Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.
O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.
Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o local.
Os membros da alcateia estavam reunidos em volta de uma fogueira, suas vozes em murmúrios enquanto esperavam a cerimônia começar. Enquanto, eu ao chegar mais perto avistei Lucius, meu irmão mais velho, de pé no centro da clareira. Seus olhos se encontraram por um breve momento, pintados com runas brancas feitas por um dos anciões com uma pequena vasilha na mão. Assim que me juntei naquela roda, todos me olharam. Podia sentir a tensão de alguns com reprovação e outros aceitando minha decisão da abdicação.
Nicolas se aproximou de mim e ficou ao meu lado, nada mais foi dito entre nós desde que teve a terrível notícia em primeira mão da minha saída. E o que iria de ser dito não? Nem judas foi tão pior que eu, ou estava enganado?
Observei meu pai do lado esquerdo a minha frente, alguns metros. Ele era um macho viril, e que todos tinham medo de dizer o contrário por seu jeito inquisidor até no olhar. O que Lucius herdou dele.
Mas Achilles não estava ali, e uma pontada de felicidade em meu interior dizia que estava cuidando da face quebrada.
Desviei para a fogueira, enquanto fagulhas estavam-se batendo ao chão de pedras ao a cerimônia começar com cânticos antigos entoados pelos lobos anciãos, invocando a presença dos espíritos da natureza. A energia na clareira era palpável, carregada com a expectativa do momento. Eu observei com reverência, sabendo que estava testemunhando um evento visto de longe agora.
Quando chegou a hora do batismo, um dos três anciões me pegou pelo braço e me guiou para se aproximar de Lucius, segurando uma tigela de sangue de ovelha que me entregou. Sabia bem que ali tinha mais que um sangue comum de animal. Mas, peguei de sua mão envelhecida a pedra de tom escuro que brilhava as chamas da fogueira em seu cristal que era do tamanho do palmo da minha mão.
Meus olhos se encontraram com o de Lucius, e em um gesto solene, eu derramei o líquido sobre a cabeça dele, simbolizando minha troca e o colocando como novo líder da alcateia.
O cristal jazia em minha mão esquerda, enquanto a mão direita depositei em seu antebraço esquerdo, assim que o ancião pegou a vasilha, e ele retribuiu o toque. Com nossas expressões sérias.
—O poder que um dia foi meu, agora passa de mim para o seu. O velho se torna o novo, e nunca olhamos para trás! —pronunciei convicto de minhas palavras.
Uma vez que o batismo foi concluído, todos se voltaram para a roda.
Um dos três anciões que andavam com seu cajado de madeira bateu sete vezes ao chão com a ponta, olhou para todos ao dizer: —O sangue que corre nas veias do alfa, corre nas veias da sua alcateia. Todos devem o respeito e a submissão ao seu alfa!
Um uivo ecoou dando voz a outros, que era a resposta da aceitação de seu líder. Enquanto, se transformavam na forma de Crinos, que consistia em lobos maiores que um humano com a forma de lobo em duas patas.
E outros em Hispo, a forma normal e pouco maior que um lobo comum.
E onde a cerimônia foi finalizada entre uivos e latidos dos membros.
Lucius sorriu para mim e me abraçou forte, ainda processando aquela leveza que as responsabilidades eram deixadas de mim.
Entretanto...
Olhei para minhas mãos manchadas com aquele sangue de ovelha, sabendo que algumas coisas ainda teriam que ser resolvidas por mim. Meu olhar celeste encarou alguns metros dali aquele homem. Pele parda, cabelos escurecidos com uma barba que tomava seu rosto e uma aparência séria. Principalmente...
Teria que começar pelo mais difícil.
—Ikarus... —cumprimentou ele ao se aproximar. —Sinto por não ser mais o alfa, teria gostado que minha filha se vinculasse a você.
—Obrigado... senhor Roosevelt! —falei ao apertar sua mão, num sorriso tão leve quanto meus pensamentos de vingança.
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino
No outro dia...Despertei num susto, e percebi como minha cabeça doía-me até a nuca. Os raios solares faziam minhas vistas arderem, e me levar a mão direita tentando evitá-los. Ainda tentava me recordar do que havia acontecido ontem e nada se conectava ou concordava em minha mente. Parecendo um sonho sem pé e sem cabeça.Tudo parecia pedaços de caco de vidro, estilhaçados e difíceis de se conectarem mais. Pisquei algumas vezes tentando fazer com que minha visão, se acostumasse com o sol entrando por minhas persianas das janelas.Ter misturado álcool com o que estava fumando, não tinha sido uma bela de ideia. E agora podia ver isso, com meus músculos endurecidos e a ressaca que parecia me matar a cada movimento que fazia naquela cama de casal.Tentei me erguer, mas cai novamente ao meu leito encarando o teto. E resolvi esperar um pouco e criar forças para me jogar dali. E foi exatamente que fiz.Minhas noções motoras ainda estavam retardadas, quando me esgueirei para o banheiro. Como s
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Abri minhas pálpebras pela a milésima vez, encarando meu despertador que anunciava em sua tela digital que daqui a pouco era hora de acordar. Mas quem disse que preguei meus olhos essa semana toda?! Depois daquele dia no festival, minha mente virou um turbilhão confuso de pensamentos junto com meu coração.Ainda estava tão claro como água, naquela noite, quando eu me aproximei dele. Depois de ponderar por minutos se devia mesmo. Ikarus estava tão mudado. Não era mais um menino, o que meu corpo e cabeça constatavam. Seu corpo havia aumentado não só de altura, mas também a musculatura e seu olhar. Que não trazia mais um céu sem nuvens, como o chamava na infância e sim algo misterioso e com ódio a minha pessoa que ainda continuava.Entretanto, eu realmente gostaria de saber o que fiz para despertar esse sentimento de repudia. Mas eu teria que fazer por onde e tentar persuadi-lo, o que não seria nada fácil da parte do mes
Demorei mais ou menos uns minutos. Coloquei uma calça skinny azulada, que deixava minhas curvas mais salientes e um top caído nos ombros. Não fiz o que minha mãe disse, e nem iria colocar algo tão forte as oito da manhã como ela.Optei por algo básico e leve em minha face, destacando apenas as sobrancelhas grossas e um brilho labial em minha boca. Me aconcheguei num moletom curto e aberto, e tratei de espirrar um pouco de perfume com toque de gardênia e cítrico florais. Coloquei meus cabelos amarrados para trás, e agarrei meu celular assim que eu calcei meus tênis macios de tom pêssego.Fui tão ágil quanto um raio ao sair do meu quarto e descer as escadas, escutando risadas de minhas irmãs e de minha mãe?! Isso estava estranho. Pensei ao parar.Escutei uma voz familiar, grossa e ao mesmo tempo sedosa como um tecido macio. Tinha eloquência e persuasão ao falar.Desci mais ágil ao virar para minha esquerda e seguir para o salão onde fazíamos nossas refeições. Parei de imediato perplexa,
Quando atravessei o portal da alcateia dos Onix, minha mente ainda estava embaralhada. Precisava pelo menos fazer algo certo em minha vida, e umas delas era visitar Vincent. Fazia anos que eu não me atrevia a vim ver seu tumulo, mas sabia bem onde se encontrava. Ao oeste da cidade central, entre grande arvores, de sequoias.Era um local sagrado para os antigos e anciões, e todo o resto da matilha. Onde jazia seus queridos parentes, que morreram e os queriam manter em paz e ao mesmo tempo perto. Acho que não queria isso. Ter Vincent perto de mim, seria egoísmo demais de minha parte. Entretanto, minha mãe fazia questão disso ao usar seu cordão.E falando em cordão, por algum motivo eu trouxe o meu. E não sei bem como explicar, mas sempre que o pegava em mãos podia sentir meu irmão ao meu lado. De alguma forma me zelando e cuidando.Entretanto, não foi como naquele dia que ele sumiu para nunca mais ser achado. Nem ao menos seu corpo ou resquícios dele. Então, a única coisa que me
Localização: Alcateia Onix, oeste da cidade central, cemitério das sequoias.Ikarus Hoover...Samantha me encarava de um jeito, que fazia todo meu corpo vibrar. E meu lado bestial se eriçar por seu calor corporal. Engoli em secos, aquele eternos minutos que fazia meu coração acelerar numa adrenalina frenética.Maldito fosse meu lado animal, o do lobisomem que integrava rente as bestas. E me obrigava a entregar aos desejos carnais, que na nossa raça eram como sofridas chicotadas que fazia doer o corpo todo. Retraindo cada fibra do musculo, me rejeitando a cair tensão sexual que era inundado naquele ambiente. E ela parecia perceber isso.Notei seus quadris ficarem rentes a minha virilha, e num olhar fugaz um sorriso de lado se desenhou. Uma expressão de vingança se fez em sua bela face querendo me tragar, me ver destruído e deixado aos meus instintos. Era isso que aquela loba queria arrancar de mim. Ver meu corpo sofrer.Cravei meus dedos naquela terra fúnebre, como se fosse rasgar o ch
Minhas pálpebras abriram-se devagar, ainda atordoado e com minha visão embaçada. Girei minha retina para a direita, identificando aquele local de tons creme com branco. E uma mulher de cabelos escurecidos, de costas que estava mexendo em algo que tilintou em alguma coisa metálica. Pisquei algumas vezes para tentar entender onde me encontrava.Quando uma dor lançante tomou meu corpo, fazendo-me soltar um gemido. O que alertou aquela mulher, que agora podia ver ser Sarah. Um dos membros da alcateia, que era da área de medicina. Observei-a vindo enquanto notava faixas por todo meu corpo.—Senhor Hoover, melhor não se mexa tanto. Seus ferimentos ainda não sararam por total completo! —quando a mesma pronunciou aquilo, a encarei.—O que houve? —indaguei e a mesma me olhou sem jeito.—Ah, eu acho melhor chamar seu pai! —quando ela ia se virar eu a agarrei pelo o pulso suavemente.—Por favor, me diga o que aconteceu! —pedi a ela.—Você e Lucius quase se mataram ontem! —exclamou uma voz séria