O cheiro de pedra úmida e metal enferrujado invadiu minhas narinas enquanto eu descia as escadas estreitas e irregulares que levavam às masmorras. Cada degrau rangia sob o peso das minhas botas, um som monótono que ecoava no corredor silencioso. A umidade impregnava o ar, colando-se à minha pele como um véu invisível. O frio era cortante, penetrando nas camadas de tecido e atingindo meus ossos. Cada respiração era uma névoa branca que se dissipava rapidamente na escuridão. Ao meu lado, Damon Cross, meu Beta, mantinha-se um passo atrás, sua presença constante e confiável como uma sombra leal. Seus sentidos aguçados varriam as paredes de pedra, atento a qualquer sinal de perigo nas sombras frias que nos cercavam. — O que temos aqui, Damon? — perguntei, sem desviar os olhos do caminho à frente. Minha voz, embora baixa, carregava o peso da autoridade, um reflexo dos anos que passei liderando nosso clã. Ele cruzou os braços enquanto caminhava, sua expressão tão controlada quanto sua pos
O silêncio nas masmorras era quase absoluto, quebrado apenas pelo som das gotas de água que pingavam incessantemente das paredes úmidas. O ambiente fétido e gelado era um reflexo da condição de minha alma naquele momento. Sentada no canto escuro da cela, meus braços estavam abraçados aos joelhos, tentando desesperadamente encontrar uma maneira de acalmar minha respiração acelerada. A presença de Caelum, ainda fresca em minha mente, fazia meu coração bater mais rápido do que eu gostaria de admitir. Não era apenas o medo do desconhecido, mas algo mais profundo, algo que me conectava a ele de uma maneira que eu não podia compreender.Freiren estava em silêncio, e isso me deixou ainda mais inquieta. Ela sempre fora minha âncora, minha força em momentos de desespero. Desde que fugimos do clã Lunar, a loba nunca me abandonou. Ela esteve comigo nas batalhas, nas noites de medo e solidão, sempre me guiando e me protegendo. Mas agora, naquele momento de extrema necessidade, ela não estava comi
O aroma de chá fresco preenchia a sala iluminada pelo sol da manhã. Eu me sentava na poltrona confortável, vestindo meu robe de seda escura, um toque de elegância que contrastava com o peso da conversa que estava prestes a acontecer. A luz suave do dia parecia querer trazer algum tipo de calor àquele momento, mas nada poderia aliviar a tensão que pairava no ar. A única coisa que podia sentir de verdade era a agitação crescente em meu peito. Eu sabia que Caelum viria. Sabia que essa conversa estava inevitavelmente prestes a acontecer. E eu sabia que ele não estaria preparado para o que eu tinha a dizer.Eu estava certa de que ele chegaria, mas ele demorou mais do que o normal. Quando finalmente entrei na sala, o vi parado à porta, sua presença imponente preenchendo o ambiente. Seus olhos estavam cansados, como se carregasse um peso invisível sobre os ombros. O típico Caelum que todos conheciam, cheio de força e liderança, mas havia algo de diferente hoje. Algo em sua expressão dizia qu
Os passos de Damon ecoavam pelas masmorras enquanto ele se aproximava da minha cela. O som dos seus passos pesados fazia meu estômago revirar de ansiedade. Eu não sabia o que ele queria de mim, mas o olhar que ele havia trocado com Caelum na última vez em que me viu não era nada amigável. E agora ele vinha até mim de novo.Eu estava sentada no chão da cela, abraçada aos joelhos. O cheiro úmido e pesado da prisão era sufocante, mas de alguma forma, eu havia me acostumado. Pelo menos estava segura ali. A cela, apesar de fria e suja, era meu único refúgio, o único lugar onde eu poderia esconder minha verdadeira identidade. Mas esse refúgio estava prestes a ser tirado de mim.Damon parou em frente às barras da minha cela, e por um instante, ficou ali, me observando com um olhar calculista. Ele parecia distante, como se estivesse pesaroso por fazer o que tinha que fazer.— Levante-se — ele disse, a voz grave, sem emoção. — O Alfa decidiu que você não vai mais ficar aqui.Eu não consegu
A semana passou lentamente, como se o tempo tivesse decidido se arrastar, saboreando cada momento. Eu, por minha vez, me perdi nas tarefas diárias, ocupando a mente e o corpo para tentar não pensar no que estava acontecendo, ou melhor, no que “não” estava acontecendo. Cada dia que passava, o vínculo com Caelum parecia se enfraquecer, como uma chama prestes a se apagar. Mas, ao mesmo tempo, havia algo dentro de mim que não deixava essa chama morrer completamente. A presença de Freiren em minha mente, a conexão com o lobo dele, eram inegáveis. E eu sabia que ele também sentia isso, mesmo que se recusasse a admitir. Na cozinha, eu era uma ajudante simples, sem nada que me destacasse entre os outros membros da equipe. A comida era simples, mas nutritiva, e os aromas que preenchiam o ar me lembravam de casa, de tempos mais simples. Não era a vida que eu tinha sonhado, mas pelo menos estava segura. No entanto, não era fácil esquecer de Caelum. Eu sentia o peso de sua ausência, a tensão
Nos dias que se seguiram, minha vida na mansão Caelum tomou um rumo irreversível. Fui recebida com olhares cautelosos e, em alguns casos, até com desprezo por aqueles que não compreendiam minha presença ali. A tarefa que a mãe de Caelum me confiou parecia simples: auxiliar nos preparativos para os eventos e nos cuidados diários da mansão. Contudo, algo me perturbava profundamente — algo indescritível. Cada passo que eu dava por aqueles corredores, cada olhar lançado em minha direção, parecia mais pesado, mais carregado de expectativas que eu não sabia como atender. Trabalhei incessantemente, ajudando a servir o jantar, limpando os salões e mantendo tudo em ordem. Mesmo diante dos murmúrios ao meu redor, mantive o foco. Eu não podia perder o controle. Não podia me deixar levar pela insegurança ou pelo medo. Tinha uma missão, e isso me dava uma direção, uma razão para seguir em frente. Mesmo assim, a presença de Caelum ainda me inquietava. Ele não me ignorava completamente, mas o desco
Os dias na mansão de Caelum se tornaram uma rotina estranha, marcada por uma tensão palpável e um silêncio carregado. A revelação de minha linhagem e a marca de Alistair Vorn pesavam sobre mim como uma sombra, mas havia algo mais profundo que me inquietava. A presença de Caelum, seu olhar distante e sua postura rígida, apenas aumentavam a confusão que eu sentia. Era como se um fio invisível nos conectasse, pulsando com uma energia que eu não conseguia ignorar. A mansão, com seus corredores longos e imponentes, parecia um labirinto onde eu me perdia a cada dia. Enquanto limpava e organizava os espaços, não conseguia evitar os pensamentos sobre Caelum. Ele era mais do que um Alfa; era um homem que carregava o peso de suas responsabilidades e de seu passado. E eu? Eu era apenas uma jovem loba de 18 anos, não acasalada, tentando encontrar meu lugar em um mundo que parecia não ter espaço para mim. Naquela manhã em particular, enquanto o sol filtrava suas luzes douradas através das janel
O silêncio entre nós era quase ensurdecedor. Caelum ainda segurava meu rosto, seus dedos roçando levemente minha pele, e o calor de seu toque parecia incendiar algo dentro de mim. Meu coração batia contra minhas costelas com força, e minha respiração estava acelerada. Eu via a luta interna em seus olhos — o Alfa rígido e responsável versus o homem que talvez desejasse mais do que o destino lhe permitia. Ele afastou a mão devagar, como se o simples contato fosse perigoso demais. Seus olhos, um abismo de emoções contidas, mantinham-se fixos nos meus. Eu não me movi. Não poderia, mesmo que quisesse. Algo maior que nós dois nos mantinha presos ali, naquela tensão carregada, naquele momento que parecia eterno. — Isadora... — ele murmurou, e o som do meu nome saindo de seus lábios me fez estremecer. — Me mostre, Caelum — repeti, minha voz apenas um fio de som. Eu sabia que ele estava prestes a tomar uma decisão, uma da qual não poderíamos voltar atrás. Seus olhos escureceram, a respira