Algumas horas depois...
Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.
Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida. Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.
Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.
—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.
Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e os dentes faltando na frente com aquele pijama de dinossauros branco.
—Irei ir até aí. Não venha! —ponderei ao me erguer e como se fosse um felino, andar agilmente em sua direção. Ele se afastou e me pendurei jogando minhas pernas, e adentrando totalmente. —Não devia estar dormindo essa hora? Cadê sua mãe? —perguntei ao ajeitar minha camisa branca que tinha subido.
—Ela foi colocar o Luka para dormir. —disse sorrindo.
—E você está aqui fora da sua, estou certo que ela te colocou na cama e você fugiu! —palpitei ao pega-lo no colo.
—Queria poder vê-lo, tio Ikarus! —percebi que ele estava com um brinquedo de coelho nas mãos. Era seu bichinho favorito, desde que o dei de presente aos dois anos.
—Estou aqui. Sentiu minha falta esse tempo todo, deduzo? —indaguei cômico e ele balançou a cabeça em concordância.
—Tio Ikarus, lembra o papai! —ele comentou e fiquei um pouco perplexo ao ouvir aquilo.
Meu irmão havia morrido fazia mais de três anos, e não duvido que Tyler sentia falta de sua presença e carinho. Assim como eu sentia falta do meu irmão mais velho.
Dei um meio sorriso sem jeito, e disse: —Vou te colocar na cama, já é tarde demais para as crianças estarem acordada!
Levei ele como se estivesse em galopes para fora do quarto, ouvindo sua risada que me contagiava. Viramos o corredor animados até chegar no final indo para o da direita, cheguei à porta de seu aposento.
E vislumbrei um universo ali, entre brinquedos e pelúcias num tom azulado. E por estranho que me pareça, aquilo me deixou nostálgico. O deitei na cama que trazia desenhos de foguetes e planetas e o cobri.
—Boa noite, campeão! —falei ao bagunçar seus cabelos escuros. E quando ia embora, ele agarrou em minha mão tão firme que parei naquele exato momento.
—Tio Ikarus, o papai um dia vai voltar? —ele me perguntou, enquanto algo me cortava por dentro como lâmina afiadas.
Soltei o ar de meus pulmões com dificuldade, piscando algumas vezes. Tentei não deixar meu semblante melancólico, e apenas disse:
—Vai sim, campeão. Um dia ele vai voltar! —exclamei. Tyler ainda não sabia, e ainda mais por ser muito novo Odette resolveu poupá-lo disso.
—Obrigado, tio! —ele sorriu sonolento e virou-se de costas.
O cobri com o edredom grosso, e beijei seus cabelos. E quando virei-me para sair, Odette estava parada na soleira da porta com um olhar triste. E quando me encarou, parecia ausente.
—Odette. —sussurrei ao me aproximar.
—Desculpa por ele. —ela disse ao limpar rente aos olhos. E pude perceber seus cílios umedecidos.
Coloquei minha mão em seu ombro, e indiquei com a cabeça a porta ao fundo onde era um quarto de recriação de Tyler. Odette seguiu-me e assim que adentramos, fechei a porta e ficamos rente a janela.
—Desculpa... Eu ainda não consegui dizer a ele! —sua voz era embargada ao desviar o olhar.
—Por que está se desculpando? —sorri de leve à encostar o ombro na soleira da janela. —Ele ainda não tem idade para saber, e concordo com sua escolha!
—Mas ele merece saber que o pai... não vai voltar mais! —percebi sua melancolia.
Em como Odette amava meu irmão, e não conseguia tirá-lo um segundo de sua mente. Mesmo que na adolescência a odiava, por ser uma Roosevelt, hoje em dia algumas coisas mudaram.
Eu podia perceber por que meu irmão mais velho era apaixonado por ela. Sendo uma bela mulher de olhar felino, pele rosada e rosto fino, e curvas salientadas que lembro bem deixar a maioria dos homens de nossa alcateia loucos pela a mesma.
—Olha, Odette, sei que não me dou tão bem com sua irmã. Mas fique ciente, que é porque não gosto dela que vou tratar você mal, ao contrário... —pigarreei ao ver que ela me olhava com um sorriso contido, com pequenas lagrimas escorrendo.
—É, realmente, você e a Sam não se dão bem. —comentou ela rindo de leve.
—Mas você é a viúva do meu irmão, mãe dos meus sobrinhos. E eu faria de tudo por vocês! —falei e vi sua expressão ficar perplexa. —Ares iria querer isso de mim! Bom, não só de mim... Hermes, Lucius. Todos nós estamos aqui para cuidar de vocês três! —mandei um sorriso desconcertante com compaixão. Eu não era bom na questão de ser ombro amigo ou ao menos me expressar de um jeito sentimental.
Odette abaixou as vistas e levou as mãos ao rosto, enquanto as mechas de seus cabelos loiros escuro inclinavam-se para frente. E por um momento, vi minha mãe naquela mulher pequena e instintivamente a puxei num abraço, e pude sentir sua retribuição.
E por uma ocasião, enquanto estávamos assim. Eu pude vivenciei a presença do meu irmão naquele quarto, fazendo-me respirar com dificuldade com meus olhos ardendo demasiadamente sem que pudesse controlar tudo aquilo.
Respirei fundo ao fungar, e me distanciar coçando minhas vistas.
—Acho melhor ir, para os preparativos do rito do Lucius! —falei ao gesticular sem olhá-la nos olhos.
—Certo, Ikarus, desculpa por qualquer coisa. —ela pronunciou.
—Nada. —respondi sem jeito e saímos pela segunda porta que dava ao corredor. —E o Luka, está dormindo?
—Sim, o coloquei no berço e a Olivia estar observando-o.”, disse assim que viramos o corredor. Olivia era uma de nossos empregados, um dos mais novos.
Já que o Octavio foi o único que ficou sendo o mais antigo ali.
—Olha só... —comentou aquele rapaz magro, Achilles, meu irmão mais novo. Seu olhar de deboche ao cruzar os braços, me alertou que o que ia sair de sua boca não seria algo bom.
—O que quer? —indaguei sem simpatia alguma.
Achilles era meu irmão por parte de pai, já que sua mãe era a terceira esposa dele, e mãe também de Archelaos o nosso caçula. Que tinha medo até da sua sombra ao contrário do seu irmão mais velho.
Entretanto, Achilles chegava a ser mais desprezível, que meu pai.
—Nossa que hostilidade com seu irmão mais novo. Vim te buscar para o rito, já que nosso pai pediu a mando dos anciões! —sorriu irônico. —Mas vejo que estava bem acompanhado. Nossa, Odette, mal fez três anos ou mais e já está querendo dar em cima do Ikarus!
Fiquei sem chão com suas palavras por um momento, tentando processar, assim como Odette que estava boquiaberta com tais ofensas.
—Achilles! —vociferei de imediato enquanto ele ria. —Tenha mais respeito a viúva do nosso irmão!
—Respeito? Não vejo respeito de vocês dois estarem sozinhos. —comentou. —Nosso irmão estar morto, e ela já está seduzindo outro!
—Papai estar morto? —ouvi aquela voz infantil atras de mim e de Odette, que olhou agilmente. —Papai está... —ele não conseguiu pronunciar mais, deixando seu coelho de pelúcia cair e começar a chorar.
—Ah meu amor. —Odette correu para abraçá-lo, e acalmar em seu colo materno.
Virei meu olhar furioso para Achilles. Querendo o rasgar em dois ali mesmo.
—Acho melhor ela tentar algo com Lucius, já que ele será nosso alfa forte e não um covarde fugindo das responsabilidades. —aquela foi a cereja do bolo para que eu voasse em cima dele, num soco que o fez saltar longe e pousar quase no final do corredor com um grito de Odette ao fundo. E uma rachadura na parede, enquanto ele caia de bunda no chão.
E quando ia terminar o serviço, ela me segurou pelo braço.
—Ikarus, não! —estava tomado por uma fúria.
—Nosso pai irá saber disso! —gaguejou ele ao se erguer cambaleando do chão e com a mão no lado direito do rosto ensanguentado.
—Estou pouco me fodendo para isso, e se eu te ver ofendendo a Odette ou meus sobrinhos. Eu te mato Achilles. —falei bufando. —Eu te mato! —pronunciei tentando me acalmar, enquanto escutava Tyler chorar rente a mim.
Odette ainda segurava em meu braço, e por um momento senti uma aura vindo dela. Que parecia tentar me acalmar e relaxar aquela tensão que estava naquele ambiente. Tyler foi parando aos poucos de chorar, e em minutos dormiu em seu colo.
—Você está bem, Ikarus? —indagou solidaria.
—Eu... eu me descontrolei. —comentei mais calmo ainda com minhas mãos tremulas. —Desculpa, Odette!
—Tudo bem. —ela respondeu ao se distanciar afagando meu ombro.
—Melhor ir para o rito. —falei sem olhá-la.
—Certo. Vou colocar o Tyler na cama! —comentou e a encarei.
—Desculpa por isso. —apenas pronunciei ao sair daquele corredor dando as costas a ela.
Não conseguia mais me reconhecer...
Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o l
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino
No outro dia...Despertei num susto, e percebi como minha cabeça doía-me até a nuca. Os raios solares faziam minhas vistas arderem, e me levar a mão direita tentando evitá-los. Ainda tentava me recordar do que havia acontecido ontem e nada se conectava ou concordava em minha mente. Parecendo um sonho sem pé e sem cabeça.Tudo parecia pedaços de caco de vidro, estilhaçados e difíceis de se conectarem mais. Pisquei algumas vezes tentando fazer com que minha visão, se acostumasse com o sol entrando por minhas persianas das janelas.Ter misturado álcool com o que estava fumando, não tinha sido uma bela de ideia. E agora podia ver isso, com meus músculos endurecidos e a ressaca que parecia me matar a cada movimento que fazia naquela cama de casal.Tentei me erguer, mas cai novamente ao meu leito encarando o teto. E resolvi esperar um pouco e criar forças para me jogar dali. E foi exatamente que fiz.Minhas noções motoras ainda estavam retardadas, quando me esgueirei para o banheiro. Como s
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Abri minhas pálpebras pela a milésima vez, encarando meu despertador que anunciava em sua tela digital que daqui a pouco era hora de acordar. Mas quem disse que preguei meus olhos essa semana toda?! Depois daquele dia no festival, minha mente virou um turbilhão confuso de pensamentos junto com meu coração.Ainda estava tão claro como água, naquela noite, quando eu me aproximei dele. Depois de ponderar por minutos se devia mesmo. Ikarus estava tão mudado. Não era mais um menino, o que meu corpo e cabeça constatavam. Seu corpo havia aumentado não só de altura, mas também a musculatura e seu olhar. Que não trazia mais um céu sem nuvens, como o chamava na infância e sim algo misterioso e com ódio a minha pessoa que ainda continuava.Entretanto, eu realmente gostaria de saber o que fiz para despertar esse sentimento de repudia. Mas eu teria que fazer por onde e tentar persuadi-lo, o que não seria nada fácil da parte do mes
Demorei mais ou menos uns minutos. Coloquei uma calça skinny azulada, que deixava minhas curvas mais salientes e um top caído nos ombros. Não fiz o que minha mãe disse, e nem iria colocar algo tão forte as oito da manhã como ela.Optei por algo básico e leve em minha face, destacando apenas as sobrancelhas grossas e um brilho labial em minha boca. Me aconcheguei num moletom curto e aberto, e tratei de espirrar um pouco de perfume com toque de gardênia e cítrico florais. Coloquei meus cabelos amarrados para trás, e agarrei meu celular assim que eu calcei meus tênis macios de tom pêssego.Fui tão ágil quanto um raio ao sair do meu quarto e descer as escadas, escutando risadas de minhas irmãs e de minha mãe?! Isso estava estranho. Pensei ao parar.Escutei uma voz familiar, grossa e ao mesmo tempo sedosa como um tecido macio. Tinha eloquência e persuasão ao falar.Desci mais ágil ao virar para minha esquerda e seguir para o salão onde fazíamos nossas refeições. Parei de imediato perplexa,
Quando atravessei o portal da alcateia dos Onix, minha mente ainda estava embaralhada. Precisava pelo menos fazer algo certo em minha vida, e umas delas era visitar Vincent. Fazia anos que eu não me atrevia a vim ver seu tumulo, mas sabia bem onde se encontrava. Ao oeste da cidade central, entre grande arvores, de sequoias.Era um local sagrado para os antigos e anciões, e todo o resto da matilha. Onde jazia seus queridos parentes, que morreram e os queriam manter em paz e ao mesmo tempo perto. Acho que não queria isso. Ter Vincent perto de mim, seria egoísmo demais de minha parte. Entretanto, minha mãe fazia questão disso ao usar seu cordão.E falando em cordão, por algum motivo eu trouxe o meu. E não sei bem como explicar, mas sempre que o pegava em mãos podia sentir meu irmão ao meu lado. De alguma forma me zelando e cuidando.Entretanto, não foi como naquele dia que ele sumiu para nunca mais ser achado. Nem ao menos seu corpo ou resquícios dele. Então, a única coisa que me
Localização: Alcateia Onix, oeste da cidade central, cemitério das sequoias.Ikarus Hoover...Samantha me encarava de um jeito, que fazia todo meu corpo vibrar. E meu lado bestial se eriçar por seu calor corporal. Engoli em secos, aquele eternos minutos que fazia meu coração acelerar numa adrenalina frenética.Maldito fosse meu lado animal, o do lobisomem que integrava rente as bestas. E me obrigava a entregar aos desejos carnais, que na nossa raça eram como sofridas chicotadas que fazia doer o corpo todo. Retraindo cada fibra do musculo, me rejeitando a cair tensão sexual que era inundado naquele ambiente. E ela parecia perceber isso.Notei seus quadris ficarem rentes a minha virilha, e num olhar fugaz um sorriso de lado se desenhou. Uma expressão de vingança se fez em sua bela face querendo me tragar, me ver destruído e deixado aos meus instintos. Era isso que aquela loba queria arrancar de mim. Ver meu corpo sofrer.Cravei meus dedos naquela terra fúnebre, como se fosse rasgar o ch