"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?"
O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase.
Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua:
"Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?"
"... O quê?"
"O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você."
"Mas..."
"Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida."
Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofensas proferidas pela namorada de seu colega de quarto.
"Estou com ele há quase três anos. Três anos, você entende? E não é uma garota qualquer com cabelo esquisito que vai tirá-lo de mim. Não que você tenha a menor chance de competir comigo, mas considere isso um aviso de boa-fé."
Thabata se aproxima de Emanuele, cujo rosto está praticamente no chão de tanta tristeza pelos ataques gratuitos e sem sentido.
"Não olhe para o chão quando estiver falando comigo, garota."
Um turbilhão de emoções percorre a mente de Emanuele. Ao sair de casa, ela precisou se armar com toda a coragem que pudesse reunir. Embora tivesse concordado em chegar na quinta-feira de manhã, na quarta-feira ela já estava na estrada.
A viagem em si também foi um verdadeiro inferno. Não só o ônibus atrasou DUAS HORAS, como também houve intermináveis paradas ao longo do caminho, desobedecendo completamente as regras pré-estabelecidas de conduta na viagem.
Ela estava sem comer há quase vinte e quatro horas. Sem mencionar que havia sido vítima de um crime terrível na noite passada. Tudo isso havia acontecido em um período de tempo incrivelmente curto.
E agora, para variar, a namorada do homem estranho, que se revelou ser o irmão da proprietária do apartamento, colocou em sua cabeça doentia que Emanuele era uma ameaça, uma farsa ou um verme; talvez um pouco dos três. Foi muita humilhação.
Emanuele era constantemente o alvo favorito de valentões, covardes e pessoas sem coração. Sua adolescência foi marcada por "pegadinhas" de péssimo gosto, intimidação constante e controle rígido.
Em um mundo em que ela estava errada por supostamente querer justiça e se livrar daqueles seres imundos e injustos, como se livrar desse padrão de comportamento tão arraigado? Como reagir, como lutar por sua própria dignidade, por seus próprios direitos?
Era difícil para ela, principalmente porque seu cérebro doente já estava acostumado a esse tipo de coisa. Mas todas aquelas emoções conflitantes em seu peito simplesmente transbordaram.
Em raiva. Pura e genuína.
"Você tem algum problema na cabeça?", perguntou Emanuele suavemente.
Thabata não esperava por isso, mas não se abalou.
"O quê?"
"Eu perguntei", Emanuele falou mais alto, com mais autoridade e intimidação. "Se você tem algum problema na cabeça. Mas, aparentemente, você deve ter algo em seus ouvidos também."
A loira quase engasgou com a ousadia da garota.
"Escute aqui, sua pequena..."
"Não. Você é quem vai me ouvir. Você tem razão. Seu namorado é um cara legal, mas nem todo homem é como ele. O que levanta a questão: por que alguém tão bom, com uma integridade absurda, perderia um tempo precioso, TRÊS ANOS, com uma pessoa tão horrível como você?"
Thabata ficou vermelha de raiva, mas permaneceu quieta enquanto Emanuele devolvia todo o veneno:
"Mas você parecia muito gentil há alguns minutos. Preocupada com minha integridade, você veio até mim com olhos tão brilhantes que quase me enganou. Então, acredito que seja isso. Ele é alguém que tenta ver o lado bom das pessoas, e você é uma excelente atriz. Tenho que admitir isso. E parabenizá-la também."
Emanuele respirou fundo e continuou:
"Mas eu tomaria cuidado se fosse você. As mentiras têm prazo de validade, não importa o quão boas e grandes elas sejam. E ninguém gosta de mentirosos, sabia? Acredito que seu namorado é alguém que leva isso muito mais a sério do que a maioria das pessoas. Não seria horrível se ele descobrisse hoje mesmo, por exemplo, que sua doce namorada não é nada do que aparenta ser?"
"O que você está insinuando, sua coisinha desgraçada? Que ele acreditará em qualquer coisa que você disser? Joshua come na minha mão e você nunca vai mudar isso."
"Eu não preciso fazer nada. Mais cedo ou mais tarde, ele vai cair em si. Sua máscara perfeita cairá, Thabata. Pessoas como você têm um cantinho especial no inferno esperando por elas."
A ruiva anda até a loira, que surpreendentemente se afasta, com medo.
"E eu terei o maior prazer em estar lá no dia em que isso acontecer. Na primeira fila, com um enorme balde de pipoca."
"Sua vadia atrevida, eu vou..."
O barulho de um molho de chaves interrompe rapidamente a discussão.
Depois de abrir a porta, Joshua, segurando um saco de papel marrom nas mãos, olha para as duas meninas e levanta uma das sobrancelhas.
"O que está acontecendo aqui?"
As duas garotas ficam estáticas, olhando para Joshua. O homem coloca a embalagem em cima da mesa, e então pergunta mais uma vez: "O que está acontecendo?" O rosto de Thabata se modifica completamente: a hostilidade antes mostrada se transforma em contemplação, educação e preocupação. "Oi, querido. Obrigada por trazer o que eu pedi!" Ela o abraça, mas Joshua não retribui com entusiasmo. "Eu e Emanuele estávamos conversando sobre a noite horrível que ela passou ontem. Ela veio me pedir desculpas por ter se trancado no quarto." Emanuele poderia derrubar uma parede de tanto ódio, mas resolveu entrar no jogo. Tudo o que não precisava agora era ser inimiga do irmão da dona do apartamento. "Sim, eu... Vim comer algo e aproveitei para me desculpar. Mas vi que você tinha saído. Então vou te pedir desculpas agora. Foi muito indelicado da minha parte fazer o que eu fiz... Sinto muito." Joshua levanta a mão em um gesto apaziguador. "Não foi nada. Está tudo bem." Então ele se volta para Thab
Joshua murmura baixinho."Emanuele."A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar."Emanuele".Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.Mas então a garota finalmente volta a si.Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. Que desastre."Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa.""A culpa foi minha. Acho que
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O
A primeira surpresa que Emanuele teve foi ao notar que o ambiente urbano foi desaparecendo lentamente.A enorme quantidade de prédios, carros buzinando, pessoas aqui e ali com seus afazeres simplesmente foi ficando para trás, cada vez mais longe, e em seu lugar árvores e estradas de terra se fizeram ver.A moça olhou para Joshua com uma sobrancelha erguida, perguntando a ele silenciosamente o que estava acontecendo. O moço explicou:."As reuniões deles costumam ser na casa de Amora e Amanda. Ou melhor, na casa de festa das duas.""Casa de festa?""É."Na cidade natal de Emanuele, a coisa mais próxima a uma casa de festa que ela conheceu foi um pequeno rancho onde os mais velhos se reuniam para beber e comer churrasco. Mas ela tinha quase certeza de que essa reunião, e com esse grupo, seria completamente diferente.E ela estava totalmente certa.Quando desceram do táxi, eles viram a alguns metros de distância uma enorme casa de fazenda. As janelas estavam todas abertas, e era possível
O beijo é rápido, breve e quente. Por segundos, os dois permanecem apenas com os lábios encostados um no outro. As mãos de Johnny seguram as mãos de Emanuele, suavemente e carinhosamente. Então ele afasta o rosto do dela, olhando fixamente em seus olhos. A moça não sabe o que dizer ou fazer. Apenas olha ele de volta, procurando as palavras certas. Se é que havia qualquer palavra certa a ser dita. Johnny é o primeiro a falar, a voz rouca. "Desculpa. Isso foi muito precipitado?" Emanuele responde, um tanto afobada: "Precipitado? Precipitado?! Isso depende. As regras da cidade grande devem ser bem diferentes das cidades pequenas, não é? Quer dizer, talvez você já tenha bebido algumas doses antes de eu chegar e por isso se desinibiu. Não que você seja desinibido. Quer dizer, as pessoas costumam ser mais soltas por aqui, né? Ou não? É preconceito da minha parte falar isso? Claro que não, né? Será que é preconceito achar que é preconceito eu falar isso?" Johnny se segura para não garg
Antes que Emanuele possa se defender ou sequer reagir, a mão espalmada de Thabata vai direto até seu rosto. Ou quase. Segurando fortemente a mão da namorada louca e possessiva de Joshua, Johnny diz: "Você só pode ter enlouquecido." Thabata rosna para ele. "Não se meta, fedelho. Isso é um acerto de contas." "Não. Isso é pura e completa loucura. O que foi que ela te fez pra você atacá-la dessa forma?" "Não é da sua conta, moleque. Larga a minha mão agora." Ela começa a tentar se desvencilhar, mas o rapaz não a solta. Emanuele dá dois passos para trás, e acaba esbarrando em uma garota que estava dançando. Ela pede desculpas, mas percebe que ela nem a ouviu. Assim como outras pessoas, ela reparou em Thabata e Johnny, que agora estavam claramente muito irritados um com o outro. "Essa ladra de namorados vai ter o que merece", diz a louca, fazendo um esforço monumental para se soltar do aperto de ferro de Johnny. Ele não cede. "Ela não está nem aí pro seu namorado, Thabata. Você que
"Joshua", murmura Emanuele, tentando intervir antes que algo sério aconteça."Eu já falo com você". Ele sequer olha para a moça enquanto diz isso. Os olhos escuros estão fixos em Johnny, que permanece ao lado da ruiva.Por alguns segundos, os três fazem silêncio, avaliando um ao outro. Então Jhonny dá um passo à frente e coloca as mãos nos bolsos."Você quer falar, então fale."Joshua inclina a cabeça para o lado."Eu prefiro escutar antes de falar qualquer coisa. O que aconteceu?"Emanuele olha para baixo, desconfortável. Johnny diz em alto e bom som:"Sua namorada está com ciúmes da Emanuele."Para a total surpresa da ruiva, o homem mais velho não tenta negar nem dá qualquer sinal de estar inclinado a discordar da frase certeira de Johnny. Ele continua:"Ela contou a todos que estavam ouvindo que você a salvou de um quase estupro, e que Emanuele usou isso como pretexto para tentar te seduzir."Joshua não diz nada. Emanuele também não consegue encarar nenhum dos dois. Ela simplesmen
Emanuele quase deixa a taça cair. Ela olha incrédula para Johnny, que continua olhando para as mãos.A moça abre a boca, mas percebe que não conseguem emitir nenhum som. Ele obviamente detestava ela, e não fazia força para disfarçar. Será que..."O Joshua sabe?", ela finalmente consegue verbalizar algo."Não vejo porque não saberia. Nunca foi um segredo."Johnny suspira e continua:"Eles começaram a namorar uns cinco meses depois que nós terminamos.""Mas... Quando... Como?""É, ela engana muito bem as pessoas. Só que eu nunca consegui acreditar completamente no que ela falava, sabe? E isso foi bem antes de ela conhecer o pessoal.""Porque vocês terminaram?"Ele olha para as estrelas brilhantes acima. "Ela me manipulou para que eu cortasse uma amizade de longa data. Fez eu ficar cego e estúpido como uma mula. Eu sequer dei uma chance para essa pessoa, apenas a tirei da minha vida."Emanuele não diz nada imediatamente, esperando que ele conclua seus pensamentos."Quando me dei conta d