Na aula de balé...
—Vamos, vamos. Parecem molengas! —pronunciava a senhora Romano nós induzindo a agilizar os passos com nossos parceiros.
A senhora Romano, era uma mulher de 60 anos, que ainda mantinha um corpo de dar inveja a mulheres mais jovem. Executava com perfeição cada pulo e passo, nos instruindo para não errarmos. Tinha mais de trinta anos de carreira no balé, mas mesmo aposentada, continuava a dar aulas. Pois o amava, assim como eu.
—Isso, bambina, continue assim senhorita Roosevelt! —me elogiou enquanto eu girava com leveza ao redor de Mason que seguia meus passos.
Entretanto, alguém bateu em mim me fazendo ruir ao piso de madeira encerado e brilhoso.
—Opa, desculpa, Samantha! —disse num riso contido Elena.
Mason me ajudou enquanto, a senhora Romano a encarava.
—Senhorita Garcia, tome mais cuidado com as pessoas ao seu redor. Parecia uma gazela dando piruetas desengonçadas! —ironizou a professora o que fez todos ali rirem do ocorrido, menos Elena que ficou vermelha de raiva e me encarou. —Senhorita Roosevelt, descanse. Senhorita Brown, troque com ela! —pediu a professora. —Vamos, sem moleza! —disse ao bater as mãos.
Fui para o banco rente a parede de tijolos alaranjados, e deixei meu corpo relaxar encostado nela. E enquanto observava meus colegas treinando, minha mente afundou-se novamente a aquele pesadelo.
No momento que pedia para me transformar, mas não era exatamente o que queria. Não queria ficar na minha forma Lycan. Odiava com todas minhas forças isso, ainda mais quando me transformei e quase ataquei minhas irmãs mais novas.
Minha primeira transformação foi caótica demais, se não fosse pelo o meu pai naquela hora. Eu teria rasgado elas e minha mãe. Se já existia uma fissura entre nós duas com a morte de meu irmão gêmeo, essa abriu mais quando me descontrolei na minha forma de loba.
E foi a deixa para ir embora para a casa da minha irmã mais velha, e tentar recomeçar de novo. Francesca era uma médica renomada, e tentou me ajudar com remédios. Esses então, vindo de amigos da nossa raça que tentavam criar algo que controlasse as primeiras transformações de um lobo ou loba jovem.
E ainda tinha mais uma questão que me corroía, era minha vinculação com Ikarus e o casamento, que ainda não foi executado. Pois o mesmo vivia viajando em negócios, esses que meu pai me explicou serem a benefício da alcateia.
Ou seria mesmo, para não ver a minha face como ele deixou claro ao cortar laços na nossa infância. Meus pais sempre conversavam sobre isso comigo, e era uma tortura a cada mês que tentavam me fazer ir até a mansão dos Hoover e socializar com eles.
Ou ao menos ver Odette. Entretanto, eu deixei explicito que a viria se ela viesse aqui. Mas isso não quer dizer que não mantinha contato com minha irmã mais velha, sempre nos falávamos por celular ou vídeo chamada para me ver meus sobrinhos. Tyler e Luka, sinto que eles perderam o pai cedo e ainda mais por Odette que deve sofrer todo dia naquele local, que deve lembrá-la a toda hora de sua presença.
—Sam? Vai participar do concurso mês que vem?
Senti uma leve cotovelada e percebi que Mason havia sentado do meu lado.
—Ah? Acho que sim, Mason. —disse despertando de meus pensamentos.
—Aconteceu algo? Está aérea hoje. —Observou ele preocupado.
—Nada demais, minha família sabe... —o ar saiu cansado dos meus pulmões, e Mason balançou a cabeça entendendo a questão ao formar um pequeno riso em seus lábios finos.
—Sei como é. A minha também vive pegando no meu pé, é isso não? —Indagou-lhe e eu balancei a cabeça afirmando.
—Eles querem que eu me responsabilize pela honra da família, em outras palavras somos importantes no meio que andamos. Me entende? —disse tomando cuidado com o que dizia.
—Ah, peguei. O típico da aparência social dos ricos, ou estou enganado? —Ele perguntou, e tive que afirmar com a cabeça timidamente.
Entretanto, não era disso que eu dizia para ele. E sim, algo que nem os humanos imaginavam existir. Estando rente as suas sombras, e no submundo daquela sociedade.
—Meus pais querem que eu assuma o papel de submissa feminina, e que case com um rapaz que nem ao menos tenho contato desde a infância! —Eu acabei por desabafar aquele incomodo em meu peito. Mas Mason era meu amigo desde que me matriculei aqui nessa academia, e me entendia melhor que minha própria família.
Ele contornou seus braços em meus ombros magros e trouxe-me para junto de um jeito fraterno ao dizer:
—Você não precisa fazer o que sua família te obriga, desiste dessa ideia que só diz respeito á eles!
—Não posso. Até minha irmã mais velha foi assim, minha mãe também e avó e bisavó!
—Então, quebre o ciclo. E faça um quadrado! —Indicou ele rindo e arrancando de mim um belo sorriso corado. —Assim que gosto de te ver, e não com cara de que comeu e não gostou. Está aqui como se estivesse num velório!
—Obrigado, Mason. Se não fosse você para alegrar meu dia, não sei quem mais faria! —o abracei forte. E vi um olhar frio de Elena para mim, tinha certeza que ela ainda gostava dele e não era impressão minha.
—E você me disse que sua irmã Francesca, não seguiu à risca isso! —comentou.
—Realmente, mas meu pai relevou ela. Já que apoiou a mesma a fazer medicina. Mas duvido que comigo vai ser assim! —disse frustrada.
—Então, no dia que fugir de casa como a cinderela, sabe que meu apartamento é seu! —riu ele. —Agora vamos nos exercitar que daqui a pouco a professora entra nos dando sermões!
—Está bem. —Disse eu mandando um beijo no ar e Mason retribuindo ao se distanciar. O que deixou Elena furiosa com aquilo.
Sabia que Mason e ela haviam namorado, mas ambos terminaram por divergências que não quis me contar e respeitei isso.
Contudo, eu sabia bem que não era desistir das coisas que iria se livrar de uma responsabilidade que me foi dado, antes mesmo de nascer.
Ouvi o barulho do meu celular e levei minha mão até a bolsa no chão, peguei-o agilmente e li: “Hoje depois da aula, a mãe pediu pra você vim conosco a reunião da alcateia. Vai ter um aviso do alfa e preciso ir até a Odette levar algumas coisas que a mãe me deu para a mesma!”
A mensagem de minha irmã mais nova, Gray, me fez fechar os olhos de tensão por um momento. Eu não podia dizer não ou negar a presença mais. Entretanto, algo faiscou em meu interior para ver se Ikarus estaria lá. Aquele que partiu nossos laços de jeito imperdoável e que me machucou totalmente.
Algumas horas depois... —Odeio portais! —pronunciei assim que pisei o primeiro pé rente aquele batente de pedras, e levei minha mão direita ao estomago e a esquerda a boca. Meu estomago revirou-se como se quisesse jogar o bolo de baunilha que havia comido fora. —Ah, Sam, você só não esta mais acostumada! —Gray se aproximou de mim e alisou minhas costas. Aquela pequena menina, agora era uma adolescente quase me alcançando em altura. —Tanto faz, mas odeio! —falei ao respirar fundo e ficar reta ajeitando minha jaqueta jeans. Guardei a pedra escura que brilhava perante os raios solares, no bolso da minha calça. Gray desceu os degraus de pedra tão ágil como o gato, enquanto por um momento admirei aquele local em ruinas que traziam runas trincadas rente a soleira rígida por onde passamos. A escrita de símbolos, fez-me dar um nó na mente. Tinha esquecido bastante coisas quando fiquei afastada desse local e da casa dos meus pais. —Vai vim ou vai ficar aí parada? —indagou minha irmãzinha
Localização: Alcateia Onix, centro da cidade.Ikarus Hoover...Assim que havia terminado meu pronunciamento, a tensão que pensava que sairia dos meus ombros acabou por ficar maior. A maioria daquela multidão estava repartida, uma parte tentando entender minha abdicação e outra que estava aceitando a ideia. Já que a alcateia não poderia ficar sem um alfa. Me retirei daquele meio do palanque de pedras rústicas, e deixei Lucius juntamente com os anciões darem voz aquele festejo entre prós e contra.—Ikarus... —ouvi a voz baixa de meu beta, Nicolas me chamar. —O que foi isso? —observei sua expressão ainda espantada.Pois nem aos meus beta e ômega havia contado, ou cogitado dizer. O que posso dizer que foi um pouco de covardia da minha parte. Mas não podia comentar, já que havia chegado sozinho a essa conclusão.—Fiz o que era certo, Nicolas! —respondi no mesmo tom ao encará-lo. Nicolas era um excelente guerreiro, tinha cabelos na altura dos ombros alargados, barba aparada e um olhar sério
Algumas horas depois...Sentei-me sobre aquele telhado, composto por uma camada de telhas individuais de tom escurecido sobrepostas para encarar aquela imensidão daquele lugar. As luzes da cidade pareciam as estrelas, tão longe que mais se assemelhavam a vagalumes. Pigarreei de leve, sentindo que estava visivelmente incomodado com algo.Algo não, alguém. Samantha era a pessoa que menos queria encontrar em minha volta para cá, mas infelizmente não podemos querer tudo nessa vida. Levei meu corpo até ali, e o deitei tentando relaxar e encarar aquele teto impressionante. Queria poder fumar meu cigarro, mas como iria daqui a pouco para o rito do Lucius.Devia ir com a face limpa, entretanto... Levei meus dedos para a minha frente e vi como tremiam, mas não era um problema. Poderia segurar isso por mais um tempo, até eu tragar o meu vício.—Tio... —ouvi uma voz infantil me chamar da janela. Levei meu olhar para a minha direita.Tyler estava debruçado, chamando-me com aquele olhar redondo e
Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o l
Localização: Alcateia Onix, Mansão dos Hoover, ao norte do portal de pedras rúnicas. Ikarus Hoover... Despertei em pânico de um sonho intenso que tive, e que aos poucos se apagava de minha mente feito fumaça se dissipando em meu ao ar. Enfiei o rosto em meu travesseiro novamente e emergi rapidamente ao constatar como estava molhado de suor, assim como os lençóis que me rolavam aquele corpo desnudo. Esfreguei meus olhos com a mão direita, e por um momento não estava mais sentindo o anel do alfa em meu dedo mindinho direito. A marca ainda residia ali, fazendo-me sentir um pouco de falta daquela joia rustica que trazia uma pedra escura e brilhante. Induzi meus dedos esquerdos até aquele local, e alisei tentando ainda aceitar que não era mais o pião tão importante e que a alcateia necessitava a cada hora de minha vida. —Senhor Ikarus! —ouvi a voz de Octavio com uma batida leve, que despertou-me de vez. Ergui aquele tronco musculoso, jogando minhas pernas e depois o corpo nu para for
Algumas horas mais tarde...Observei pelo o telhado ao fundo a oeste do portal rúnico, uma iluminação que retirava a escuridão daquela imensidão. Podia ouvir daqui a música além do barulho sendo executados lá, entre as colinas. Já que a maioria da alcateia que reside na cidade, e os que moram nas cidades humanas estavam aqui para festejar o título de alfa de Lucius.Ainda estava decidindo se iria ou não. Havia prometido ao meu irmão mais velho, mas algo dentro de mim só queria ficar aqui admirando de longe a festa e não poder conversar sobre mais nada.—Ikarus! —ouvi uma voz tão suave quanto o vento me chamar.Virei minha face e percebendo que era Archelaos, um adolescente de cabelos castanho com fios loiros. Tímido que evitava olhar em nossos olhos.—Odette estar te chamando, disse para bater na porta do seu quarto! —falou sem jeito com seus cílios abaixados.—Certo, obrigado! —agradeci e ele sumiu tão ágil quanto uma raposa em fuga.Me ergui daquele telhado ajeitando meu casaco fino
No outro dia...Despertei num susto, e percebi como minha cabeça doía-me até a nuca. Os raios solares faziam minhas vistas arderem, e me levar a mão direita tentando evitá-los. Ainda tentava me recordar do que havia acontecido ontem e nada se conectava ou concordava em minha mente. Parecendo um sonho sem pé e sem cabeça.Tudo parecia pedaços de caco de vidro, estilhaçados e difíceis de se conectarem mais. Pisquei algumas vezes tentando fazer com que minha visão, se acostumasse com o sol entrando por minhas persianas das janelas.Ter misturado álcool com o que estava fumando, não tinha sido uma bela de ideia. E agora podia ver isso, com meus músculos endurecidos e a ressaca que parecia me matar a cada movimento que fazia naquela cama de casal.Tentei me erguer, mas cai novamente ao meu leito encarando o teto. E resolvi esperar um pouco e criar forças para me jogar dali. E foi exatamente que fiz.Minhas noções motoras ainda estavam retardadas, quando me esgueirei para o banheiro. Como s
Localização: Wichita, Kansas, Estados Unidos.Samantha Roosevelt...Abri minhas pálpebras pela a milésima vez, encarando meu despertador que anunciava em sua tela digital que daqui a pouco era hora de acordar. Mas quem disse que preguei meus olhos essa semana toda?! Depois daquele dia no festival, minha mente virou um turbilhão confuso de pensamentos junto com meu coração.Ainda estava tão claro como água, naquela noite, quando eu me aproximei dele. Depois de ponderar por minutos se devia mesmo. Ikarus estava tão mudado. Não era mais um menino, o que meu corpo e cabeça constatavam. Seu corpo havia aumentado não só de altura, mas também a musculatura e seu olhar. Que não trazia mais um céu sem nuvens, como o chamava na infância e sim algo misterioso e com ódio a minha pessoa que ainda continuava.Entretanto, eu realmente gostaria de saber o que fiz para despertar esse sentimento de repudia. Mas eu teria que fazer por onde e tentar persuadi-lo, o que não seria nada fácil da parte do mes