Capítulo 1

Dez anos. Dez longos anos desde que a floresta foi manchada pelo sangue de meus pais. Dez anos de sombras e incertezas, onde a solidão foi minha única amiga e a culpa, meu constante inimigo. Não havia mais a magia do mistério que envolvia minha infância. O mundo se tornara um lugar sombrio, e meu corpo, agora uma mulher feita, carregava o peso de um destino que eu não escolhera.

Eu estava tão acostumada à vida que levava agora que a simples ideia de mudança parecia impossível. O papel de empregada na casa do Líder dos Clãs, uma mansão imponente nas bordas da floresta, era meu refúgio e minha prisão. A cada dia, me movia pela casa de pedra e madeira, varrendo, limpando, servindo, mantendo-me invisível, esperando que a Lua me chamasse. Mas ela nunca parecia fazê-lo. Não mais. A Lua me vigiava em silêncio, como se soubesse que eu ainda não estava pronta para enfrentar o que viria.

Eu vivia entre os membros do Clã, mas era tratada como uma sombra, uma lembrança de algo distante. Ninguém sabia da verdade sobre mim. Todos acreditavam que eu havia sido resgatada pelo Clã Lunar após o ataque do Clã Selvagem, uma órfã sem história, sem laços com ninguém. Mas dentro de mim, algo queimava — uma força que eu não podia controlar, um desejo profundo de ser mais do que aquilo que minha vida parecia me reservar.

O dia começou como qualquer outro. Levantei-me antes do amanhecer, como sempre fazia, e preparei o café para o Alfa e os outros membros importantes do Clã. Rafael, o líder do Clã Lunar, era quem eu mais temia, e ao mesmo tempo, quem eu mais desejava. Ele não sabia o que eu sentia, claro, pois eu estava determinada a manter minha distância, a esconder meus sentimentos atrás de uma fachada de obediência.

Ele era o Alfa, a figura de poder, o centro de todo o Clã, e com ele, todo o peso das expectativas da matilha. Não era segredo para ninguém que Rafael tinha uma ligação forte com Selene, uma mulher que, ao contrário de mim, nunca precisaria esconder sua verdadeira natureza. Selene era tudo o que eu não era — bela, confiante, segura de si, com uma posição invejável dentro da hierarquia do Clã. Ela era a companheira de Rafael, e todo o Clã sabia disso. A química entre eles era inegável, como se o vínculo de companheiros fosse uma verdade evidente para todos, menos para mim.

Mas eu sabia a verdade. Sabia que, dentro de mim, algo estava crescendo, algo que me conectava a Rafael, de uma maneira que eu não podia negar. Eu sentia a presença dele como um peso sobre minha pele, uma marca invisível que eu não conseguia remover. O vínculo de companheiros. O vínculo predestinado. O laço que os lobos compartilham com aquele que lhes foi destinado.

Eu tentava não pensar nisso. Mas não podia evitar.

No entanto, naquela manhã, o destino parecia ter decidido que eu não poderia ignorar o que estava acontecendo.

Eu estava na cozinha, preparando a refeição matinal para Rafael e os outros líderes do Clã, quando ele entrou. O som de seus passos pesados reverberou na sala, e meu coração acelerou sem que eu pudesse controlar. Ele estava em sua forma humana, mas havia algo nele que transcendia sua aparência. Sua presença, a forma como ele se movia, como ele era. Era como se ele fosse a própria noite, implacável e atraente.

Ele se aproximou da bancada onde eu estava e parou, observando-me em silêncio. Eu olhei para baixo, com o rosto ligeiramente corado, tentando evitar seu olhar penetrante.

— Você está bem, Isadora? — A voz dele cortou o silêncio, suave, mas com um tom que eu mal podia entender. Eu sabia que ele não estava perguntando sobre meu bem-estar físico, mas sobre algo mais profundo, mais pessoal.

— Sim, Alfa. Estou bem — respondi, minha voz baixa e controlada, como sempre. Eu não podia me permitir parecer fraca ou vulnerável perto dele. Não depois de tudo o que ele representava.

Rafael deu um passo à frente, sua presença se tornando ainda mais imponente. Ele estava tão perto que eu podia sentir seu cheiro — o aroma terroso da floresta e algo mais. Algo que parecia chamar a minha loba.

— Você tem estado muito quieta ultimamente. O que está acontecendo? — Sua pergunta era quase desconcertante. Ele não sabia o que estava perguntando, mas parecia intuir algo dentro de mim, algo que eu mal conseguia compreender.

Eu engoli em seco, minha garganta repentinamente seca. Ele não sabia o quanto sua proximidade estava me afetando. Eu queria gritar, queria correr, mas não podia. Não podia porque, mesmo sem saber, ele era meu companheiro.

Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu com um estrondo, interrompendo a tensão no ar. Selene entrou, sorrindo de maneira encantadora, com sua postura altiva e autoconfiança que era quase palpável. Ela caminhou até Rafael, colocando a mão suavemente sobre seu braço, e eu senti o ódio crescer dentro de mim, um ódio tão forte e doloroso que mal podia respirar.

— Bom dia, meu Alfa — disse Selene, com a voz suave e sedutora, olhando para mim com um sorriso quase desdenhoso.

Eu me encolhi, desviando os olhos, e senti a dor do vínculo crescer ainda mais forte dentro de mim, como uma lâmina afiada cortando meu peito. Eu sabia que não deveria, mas o sentimento era inevitável. Rafael era meu companheiro, e Selene, sua amante. A dor da rejeição começou a se infiltrar em meus ossos, e a verdade se tornou insuportável.

Eu sabia que Rafael me via apenas como uma empregada, uma sombra em sua vida. Não havia espaço para mim, não havia lugar para alguém como eu. Ele já havia escolhido Selene, e o que eu sentia por ele era uma maldição silenciosa que eu não sabia como carregar.

Mas o pior ainda estava por vir.

Rafael se afastou de Selene e se voltou para mim, os olhos se suavizando, mas ainda assim profundos e enigmáticos. Ele deu um passo mais perto, e eu soube que o momento que eu temia estava prestes a acontecer.

— Isadora… — Rafael começou, e sua voz se tornou mais grave, carregada de um peso que eu não compreendia. — Você… você sabe o que é o vínculo entre nós, não sabe?

Eu me encolhi ligeiramente, a respiração se tornando irregular. Eu sabia o que ele estava dizendo, mas não queria ouvir. Não queria que ele fosse o meu companheiro, não quando já havia feito sua escolha.

— Sim, Alfa — consegui responder, a voz tremendo. — Eu sei.

Houve um longo silêncio, e então, Rafael falou, com uma firmeza que fez meu estômago revirar.

— Eu não posso aceitar esse vínculo. Eu já estou comprometido com Selene. E você… — Ele fez uma pausa, os olhos fixos nos meus, como se estivesse me avaliando. — Você não tem permissão para procurar o seu próprio companheiro. Não há mais ninguém para você.

O impacto das palavras dele foi como um golpe direto no meu peito. Ele me rejeitou. Não só me rejeitou como companheira, mas também me proibiu de fazer o mesmo, de procurar outro que me completasse.

Eu senti a dor do vínculo, uma dor excruciante que só aumentava. Mas algo dentro de mim se quebrou naquele momento. O vínculo, o destino… tudo parecia uma mentira. E, mais do que nunca, eu sabia que minha jornada estava apenas começando.

Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas uma coisa era certa: o Clã Lunar, Rafael e tudo o que ele representava não seriam mais capazes de me prender.

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