07. O Convite

Joshua murmura baixinho.

"Emanuele."

A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar.

"Emanuele".

Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.

Mas então a garota finalmente volta a si.

Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?

"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"

O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. 

Que desastre.

"Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa."

"A culpa foi minha. Acho que precisamos diminuir a intensidade até acharmos um ritmo confortável pra você."

A moça coça a cabeça, olhando para os lados.

"Olha, eu realmente preciso-"

"Você perdeu o desafio, lembra?", ele pisca um dos olhos pra ela.

"Mas-"

"E quem perdesse teria que fazer o que o outro mandasse. Esse foi o combinado."

Emanuele não conseguiu conter o pequeno tom de pirraça.

"Mas não foi um desafio justo!"

"Claro que foi. Agora, chega de choramingar. Temos muito o que fazer. Comece a se alongar."

"O quê?!"

"Anda, senta no chão e comece a tocar os pés."

"Espere um pouco aí!"

"Má perdedora."

"Não sou má perdedora."

"Então fique quieta e se alongue. Eu te acompanho."

Joshua realmente se sente e começa a encostar na ponta dos pés. Emburrada, Emanuele começa a fazer a mesma coisa.

Em minutos, os dois começam a fazer uma série de alongamentos diferentes. Joshua faz perguntas a Emanuele: como é a cidade de onde veio, se a viagem foi muito estressante, e afinal que emprego era esse que ela poderia ganhar dinheiro pelo celular. Ela respondeu tudo de forma vaga, exceto pelo emprego. De acordo com a ruiva, ela enviava redações para uma revista de literatura ficcional, e era bem paga por isso.

Emanuele também fez perguntas para Joshua. Na maior parte do tempo, ele disse que gostava muito do próprio trabalho, e que adolescentes costumavam ser bem mais felizes e sadios quando praticavam algum esporte. Ele também era apaixonado por futebol, mas não torcia para nenhum dos times dos Estados Unidos.

"Você torce pra qual time, então?"

"Clube de Regatas do Flamengo. É um time brasileiro."

"Bom, o que esperar de um lugar que é conhecido como o país do futebol, não é?", foi a resposta de Emanuele.

Depois do alongamento, os dois começaram a correr em volta da quadra. A moça não queria dar o braço a torcer, mas ela estava gostando de fazer aquelas atividades físicas. Era como se pequenas partículas de alegria estivessem sendo ativadas e espalhadas em sua corrente sanguínea.

Uma hora depois, suados e cansados, a dupla resolveu voltar para o apartamento. Em meio à conversa, não perceberam quando um grupo de pessoas pararam perto deles.

Eram duas moças e três rapazes, todos sorridentes e simpáticos. E, claro, amigos de Joshua.

"Olha só, se não é nosso professor favorito", diz um dos rapazes. 

"E aparentemente ele já escravizou uma pessoa pra ser a cobaia dos exercícios dele. Moça, se você precisa de ajuda, pisque três vezes", brinca o outro moço.

O terceiro rapaz está muito ocupado reparando em Emanuele, e por isso não fiz nada. Mas não de forma incisiva e antipática. Na verdade, parece estar gostando bastante do que vê.

As moças, duas irmãs gêmeas idênticas, também estão bem receptivas. Uma delas diz:

"Não vai nos apresentar, Joshua?'

O homem mais velho parece engolir em seco. 

"Ãhm, claro. Pessoal, essa é Emanuele. Ela é a nova inquilina do apartamento da minha irmã."

"Inquilina? Sei não. Essa história tá estranha. Tenho certeza de que você está torturando e escravizando ela", o segundo rapaz brinca mais uma vez. 

"Não liga pra ele", diz o primeiro rapaz. "Ele não consegue agir como uma pessoa normal, mas mesmo assim você vai ver que é uma pessoa agradável. Às vezes."

"Ei!", reclama a pessoa agradável em questão.

Emanuele ri.

"Meu nome é Carlos. Esses são Andrew, Johnny, Amanda e Amora."

"Olá", todos eles falam em uníssono.

Andrew, o rapaz aparentemente engraçado do grupo, pergunta diretamente a Emanuele:

"Você é nova na cidade?"

"Sou sim. Cheguei anteontem."

"Então você precisa vir na nossa reunião dessa noite", Amora parece empolgada.

"Reunião?"

"É o jeito que eles falam sobre a depravação moral, comidas gordurosas e músicas duvidosas que costumam consumir nessas noites", resmunga Joshua.

"Não liga pra ele. Ele é velho e não sabe o que está dizendo. E aí, você vem?", pergunta Amanda.

"Eu-", ela hesita, um pouco desconfortável com tanta animação vindo dos cinco estranhos.

"Por favor. Seria bem legal se você viesse", o rapaz quieto, de nome Johnny, fala baixinho enquanto parece ter dificuldades de olhar nos olhos de Emanuele.

A ruiva parece ponderar seriamente o convite. Ela ainda tinha uma redação para enviar, e poderia tirar a noite para se divertir um pouco. Na cidade de onde viera, geralmente sua maior diversão era ficar lendo livros sobre dragões mitológicos e princesas em perigo. Por que não mudar os hábitos?

Um sorriso atípico toma conta dos lábios da garota.

"Tudo bem. Pode ser legal. Mas eu nunca fui em uma... Reunião."

"Pra tudo tem uma primeira vez", diz Amora, tirando um cartão azul do bolso da calça jeans e o entregando nas mãos da e Emanuele. "Me manda mensagem nesse número. Eu te busco às oito."

Depois de mais alguns minutos de b**e-papo, o grupo finalmente vai embora. Joshua bufa.

"O que foi?", pergunta Emanuele. Eles passam pelas portas duplas do primeiro andar do apartamento.

"Hum? Nada."

"Você não sabe mentir muito bem."

O homem aperta o botão do elevador e aguarda enquanto responde para a moça:

"Não me leve a mal. Eu gosto muito deles. Mas não sei se são boa companhia."

"Eles parecem gostar muito de você. Achei que fosse amigo deles."

Joshua faz que sim com a cabeça.

"Eu sou. Quer dizer, já fui mais presente na vida deles. Mas eles costumam sair mais com a Alexandra. A idade é mais próxima."

"Falando nisso, quantos anos você tem? Se me permite a pergunta."

Ele sorri.

"Quantos anos acha que eu tenho?"

"Hum... Quarenta?"

"Chegou perto. Tenho quarenta e dois."

"Ah."

"E você, mocinha?"

Emanuele não gostou nada do "mocinha", mas resolveu ignorar.

"Vinte e dois."

"Ah."

O elevador finalmente chega. Os dois entram.

Quando as portas se fecham, Emanuele comenta:

"Quando eu visitei o perfil da Alexandra na rede social, ela disse que tinha 29 anos. É uma diferença bem grande."

Joshua parece meio triste e pensativo quando ela fala aquilo. Então murmura:

"Pois é..."

Será que ela havia dito algo errado? Não era a intenção.

Quando os dois entram no apartamento, Joshua coloca a mão na testa, como se lembrasse de algo terrível.

"Droga, eu esqueci de tirar a cópia das chaves. Você pode me esperar? Prometo que não demoro."

"Claro. Está tudo bem."

Quando ele sai, Emanuele olha para o cartão azul em suas mãos. Além do número de telefone e do nome "Amora", estrelinhas e flores formavam a estampa do objeto. Se Alexandra gostava dessas pessoas, então obviamente elas eram boas, não é?"

Mas... E se algo de ruim acontecesse? Afinal, ela iria para um lugar repleto de desconhecidos... E quem poderia garantir que nada daria errado durante a noite?

Depois de tomar um bom banho e vestir um confortável macacão jeans e blusa listrada de algodão, a ruiva sentou-se no sofá e salvou o contato no celular. Quase que instantaneamente, um barulho de chaves soou. A porta se abriu. Joshua entrou no apartamento, bastante suado, e mostrou as chaves extras.

"Pronto." Ele as jogou para Emanuele, que as pegou sem dificuldade.

"Ótimo reflexo. Amanhã podemos testá-los mais."

Ela não sabe se ele está brincando ou não, então não responde. Seus pensamentos voltam para a reunião daquela noite...

Parece que o homem adivinha seus pensamentos.

"Quer sair com o grupinho, não quer?"

Emanuele faz que sim com a cabeça.

"Você vem comigo?"

Joshua faz uma careta antes de responder, provavelmente pronto para dizer que não, mas a moça implora:

"Por favor. Eu adoraria que você fosse comigo..."

Isso parece dar uma pausa no raciocínio dele. Um sorriso discreto surge nos lábios carnudos.

"Adoraria?"

O coração de Emanuele parece que vai sair do peito. 

"Sim."

Ele se aproxima dela. Um passo, dois passos. 

Então se ajoelha, para ficar na altura dela.

O ar entre os dois está tão próximo que ela consegue sentir a respiração dele na própria pele.

Instintivamente, ela começa a se inclinar para a frente, para mais perto dele...

E naquele momento, naquele segundo, ela tem certeza absoluta de uma coisa: com timidez ou não, com vergonha ou não, ela quer beijá-lo.

O espaço entre os dois vai ficando cada vez mais curto.

Hora da verdade.

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