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Capítulo 7 - Uma garota apaixonada

Marcos Castro

Meses antes...

“Pode conversar comigo depois da aula?”

Era o que estava escrito no bilhete que a loirinha mandou sua amiga entregar.

― Diga a ela para me esperar no carvalho ― respondo a menina que espera uma resposta. Inclusive ela é uma das que fico.

O carvalho é uma árvore imensa que tem no caminho da minha casa. Tão grande que virou ponto de referência.

Pelas risadinhas, elas estão empolgadas.

Quero só ver o que Ninha vai aprontar. Ninha é o apelido de Amelia, uma loirinha tímida da escola, um ano mais nova. Ela tem o maior jeito de ser virgem. Se rolar alguma coisa não vai passar de uns beijos e amassos.

Como hoje deixei o cavalo, chego no carvalho ela já está com sua bicicleta cor de rosa.

― Oi, Amelia. ― Chamo pelo nome. E ela parece gostar. Imaginei que seria assim. Já a ouvi reclamando do apelido. Sei como é chato as pessoas te chamarem por um nome que não gosta.

― Oi, Marcos.

― O que queria falar comigo?

Ela olha para os próprios pés.

― Morro de vergonha só de pensar em falar — diz baixo.

― Não precisa ter vergonha. Não sou o tipo de pessoa que sai por ai falando das minhas conversas.

― E é bem por isso que criei coragem e me atrevi.

― Agora fiquei curioso.

― Eu fico até sem jeito... Você é diferente do pessoal daqui, Marcos. Mesmo tendo nascido aqui, não fala igual nós, nem age como a maioria. E é por isso que eu... eu...

Seguro sua mão.

― Pode dizer.

― Você se deitaria comigo?

Essa me pegou de surpresa. Depois do discurso, não esperava uma proposta tão crua.

― Vou te explicar. Dizem que a primeira vez é especial e fica marcada pra gente. Você já tem experiência, mesmo sendo da mesma idade que eu. Eu não quero que a minha primeira vez seja um filme de terror com um garoto desajeitado.

― A primeira vez sendo especial, deveria ser com alguém que você ama. ― Não acredito muito nisso, mas ela parece acreditar.

― Eu penso que vai ser bem melhor com alguém que não amo.

― Não sei...

― Faça isso por mim. Algumas aulas iriam cair bem.

― Você com essa cara de santa e atitude de demônia da luxúria.

Ela dá um sorrisinho de quem realmente não tem nada de santa.

— Tudo bem, vamos fazer isso — declaro.

As mulheres por aqui são divididas em alguns grupos. Uma divisão particular minha, claro.

Já peguei: obviamente as com as quais fodi.

Nem em sonho: aquelas comprometidas que tentam dar uma de doida pra cima de mim.

Ainda rola: as com as quais fico sem compromisso mais de uma vez.

Já passou: as que já peguei e não pego mais por serem grudentas.

E Ninha é uma dessas últimas. Eu cometi o erro de tirar a virgindade dela. Devia saber que sua atitude de mulher decidida era mentira.

Deus, como me enganei com essa garota.

Depois da sua primeira vez transamos mais duas vezes. Ela dizia que era para aprender. E eu não dispenso sexo sem um bom motivo.

Ai na última vez ela veio me dar um anel combinando com o seu, que eu recusei.

Conversamos e eu expliquei que não teríamos um relacionamento. Ela parece que entendeu, pois guardou o anel.

Marcos burro. Ela entendeu porra nenhuma.

Vejo pela sua carta que acabei de receber.

Li duas vezes, sem acreditar.

Falei com meus pais que estamos namorando. Eles querem que você almoce em casa.”

Não pensei duas vezes antes de amassar e jogar no lixo. Além de fazer um claro sinal de não com a cabeça para ela.

Ela que se vire para desmentir. E é melhor nenhum pai vir procurar satisfação comigo, ou vou fazer um belo relato de quem é a filhinha deles.

Isso me deixa o tempo todo de mau humor.

Só passa quando entro no estábulo e dou de cara com a morena mais linda que esse lugar já viu.

Foi um choque ver como aquela menininha cresceu. Agora seu corpo parece moldado por um artista, e seus astutos olhos claros são tão desafiadores, ainda tem a boca, que ela morde o lábio e parece não perceber. Não sei se é o fato de ser novidade, mas ela mexe comigo. Só que é fria. Quero distância, apenas preciso dizer isso aos meus pés que se aproximam dela.

A morena está tão concentrada no carinho no animal que não vê minha aproximação.

Quando finalmente me faço notar, conversamos um pouco. A minha desculpa é que quero avisar para ela ficar longe da minha irmã.

Quando ela me chama de bad boy do sertão eu não fico com raiva ou ofendido. Na verdade me esforço para não rir.

O soco no estômago vem com a forma que ela fala da minha irmã, cheia de carinho. Confesso que quem conquista minha família tem pontos garantidos comigo.

Essa morena é fria e calculista. Ela ataca direto meu ponto fraco. Preciso manter distância. Uma luzinha vermelha se acende. Porque eu nunca me senti tão bem em uma conversa tão corriqueira. A gente fala sobre livros, e ela parece interessada em ter amizade com alguém como eu, outro viciado em ler.

Seria uma boa ideia uma amizade com ela?

Nos imagino deitados sob uma árvore, lendo juntos. Mais um pensamento que nunca tive.

Ai ela toca no assunto Carla. E eu sei que a loira viraria o cão se soubesse que estou de amizade com sua prima. E ela nem é a única, conheço umas duas extremistas que mesmo não rolando nada se acham minhas donas.

Deixo de lado o assunto Carla e amizade e a ensino a tratar os cavalos. Ela aprende rápido enquanto conversamos sobre os livros que já lemos.

Quando percebo que ela já sabe o que fazer, aproveito para ajudar Tião em um serviço, e fugir da vontade estranha de ficar perto dela, confesso.

Pelo que vejo a morena não foge de serviço.

Ou talvez esteja enganado porque nos próximos dias ela não passou nem perto dos estábulos.

No fim, é só mais uma mimada da cidade. Ainda bem que não me aproximei mais. Não gosto desse tipo.

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