Capítulo 3

O som dos passos apressados ecoava pelos corredores da mansão, mas eu não me movi. Estava parada na janela de meu quarto, olhando para o luar, perdida em meus próprios pensamentos. Lá fora, a floresta parecia tranquila, mas dentro de mim tudo estava em ruínas. O vínculo, a dor, o sofrimento que me consumiam — parecia que a lua havia se afastado de mim, deixando-me à deriva em um mar de desesperança.

Eu sabia que algo estava por vir. Não sabia exatamente o quê, mas o clima dentro da mansão havia mudado. Havia uma tensão no ar, algo pesado, como se a própria terra estivesse se preparando para um grande acontecimento.

Então, ouvi os passos dele. Rafael. Como se o som de seus pés no piso de madeira soubesse exatamente quando ele me encontraria. Seu cheiro invadiu meus sentidos antes mesmo que ele chegasse à porta. Eu não me virei para olhá-lo, não queria enfrentar os olhos dele, aqueles olhos que, apesar de me rejeitarem, continuavam a me consumir com um poder que eu não conseguia ignorar.

A porta do meu quarto se abriu lentamente, e eu senti a presença dele atrás de mim. Rafael ficou ali, imóvel, observando-me em silêncio. Eu sabia que ele estava esperando por algo — por uma reação minha, talvez. Mas eu não tinha mais nada a dizer. Não havia palavras que pudessem aliviar a dor que ele me causava, não havia gestos que pudessem diminuir o vazio que ele deixava dentro de mim.

— Isadora. — A voz de Rafael era firme, mas havia algo nela que eu não conseguia identificar. Ele não estava zangado, mas também não parecia suave. Era uma voz de comando, uma voz que deixava claro que o que ele ia dizer não era uma questão de escolha.

Eu não olhei para ele, mas murmurei com a voz trêmula

— O que é, Alfa?

Ele deu um passo à frente, seus passos pesados, mas suaves, como se soubesse que sua presença estava marcando cada segundo do meu sofrimento. Ele se posicionou ao meu lado e olhou para fora, para a floresta que se estendia como um manto escuro sob a luz da lua.

— O Clã… — Ele pausou, como se estivesse ponderando suas palavras. Quando voltou a falar, havia uma gravidade em sua voz. — O Clã Lunar está se preparando para um evento importante. Eu… eu irei oficializar meu casamento com Selene.

Eu não o encarei. Sabia que essa notícia não era novidade. Era algo que todos no Clã já esperavam. A união deles era natural, inevitável. Todos sabiam que Rafael e Selene eram destinados um ao outro, que o vínculo deles era forte, como a própria lua. A dor que eu sentia não era surpresa, era apenas um lembrete constante de que eu não pertencia àquele mundo.

Mas então, ele continuou, e suas palavras me atingiram com a força de um soco.

— E você será obrigada a comparecer à cerimônia. — Sua voz soou autoritária, como se a ordem não fosse passível de questionamento. — Não há escolha, Isadora. O seu lugar está aqui, com o Clã. Como parte dele. Você tem um papel a desempenhar.

Eu me virei lentamente para encará-lo, meus olhos agora tão frios quanto o gelo que parecia tomar conta de meu coração. Minha garganta estava apertada, o nó da raiva e da dor me impedindo de falar. Mas, no fundo, eu sabia que não havia como fugir daquilo. Não havia como escapar dessa armadilha que ele havia me imposto. Ele não queria que eu fosse feliz. Não queria que eu tivesse um propósito, uma escolha. Eu não passava de uma sombra, uma obrigação a ser cumprida.

— Você não pode me forçar a isso — falei, minha voz tremendo de raiva e frustração. — Eu não sou parte desse casamento, Rafael. Não sou parte de vocês.

Ele me olhou por um momento, seus olhos escuros observando-me com uma intensidade que me fez sentir como se estivesse sendo despida de minha alma. A dor do vínculo começou a pulsar, ainda mais forte, como se ele estivesse me marcando mais uma vez, mais profundamente.

— Eu não estou pedindo sua permissão, Isadora — ele disse, sua voz tão grave quanto uma sentença de morte. — O que eu estou dizendo é que você é obrigada a estar lá. Não só por mim, mas por tudo o que o Clã representa. O seu lugar é ao nosso lado. Você não tem mais escolha.

Eu queria gritar, queria dizer-lhe tudo o que estava guardado dentro de mim, mas não consegui. As palavras simplesmente não saíam. Eu não podia falar o que queria, não podia expressar a dor, o ódio que crescia dentro de mim. Eu estava cega pela raiva e pela tristeza, mas sabia que não havia como sair daquilo. Eu tinha que estar ali, observando o casamento entre Rafael e Selene, o homem que eu amava se unindo à mulher que ele havia escolhido.

— Eu farei o que for necessário para o Clã, Alfa — minha voz saiu fria, sem emoção. Eu sabia que ele não queria que eu me rebelasse, mas também sabia que minha dor era invisível para ele. Nada mais importava.

Ele fez uma pausa, como se estivesse estudando minha reação, antes de se virar para sair. Seus passos foram suaves, mas pesados ao mesmo tempo. Ele sabia que tinha me derrotado. Ele sabia que eu não tinha poder algum sobre minha vida, sobre minhas escolhas.

Antes de sair, ele parou à porta e disse:

— Não esqueça, Isadora. Você tem um lugar no nosso mundo. O que você é e o que você sente não muda a realidade. Esse casamento não é só meu, é de todos nós.

E com isso, ele saiu. A porta se fechou com um clique suave, mas o eco daquele som permaneceu em minha mente, como uma sentença.

Eu caí de joelhos no chão, a dor do vínculo agora se tornando insuportável. Eu podia ouvir os ecos da cerimônia, os risos, as promessas, os votos que nunca seriam meus. Eu estava ali, sozinha, e ninguém sequer olharia para mim. Meu coração, que ainda batia com esperanças tolas, agora estava reduzido a nada mais do que uma sombra, uma lembrança do que poderia ter sido.

Mas eu não podia me permitir sucumbir à dor. Não agora. Eu tinha que ir. Eu tinha que estar lá. Mesmo que fosse a última coisa que eu queria fazer. Porque, no fundo, sabia que o caminho que Rafael havia escolhido para mim seria o meu destino.

A noite passou lentamente. Eu fiquei ali, na escuridão do meu quarto, me preparando para o dia seguinte. O dia da cerimônia. O dia que selaria meu lugar no mundo de Rafael. E, com isso, minha condenação.

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