A mulher com o diadema dourado se aproximou com passos firmes, mas lentos, como se cada movimento fosse calculado, como se ela estivesse pesando cada palavra e cada gesto. Sua presença, que antes parecia distante e intocável, agora estava mais próxima, e algo em mim se inquietou ainda mais. Ela era como a própria essência da lua: fria, distante, mas ao mesmo tempo, carregada de uma força inabalável.Quando ela finalmente chegou perto o suficiente, seus olhos se fixaram nos meus com uma intensidade quase palpável. A energia ao redor dela parecia pulsar, uma força que eu mal conseguia entender, mas sabia que não poderia ignorar. Seus cabelos brancos, como uma neblina suave, caíam sobre seus ombros e a lua refletia em seus fios, tornando-a quase etérea. Mas não era apenas sua aparência que me chamava a atenção. Era a maneira como ela parecia... integrada ao ambiente ao seu redor. Cada passo que dava era como se estivesse em sintonia com a terra e o vento.Ela estendeu uma mão delicada pa
Caelum se aproximou de nós com passos firmes, a postura imponente de um rei que sabia exatamente como lidar com qualquer situação. Seus olhos estavam fixos em Lis e nos lobos que a acompanhavam, avaliando-os, mas também deixando claro que não estava nem um pouco incomodado com a presença deles.Ele sempre soubera como manter a autoridade, como proteger o seu território sem demonstrar fraqueza. E ali, diante de mim, o vi mais uma vez, assumindo seu papel com a mesma confiança que o fizera ser o líder do Clã Eclipse.— Bem-vindos ao nosso clã — disse ele, sua voz grave, mas convidativa. — Vejo que lutaram ao nosso lado e por isso, merecem nossa hospitalidade. Vamos fazer com que cuidem de seus feridos. Podemos acomodá-los por uma noite. A segurança de todos é nossa prioridade.Lis o observou em silêncio, sua expressão impassível, enquanto seus lobos pareciam relaxar à medida que a tensão na atmosfera começava a diminuir. A ideia de se refugiar no Clã Eclipse parecia ser um alívio para t
A noite envolveu a Matilha Eclipse em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo murmúrio do vento entre as árvores e pelo ocasional uivo distante de um lobo solitário. O ataque das criaturas ancestrais havia deixado cicatrizes não apenas na terra, mas também na alma de todos ali. O cheiro de sangue ainda impregnava o ar, misturado ao aroma das ervas curativas usadas para tratar os feridos. Depois de garantir que todos estavam seguros e que Lis e seus guerreiros haviam sido acomodados, eu finalmente pude voltar para Caelum. Ele estava sentado em um dos bancos de pedra dentro de nossa tenda, sua expressão impassível, mas eu sabia que ele estava cansado. Seu ombro esquerdo estava ferido, um corte profundo atravessando a pele desde a clavícula até o início do peito. — Você deveria ter procurado uma curandeira antes de ficar brincando de líder durão — murmurei, pegando um pano limpo e um frasco de tintura de ervas. Caelum ergueu os olhos para mim, um brilho de diversão neles. — Eu e
O vento cortava a floresta, uivando entre as árvores altas como se fosse uma criatura à procura de algo perdido. A pequena Isadora ainda não entendia o que estava acontecendo, mas o som da noite lhe parecia estranho, como se a própria terra estivesse respirando de maneira errada, inquieta. O medo se espalhou pelo ar, tocando cada folha, cada ramo, enquanto ela olhava para seus pais com os olhos arregalados. Seu pai, Alistair Vorn, o antigo líder do Clã Lunar, estava tenso, os ombros rígidos, seus olhos fixos no horizonte. A mãe de Isadora, Lira, estava mais calma, mas sua expressão era grave, o que só aumentava a inquietação da menina. A pequena não compreendia completamente o peso das palavras que ecoavam pela casa de madeira onde viviam, isolados na floresta. Ela sabia, no entanto, que algo estava errado. Sentia, de alguma forma, que a noite estava mais escura e mais pesada do que o normal. A atmosfera era densa, como se o próprio céu estivesse conspirando contra eles. Havia algo de
Dez anos. Dez longos anos desde que a floresta foi manchada pelo sangue de meus pais. Dez anos de sombras e incertezas, onde a solidão foi minha única amiga e a culpa, meu constante inimigo. Não havia mais a magia do mistério que envolvia minha infância. O mundo se tornara um lugar sombrio, e meu corpo, agora uma mulher feita, carregava o peso de um destino que eu não escolhera.Eu estava tão acostumada à vida que levava agora que a simples ideia de mudança parecia impossível. O papel de empregada na casa do Líder dos Clãs, uma mansão imponente nas bordas da floresta, era meu refúgio e minha prisão. A cada dia, me movia pela casa de pedra e madeira, varrendo, limpando, servindo, mantendo-me invisível, esperando que a Lua me chamasse. Mas ela nunca parecia fazê-lo. Não mais. A Lua me vigiava em silêncio, como se soubesse que eu ainda não estava pronta para enfrentar o que viria.Eu vivia entre os membros do Clã, mas era tratada como uma sombra, uma lembrança de algo distante. Ninguém s
A mansão estava silenciosa quando a noite finalmente caiu. As paredes, feitas de pedra fria, mantinham os ecos dos passos que, durante o dia, se haviam apressado pelas imponentes escadas e corredores. Agora, o único som era o vento que assobiava entre as frestas das janelas, como se a própria casa estivesse respirando. Eu estava sozinha em meu quarto.O quarto. O único lugar no mundo onde eu realmente sentia que podia respirar. Mas, ao mesmo tempo, era o lugar que mais me lembrava de quem eu era — ou melhor, de quem eu não era.A cama simples no chão, um colchão de palha velho que mal conseguia esconder as rachaduras do piso de madeira, era tudo o que eu tinha. Não havia luxo. Não havia conforto. Apenas a solidão e o vazio que eu carregava dentro de mim todos os dias.Durante o dia, minha vida era uma rotina sem fim. Acordava antes do amanhecer para começar as tarefas na mansão. Limpava, cozinhava, fazia o que fosse necessário para manter as coisas em ordem, tudo sem ser notada. O tra
O som dos passos apressados ecoava pelos corredores da mansão, mas eu não me movi. Estava parada na janela de meu quarto, olhando para o luar, perdida em meus próprios pensamentos. Lá fora, a floresta parecia tranquila, mas dentro de mim tudo estava em ruínas. O vínculo, a dor, o sofrimento que me consumiam — parecia que a lua havia se afastado de mim, deixando-me à deriva em um mar de desesperança.Eu sabia que algo estava por vir. Não sabia exatamente o quê, mas o clima dentro da mansão havia mudado. Havia uma tensão no ar, algo pesado, como se a própria terra estivesse se preparando para um grande acontecimento.Então, ouvi os passos dele. Rafael. Como se o som de seus pés no piso de madeira soubesse exatamente quando ele me encontraria. Seu cheiro invadiu meus sentidos antes mesmo que ele chegasse à porta. Eu não me virei para olhá-lo, não queria enfrentar os olhos dele, aqueles olhos que, apesar de me rejeitarem, continuavam a me consumir com um poder que eu não conseguia ignorar
Eu não sabia o que esperar da cerimônia. Sabia apenas que seria um marco na minha vida, e não um marco qualquer. Era o tipo de evento que mudaria tudo. Ou, pelo menos, era o que o Clã esperava. O casamento de Rafael e Selene não seria apenas uma celebração de união. Seria uma afirmação do poder, da hierarquia, da separação entre os que pertencem e os que estão destinados a viver à margem.Minha mente estava um turbilhão de pensamentos enquanto eu me preparava, ou melhor, enquanto tentava me preparar para o que estava por vir. O vestido que me deram era simples, sem brilho, sem luxo. Nada mais do que um reflexo de minha posição dentro daquele mundo. Eu não era importante o suficiente para merecer algo especial.Naquela manhã, antes de sair para me juntar ao Clã, o silêncio no meu interior foi quebrado de maneira inesperada. Freiren, minha loba, a presença que eu sempre mantive escondida, que raramente falava comigo, apareceu em minha mente com uma clareza que me assustou. Sua voz era s