Localização: Alcateia Onix, centro da cidade.
Ikarus Hoover...
Assim que havia terminado meu pronunciamento, a tensão que pensava que sairia dos meus ombros acabou por ficar maior. A maioria daquela multidão estava repartida, uma parte tentando entender minha abdicação e outra que estava aceitando a ideia. Já que a alcateia não poderia ficar sem um alfa. Me retirei daquele meio do palanque de pedras rústicas, e deixei Lucius juntamente com os anciões darem voz aquele festejo entre prós e contra.
—Ikarus... —ouvi a voz baixa de meu beta, Nicolas me chamar. —O que foi isso? —observei sua expressão ainda espantada.
Pois nem aos meus beta e ômega havia contado, ou cogitado dizer. O que posso dizer que foi um pouco de covardia da minha parte. Mas não podia comentar, já que havia chegado sozinho a essa conclusão.
—Fiz o que era certo, Nicolas! —respondi no mesmo tom ao encará-lo. Nicolas era um excelente guerreiro, tinha cabelos na altura dos ombros alargados, barba aparada e um olhar sério naquele homem de pele bronzeada e mais alto que eu.
Foi quando ouvi a voz de Noah, meu ômega, pronunciar:
—Nem sempre fazer o certo é algo bom. —olhei-o de soslaio.
Noah era meu braço direito, um rapaz novo, de pele negra e olhar azulado. Sua mãe era uma Sodalita, uma alcateia que tínhamos tratados de união em prol do bem de ambas e negócios internos.
Pensei em dizer algo aquelas duas pessoas do meu lado, que pareciam querer por respostas. Mas a única coisa que consegui fazer, foi me calar por completo enquanto ouvia os três anciões explicando a multidão sobre a passagem do rito e a festa que teríamos logo depois para comemoração.
Algo que nem ao menos estava animado em participar, mas que infelizmente teria de fazer. Meu olhar levantou-se diretamente para uma pessoa que não queria, Samantha Roosevelt, aquela morena dourada de olhar avelã. Que parecia ter se tornado uma bela mulher, se eu a achasse atraente como qualquer homem em questão.
Toda vez que eu a encarava, podia ver um ódio emergindo em meu interior. E deixando minha mente completamente enevoada.
Mas além disso, o que lembrava daquela mulher era pedaços de quebra-cabeça que tentavam se encaixar. Daqueles momentos que vivemos, até eu descobrir a verdade que me fez odiar até o ar que ela respirava e a única coisa que está impregnado em minha mente. Desviei meu olhar da mesma, e continuei ali ao lado de meu beta e ômega, além de meus irmãos naquela vibração que a multidão estava estarrecida.
Assim que tudo finalizou, sai o mais rápido possível dali. Queria pelo menos colocar a cabeça no lugar, longe dos olhares e perguntas de pessoas curiosas sobre minha abdicação. Eu sabia que não seria fácil isso.
Deixar o título de alfa tão jovem, iria gerar repercussão de todos. Mas se bem que quando me jogaram isso aos meus quinze anos, não se importaram nem um pouco se eu estava apto a cuidar de uma alcateia.
Aquilo era angustiante, auxiliar uma matilha mais parecia que eu tinha mulher e filhos, e que se não me responsabilizasse a culpa dos erros cairiam toda em mim. Porém, ainda tinha mais uma coisa que iria me acontecer...
Casar com Samantha, para minha infelicidade genuína.
Não queria me vincular a ela, não a queria como minha luna. E nem ter filhos ou família com aquela mulher. Só de pensar que ficaria preso a ela até minha morte, me angustiava em todo meu ser.
Não estava pronto para nada disso, e o medo me consumia. Minha ansiedade deu início ali, percebi minha mão esquerda começar a tremer levemente.
—Merda! —praguejei deliberadamente. Olhei para os lados e segui para um beco entre duas casas. Sentei-me em um caixote de madeira escurecida, enquanto puxava da jaqueta de couro, um março de cigarro de embalagem preta depositado no bolso interno.
Bati o mesmo no punho, que fez aquele cilindro fino saltar para fora. E o coloquei entre meus lábios ao pegar o isqueiro do outro bolso. Acendi-o tragando aquele gosto inebriante e amargo daquele cigarro.
Aquele vicio me consumia, mas aquele cigarro de heroína era a única coisa que me relaxava nessa tensão toda de ser o alfa e as tarefas.
Enquanto dava mais tragadas soltando a fumaça, podia presenciar meu corpo se aliviar de tudo aquilo que estava em minhas costas. Foi quando percebi uma silhueta a me encarar, que fez-me tossir quando sentia o sabor do cigarro.
Samantha Roosevelt, emergiu como um fantasma que parecia ter vindo me cobrar algo que lhe devia, ela me encarou profundamente em sua face jovial. Que era iluminada por leves raios solares naquele beco que estávamos.
—O que foi? —indaguei e ela continuava a me fitar. —Me achou tão lindo assim? Talvez deveria tirar uma foto, assim duraria mais. —fui irônico e frio ao soltar a fumaça pela boca.
Samantha se recompôs rapidamente e fez olhares cortantes em minha direção. Sua voz carregava um tom irônico quando ela finalmente falou:
—Fiquei surpresa que passou o posto de alfa ao seu irmão e...
—Então é isso! —eu dei um risinho ao respirar firme e profundamente, que deixou aquela moça desconcertada de um jeito estranho. —Tenho mais o que fazer, Samantha, se quer visitar sua irmã é bem-vinda a nossa casa, do contrário não temos o que conversar. Passar bem, senhorita! —Gesticulei com cabeça num sarcasmo e passei por ela de maneira ríspida.
Mas senti sua mão agarra-se em meu braço, o que deixou nós dois tão próximos que podíamos sentir em nossas peles a respiração um do outro. Nos encaramos por minutos intermináveis.
—O que houve dessa vez? —perguntei irritado. Observei ela me soltar e me encarar.
—É sobre a gente, como fica a questão da vinculação. —pronunciou. Dava para perceber que ela também não gostava de tocar naquele assunto.
Mordi meus lábios de leve, e estreitei meus olhos ao tragar aquele maldito cigarro. Que fez ela expressar uma careta de desgosto pelo o cheiro.
—Não fica! —dei um meio sorriso ao soltar a fumaça em sua faça e seguir para longe dali.
—Ei, espera... —escutei atrás de minhas costas com leves tosses. Entretanto, adentrei as calçadas seguindo em frente tão ágil, que eu não pude mais ouvir sua voz.
Algumas horas depois...Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida. Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e
Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o l
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino
No outro dia...Despertei num susto, e percebi como minha cabeça doía-me até a nuca. Os raios solares faziam minhas vistas arderem, e me levar a mão direita tentando evitá-los. Ainda tentava me recordar do que havia acontecido ontem e nada se conectava ou concordava em minha mente. Parecendo um sonho sem pé e sem cabeça.Tudo parecia pedaços de caco de vidro, estilhaçados e difíceis de se conectarem mais. Pisquei algumas vezes tentando fazer com que minha visão, se acostumasse com o sol entrando por minhas persianas das janelas.Ter misturado álcool com o que estava fumando, não tinha sido uma bela de ideia. E agora podia ver isso, com meus músculos endurecidos e a ressaca que parecia me matar a cada movimento que fazia naquela cama de casal.Tentei me erguer, mas cai novamente ao meu leito encarando o teto. E resolvi esperar um pouco e criar forças para me jogar dali. E foi exatamente que fiz.Minhas noções motoras ainda estavam retardadas, quando me esgueirei para o banheiro. Como s
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Abri minhas pálpebras pela a milésima vez, encarando meu despertador que anunciava em sua tela digital que daqui a pouco era hora de acordar. Mas quem disse que preguei meus olhos essa semana toda?! Depois daquele dia no festival, minha mente virou um turbilhão confuso de pensamentos junto com meu coração.Ainda estava tão claro como água, naquela noite, quando eu me aproximei dele. Depois de ponderar por minutos se devia mesmo. Ikarus estava tão mudado. Não era mais um menino, o que meu corpo e cabeça constatavam. Seu corpo havia aumentado não só de altura, mas também a musculatura e seu olhar. Que não trazia mais um céu sem nuvens, como o chamava na infância e sim algo misterioso e com ódio a minha pessoa que ainda continuava.Entretanto, eu realmente gostaria de saber o que fiz para despertar esse sentimento de repudia. Mas eu teria que fazer por onde e tentar persuadi-lo, o que não seria nada fácil da parte do mes
Demorei mais ou menos uns minutos. Coloquei uma calça skinny azulada, que deixava minhas curvas mais salientes e um top caído nos ombros. Não fiz o que minha mãe disse, e nem iria colocar algo tão forte as oito da manhã como ela.Optei por algo básico e leve em minha face, destacando apenas as sobrancelhas grossas e um brilho labial em minha boca. Me aconcheguei num moletom curto e aberto, e tratei de espirrar um pouco de perfume com toque de gardênia e cítrico florais. Coloquei meus cabelos amarrados para trás, e agarrei meu celular assim que eu calcei meus tênis macios de tom pêssego.Fui tão ágil quanto um raio ao sair do meu quarto e descer as escadas, escutando risadas de minhas irmãs e de minha mãe?! Isso estava estranho. Pensei ao parar.Escutei uma voz familiar, grossa e ao mesmo tempo sedosa como um tecido macio. Tinha eloquência e persuasão ao falar.Desci mais ágil ao virar para minha esquerda e seguir para o salão onde fazíamos nossas refeições. Parei de imediato perplexa,
Quando atravessei o portal da alcateia dos Onix, minha mente ainda estava embaralhada. Precisava pelo menos fazer algo certo em minha vida, e umas delas era visitar Vincent. Fazia anos que eu não me atrevia a vim ver seu tumulo, mas sabia bem onde se encontrava. Ao oeste da cidade central, entre grande arvores, de sequoias.Era um local sagrado para os antigos e anciões, e todo o resto da matilha. Onde jazia seus queridos parentes, que morreram e os queriam manter em paz e ao mesmo tempo perto. Acho que não queria isso. Ter Vincent perto de mim, seria egoísmo demais de minha parte. Entretanto, minha mãe fazia questão disso ao usar seu cordão.E falando em cordão, por algum motivo eu trouxe o meu. E não sei bem como explicar, mas sempre que o pegava em mãos podia sentir meu irmão ao meu lado. De alguma forma me zelando e cuidando.Entretanto, não foi como naquele dia que ele sumiu para nunca mais ser achado. Nem ao menos seu corpo ou resquícios dele. Então, a única coisa que me