A terra tremeu sob meus pés quando o primeiro rugido cortou a noite. O som era gutural, grotesco, como se algo muito antigo e faminto tivesse acabado de despertar. Meu corpo inteiro ficou tenso quando vi a sombra enorme avançando pela floresta, os galhos se partindo sob seu peso. O brilho fraco da lua revelou algo monstruoso—uma criatura de ossos expostos, pele negra e áspera como pedra vulcânica, olhos brilhando como fogo azul. Eu já tinha visto esse monstro antes. A última vez que ele apareceu, meus pais morreram. "Izzy!" Freiren rugiu dentro de mim, sua voz repleta de urgência. "Não congele! Se mova!" O grito dela me arrancou da paralisia. Corri. Saltei para a frente, desviando por instinto quando a criatura avançou com suas garras afiadas. Ela era rápida, muito mais do que seu tamanho sugeria. O vento assobiou ao meu lado quando suas garras passaram a centímetros de onde eu estava um segundo antes. Rolei para o lado, aterrissando sobre os pés com um impulso ágil. O
A luta estava se intensificando. As criaturas estavam se tornando cada vez mais agressivas, e a pressão estava começando a pesar. A cada movimento, a adrenalina disparava, e a batalha parecia um turbilhão sem fim. Eu estava ciente de cada corte, cada ferida, mas nada poderia me deter enquanto minha mente estava focada no único objetivo: derrubar aquela besta e proteger o Clã. Freiren rugia dentro de mim, pronta para atacar, pronta para matar. A criatura diante de mim, com a runa brilhando em seu flanco, recuava com mais frequência, mas nunca o suficiente para me dar uma oportunidade clara de atacar. Suas garras estavam mais afiadas, e sua força mais mortal. O confronto estava se arrastando, mas eu sabia que, se não aproveitássemos aquela chance logo, seria tarde demais. O som das garras arranhando o solo misturava-se com os rugidos das outras criaturas que atacavam os guerreiros do Clã. Mas então, algo mudou no cenário. Lá, de fora do campo de batalha, uma nova onda de lobos surgi
A mulher com o diadema dourado se aproximou com passos firmes, mas lentos, como se cada movimento fosse calculado, como se ela estivesse pesando cada palavra e cada gesto. Sua presença, que antes parecia distante e intocável, agora estava mais próxima, e algo em mim se inquietou ainda mais. Ela era como a própria essência da lua: fria, distante, mas ao mesmo tempo, carregada de uma força inabalável.Quando ela finalmente chegou perto o suficiente, seus olhos se fixaram nos meus com uma intensidade quase palpável. A energia ao redor dela parecia pulsar, uma força que eu mal conseguia entender, mas sabia que não poderia ignorar. Seus cabelos brancos, como uma neblina suave, caíam sobre seus ombros e a lua refletia em seus fios, tornando-a quase etérea. Mas não era apenas sua aparência que me chamava a atenção. Era a maneira como ela parecia... integrada ao ambiente ao seu redor. Cada passo que dava era como se estivesse em sintonia com a terra e o vento.Ela estendeu uma mão delicada pa
Caelum se aproximou de nós com passos firmes, a postura imponente de um rei que sabia exatamente como lidar com qualquer situação. Seus olhos estavam fixos em Lis e nos lobos que a acompanhavam, avaliando-os, mas também deixando claro que não estava nem um pouco incomodado com a presença deles.Ele sempre soubera como manter a autoridade, como proteger o seu território sem demonstrar fraqueza. E ali, diante de mim, o vi mais uma vez, assumindo seu papel com a mesma confiança que o fizera ser o líder do Clã Eclipse.— Bem-vindos ao nosso clã — disse ele, sua voz grave, mas convidativa. — Vejo que lutaram ao nosso lado e por isso, merecem nossa hospitalidade. Vamos fazer com que cuidem de seus feridos. Podemos acomodá-los por uma noite. A segurança de todos é nossa prioridade.Lis o observou em silêncio, sua expressão impassível, enquanto seus lobos pareciam relaxar à medida que a tensão na atmosfera começava a diminuir. A ideia de se refugiar no Clã Eclipse parecia ser um alívio para t
O vento cortava a floresta, uivando entre as árvores altas como se fosse uma criatura à procura de algo perdido. A pequena Isadora ainda não entendia o que estava acontecendo, mas o som da noite lhe parecia estranho, como se a própria terra estivesse respirando de maneira errada, inquieta. O medo se espalhou pelo ar, tocando cada folha, cada ramo, enquanto ela olhava para seus pais com os olhos arregalados. Seu pai, Alistair Vorn, o antigo líder do Clã Lunar, estava tenso, os ombros rígidos, seus olhos fixos no horizonte. A mãe de Isadora, Lira, estava mais calma, mas sua expressão era grave, o que só aumentava a inquietação da menina. A pequena não compreendia completamente o peso das palavras que ecoavam pela casa de madeira onde viviam, isolados na floresta. Ela sabia, no entanto, que algo estava errado. Sentia, de alguma forma, que a noite estava mais escura e mais pesada do que o normal. A atmosfera era densa, como se o próprio céu estivesse conspirando contra eles. Havia algo de
Dez anos. Dez longos anos desde que a floresta foi manchada pelo sangue de meus pais. Dez anos de sombras e incertezas, onde a solidão foi minha única amiga e a culpa, meu constante inimigo. Não havia mais a magia do mistério que envolvia minha infância. O mundo se tornara um lugar sombrio, e meu corpo, agora uma mulher feita, carregava o peso de um destino que eu não escolhera.Eu estava tão acostumada à vida que levava agora que a simples ideia de mudança parecia impossível. O papel de empregada na casa do Líder dos Clãs, uma mansão imponente nas bordas da floresta, era meu refúgio e minha prisão. A cada dia, me movia pela casa de pedra e madeira, varrendo, limpando, servindo, mantendo-me invisível, esperando que a Lua me chamasse. Mas ela nunca parecia fazê-lo. Não mais. A Lua me vigiava em silêncio, como se soubesse que eu ainda não estava pronta para enfrentar o que viria.Eu vivia entre os membros do Clã, mas era tratada como uma sombra, uma lembrança de algo distante. Ninguém s
A mansão estava silenciosa quando a noite finalmente caiu. As paredes, feitas de pedra fria, mantinham os ecos dos passos que, durante o dia, se haviam apressado pelas imponentes escadas e corredores. Agora, o único som era o vento que assobiava entre as frestas das janelas, como se a própria casa estivesse respirando. Eu estava sozinha em meu quarto.O quarto. O único lugar no mundo onde eu realmente sentia que podia respirar. Mas, ao mesmo tempo, era o lugar que mais me lembrava de quem eu era — ou melhor, de quem eu não era.A cama simples no chão, um colchão de palha velho que mal conseguia esconder as rachaduras do piso de madeira, era tudo o que eu tinha. Não havia luxo. Não havia conforto. Apenas a solidão e o vazio que eu carregava dentro de mim todos os dias.Durante o dia, minha vida era uma rotina sem fim. Acordava antes do amanhecer para começar as tarefas na mansão. Limpava, cozinhava, fazia o que fosse necessário para manter as coisas em ordem, tudo sem ser notada. O tra
O som dos passos apressados ecoava pelos corredores da mansão, mas eu não me movi. Estava parada na janela de meu quarto, olhando para o luar, perdida em meus próprios pensamentos. Lá fora, a floresta parecia tranquila, mas dentro de mim tudo estava em ruínas. O vínculo, a dor, o sofrimento que me consumiam — parecia que a lua havia se afastado de mim, deixando-me à deriva em um mar de desesperança.Eu sabia que algo estava por vir. Não sabia exatamente o quê, mas o clima dentro da mansão havia mudado. Havia uma tensão no ar, algo pesado, como se a própria terra estivesse se preparando para um grande acontecimento.Então, ouvi os passos dele. Rafael. Como se o som de seus pés no piso de madeira soubesse exatamente quando ele me encontraria. Seu cheiro invadiu meus sentidos antes mesmo que ele chegasse à porta. Eu não me virei para olhá-lo, não queria enfrentar os olhos dele, aqueles olhos que, apesar de me rejeitarem, continuavam a me consumir com um poder que eu não conseguia ignorar