A cerimônia era tudo o que eu esperava e temia. A mansão do clã estava tomada por uma vibração frenética, lobos de todas as idades reunidos em celebração, aguardando o momento em que Rafael e Selene fariam seus votos sob a luz da lua. Eu os observei de longe, fingindo que estava ali apenas para cumprir o meu papel de empregada, mas o peso no meu peito era quase insuportável.
Rafael estava deslumbrante em sua postura de líder, o Alfa que todos respeitavam. Ele falava com autoridade e charme, sorrindo para Selene como se ela fosse a única coisa que importava. Enquanto isso, eu era apenas uma sombra, um eco na periferia daquele mundo brilhante.
Mas esta noite seria diferente.
Essa noite eu seria finalmente livre.
Freiren estava comigo, como sempre. Mas, ao contrário do habitual, sua presença não era silenciosa. Ela pulsava dentro de mim, ansiosa e determinada, como uma fera que esperou muito tempo para ser libertada. Suas palavras ecoavam em minha mente desde a manhã, me guiando, me preparando para o que estava por vir.
“Chegou a hora, Izzy. Não olhe para trás. Não pense. Apenas faça.”
Eu respirei fundo, sentindo as batidas do meu coração acelerarem. A ideia de fugir do Clã, de deixar tudo para trás, era assustadora, mas também inevitável. Não havia mais espaço para dúvidas. Rafael nunca me aceitaria. Ele deixou isso claro quando anunciou seu casamento, e a cada sorriso que ele lançava a Selene, a dor do vínculo latejava dentro de mim como uma lâmina cravada em minha alma.
Essa noite, eu me libertaria.
De tudo.
De todos.
A cerimônia aconteceu no grande salão da mansão, um lugar opulento, decorado com tochas que lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra. O som das vozes dos lobos se misturava com o estalar do fogo, criando uma atmosfera quase mágica. Eu me mantive nas margens da multidão, observando cada movimento de Rafael, cada gesto calculado.
Freiren estava inquieta, rosnando baixinho em minha mente.
“Agora. Saia enquanto todos estão focados neles. Vá para a floresta. As estrelas guiarão o caminho.”
Minha respiração ficou pesada. Não era só o medo que me tomava. Era a antecipação. Era a liberdade, tão próxima que eu quase podia senti-la. Com passos rápidos e silenciosos, deixei o salão, desviando pelos corredores que conhecia tão bem. Cada passo me levava para mais longe do Clã, para mais perto da linha que eu jamais tinha ousado cruzar.
O limite do território do Clã Lunar era marcado por uma linha de pedras antigas, cobertas de musgo e história. Era o ponto onde a segurança do Clã terminava e a vastidão selvagem da floresta começava. Eu parei diante delas, meu coração batendo tão alto que eu tinha certeza de que qualquer um poderia ouvir.
Freiren falou novamente, sua voz mais firme do que nunca.
“Diga as palavras. Quebre o vínculo. Liberte-nos.”
Minhas mãos tremiam enquanto eu olhava para a escuridão além das pedras. Sabia que, ao cruzá-las, não haveria volta. Seria uma renúncia completa, não apenas de Rafael, mas de tudo o que eu tinha conhecido até agora.
Era assustador.
Era libertador.
Eu inspirei profundamente, sentindo o ar frio da noite encher meus pulmões. E então, com a voz mais firme que consegui reunir, pronunciei as palavras que mudariam minha vida para sempre.
— Eu, Isadora Vorn, Filha Primogênita de Alistar Vorn, rejeito o Alfa Rafael Gaeliiun como meu companheiro.
As palavras ecoaram na escuridão, carregadas pelo vento. No instante em que as pronunciei, algo dentro de mim quebrou. Era como se uma corrente invisível tivesse sido destruída, como se o peso que eu carregava por tanto tempo tivesse sido arrancado de minhas costas. Mas, junto com a libertação, veio a dor. Uma dor que rasgou minha alma, que queimou como fogo em minhas veias.
Caí de joelhos, ofegando, enquanto o vínculo entre mim e Rafael se desfazia. Não era algo simples ou fácil. Era uma ruptura violenta, um corte profundo que me deixava vulnerável e exposta. Mas eu sabia que precisava suportar.
Era o preço da liberdade.
Foi nesse momento que Freiren tomou o controle.
“Agora. Deixe-me guiá-la. Confie em mim.”
Eu fechei os olhos e senti minha loba emergir, sua energia tomando conta de mim de maneira tão natural que parecia inevitável. Meu corpo começou a mudar, ossos se alongando, músculos se ajustando, enquanto eu me transformava na loba que sempre mantive escondida.
Freiren era magnífica. Sua pelagem branca brilhava sob a luz da lua, um contraste contra a escuridão da floresta ao nosso redor. Ela era força, liberdade e poder em sua forma mais pura. E, pela primeira vez, eu me senti inteira.
Freiren guiava cada passo, cada salto, cada desvio entre as árvores. A floresta parecia viva ao nosso redor, as sombras dançando e o vento cantando em nossos ouvidos. Era como se ela tivesse esperado por este momento por toda a sua vida, e agora que estava livre, não havia nada que pudesse nos parar.
Mas não estávamos seguras, não ainda. O uivo que ecoou atrás de nós deixou isso claro. Rafael sentiu o rompimento do vínculo. Ele sabia que eu tinha fugido, e agora ele viria atrás de mim. Eu podia sentir sua raiva, sua frustração, como um eco distante em minha mente. Ele não iria deixar que eu escapasse tão facilmente.
“Corra, Izzy. Não pare. Não olhe para trás.” — Freiren rosnou, sua determinação me dando forças para continuar.
Eu não sabia para onde estávamos indo. A floresta parecia infinita, um labirinto de árvores e sombras. Mas Freiren parecia saber. Ela corria com propósito, como se estivesse seguindo um caminho que só ela podia ver.
A dor do rompimento ainda estava comigo, mas era diferente agora. Não era mais a dor de estar presa, de ser rejeitada. Era a dor da liberdade, da escolha. E era uma dor que eu estava disposta a suportar.
A noite avançava, e a floresta ficava mais densa. Eu sabia que a fuga não seria fácil, que Rafael e o Clã fariam tudo o que podiam para me encontrar. Mas, pela primeira vez em minha vida, eu me sentia viva. Pela primeira vez, eu estava lutando por mim mesma, por minha liberdade, por meu futuro.
E, enquanto corríamos sob a luz da lua, uma certeza crescia dentro de mim: eu nunca mais seria uma prisioneira. Nem de Rafael, nem do Clã, nem de ninguém.
Freiren corria, livre e indomável, enquanto o mundo ao nosso redor se tornava apenas um borrão. E, no fundo do meu coração, eu sabia que essa era apenas a primeira etapa da nossa jornada.
A liberdade era apenas o começo.
A floresta era um labirinto de sons e sombras, uma tapeçaria intricada tecida com o sussurro das folhas, o canto dos pássaros e o crepitar de galhos sob o vento. Mas, para Freiren, não era apenas um labirinto; era um lar. Cada galho quebrado sob suas patas, cada folha farfalhando ao toque do vento, cada aroma terroso que dançava no ar, tudo fazia parte de uma sinfonia complexa e harmoniosa que apenas ela entendia. Após anos aprisionada, escondida dentro de mim como uma chama adormecida, Freiren estava finalmente livre. A escuridão que a sufocava havia se dissipado, revelando uma força e uma determinação que eu mal podia imaginar.E ela corria. Corria com a força de mil tempestades, como se tentasse compensar todo o tempo perdido. Cada passo era uma declaração de independência, uma rejeição das correntes invisíveis que a prendiam. Todo o tempo em que passou aprisionada, observando o mundo através de uma janela embaçada, agora se transformava em pura energia, impulsionando-a para frente
A lua estava alta no céu, sua luz prateada banhando a floresta com um brilho etéreo. A escuridão ao meu redor parecia infinita, como se a noite nunca fosse chegar ao fim. Meu corpo, em forma lupina, se movia rápido, quase sem pensar. As folhas secas estalavam sob minhas patas, e o vento gelado cortava meu pelo negro como a noite. Há dias eu não descansava, mas sabia que não poderia parar. Não até encontrar as respostas que buscava. Não enquanto aquele fardo, aquela questão, ainda pairasse sobre mim como uma tempestade iminente.“Encontre sua Luna ou escolha uma loba do clã.”As palavras do conselho ecoavam em minha mente, sem cessar. A pressão que sentia aumentava a cada dia. Meus próprios guerreiros, aqueles que sempre me seguiram sem questionar, agora me olhavam com uma preocupação disfarçada, sussurrando entre si. Ser um Alfa sem uma Luna era um tabu para muitos. Não porque eu não fosse forte o suficiente ou incapaz de liderar. Não era isso. Mas matilha acreditava que a verdadeir
A chuva caía em torrentes, uma cortina incessante que envolvia a floresta. O som do impacto das gotas sobre as folhas e o solo parecia um tambor que batia furiosamente, refletindo o tumulto interno que tomava conta de mim. Cada gota era uma lembrança constante da nossa vulnerabilidade, um lembrete implacável de que estávamos sendo caçadas. O chão se transformava rapidamente em um emaranhado escorregadio de lama e folhas mortas. A cada passo, sentia a terra ceder sob minhas patas, dificultando ainda mais nossa fuga. Estávamos nos afundando no terreno traiçoeiro, mas não havia escolha. A perseguição estava mais próxima do que nunca, e a única chance de sobrevivermos era se conseguíssemos despistar os Rogue's que nos seguiam implacavelmente.A exaustão pesava sobre mim como uma mortalha. Cada músculo doía, cada respiração era um esforço. As batalhas recentes haviam nos cobrado um preço alto, deixando-nos à beira do colapso. Mas eu sabia que não podia ceder. Não podia permitir que o cansa
As paredes frias, úmidas, exalavam o cheiro de mofo e ferrugem. A cela em que me colocaram era pequena, com grades grossas e uma única lamparina fraca iluminando o corredor de pedra. Meu corpo ainda tremia, não apenas pelo frio, mas também pela exaustão. A dor nos músculos parecia ser constante, como um lembrete do ataque dos Rogue ‘s e da minha fuga desesperada.Eles haviam me jogado ali sem qualquer explicação, suas expressões severas deixando claro que eu não era bem-vinda naquele território. Freiren ainda estava silenciosa, provavelmente pela ação do sedativo que me separava dela. Era como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado, deixando-me vazia e indefesa.Pouco tempo depois, passos ecoaram no corredor. Levantei a cabeça lentamente, meus olhos encontrando os de um homem alto e robusto. Seu cheiro carregava a força característica de um lobo Beta. Ele trazia um prato de comida simples e algo dobrado embaixo do braço. Enquanto seus homens traziam o que parecia ser um balde de á
O cheiro de pedra úmida e metal enferrujado invadiu minhas narinas enquanto eu descia as escadas estreitas e irregulares que levavam às masmorras. Cada degrau rangia sob o peso das minhas botas, um som monótono que ecoava no corredor silencioso. A umidade impregnava o ar, colando-se à minha pele como um véu invisível. O frio era cortante, penetrando nas camadas de tecido e atingindo meus ossos. Cada respiração era uma névoa branca que se dissipava rapidamente na escuridão. Ao meu lado, Damon Cross, meu Beta, mantinha-se um passo atrás, sua presença constante e confiável como uma sombra leal. Seus sentidos aguçados varriam as paredes de pedra, atento a qualquer sinal de perigo nas sombras frias que nos cercavam. — O que temos aqui, Damon? — perguntei, sem desviar os olhos do caminho à frente. Minha voz, embora baixa, carregava o peso da autoridade, um reflexo dos anos que passei liderando nosso clã. Ele cruzou os braços enquanto caminhava, sua expressão tão controlada quanto sua pos
O silêncio nas masmorras era quase absoluto, quebrado apenas pelo som das gotas de água que pingavam incessantemente das paredes úmidas. O ambiente fétido e gelado era um reflexo da condição de minha alma naquele momento. Sentada no canto escuro da cela, meus braços estavam abraçados aos joelhos, tentando desesperadamente encontrar uma maneira de acalmar minha respiração acelerada. A presença de Caelum, ainda fresca em minha mente, fazia meu coração bater mais rápido do que eu gostaria de admitir. Não era apenas o medo do desconhecido, mas algo mais profundo, algo que me conectava a ele de uma maneira que eu não podia compreender.Freiren estava em silêncio, e isso me deixou ainda mais inquieta. Ela sempre fora minha âncora, minha força em momentos de desespero. Desde que fugimos do clã Lunar, a loba nunca me abandonou. Ela esteve comigo nas batalhas, nas noites de medo e solidão, sempre me guiando e me protegendo. Mas agora, naquele momento de extrema necessidade, ela não estava comi
O aroma de chá fresco preenchia a sala iluminada pelo sol da manhã. Eu me sentava na poltrona confortável, vestindo meu robe de seda escura, um toque de elegância que contrastava com o peso da conversa que estava prestes a acontecer. A luz suave do dia parecia querer trazer algum tipo de calor àquele momento, mas nada poderia aliviar a tensão que pairava no ar. A única coisa que podia sentir de verdade era a agitação crescente em meu peito. Eu sabia que Caelum viria. Sabia que essa conversa estava inevitavelmente prestes a acontecer. E eu sabia que ele não estaria preparado para o que eu tinha a dizer.Eu estava certa de que ele chegaria, mas ele demorou mais do que o normal. Quando finalmente entrei na sala, o vi parado à porta, sua presença imponente preenchendo o ambiente. Seus olhos estavam cansados, como se carregasse um peso invisível sobre os ombros. O típico Caelum que todos conheciam, cheio de força e liderança, mas havia algo de diferente hoje. Algo em sua expressão dizia qu
Os passos de Damon ecoavam pelas masmorras enquanto ele se aproximava da minha cela. O som dos seus passos pesados fazia meu estômago revirar de ansiedade. Eu não sabia o que ele queria de mim, mas o olhar que ele havia trocado com Caelum na última vez em que me viu não era nada amigável. E agora ele vinha até mim de novo.Eu estava sentada no chão da cela, abraçada aos joelhos. O cheiro úmido e pesado da prisão era sufocante, mas de alguma forma, eu havia me acostumado. Pelo menos estava segura ali. A cela, apesar de fria e suja, era meu único refúgio, o único lugar onde eu poderia esconder minha verdadeira identidade. Mas esse refúgio estava prestes a ser tirado de mim.Damon parou em frente às barras da minha cela, e por um instante, ficou ali, me observando com um olhar calculista. Ele parecia distante, como se estivesse pesaroso por fazer o que tinha que fazer.— Levante-se — ele disse, a voz grave, sem emoção. — O Alfa decidiu que você não vai mais ficar aqui.Eu não consegu