Capítulo 5

A cerimônia era tudo o que eu esperava e temia. A mansão do clã estava tomada por uma vibração frenética, lobos de todas as idades reunidos em celebração, aguardando o momento em que Rafael e Selene fariam seus votos sob a luz da lua. Eu os observei de longe, fingindo que estava ali apenas para cumprir o meu papel de empregada, mas o peso no meu peito era quase insuportável.

Rafael estava deslumbrante em sua postura de líder, o Alfa que todos respeitavam. Ele falava com autoridade e charme, sorrindo para Selene como se ela fosse a única coisa que importava. Enquanto isso, eu era apenas uma sombra, um eco na periferia daquele mundo brilhante.

Mas esta noite seria diferente.

Essa noite eu seria finalmente livre.

Freiren estava comigo, como sempre. Mas, ao contrário do habitual, sua presença não era silenciosa. Ela pulsava dentro de mim, ansiosa e determinada, como uma fera que esperou muito tempo para ser libertada. Suas palavras ecoavam em minha mente desde a manhã, me guiando, me preparando para o que estava por vir.

“Chegou a hora, Izzy. Não olhe para trás. Não pense. Apenas faça.”

Eu respirei fundo, sentindo as batidas do meu coração acelerarem. A ideia de fugir do Clã, de deixar tudo para trás, era assustadora, mas também inevitável. Não havia mais espaço para dúvidas. Rafael nunca me aceitaria. Ele deixou isso claro quando anunciou seu casamento, e a cada sorriso que ele lançava a Selene, a dor do vínculo latejava dentro de mim como uma lâmina cravada em minha alma.

Essa noite, eu me libertaria.

De tudo.

De todos.

A cerimônia aconteceu no grande salão da mansão, um lugar opulento, decorado com tochas que lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra. O som das vozes dos lobos se misturava com o estalar do fogo, criando uma atmosfera quase mágica. Eu me mantive nas margens da multidão, observando cada movimento de Rafael, cada gesto calculado.

Freiren estava inquieta, rosnando baixinho em minha mente.

“Agora. Saia enquanto todos estão focados neles. Vá para a floresta. As estrelas guiarão o caminho.”

Minha respiração ficou pesada. Não era só o medo que me tomava. Era a antecipação. Era a liberdade, tão próxima que eu quase podia senti-la. Com passos rápidos e silenciosos, deixei o salão, desviando pelos corredores que conhecia tão bem. Cada passo me levava para mais longe do Clã, para mais perto da linha que eu jamais tinha ousado cruzar.

O limite do território do Clã Lunar era marcado por uma linha de pedras antigas, cobertas de musgo e história. Era o ponto onde a segurança do Clã terminava e a vastidão selvagem da floresta começava. Eu parei diante delas, meu coração batendo tão alto que eu tinha certeza de que qualquer um poderia ouvir.

Freiren falou novamente, sua voz mais firme do que nunca.

“Diga as palavras. Quebre o vínculo. Liberte-nos.”

Minhas mãos tremiam enquanto eu olhava para a escuridão além das pedras. Sabia que, ao cruzá-las, não haveria volta. Seria uma renúncia completa, não apenas de Rafael, mas de tudo o que eu tinha conhecido até agora.

Era assustador.

Era libertador.

Eu inspirei profundamente, sentindo o ar frio da noite encher meus pulmões. E então, com a voz mais firme que consegui reunir, pronunciei as palavras que mudariam minha vida para sempre.

— Eu, Isadora Vorn, Filha Primogênita de Alistar Vorn, rejeito o Alfa Rafael Gaeliiun como meu companheiro.

As palavras ecoaram na escuridão, carregadas pelo vento. No instante em que as pronunciei, algo dentro de mim quebrou. Era como se uma corrente invisível tivesse sido destruída, como se o peso que eu carregava por tanto tempo tivesse sido arrancado de minhas costas. Mas, junto com a libertação, veio a dor. Uma dor que rasgou minha alma, que queimou como fogo em minhas veias.

Caí de joelhos, ofegando, enquanto o vínculo entre mim e Rafael se desfazia. Não era algo simples ou fácil. Era uma ruptura violenta, um corte profundo que me deixava vulnerável e exposta. Mas eu sabia que precisava suportar.

Era o preço da liberdade.

Foi nesse momento que Freiren tomou o controle.

“Agora. Deixe-me guiá-la. Confie em mim.”

Eu fechei os olhos e senti minha loba emergir, sua energia tomando conta de mim de maneira tão natural que parecia inevitável. Meu corpo começou a mudar, ossos se alongando, músculos se ajustando, enquanto eu me transformava na loba que sempre mantive escondida.

Freiren era magnífica. Sua pelagem branca brilhava sob a luz da lua, um contraste contra a escuridão da floresta ao nosso redor. Ela era força, liberdade e poder em sua forma mais pura. E, pela primeira vez, eu me senti inteira.

Freiren guiava cada passo, cada salto, cada desvio entre as árvores. A floresta parecia viva ao nosso redor, as sombras dançando e o vento cantando em nossos ouvidos. Era como se ela tivesse esperado por este momento por toda a sua vida, e agora que estava livre, não havia nada que pudesse nos parar.

Mas não estávamos seguras, não ainda. O uivo que ecoou atrás de nós deixou isso claro. Rafael sentiu o rompimento do vínculo. Ele sabia que eu tinha fugido, e agora ele viria atrás de mim. Eu podia sentir sua raiva, sua frustração, como um eco distante em minha mente. Ele não iria deixar que eu escapasse tão facilmente.

“Corra, Izzy. Não pare. Não olhe para trás.” — Freiren rosnou, sua determinação me dando forças para continuar.

Eu não sabia para onde estávamos indo. A floresta parecia infinita, um labirinto de árvores e sombras. Mas Freiren parecia saber. Ela corria com propósito, como se estivesse seguindo um caminho que só ela podia ver.

A dor do rompimento ainda estava comigo, mas era diferente agora. Não era mais a dor de estar presa, de ser rejeitada. Era a dor da liberdade, da escolha. E era uma dor que eu estava disposta a suportar.

A noite avançava, e a floresta ficava mais densa. Eu sabia que a fuga não seria fácil, que Rafael e o Clã fariam tudo o que podiam para me encontrar. Mas, pela primeira vez em minha vida, eu me sentia viva. Pela primeira vez, eu estava lutando por mim mesma, por minha liberdade, por meu futuro.

E, enquanto corríamos sob a luz da lua, uma certeza crescia dentro de mim: eu nunca mais seria uma prisioneira. Nem de Rafael, nem do Clã, nem de ninguém.

Freiren corria, livre e indomável, enquanto o mundo ao nosso redor se tornava apenas um borrão. E, no fundo do meu coração, eu sabia que essa era apenas a primeira etapa da nossa jornada.

A liberdade era apenas o começo.

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