Algumas horas depois...
—Odeio portais! —pronunciei assim que pisei o primeiro pé rente aquele batente de pedras, e levei minha mão direita ao estomago e a esquerda a boca. Meu estomago revirou-se como se quisesse jogar o bolo de baunilha que havia comido fora.
—Ah, Sam, você só não esta mais acostumada! —Gray se aproximou de mim e alisou minhas costas. Aquela pequena menina, agora era uma adolescente quase me alcançando em altura.
—Tanto faz, mas odeio! —falei ao respirar fundo e ficar reta ajeitando minha jaqueta jeans. Guardei a pedra escura que brilhava perante os raios solares, no bolso da minha calça.
Gray desceu os degraus de pedra tão ágil como o gato, enquanto por um momento admirei aquele local em ruinas que traziam runas trincadas rente a soleira rígida por onde passamos. A escrita de símbolos, fez-me dar um nó na mente.
Tinha esquecido bastante coisas quando fiquei afastada desse local e da casa dos meus pais.
—Vai vim ou vai ficar aí parada? —indagou minha irmãzinha naquele estilo rebelde extrovertido, com cores vibrantes.
—Já vou, calma! —respondi ao notar a cidade ao fundo na minha direita. Só podendo ver ao longe as pequenas pontas das residências, que ainda traziam um ar medieval e de época.
Coisa que lembro bem, minha mãe explicando, que os anciões prezavam. Poucas coisas modernas foram aceitas por eles, nesse local. Não queriam modernidade humana demais, que fizesse mudar a essência daqui. E a minha frente, alguns metros, estava ela.
Rente ao final daquela longa floresta escura e seca, a mansão imponente. Que mais parecia um castelo moderno, a residência dos Hoover...
levamos alguns minutos ao se aproximar de lá. Quando Clay virou-se para mim e perguntou: —Não está animada para o anúncio?
—Nem um pouco. —Dei o braço a torcer a aquela adolescente cheia de energia a minha frente, andando para trás e balançando a bolsa branca que trazia de baixo do braço esquerdo
—Ah fala sério, Sam. —fez beicinho ao ficar do meu lado e remexer seus cabelos curtos e rebeldes.
—Eu nem queria estar aqui para começo de conversa! —disse ranzinza.
—Para, vamos visitar a Odette, e ela pediu pra te trazer também.
—Ela já está bem fazendo parte dos Hoover. E também não preciso voltar a aquela mansão! —Fui áspera e Glay riu daquilo, mas dei de ombros.
—Sei, ainda está com raiva do Ikarus? Mamãe disse que vocês foram namoradinhos de infância. —Disse ela em deboche, que me fez ficar perplexa.
—O QUE? —Vociferei ao parar de repente. —Isso não é verdade!
—Tente me dizer o contrário! —retrucou ela ao fazer encenação de beijo e amassos com as mãos no corpo. —Ikarus e Samantha, se amando... —começou a cantar.
—Ah sua fedelha. Vou te pegar! —disse ao correr atrás dela que foi mais ágil que eu.
Corremos entre risos e respirações intensa naquela vegetação áspera, de uma pintura melancólica.
Nos divertimos até pararmos no final da floresta, tendo a mansão dos Hoover, como destaque naquele local sombrio. Seguimos diretamente as enormes portas, e fomos recebidas pelo o mordomo deles, Octavio, acho que era o único que me recordava por ser o mais velho, onde indicou estar Odette. Subimos as escadas devagar, enquanto conversávamos demasiado.
—Você deve ter se divertido nesse lugar! —Pronunciou ela. —Aqui é enorme, Odette me mostrou algumas vezes!
—Não acho, nem um pouco! —Falei fria como gelo. Não queria me lembrar da minha infância aqui.
—Nem sente saudades do Ikarus? —Indagou ela saltando a sobrancelha em minha direção, e quando eu ia dizer algo ao virarmos o corredor. —Ikarus! —Gray ficou com as bochechas vermelhas ao vê-lo.
—Hum... é o meu nome! —pronunciou ele com aquela voz grossa. —Os Roosevelt’s. Pensei que estariam na cidade!
Ele olhou para mim da cabeça aos pés, e cruzei os braços ao bufar séria. Ikarus desviou o olhar, como se eu não fosse tão interessante e enfiou suas mãos nos bolsos da calça.
Observei bem, seu estilo rebelde em cabelos escuros e bagunçados. Rosto liso sem um pingo se quer de pelos, com suas sobrancelhas grossas e olhar celeste. E alto como se parecesse uma porta, com seus ombros largos.
—Bom, nossa mãe quis que fossemos ver a Odette! —Gray bateu no ombro evidenciando a bolsa.
—Ela está virando o corredor a direita! —indicou com o dedão esquerdo. —Bom, se me derem licença!
—Claro, Ikarus! —Gray sorriu suspirosa enquanto o observava passar por nós. E apenas, desviei do caminho. —Sam? Vai ficar com essa cara de rabugenta? Nem falou com ele.
—E nem me interessa! —Retruquei com um humor não muito bom.
—Ah, fala sério e depois eu sou a criança! —Gray revirou os olhos e seguiu.
Mas eu fiquei, estranhamente ao observar sumir até as escadas, e o seu perfume amadeirado com toque de menta e notas de cominho pairarem no ar que eu respirava. Deixando meus pensamentos enevoados.
Na cidade...
A alcateia estava reunida no centro de casas e até comércios, muitas famílias conhecidas e de renomes. Principalmente os irmãos de Ikarus e seu pai com mãe dos mais novos.
Infelizmente a mãe dos mais velhos, teriam morrido em um acidente fatal que nem ao menos era comentado entre nós. Meu pai estava ao nosso lado, rente a minha mãe e minha irmã Odette com meus sobrinhos, Luka em seus baços adormecido e Tyler, de oito anos agarrado em sua cintura. Enquanto eu estava na última fileira, com Gray e Megan, minha irmã caçula, que era a face toda de nossa mãe. Tendo somente o tom dos olhos de nosso pai. Parecia animada, segurando minha mão e tentando ver melhor entre todas aquelas pessoas que tampavam suas vistas.
Ela as vezes, me fazia lembrar de mim quando tinha sua idade. Doze anos...
Mas naquela época... Meu olhar seguiu para Ikarus que subia a aquele palanque de pedra, que muitas das vezes servia para executar traidores. Pelo o que minha me disse quando mais nova.
Todos ali esperavam ansiosamente pelas palavras de Ikarus. Seu olhar firme e determinado mostrava que algo importante estava prestes a acontecer. Me mantive séria, com uma raiva emergindo do meu interior junto com as lembranças do passado ao olhá-lo tanto.
Entretanto, observei bem que os integrantes, entre eles ômega e beta mantinham o silêncio, curiosos para saber qual seria a revelação que mudaria o curso de tudo ali. Pois quando o alfa se pronunciava, não era algo banal ou avisos pequenos, que esses eram deixados para seu braço direito e esquerdo. Pelo o eu sabia e me recordava.
Ikarus respirou fundo. Ele desviou seu olhar celeste como o céu para Lucius, seu irmão mais velho, que estava ao seu lado. Lucius era um lobo forte e respeitado, com muitos anos de experiência na alcateia. E que nem ao menos fazia de conta que existia, das últimas vezes que passamos próximos. Um bom dia era muita coisa a ser pronunciado por nós dois.
—Meus irmãos. —Começou Ikarus, sua voz ecoando por todos. —Venho diante de vocês hoje para anunciar uma decisão que tomei após longas reflexões e conversas com o Conselho dos Anciões. —disse em uma pausa. —Decidi abdicar de meu posto de alfa e passar o comando da alcateia para Lucius, meu irmão mais velho.
Um murmúrio percorreu a multidão, e olhares de surpresa e incredulidade foram trocados. Fiquei sem reação alguma com meus braços amolecendo rente ao corpo. Sem acreditar naquilo que estava presenciando diante de meus olhos.
Todos esperavam que ele continuasse a liderar a alcateia, assim como eu, infelizmente em tornar-se sua companheira mesmo que não quisesse.
Lucius ficou visivelmente surpreso, encarando Ikarus. Abaixei minhas vistas piscando algumas vezes.
Ikarus prosseguiu, explicando suas razões e levantei minha atenção a ele:
—Lucius sempre foi um lobo sábio e experiente. Ele possui as qualidades necessárias para liderar com sabedoria e justiça. Além disso, acredito que é hora de uma nova era começar em nossa alcateia. Precisamos nos adaptar aos desafios que o mundo nos apresenta e encontrar um equilíbrio entre tradição e progresso, bom, chega de usar a vidência e fazer a posição de alfa por herança como deve ser e foi com nossos avô, bisavô e meu tio.
Enquanto Ikarus falava, os lobos começaram a concordar com sua decisão. Ainda eu estava incerta sobre isso, dele abdicar em prol de Lucius.
Contudo, algo dentro de mim se perguntava como ficaria nossa vinculação nesse meio.
Ikarus encerrou seu discurso, olhando para cada membro da alcateia com seriedade e sinceridade. E eu o encarei, ainda sem chão pelo o anúncio.
—Peço-lhes que confiem em Lucius e o apoiem nessa nova jornada. Estou convencido de que ele levará nossa alcateia a um futuro próspero. Enquanto isso, eu estarei ao seu lado, oferecendo meu apoio e orientação sempre que necessário e quando me for possível.
Um silêncio pesado pairou no ar por um momento antes que aplausos e uivos de aprovação ecoassem pela alcateia. Com alguns desaprovando a ideia em sussurros.
Mas eu ainda piscava algumas vezes tendo de engolir aquele espanto que me pegou desprevenida, pois eu conhecia Ikarus. Mesmo se tivesse sido na infância, mas o Lucius...
Ele era outra história, ainda mais pelo o olhar felino e que escondia muito mais do que expressava. Enquanto, meus pensamentos se enrolavam, meu olhar pousou naquele homem de cabelos escurecidos que me fitou diretamente para meu espanto.
Um arrepio percorreu meu corpo, e meu pelos da pele se eriçaram num aviso extintivo que nunca havia sentido.
Localização: Alcateia Onix, centro da cidade.Ikarus Hoover...Assim que havia terminado meu pronunciamento, a tensão que pensava que sairia dos meus ombros acabou por ficar maior. A maioria daquela multidão estava repartida, uma parte tentando entender minha abdicação e outra que estava aceitando a ideia. Já que a alcateia não poderia ficar sem um alfa. Me retirei daquele meio do palanque de pedras rústicas, e deixei Lucius juntamente com os anciões darem voz aquele festejo entre prós e contra.—Ikarus... —ouvi a voz baixa de meu beta, Nicolas me chamar. —O que foi isso? —observei sua expressão ainda espantada.Pois nem aos meus beta e ômega havia contado, ou cogitado dizer. O que posso dizer que foi um pouco de covardia da minha parte. Mas não podia comentar, já que havia chegado sozinho a essa conclusão.—Fiz o que era certo, Nicolas! —respondi no mesmo tom ao encará-lo. Nicolas era um excelente guerreiro, tinha cabelos na altura dos ombros alargados, barba aparada e um olhar sério
Algumas horas depois...Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida. Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e
Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o l
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino
No outro dia...Despertei num susto, e percebi como minha cabeça doía-me até a nuca. Os raios solares faziam minhas vistas arderem, e me levar a mão direita tentando evitá-los. Ainda tentava me recordar do que havia acontecido ontem e nada se conectava ou concordava em minha mente. Parecendo um sonho sem pé e sem cabeça.Tudo parecia pedaços de caco de vidro, estilhaçados e difíceis de se conectarem mais. Pisquei algumas vezes tentando fazer com que minha visão, se acostumasse com o sol entrando por minhas persianas das janelas.Ter misturado álcool com o que estava fumando, não tinha sido uma bela de ideia. E agora podia ver isso, com meus músculos endurecidos e a ressaca que parecia me matar a cada movimento que fazia naquela cama de casal.Tentei me erguer, mas cai novamente ao meu leito encarando o teto. E resolvi esperar um pouco e criar forças para me jogar dali. E foi exatamente que fiz.Minhas noções motoras ainda estavam retardadas, quando me esgueirei para o banheiro. Como s
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Abri minhas pálpebras pela a milésima vez, encarando meu despertador que anunciava em sua tela digital que daqui a pouco era hora de acordar. Mas quem disse que preguei meus olhos essa semana toda?! Depois daquele dia no festival, minha mente virou um turbilhão confuso de pensamentos junto com meu coração.Ainda estava tão claro como água, naquela noite, quando eu me aproximei dele. Depois de ponderar por minutos se devia mesmo. Ikarus estava tão mudado. Não era mais um menino, o que meu corpo e cabeça constatavam. Seu corpo havia aumentado não só de altura, mas também a musculatura e seu olhar. Que não trazia mais um céu sem nuvens, como o chamava na infância e sim algo misterioso e com ódio a minha pessoa que ainda continuava.Entretanto, eu realmente gostaria de saber o que fiz para despertar esse sentimento de repudia. Mas eu teria que fazer por onde e tentar persuadi-lo, o que não seria nada fácil da parte do mes
Demorei mais ou menos uns minutos. Coloquei uma calça skinny azulada, que deixava minhas curvas mais salientes e um top caído nos ombros. Não fiz o que minha mãe disse, e nem iria colocar algo tão forte as oito da manhã como ela.Optei por algo básico e leve em minha face, destacando apenas as sobrancelhas grossas e um brilho labial em minha boca. Me aconcheguei num moletom curto e aberto, e tratei de espirrar um pouco de perfume com toque de gardênia e cítrico florais. Coloquei meus cabelos amarrados para trás, e agarrei meu celular assim que eu calcei meus tênis macios de tom pêssego.Fui tão ágil quanto um raio ao sair do meu quarto e descer as escadas, escutando risadas de minhas irmãs e de minha mãe?! Isso estava estranho. Pensei ao parar.Escutei uma voz familiar, grossa e ao mesmo tempo sedosa como um tecido macio. Tinha eloquência e persuasão ao falar.Desci mais ágil ao virar para minha esquerda e seguir para o salão onde fazíamos nossas refeições. Parei de imediato perplexa,