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Capítulo 5: O velho se torna o novo, e nunca olhamos para trás. Parte 2

Algumas horas depois...

Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.

Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida.  Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.

Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.

—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.

Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e os dentes faltando na frente com aquele pijama de dinossauros branco.

—Irei ir até aí. Não venha! —ponderei ao me erguer e como se fosse um felino, andar agilmente em sua direção. Ele se afastou e me pendurei jogando minhas pernas, e adentrando totalmente. —Não devia estar dormindo essa hora? Cadê sua mãe? —perguntei ao ajeitar minha camisa branca que tinha subido.

—Ela foi colocar o Luka para dormir. —disse sorrindo.

—E você está aqui fora da sua, estou certo que ela te colocou na cama e você fugiu! —palpitei ao pega-lo no colo.

—Queria poder vê-lo, tio Ikarus! —percebi que ele estava com um brinquedo de coelho nas mãos. Era seu bichinho favorito, desde que o dei de presente aos dois anos.

—Estou aqui. Sentiu minha falta esse tempo todo, deduzo? —indaguei cômico e ele balançou a cabeça em concordância.

—Tio Ikarus, lembra o papai! —ele comentou e fiquei um pouco perplexo ao ouvir aquilo.

Meu irmão havia morrido fazia mais de três anos, e não duvido que Tyler sentia falta de sua presença e carinho. Assim como eu sentia falta do meu irmão mais velho.

Dei um meio sorriso sem jeito, e disse: —Vou te colocar na cama, já é tarde demais para as crianças estarem acordada!

Levei ele como se estivesse em galopes para fora do quarto, ouvindo sua risada que me contagiava. Viramos o corredor animados até chegar no final indo para o da direita, cheguei à porta de seu aposento.

E vislumbrei um universo ali, entre brinquedos e pelúcias num tom azulado. E por estranho que me pareça, aquilo me deixou nostálgico. O deitei na cama que trazia desenhos de foguetes e planetas e o cobri.

—Boa noite, campeão! —falei ao bagunçar seus cabelos escuros. E quando ia embora, ele agarrou em minha mão tão firme que parei naquele exato momento.

—Tio Ikarus, o papai um dia vai voltar? —ele me perguntou, enquanto algo me cortava por dentro como lâmina afiadas.

Soltei o ar de meus pulmões com dificuldade, piscando algumas vezes. Tentei não deixar meu semblante melancólico, e apenas disse:

—Vai sim, campeão. Um dia ele vai voltar! —exclamei. Tyler ainda não sabia, e ainda mais por ser muito novo Odette resolveu poupá-lo disso.

—Obrigado, tio! —ele sorriu sonolento e virou-se de costas.

O cobri com o edredom grosso, e beijei seus cabelos. E quando virei-me para sair, Odette estava parada na soleira da porta com um olhar triste. E quando me encarou, parecia ausente.

—Odette. —sussurrei ao me aproximar.

—Desculpa por ele. —ela disse ao limpar rente aos olhos. E pude perceber seus cílios umedecidos.

Coloquei minha mão em seu ombro, e indiquei com a cabeça a porta ao fundo onde era um quarto de recriação de Tyler. Odette seguiu-me e assim que adentramos, fechei a porta e ficamos rente a janela.

—Desculpa... Eu ainda não consegui dizer a ele! —sua voz era embargada ao desviar o olhar.

—Por que está se desculpando? —sorri de leve à encostar o ombro na soleira da janela. —Ele ainda não tem idade para saber, e concordo com sua escolha!

—Mas ele merece saber que o pai... não vai voltar mais! —percebi sua melancolia.

Em como Odette amava meu irmão, e não conseguia tirá-lo um segundo de sua mente. Mesmo que na adolescência a odiava, por ser uma Roosevelt, hoje em dia algumas coisas mudaram.

Eu podia perceber por que meu irmão mais velho era apaixonado por ela.  Sendo uma bela mulher de olhar felino, pele rosada e rosto fino, e curvas salientadas que lembro bem deixar a maioria dos homens de nossa alcateia loucos pela a mesma.

—Olha, Odette, sei que não me dou tão bem com sua irmã. Mas fique ciente, que é porque não gosto dela que vou tratar você mal, ao contrário... —pigarreei ao ver que ela me olhava com um sorriso contido, com pequenas lagrimas escorrendo.

—É, realmente, você e a Sam não se dão bem. —comentou ela rindo de leve.

—Mas você é a viúva do meu irmão, mãe dos meus sobrinhos. E eu faria de tudo por vocês! —falei e vi sua expressão ficar perplexa. —Ares iria querer isso de mim! Bom, não só de mim... Hermes, Lucius. Todos nós estamos aqui para cuidar de vocês três! —mandei um sorriso desconcertante com compaixão. Eu não era bom na questão de ser ombro amigo ou ao menos me expressar de um jeito sentimental.

Odette abaixou as vistas e levou as mãos ao rosto, enquanto as mechas de seus cabelos loiros escuro inclinavam-se para frente. E por um momento, vi minha mãe naquela mulher pequena e instintivamente a puxei num abraço, e pude sentir sua retribuição.

E por uma ocasião, enquanto estávamos assim. Eu pude vivenciei a presença do meu irmão naquele quarto, fazendo-me respirar com dificuldade com meus olhos ardendo demasiadamente sem que pudesse controlar tudo aquilo.

Respirei fundo ao fungar, e me distanciar coçando minhas vistas.

—Acho melhor ir, para os preparativos do rito do Lucius! —falei ao gesticular sem olhá-la nos olhos.

—Certo, Ikarus, desculpa por qualquer coisa. —ela pronunciou.

—Nada. —respondi sem jeito e saímos pela segunda porta que dava ao corredor. —E o Luka, está dormindo?

—Sim, o coloquei no berço e a Olivia estar observando-o.”, disse assim que viramos o corredor. Olivia era uma de nossos empregados, um dos mais novos.

Já que o Octavio foi o único que ficou sendo o mais antigo ali.

—Olha só... —comentou aquele rapaz magro, Achilles, meu irmão mais novo. Seu olhar de deboche ao cruzar os braços, me alertou que o que ia sair de sua boca não seria algo bom.

—O que quer? —indaguei sem simpatia alguma.

Achilles era meu irmão por parte de pai, já que sua mãe era a terceira esposa dele, e mãe também de Archelaos o nosso caçula. Que tinha medo até da sua sombra ao contrário do seu irmão mais velho.

Entretanto, Achilles chegava a ser mais desprezível, que meu pai.

—Nossa que hostilidade com seu irmão mais novo. Vim te buscar para o rito, já que nosso pai pediu a mando dos anciões! —sorriu irônico. —Mas vejo que estava bem acompanhado. Nossa, Odette, mal fez três anos ou mais e já está querendo dar em cima do Ikarus!

Fiquei sem chão com suas palavras por um momento, tentando processar, assim como Odette que estava boquiaberta com tais ofensas.

—Achilles! —vociferei de imediato enquanto ele ria. —Tenha mais respeito a viúva do nosso irmão!

—Respeito? Não vejo respeito de vocês dois estarem sozinhos. —comentou. —Nosso irmão estar morto, e ela já está seduzindo outro!

—Papai estar morto? —ouvi aquela voz infantil atras de mim e de Odette, que olhou agilmente. —Papai está... —ele não conseguiu pronunciar mais, deixando seu coelho de pelúcia cair e começar a chorar.

—Ah meu amor. —Odette correu para abraçá-lo, e acalmar em seu colo materno.

Virei meu olhar furioso para Achilles. Querendo o rasgar em dois ali mesmo.

—Acho melhor ela tentar algo com Lucius, já que ele será nosso alfa forte e não um covarde fugindo das responsabilidades. —aquela foi a cereja do bolo para que eu voasse em cima dele, num soco que o fez saltar longe e pousar quase no final do corredor com um grito de Odette ao fundo. E uma rachadura na parede, enquanto ele caia de bunda no chão.

E quando ia terminar o serviço, ela me segurou pelo braço.

—Ikarus, não! —estava tomado por uma fúria.

—Nosso pai irá saber disso! —gaguejou ele ao se erguer cambaleando do chão e com a mão no lado direito do rosto ensanguentado.

—Estou pouco me fodendo para isso, e se eu te ver ofendendo a Odette ou meus sobrinhos. Eu te mato Achilles. —falei bufando. —Eu te mato! —pronunciei tentando me acalmar, enquanto escutava Tyler chorar rente a mim.

Odette ainda segurava em meu braço, e por um momento senti uma aura vindo dela. Que parecia tentar me acalmar e relaxar aquela tensão que estava naquele ambiente. Tyler foi parando aos poucos de chorar, e em minutos dormiu em seu colo.

—Você está bem, Ikarus? —indagou solidaria.

—Eu... eu me descontrolei. —comentei mais calmo ainda com minhas mãos tremulas. —Desculpa, Odette!

—Tudo bem. —ela respondeu ao se distanciar afagando meu ombro.

—Melhor ir para o rito. —falei sem olhá-la.

—Certo. Vou colocar o Tyler na cama! —comentou e a encarei.

—Desculpa por isso. —apenas pronunciei ao sair daquele corredor dando as costas a ela.

Não conseguia mais me reconhecer...

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