—Podia pelo menos fumar algo menos fedorento. —pronunciou aquela voz.
Encarei Samantha da cabeça aos pés, ao sugar a fumaça daquele cilindro preto e retirá-lo da boca soltando-a junto com a respiração.
—Não devia estar com suas irmãs? —indaguei ao estreitar minhas vistas.
—Meus pais estão com ela. E eu fico onde quiser, para começo de conversa! —me retrucou e ri daquilo ao alisar meus lábios com o dedão.
—E justamente, vem ficar onde estou. Coincidência não?! —disse irônico olhando para a lua a minha frente. —Não estou a fim de conversa contigo, e deixei explicito.
—Ikarus... —ela começou e observei-a rígida, como se tivesse dificuldade em dizer algo. Respirou fundo e disse: —... já somos adultos, e não crianças bobas. Pelo menos, devíamos fazer as pazes não?
—Quer fazer as pazes? —ri de imediato. Que a vi ficar vermelha de raiva. —Oh docinho, eu não quero nada, nem mesmo as pazes com você.
—Gostaria de saber por que me odeia tanto, o que fiz para isso? —me perguntou ao se aproximar.
Fiquei em silencio, remexendo meu maxilar ao tragar novamente aquele cigarro.
—Ikarus? Estou falando com você. Pelo menos me responde! —a encarei e simplesmente soltei fumaça em sua face, que lhe fez executar uma careta ao tossir.
—Eu não sou surdo, estou ouvindo! —respondi com desdém ao tomar mais dois goles do cantil. —Eu não gosto de você, Samantha!
—E qual o motivo? —quis saber.
—Por que isso é tão importante para você? Acho que não queria ver minha cara tanto quanto eu não queria a sua! —fui certeiro.
—Realmente. Mas...
—Mas? Samantha, você acha mesmo que eu iria me vincular a você? Nunca, ia enrolar até não poder mais. —falei ríspido. —Para mim, você é a última mulher com quem se relacionaria amorosamente.
—Nossa, falou o homem perfeito né? E que ainda abdicou do alfa, será que é tão homem assim? Ou é um moleque ainda? —quando ela cuspiu aquilo em mim, deixei meu cigarro cair ao chão e com a fúria que me predominou de imediato a joguei de encontro aquela arvore. Ouvindo um gemido fino sair dos seus lábios grossos.
Pressionei seu peito ali, que a fez segurar meu pulso.
—Acha que é quem para me ofender? —falei bufando ao encará-la de perto.
—Sou Samantha Roosevelt. Acha que tenho medo porque você é um Hoover? Para mim você foi um covarde e continua sendo. —disse furiosa.
Um ódio me consumiu ali ao piscar algumas vezes, sentindo as pontas dos meus dedos dormentes e minha visão um tanto turva. Entretanto, e por um momento uma pequena faísca emergiu de mim, e que podia cogitar ter sido da bebida, mas percebi ver ela relaxar e seu olhar mudar.
Foi tão ágil, quanto eu podia reagir no estado que me encontrava. Bêbado.
Foi como um choque entre água fria e quente, quando senti sua boca na minha. O que deixou-me perplexo e sem reação alguma.
Suas mãos me puxavam para colar em seu corpo, o que fazia meu lado bestial corresponder a aquela tensão sensual que era exercida pela a mesma. Deixei o cantil cair de minha mão rente a grama. E por um breve momento, eu a obedeci ferozmente.
Mas minha mente acordou dos meus instintos, e a empurrei de junto de mim.
—Ikarus... —ela falou ao tentar se aproximar de mim.
Pisquei algumas vezes tentando entender o que havia acontecido, e ao mesmo tempo me afastando daquela mulher. Fiz uma expressão de nojo para ela, e limpei meus lábios ao dar as costas tão agilmente e sumir numa corrida lupina entre a vegetação seca. Que só me fez ouvir:
—IKARUS! —ao fundo com sua voz ruidosa. Enquanto, tudo dentro de mim desmoronava assim como o que meus sentimentos mostravam-me.
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Meu ar saiu dos pulmões quando consegui parar, meus pés doloridos pela a corrida naquela terra escura e cheias de cascalhos. Minha mente atormentada, fez meu corpo esconde-se rente ao tronco daquelas arvores altas buscando abrigo, enquanto meu predador estava em meu encalço.Eu podia sentir que ele me farejava, e me caçava como uma besta selvagem. Querendo saciar sua sede de sangue. Meu sangue no caso. O uivo gutural anunciou que o mesmo tinha me achado, para meu azar. E então meus pés foram mais ágeis, do que meu cérebro em pensar comandá-los.Pus-me correr com voracidade ao ouvir, as patas da besta baterem de encontro a aquela corrida mortal. Meus cabelos longos e escuros com fios dourados esvoaçaram, junto com minha expressão de pânico e meu coração que acelerava drasticamente. No que mais parecia uma câmera lenta, a favor do meu predador.Tive coragem de olhar para trás e vislumbrar aquele lobo cinzento de olhar e
Na aula de balé...—Vamos, vamos. Parecem molengas! —pronunciava a senhora Romano nós induzindo a agilizar os passos com nossos parceiros.A senhora Romano, era uma mulher de 60 anos, que ainda mantinha um corpo de dar inveja a mulheres mais jovem. Executava com perfeição cada pulo e passo, nos instruindo para não errarmos. Tinha mais de trinta anos de carreira no balé, mas mesmo aposentada, continuava a dar aulas. Pois o amava, assim como eu.—Isso, bambina, continue assim senhorita Roosevelt! —me elogiou enquanto eu girava com leveza ao redor de Mason que seguia meus passos.Entretanto, alguém bateu em mim me fazendo ruir ao piso de madeira encerado e brilhoso.—Opa, desculpa, Samantha! —disse num riso contido Elena.Mason me ajudou enquanto, a senhora Romano a encarava.—Senhorita Garcia, tome mais cuidado com as pessoas ao seu redor. Parecia uma gazela dando piruetas desengonçadas! —ironizou a professora o que fez todos ali rirem do ocorrido, menos Elena que ficou vermelha de raiv
Algumas horas depois... —Odeio portais! —pronunciei assim que pisei o primeiro pé rente aquele batente de pedras, e levei minha mão direita ao estomago e a esquerda a boca. Meu estomago revirou-se como se quisesse jogar o bolo de baunilha que havia comido fora. —Ah, Sam, você só não esta mais acostumada! —Gray se aproximou de mim e alisou minhas costas. Aquela pequena menina, agora era uma adolescente quase me alcançando em altura. —Tanto faz, mas odeio! —falei ao respirar fundo e ficar reta ajeitando minha jaqueta jeans. Guardei a pedra escura que brilhava perante os raios solares, no bolso da minha calça. Gray desceu os degraus de pedra tão ágil como o gato, enquanto por um momento admirei aquele local em ruinas que traziam runas trincadas rente a soleira rígida por onde passamos. A escrita de símbolos, fez-me dar um nó na mente. Tinha esquecido bastante coisas quando fiquei afastada desse local e da casa dos meus pais. —Vai vim ou vai ficar aí parada? —indagou minha irmãzinha
Localização: Alcateia Onix, centro da cidade.Ikarus Hoover...Assim que havia terminado meu pronunciamento, a tensão que pensava que sairia dos meus ombros acabou por ficar maior. A maioria daquela multidão estava repartida, uma parte tentando entender minha abdicação e outra que estava aceitando a ideia. Já que a alcateia não poderia ficar sem um alfa. Me retirei daquele meio do palanque de pedras rústicas, e deixei Lucius juntamente com os anciões darem voz aquele festejo entre prós e contra.—Ikarus... —ouvi a voz baixa de meu beta, Nicolas me chamar. —O que foi isso? —observei sua expressão ainda espantada.Pois nem aos meus beta e ômega havia contado, ou cogitado dizer. O que posso dizer que foi um pouco de covardia da minha parte. Mas não podia comentar, já que havia chegado sozinho a essa conclusão.—Fiz o que era certo, Nicolas! —respondi no mesmo tom ao encará-lo. Nicolas era um excelente guerreiro, tinha cabelos na altura dos ombros alargados, barba aparada e um olhar sério
Algumas horas depois...Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida. Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e
Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o l
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino