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Capítulo 3: Encontros do passado. Parte 3

Algumas horas depois...

—Odeio portais! —pronunciei assim que pisei o primeiro pé rente aquele batente de pedras, e levei minha mão direita ao estomago e a esquerda a boca. Meu estomago revirou-se como se quisesse jogar o bolo de baunilha que havia comido fora.

—Ah, Sam, você só não esta mais acostumada! —Gray se aproximou de mim e alisou minhas costas. Aquela pequena menina, agora era uma adolescente quase me alcançando em altura.

—Tanto faz, mas odeio! —falei ao respirar fundo e ficar reta ajeitando minha jaqueta jeans. Guardei a pedra escura que brilhava perante os raios solares, no bolso da  minha calça.

Gray desceu os degraus de pedra tão ágil como o gato, enquanto por um momento admirei aquele local em ruinas que traziam runas trincadas rente a soleira rígida por onde passamos. A escrita de símbolos, fez-me dar um nó na mente.

Tinha esquecido bastante coisas quando fiquei afastada desse local e da casa dos meus pais.

—Vai vim ou vai ficar aí parada? —indagou minha irmãzinha naquele estilo rebelde extrovertido, com cores vibrantes.

—Já vou, calma! —respondi ao notar a cidade ao fundo na minha direita. Só podendo ver ao longe as pequenas pontas das residências, que ainda traziam um ar medieval e de época.

Coisa que lembro bem, minha mãe explicando, que os anciões prezavam. Poucas coisas modernas foram aceitas por eles, nesse local. Não queriam modernidade humana demais, que fizesse mudar a essência daqui. E a minha frente, alguns metros, estava ela.

Rente ao final daquela longa floresta escura e seca, a mansão imponente. Que mais parecia um castelo moderno, a residência dos Hoover...

levamos alguns minutos ao se aproximar de lá. Quando Clay virou-se para mim e perguntou: —Não está animada para o anúncio?

—Nem um pouco. —Dei o braço a torcer a aquela adolescente cheia de energia a minha frente, andando para trás e balançando a bolsa branca que trazia de baixo do braço esquerdo

—Ah fala sério, Sam. —fez beicinho ao ficar do meu lado e remexer seus cabelos curtos e rebeldes.

—Eu nem queria estar aqui para começo de conversa! —disse ranzinza.

—Para, vamos visitar a Odette, e ela pediu pra te trazer também.

 —Ela já está bem fazendo parte dos Hoover. E também não preciso voltar a aquela mansão! —Fui áspera e Glay riu daquilo, mas dei de ombros.

—Sei, ainda está com raiva do Ikarus? Mamãe disse que vocês foram namoradinhos de infância. —Disse ela em deboche, que me fez ficar perplexa.

—O QUE? —Vociferei ao parar de repente. —Isso não é verdade!

—Tente me dizer o contrário! —retrucou ela ao fazer encenação de beijo e amassos com as mãos no corpo. —Ikarus e Samantha, se amando... —começou a cantar.

—Ah sua fedelha. Vou te pegar! —disse ao correr atrás dela que foi mais ágil que eu. 

Corremos entre risos e respirações intensa naquela vegetação áspera, de uma pintura melancólica.

Nos divertimos até pararmos no final da floresta, tendo a mansão dos Hoover, como destaque naquele local sombrio. Seguimos diretamente as enormes portas, e fomos recebidas pelo o mordomo deles, Octavio, acho que era o único que me recordava por ser o mais velho, onde indicou estar Odette. Subimos as escadas devagar, enquanto conversávamos demasiado.

—Você deve ter se divertido nesse lugar! —Pronunciou ela. —Aqui é enorme, Odette me mostrou algumas vezes!

—Não acho, nem um pouco! —Falei fria como gelo. Não queria me lembrar da minha infância aqui.

—Nem sente saudades do Ikarus? —Indagou ela saltando a sobrancelha em minha direção, e quando eu ia dizer algo ao virarmos o corredor. —Ikarus! —Gray ficou com as bochechas vermelhas ao vê-lo.

—Hum... é o meu nome! —pronunciou ele com aquela voz grossa. —Os Roosevelt’s. Pensei que estariam na cidade!

Ele olhou para mim da cabeça aos pés, e cruzei os braços ao bufar séria. Ikarus desviou o olhar, como se eu não fosse tão interessante e enfiou suas mãos nos bolsos da calça.

Observei bem, seu estilo rebelde em cabelos escuros e bagunçados. Rosto liso sem um pingo se quer de pelos, com suas sobrancelhas grossas e olhar celeste. E alto como se parecesse uma porta, com seus ombros largos.

—Bom, nossa mãe quis que fossemos ver a Odette! —Gray bateu no ombro evidenciando a bolsa.

—Ela está virando o corredor a direita! —indicou com o dedão esquerdo. —Bom, se me derem licença!

—Claro, Ikarus! —Gray sorriu suspirosa enquanto o observava passar por nós. E apenas, desviei do caminho. —Sam? Vai ficar com essa cara de rabugenta? Nem falou com ele.

—E nem me interessa! —Retruquei com um humor não muito bom.

—Ah, fala sério e depois eu sou a criança! —Gray revirou os olhos e seguiu.

Mas eu fiquei, estranhamente ao observar sumir até as escadas, e o seu perfume amadeirado com toque de menta e notas de cominho pairarem no ar que eu respirava. Deixando meus pensamentos enevoados.

Na cidade...

A alcateia estava reunida no centro de casas e até comércios, muitas famílias conhecidas e de renomes. Principalmente os irmãos de Ikarus e seu pai com mãe dos mais novos.

Infelizmente a mãe dos mais velhos, teriam morrido em um acidente fatal que nem ao menos era comentado entre nós. Meu pai estava ao nosso lado, rente a minha mãe e minha irmã Odette com meus sobrinhos, Luka em seus baços adormecido e Tyler, de oito anos agarrado em sua cintura. Enquanto eu estava na última fileira, com Gray e Megan, minha irmã caçula, que era a face toda de nossa mãe. Tendo somente o tom dos olhos de nosso pai. Parecia animada, segurando minha mão e tentando ver melhor entre todas aquelas pessoas que tampavam suas vistas.

Ela as vezes, me fazia lembrar de mim quando tinha sua idade. Doze anos...

Mas naquela época... Meu olhar seguiu para Ikarus que subia a aquele palanque de pedra, que muitas das vezes servia para executar traidores. Pelo o que minha me disse quando mais nova.

Todos ali esperavam ansiosamente pelas palavras de Ikarus. Seu olhar firme e determinado mostrava que algo importante estava prestes a acontecer. Me mantive séria, com uma raiva emergindo do meu interior junto com as lembranças do passado ao olhá-lo tanto.

Entretanto, observei bem que os integrantes, entre eles ômega e beta mantinham o silêncio, curiosos para saber qual seria a revelação que mudaria o curso de tudo ali. Pois quando o alfa se pronunciava, não era algo banal ou avisos pequenos, que esses eram deixados para seu braço direito e esquerdo. Pelo o eu sabia e me recordava.

Ikarus respirou fundo. Ele desviou seu olhar celeste como o céu para Lucius, seu irmão mais velho, que estava ao seu lado. Lucius era um lobo forte e respeitado, com muitos anos de experiência na alcateia. E que nem ao menos fazia de conta que existia, das últimas vezes que passamos próximos. Um bom dia era muita coisa a ser pronunciado por nós dois.

—Meus irmãos. —Começou Ikarus, sua voz ecoando por todos. —Venho diante de vocês hoje para anunciar uma decisão que tomei após longas reflexões e conversas com o Conselho dos Anciões. —disse em uma pausa. —Decidi abdicar de meu posto de alfa e passar o comando da alcateia para Lucius, meu irmão mais velho.

Um murmúrio percorreu a multidão, e olhares de surpresa e incredulidade foram trocados. Fiquei sem reação alguma com meus braços amolecendo rente ao corpo. Sem acreditar naquilo que estava presenciando diante de meus olhos.

Todos esperavam que ele continuasse a liderar a alcateia, assim como eu, infelizmente em tornar-se sua companheira mesmo que não quisesse.

Lucius ficou visivelmente surpreso, encarando Ikarus. Abaixei minhas vistas piscando algumas vezes.

Ikarus prosseguiu, explicando suas razões e levantei minha atenção a ele:

—Lucius sempre foi um lobo sábio e experiente. Ele possui as qualidades necessárias para liderar com sabedoria e justiça. Além disso, acredito que é hora de uma nova era começar em nossa alcateia. Precisamos nos adaptar aos desafios que o mundo nos apresenta e encontrar um equilíbrio entre tradição e progresso, bom, chega de usar a vidência e fazer a posição de alfa por herança como deve ser e foi com nossos avô, bisavô e meu tio.

Enquanto Ikarus falava, os lobos começaram a concordar com sua decisão. Ainda eu estava incerta sobre isso, dele abdicar em prol de Lucius.

Contudo, algo dentro de mim se perguntava como ficaria nossa vinculação nesse meio.

Ikarus encerrou seu discurso, olhando para cada membro da alcateia com seriedade e sinceridade. E eu o encarei, ainda sem chão pelo o anúncio.

—Peço-lhes que confiem em Lucius e o apoiem nessa nova jornada. Estou convencido de que ele levará nossa alcateia a um futuro próspero. Enquanto isso, eu estarei ao seu lado, oferecendo meu apoio e orientação sempre que necessário e quando me for possível.

Um silêncio pesado pairou no ar por um momento antes que aplausos e uivos de aprovação ecoassem pela alcateia. Com alguns desaprovando a ideia em sussurros.

Mas eu ainda piscava algumas vezes tendo de engolir aquele espanto que me pegou desprevenida, pois eu conhecia Ikarus. Mesmo se tivesse sido na infância, mas o Lucius...

Ele era outra história, ainda mais pelo o olhar felino e que escondia muito mais do que expressava. Enquanto, meus pensamentos se enrolavam, meu olhar pousou naquele homem de cabelos escurecidos que me fitou diretamente para meu espanto.

Um arrepio percorreu meu corpo, e meu pelos da pele se eriçaram num aviso extintivo que nunca havia sentido.

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