05. A humilhação

"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?"

O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase.

Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua:

"Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?"

"... O quê?"

"O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você."

"Mas..."

"Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida."

Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofensas proferidas pela namorada de seu colega de quarto.

"Estou com ele há quase três anos. Três anos, você entende? E não é uma garota qualquer com cabelo esquisito que vai tirá-lo de mim. Não que você tenha a menor chance de competir comigo, mas considere isso um aviso de boa-fé."

Thabata se aproxima de Emanuele, cujo rosto está praticamente no chão de tanta tristeza pelos ataques gratuitos e sem sentido.

"Não olhe para o chão quando estiver falando comigo, garota."

Um turbilhão de emoções percorre a mente de Emanuele. Ao sair de casa, ela precisou se armar com toda a coragem que pudesse reunir. Embora tivesse concordado em chegar na quinta-feira de manhã, na quarta-feira ela já estava na estrada.

A viagem em si também foi um verdadeiro inferno. Não só o ônibus atrasou DUAS HORAS, como também houve intermináveis paradas ao longo do caminho, desobedecendo completamente as regras pré-estabelecidas de conduta na viagem.

Ela estava sem comer há quase vinte e quatro horas. Sem mencionar que havia sido vítima de um crime terrível na noite passada. Tudo isso havia acontecido em um período de tempo incrivelmente curto.

E agora, para variar, a namorada do homem estranho, que se revelou ser o irmão da proprietária do apartamento, colocou em sua cabeça doentia que Emanuele era uma ameaça, uma farsa ou um verme; talvez um pouco dos três. Foi muita humilhação.

Emanuele era constantemente o alvo favorito de valentões, covardes e pessoas sem coração. Sua adolescência foi marcada por "pegadinhas" de péssimo gosto, intimidação constante e controle rígido.

Em um mundo em que ela estava errada por supostamente querer justiça e se livrar daqueles seres imundos e injustos, como se livrar desse padrão de comportamento tão arraigado? Como reagir, como lutar por sua própria dignidade, por seus próprios direitos? 

Era difícil para ela, principalmente porque seu cérebro doente já estava acostumado a esse tipo de coisa. Mas todas aquelas emoções conflitantes em seu peito simplesmente transbordaram.

Em raiva. Pura e genuína.

"Você tem algum problema na cabeça?", perguntou Emanuele suavemente.

Thabata não esperava por isso, mas não se abalou.

"O quê?"

"Eu perguntei", Emanuele falou mais alto, com mais autoridade e intimidação. "Se você tem algum problema na cabeça. Mas, aparentemente, você deve ter algo em seus ouvidos também."

A loira quase engasgou com a ousadia da garota.

"Escute aqui, sua pequena..."

"Não. Você é quem vai me ouvir. Você tem razão. Seu namorado é um cara legal, mas nem todo homem é como ele. O que levanta a questão: por que alguém tão bom, com uma integridade absurda, perderia um tempo precioso, TRÊS ANOS, com uma pessoa tão horrível como você?"

Thabata ficou vermelha de raiva, mas permaneceu quieta enquanto Emanuele devolvia todo o veneno:

"Mas você parecia muito gentil há alguns minutos. Preocupada com minha integridade, você veio até mim com olhos tão brilhantes que quase me enganou. Então, acredito que seja isso. Ele é alguém que tenta ver o lado bom das pessoas, e você é uma excelente atriz. Tenho que admitir isso. E parabenizá-la também."

Emanuele respirou fundo e continuou:

"Mas eu tomaria cuidado se fosse você. As mentiras têm prazo de validade, não importa o quão boas e grandes elas sejam. E ninguém gosta de mentirosos, sabia? Acredito que seu namorado é alguém que leva isso muito mais a sério do que a maioria das pessoas. Não seria horrível se ele descobrisse hoje mesmo, por exemplo, que sua doce namorada não é nada do que aparenta ser?"

"O que você está insinuando, sua coisinha desgraçada? Que ele acreditará em qualquer coisa que você disser? Joshua come na minha mão e você nunca vai mudar isso."

"Eu não preciso fazer nada. Mais cedo ou mais tarde, ele vai cair em si. Sua máscara perfeita cairá, Thabata. Pessoas como você têm um cantinho especial no inferno esperando por elas."

A ruiva anda até a loira, que surpreendentemente se afasta, com medo.

"E eu terei o maior prazer em estar lá no dia em que isso acontecer. Na primeira fila, com um enorme balde de pipoca."

"Sua vadia atrevida, eu vou..."

O barulho de um molho de chaves interrompe rapidamente a discussão. 

Depois de abrir a porta, Joshua, segurando um saco de papel marrom nas mãos, olha para as duas meninas e levanta uma das sobrancelhas. 

"O que está acontecendo aqui?"

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