Cada passo que Emanuele dava pelo enorme corredor no quarto andar do apartamento era doloroso, cansativo e absolutamente infernal.A chuva torrencial lá fora também não ajudava. A pesada mala que ela arrastava estava encharcada, assim como a própria Emanuele, e já passava das onze horas da noite. Ela havia alugado um quarto naquele prédio, e a proprietária devia estar dormindo. A garota tentou ligar para o celular de Alexandra, mas aparentemente ele estava desligado.O cabelo tingido de vermelho da garota estava grudado em seu rosto, misturado não apenas com as gotas de chuva, mas também com suor. Quase rosnando de frustração, morrendo de vergonha, frio e irritação, a garota de pele bronzeada tocou a campainha. Um estrondo de trovão soou. Será que a proprietária ficaria irritada por ela ter chegado àquela hora?Alguns segundos se passaram. Bem, não seria nada surpreendente se ela estivesse dormindo. As mãos de Emanuele estavam tremendo de cansaço, fome e apreensão. As últimas horas tin
O coração de Emanuele parecia que ia sair pela boca. A mão que segurava a alça de sua bolsa se soltou imediatamente. Um verdadeiro pesadelo, infernal e terrível, tomou conta de sua consciência. Dentro de si, ela tentou encontrar alguma centelha de calma, de tranquilidade. Algo a que pudesse se agarrar enquanto um enorme furacão de desgraça se alastrava dentro dela. Mas, em vez disso, além da pura letargia, havia medo. Um medo gelado, escuro e vazio, como a boca de uma enorme fera prestes a devorar tudo em seu caminho. Seria esse... seria esse o dia em que ele finalmente morreria? Aqueles seriam seus últimos minutos, aqueles em que as lembranças de nossa vida passariam diante de nossos olhos como um curta-metragem? Ela não conseguia ver seu agressor, nem reconhecer sua voz. O hálito que exalava de sua boca profana era horrível, uma mistura de álcool e dentes podres. A lâmina gelada estava encostada em seu pescoço, e Emanuele sentiu uma fina gota de sangue escorrendo por seu colo. L
"Você está bem?"Emanuele continuou a olhar fixamente para o rosto de Joshua; sua respiração estava ofegante e difícil. "Você está bem?!" Ele repetiu mais uma vez, prestando atenção nos detalhes: a blusa quase aberta, o fluxo de sangue escorrendo, a jaqueta jogada (e molhada) a alguns centímetros de distância.A mulher tentou falar, mas não conseguiu. Em vez disso, um murmúrio saiu de seus lábios, misturado com o que parecia ser um lamento ou choro.Joshua imediatamente arrancou um pedaço de sua própria camisa de debaixo da jaqueta, pressionando-a contra o pescoço."Eles não vão voltar", disse Joshua. Seus olhos brilhavam com uma emoção desconhecida. "Não feridos como estão. Isso se eles sobreviverem." O homem respirou fundo e continuou: "Vou levá-la ao hospital".A ruiva finalmente conseguiu dizer alguma coisa."Não... Dormir. Hotel.""Você não vai dormir em um hotel, Emanuele."A garota solta um ruído agonizante de protesto e dor, e Joshua coloca sua mão grande e quente em seu ombr
Emanuele abre os olhos e olha para o teto. A cama é confortável e um pouco bagunçada. O ferimento em seu pescoço dói, embora não pareça grave, e a madrugada tem sido terrível por causa dos pesadelos.Na noite anterior, depois que Joshua saiu do banheiro após encurralá-la contra a parede, deixando-a com uma montanha de perguntas, ela tentou tomar um banho. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina, e várias vezes ela teve de conter as lágrimas enquanto se limpava.Quando terminou, a garota percebeu que suas roupas ainda estavam em sua mala, que estava na sala de estar. Sem querer incomodar seu anfitrião, Emanuele se enrolou na toalha e foi para a sala de estar, agradecendo silenciosamente a Joshua por não estar lá. Aparentemente, ele havia voltado para seu próprio quarto.Isso a desestabilizou. Na verdade, mais do que ela já estava desestabilizada. Ele a salvou em um momento e, no outro, a deixou sozinha?A garota de pele escura se levantou. Apesar do grande risco que havia corrido na
"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?" O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase. Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua: "Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?" "... O quê?" "O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você." "Mas..." "Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida." Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofens
As duas garotas ficam estáticas, olhando para Joshua. O homem coloca a embalagem em cima da mesa, e então pergunta mais uma vez: "O que está acontecendo?" O rosto de Thabata se modifica completamente: a hostilidade antes mostrada se transforma em contemplação, educação e preocupação. "Oi, querido. Obrigada por trazer o que eu pedi!" Ela o abraça, mas Joshua não retribui com entusiasmo. "Eu e Emanuele estávamos conversando sobre a noite horrível que ela passou ontem. Ela veio me pedir desculpas por ter se trancado no quarto." Emanuele poderia derrubar uma parede de tanto ódio, mas resolveu entrar no jogo. Tudo o que não precisava agora era ser inimiga do irmão da dona do apartamento. "Sim, eu... Vim comer algo e aproveitei para me desculpar. Mas vi que você tinha saído. Então vou te pedir desculpas agora. Foi muito indelicado da minha parte fazer o que eu fiz... Sinto muito." Joshua levanta a mão em um gesto apaziguador. "Não foi nada. Está tudo bem." Então ele se volta para Thab
Joshua murmura baixinho."Emanuele."A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar."Emanuele".Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.Mas então a garota finalmente volta a si.Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. Que desastre."Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa.""A culpa foi minha. Acho que
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O