Chegamos ao final da história de Fabiana e Marcos. Agradeço a todos que acompanharam até aqui, principalmente pela paciência de esperar os capítulos que fluem mais devagar com as obrigações diárias de dona de casa e CLT. Espero que tenham gostado. Agora vamos ao próximo. Uma mistura de máfia e contos de fadas está chegando.
Fabiana— EU SEI QUE ESSE FILHO NÃO É MEU.Instintivamente dou um passo para trás. A forma como Marcos altera o tom me assusta.Não consigo responder.Ele mudou muito em todo esse tempo que esteve fora do país. Não é mais o rapaz que foi embora com o coração partido por minha causa, pelas mentiras que minha família me obrigou a dizer, pelo mal que fui obrigada a fazer.Agora Marcos é um homem de expressão dura e corpo musculoso, que usa roupas caras e assusta com seu poder. E mesmo que todo meu corpo saiba que ele jamais me tocaria dessa forma, o medo ainda estava presente. Todos esses anos aguentando calada ofensas e violência deixaram sua marca. Mas eu faria tudo de novo pelo meu filho, para garantir sua segurança e bem estar.— Sabe, Fabiana... — engulo seco pelo tom de desprezo com o qual pronuncia meu nome. — Eu não voltei a essa cidade por você cinco anos atrás. Eu vim porque precisava resolver algumas questões de documentos.— Mas a gente... — ele não me deixa terminar de falar
Fabiana MedeirosAnos antes...Fabiana Garcia de Medeiros.Dezessete anos.Morena. Corpo na média de peso, segundo a nutricionista pelo menos. Não tenho muitas curvas e meus seios são quase inexistentes.Atleta, jogo futebol.Melhor aluna da escola Normal em Guarulhos que é um município da Região Metropolitana de São Paulo.Paulista de nascimento e orgulho dos Garcia de Medeiros...Até agora.Essa sou eu.E agora estou diante do possesso Isaque Garcia de Medeiros, vulgo meu pai. Seus cabelos precocemente grisalhos tem mais a ver com excesso de trabalho que por sua filha recentemente denominada de problemática. Até poucas horas atrás eu era a filha invisível, na qual eles esbarravam em alguns eventos familiares. Aquela que não via os pais em reuniões escolares, por mais que fosse a primeira da turma.Ao seu lado, calada — por medo de sobrar para ela — Dona Eliana Garcia de Medeiros, vulgo minha mãe.Odeio que ela tenha o nome do meu pai. Seu sobrenome de solteira é tão bonito. Eliana
Ano 2022Marcos Castro"Nunca vi ninguém viver tão feliz como eu no sertão, perto de uma mata e de um ribeirão"Olho de um lado para outro e saio do meio do feno.— Pode vim — chamo.A loirinha sai de trás do monte de feno tirando a sujeira do vestido de menina de família.Safada. Essa garota não tem nada de menina, muito menos de família.O sorriso de satisfação e esperança brincando nos seus lábios me chama a atenção. É isso que me incomoda. Elas parecem não entender que é apenas sexo. Não tenho planos de me amarrar tão cedo. Eu já tenho uma família que precisa de mim, meu foco são eles. Além de que sou jovem demais para algo que não seja sem compromisso.Carla, filha de um dos Medeiros, tem quase vinte anos, meio distante dos meus dezessete. Ela sempre viveu na fazenda e não quis fazer faculdade. Prefere reinar aqui, onde, mesmo sem faculdade, trabalha na escola como inspetora desde que se formou no ensino médio.― Sua calça tá aberta, Brutos.Fecho o botão do meu jeans.— Some com
Fabiana MedeirosMeu pai não me levou ao aeroporto. E não deixou minha mãe me levar. Quando sai do quarto arrastando uma mala gigante, a governanta veio me dizer que eles saíram e que o motorista me levaria ao aeroporto. Também não vou me despedir dos meus irmãos. Nem sei onde estão.Eu devia ter esperado por algo assim.Nem forcei um sorriso, apenas segui como um zumbi até o avião particular.O que eu poderia fazer de diferente? Me pergunto várias vezes.A única resposta que tenho é que essa pode ser a chance de me livrar do desejo de agradar que finjo não sentir. Eu vou ser uma pessoa normal. Vou estudar e trabalhar. Eu não preciso de mansão, joias... nada disso. Só preciso de um canto para chamar de lar e um trabalho para chamar de meu. Não vai ser fácil convencer meus pais, mas quando terminar o ensino médio vou pedir para fazer faculdade no exterior e lá terei mais liberdade de moldar minha vida.Foram poucas horas até o aeroporto da cidade de Belo Horizonte. O que demorou mesmo
Fabiana MedeirosMinha chegada na escola é como todas dos clichês de alunas novas. Um tédio.Tenho que me apresentar.A primeira professora é de Literatura. Ela que me guia até a minha sala depois de uma conversa com a diretora.― Essa é a Fabiana Garcia de Medeiros. Ela vai estudar conosco. ― Há um burburinho e a professora continua: ― Ela deve ser tratada como qualquer outra aluna. Nessa escola não temos tratamento especial independente de classe, cor ou qualquer outro.Não faz? Acabou de fazer.― Professora ― chamo, e ela se vira para mim. ― A senhora dá esse aviso em todas as apresentações de novos alunos?Pelas risadinhas, os alunos perceberam o que eu quis dizer. Todos riram, exceto um, e não foi por nada do que eu disse. O cara estava com fones de ouvido, acho que nem ouviu. Com fones de ouvido em uma sala de aula onde a professora está presente. Pronto, já achei o bad boy do interior.― Silêncio! ― ela exige da classe. Por ser muito branca, consigo ver seu rosto e pescoço verm
Fabiana MedeirosAnos antes― Posso abrir os presentes? ― Meu irmão Bruno pede. Eles já estão com oito anos. E meu pai achou melhor comemorarmos o natal na fazenda.― Claro.Eles correm para a árvore e eu vou também, sem correr, sou mais velha e não posso agir como criança, é o que me disseram.Os presentes são dos nossos avós.Abro o meu e encontro exatamente o livro que comentei com minha mãe que queria ganhar. Abro um sorriso.Como minha avó sabia?A resposta sai dela.― Quem colocou esse livro na árvore? E livro lá é presente?Meu sorriso murcha e some.― Não foi a senhora que me deu? — pergunto decepcionada.― Eu não.― Você não comprou o presente dela? Mandei comprar pra todos os netos.― Esqueci. É muita coisa pra fazer.O presente estava com meu nome. E todo ano eles mandam os presentes e sempre recebo o que falo com minha mãe que queria.Eu sou criança, mas não sou burra.E o olhar de pena da minha mãe diz tudo. É ela que me presenteava, fingindo ser meus avós. Essa mulher qu
Fabiana MedeirosComo o horário de aula termina às 14hs, tenho grande parte da tarde livre. Hoje é sexta-feira e tirando as aulas passei a maior parte do tempo presa no quarto. Preciso mudar isso.Passo pela cozinha e encontro minha tia dando instruções sobre o jantar.― Boa tarde! ― cumprimento.As duas respondem. A senhora Aurora com um sorriso e minha tia com má vontade.― Tia, posso ajudar em alguma coisa na fazenda? Quando não estou estudando gostaria de fazer algo útil.― Você não sabe fazer nada. ― Ele responde com desdém. Juro que às vezes penso que fui adotada, ou achada no lixo para ser tratada como um. É isso ou na minha família só tem pessoas amarguradas que destilam sua raiva em todos. Não sei qual opção seria pior.― Eu aprendo rápido ― digo.― E vai atrapalhar o trabalho de alguém que precisa parar só para ensinar a princesinha.― Pode deixar então.Murcho e saio, com um boa tarde bem mixuruca.Não vale a pena insistir. Sem contar que a pena na expressão da senhora Auro
Marcos CastroMeses antes...“Pode conversar comigo depois da aula?”Era o que estava escrito no bilhete que a loirinha mandou sua amiga entregar.― Diga a ela para me esperar no carvalho ― respondo a menina que espera uma resposta. Inclusive ela é uma das que fico.O carvalho é uma árvore imensa que tem no caminho da minha casa. Tão grande que virou ponto de referência.Pelas risadinhas, elas estão empolgadas.Quero só ver o que Ninha vai aprontar. Ninha é o apelido de Amelia, uma loirinha tímida da escola, um ano mais nova. Ela tem o maior jeito de ser virgem. Se rolar alguma coisa não vai passar de uns beijos e amassos.Como hoje deixei o cavalo, chego no carvalho ela já está com sua bicicleta cor de rosa.― Oi, Amelia. ― Chamo pelo nome. E ela parece gostar. Imaginei que seria assim. Já a ouvi reclamando do apelido. Sei como é chato as pessoas te chamarem por um nome que não gosta.― Oi, Marcos.― O que queria falar comigo?Ela olha para os próprios pés.― Morro de vergonha só de