece o nosso vizinho. Não duvido nada que ele tentaria forçar uma situação, talvez convidando-o para um café na nossa casa, na esperança de dar um empurrãozinho no destino.

Saio da janela e me sento na cama, refletindo.

O Zafir não é perfeito. Ele tem um grande problema: a minha amiga está interessada nele, o que o torna proibido, intocável.

Desde o ano passado, ela baba por ele. É completamente louca. Fissurada no professor bonitão.

Aperto as mãos contra os olhos, frustrada.

Por que eu sempre sou atraída pelo cara errado?

Suspiro.

Sou nova na cidade. Nem sequer havia percebido que o professor bonitão era o meu vizinho. A Samantha, a garota com quem fiz amizade no curso que frequento às quartas e sextas-feiras, quase não acreditou quando eu contei o meu endereço.

A loira exuberante ficou animada.

— Jura? Não acredito que você mora ao lado dele!

— Verdade? Eu nem reparei — sorri, tentando disfarçar. — Pelo visto, você andou investigando a vida dele.

— Sim, eu um dia o segui — ela me olhou, pensativa. — Bem que você poderia me ajudar a me aproximar dele.

— Quem? Eu? Nem o conheço! Sou nova no bairro!

— Por favor! Você não precisa falar com ele, só observar a sua rotina. Que horas ele sai? O que ele faz nas horas livres? Com essas informações, eu armaria um encontro perfeito com ele.

Suspirei, relutante. Não gostei da ideia, mas ela havia sido tão gentil comigo no curso que acabei cedendo.

— Tudo bem. Mas só vou fazer isso por uma semana. E nada de falar sobre isso durante esses dias. No final desse tempo, eu te passo tudo que descobri, e aí você se vira sozinha.

— Combinado! — Ela respondeu animada, me dando um abraço apertado.

E foi exatamente o que fiz. Hoje completa sete dias que eu o observo.

Descobri algumas coisas sobre ele.

O Zafir mora sozinho naquele belo sobrado, que parece ter sido decorado por várias pessoas, numa mistura de estilos diferentes. Algo que chama muita atenção, sem dúvida, é o design da casa e o jardim, que exibe um paisagismo feito por algum profissional. Há uma grande variedade de plantas, com texturas e cores diferentes, todas espalhadas em pontos estratégicos no grande gramado bem cuidado. Lindas e viçosas.

É estranho ele ter uma casa tão cara, afinal, ele é um simples professor.

Notei também que ele não cozinha. Todos os dias, um furgão de um restaurante árabe para em frente à casa dele e buzina, entregando o jantar.

As roupas dele são lavadas numa lavanderia famosa. Ele sempre as recebe ainda na embalagem, com o logotipo da DryClean, e as guarda cuidadosamente no closet.

O Zafir tem um carro belíssimo na garagem, uma Mercedes preta, além de uma moto, uma Kawasaki Z1000. Ele sai de casa com a moto todos os dias para trabalhar, exceto quando está chovendo.

Sobre a rotina dele, percebi que ele preza muito pela pontualidade. O Zafir dá aulas todos os dias e sai bem cedo, sempre no mesmo horário. Ele dá aulas para quatro turmas, em dois horários diferentes, no período da manhã: às terças e quintas-feiras, e às quartas e sextas-feiras.

Eu sou aluna dele no primeiro horário, das oito às dez, nas quartas e sextas-feiras. Logo depois, às onze horas, ele recebe outra turma.

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