Joshua murmura baixinho.
"Emanuele."
A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar.
"Emanuele".
Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.
Mas então a garota finalmente volta a si.
Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?
"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"
O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido.
Que desastre.
"Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa."
"A culpa foi minha. Acho que precisamos diminuir a intensidade até acharmos um ritmo confortável pra você."
A moça coça a cabeça, olhando para os lados.
"Olha, eu realmente preciso-"
"Você perdeu o desafio, lembra?", ele pisca um dos olhos pra ela.
"Mas-"
"E quem perdesse teria que fazer o que o outro mandasse. Esse foi o combinado."
Emanuele não conseguiu conter o pequeno tom de pirraça.
"Mas não foi um desafio justo!"
"Claro que foi. Agora, chega de choramingar. Temos muito o que fazer. Comece a se alongar."
"O quê?!"
"Anda, senta no chão e comece a tocar os pés."
"Espere um pouco aí!"
"Má perdedora."
"Não sou má perdedora."
"Então fique quieta e se alongue. Eu te acompanho."
Joshua realmente se sente e começa a encostar na ponta dos pés. Emburrada, Emanuele começa a fazer a mesma coisa.
Em minutos, os dois começam a fazer uma série de alongamentos diferentes. Joshua faz perguntas a Emanuele: como é a cidade de onde veio, se a viagem foi muito estressante, e afinal que emprego era esse que ela poderia ganhar dinheiro pelo celular. Ela respondeu tudo de forma vaga, exceto pelo emprego. De acordo com a ruiva, ela enviava redações para uma revista de literatura ficcional, e era bem paga por isso.
Emanuele também fez perguntas para Joshua. Na maior parte do tempo, ele disse que gostava muito do próprio trabalho, e que adolescentes costumavam ser bem mais felizes e sadios quando praticavam algum esporte. Ele também era apaixonado por futebol, mas não torcia para nenhum dos times dos Estados Unidos.
"Você torce pra qual time, então?"
"Clube de Regatas do Flamengo. É um time brasileiro."
"Bom, o que esperar de um lugar que é conhecido como o país do futebol, não é?", foi a resposta de Emanuele.
Depois do alongamento, os dois começaram a correr em volta da quadra. A moça não queria dar o braço a torcer, mas ela estava gostando de fazer aquelas atividades físicas. Era como se pequenas partículas de alegria estivessem sendo ativadas e espalhadas em sua corrente sanguínea.
Uma hora depois, suados e cansados, a dupla resolveu voltar para o apartamento. Em meio à conversa, não perceberam quando um grupo de pessoas pararam perto deles.
Eram duas moças e três rapazes, todos sorridentes e simpáticos. E, claro, amigos de Joshua.
"Olha só, se não é nosso professor favorito", diz um dos rapazes.
"E aparentemente ele já escravizou uma pessoa pra ser a cobaia dos exercícios dele. Moça, se você precisa de ajuda, pisque três vezes", brinca o outro moço.
O terceiro rapaz está muito ocupado reparando em Emanuele, e por isso não fiz nada. Mas não de forma incisiva e antipática. Na verdade, parece estar gostando bastante do que vê.
As moças, duas irmãs gêmeas idênticas, também estão bem receptivas. Uma delas diz:
"Não vai nos apresentar, Joshua?'
O homem mais velho parece engolir em seco.
"Ãhm, claro. Pessoal, essa é Emanuele. Ela é a nova inquilina do apartamento da minha irmã."
"Inquilina? Sei não. Essa história tá estranha. Tenho certeza de que você está torturando e escravizando ela", o segundo rapaz brinca mais uma vez.
"Não liga pra ele", diz o primeiro rapaz. "Ele não consegue agir como uma pessoa normal, mas mesmo assim você vai ver que é uma pessoa agradável. Às vezes."
"Ei!", reclama a pessoa agradável em questão.
Emanuele ri.
"Meu nome é Carlos. Esses são Andrew, Johnny, Amanda e Amora."
"Olá", todos eles falam em uníssono.
Andrew, o rapaz aparentemente engraçado do grupo, pergunta diretamente a Emanuele:
"Você é nova na cidade?"
"Sou sim. Cheguei anteontem."
"Então você precisa vir na nossa reunião dessa noite", Amora parece empolgada.
"Reunião?"
"É o jeito que eles falam sobre a depravação moral, comidas gordurosas e músicas duvidosas que costumam consumir nessas noites", resmunga Joshua.
"Não liga pra ele. Ele é velho e não sabe o que está dizendo. E aí, você vem?", pergunta Amanda.
"Eu-", ela hesita, um pouco desconfortável com tanta animação vindo dos cinco estranhos.
"Por favor. Seria bem legal se você viesse", o rapaz quieto, de nome Johnny, fala baixinho enquanto parece ter dificuldades de olhar nos olhos de Emanuele.
A ruiva parece ponderar seriamente o convite. Ela ainda tinha uma redação para enviar, e poderia tirar a noite para se divertir um pouco. Na cidade de onde viera, geralmente sua maior diversão era ficar lendo livros sobre dragões mitológicos e princesas em perigo. Por que não mudar os hábitos?
Um sorriso atípico toma conta dos lábios da garota.
"Tudo bem. Pode ser legal. Mas eu nunca fui em uma... Reunião."
"Pra tudo tem uma primeira vez", diz Amora, tirando um cartão azul do bolso da calça jeans e o entregando nas mãos da e Emanuele. "Me manda mensagem nesse número. Eu te busco às oito."
Depois de mais alguns minutos de b**e-papo, o grupo finalmente vai embora. Joshua bufa.
"O que foi?", pergunta Emanuele. Eles passam pelas portas duplas do primeiro andar do apartamento.
"Hum? Nada."
"Você não sabe mentir muito bem."
O homem aperta o botão do elevador e aguarda enquanto responde para a moça:
"Não me leve a mal. Eu gosto muito deles. Mas não sei se são boa companhia."
"Eles parecem gostar muito de você. Achei que fosse amigo deles."
Joshua faz que sim com a cabeça.
"Eu sou. Quer dizer, já fui mais presente na vida deles. Mas eles costumam sair mais com a Alexandra. A idade é mais próxima."
"Falando nisso, quantos anos você tem? Se me permite a pergunta."
Ele sorri.
"Quantos anos acha que eu tenho?"
"Hum... Quarenta?"
"Chegou perto. Tenho quarenta e dois."
"Ah."
"E você, mocinha?"
Emanuele não gostou nada do "mocinha", mas resolveu ignorar.
"Vinte e dois."
"Ah."
O elevador finalmente chega. Os dois entram.
Quando as portas se fecham, Emanuele comenta:
"Quando eu visitei o perfil da Alexandra na rede social, ela disse que tinha 29 anos. É uma diferença bem grande."
Joshua parece meio triste e pensativo quando ela fala aquilo. Então murmura:
"Pois é..."
Será que ela havia dito algo errado? Não era a intenção.
Quando os dois entram no apartamento, Joshua coloca a mão na testa, como se lembrasse de algo terrível.
"Droga, eu esqueci de tirar a cópia das chaves. Você pode me esperar? Prometo que não demoro."
"Claro. Está tudo bem."
Quando ele sai, Emanuele olha para o cartão azul em suas mãos. Além do número de telefone e do nome "Amora", estrelinhas e flores formavam a estampa do objeto. Se Alexandra gostava dessas pessoas, então obviamente elas eram boas, não é?"
Mas... E se algo de ruim acontecesse? Afinal, ela iria para um lugar repleto de desconhecidos... E quem poderia garantir que nada daria errado durante a noite?
Depois de tomar um bom banho e vestir um confortável macacão jeans e blusa listrada de algodão, a ruiva sentou-se no sofá e salvou o contato no celular. Quase que instantaneamente, um barulho de chaves soou. A porta se abriu. Joshua entrou no apartamento, bastante suado, e mostrou as chaves extras.
"Pronto." Ele as jogou para Emanuele, que as pegou sem dificuldade.
"Ótimo reflexo. Amanhã podemos testá-los mais."
Ela não sabe se ele está brincando ou não, então não responde. Seus pensamentos voltam para a reunião daquela noite...
Parece que o homem adivinha seus pensamentos.
"Quer sair com o grupinho, não quer?"
Emanuele faz que sim com a cabeça.
"Você vem comigo?"
Joshua faz uma careta antes de responder, provavelmente pronto para dizer que não, mas a moça implora:
"Por favor. Eu adoraria que você fosse comigo..."
Isso parece dar uma pausa no raciocínio dele. Um sorriso discreto surge nos lábios carnudos.
"Adoraria?"
O coração de Emanuele parece que vai sair do peito.
"Sim."
Ele se aproxima dela. Um passo, dois passos.
Então se ajoelha, para ficar na altura dela.
O ar entre os dois está tão próximo que ela consegue sentir a respiração dele na própria pele.
Instintivamente, ela começa a se inclinar para a frente, para mais perto dele...
E naquele momento, naquele segundo, ela tem certeza absoluta de uma coisa: com timidez ou não, com vergonha ou não, ela quer beijá-lo.
O espaço entre os dois vai ficando cada vez mais curto.
Hora da verdade.
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O
A primeira surpresa que Emanuele teve foi ao notar que o ambiente urbano foi desaparecendo lentamente.A enorme quantidade de prédios, carros buzinando, pessoas aqui e ali com seus afazeres simplesmente foi ficando para trás, cada vez mais longe, e em seu lugar árvores e estradas de terra se fizeram ver.A moça olhou para Joshua com uma sobrancelha erguida, perguntando a ele silenciosamente o que estava acontecendo. O moço explicou:."As reuniões deles costumam ser na casa de Amora e Amanda. Ou melhor, na casa de festa das duas.""Casa de festa?""É."Na cidade natal de Emanuele, a coisa mais próxima a uma casa de festa que ela conheceu foi um pequeno rancho onde os mais velhos se reuniam para beber e comer churrasco. Mas ela tinha quase certeza de que essa reunião, e com esse grupo, seria completamente diferente.E ela estava totalmente certa.Quando desceram do táxi, eles viram a alguns metros de distância uma enorme casa de fazenda. As janelas estavam todas abertas, e era possível
O beijo é rápido, breve e quente. Por segundos, os dois permanecem apenas com os lábios encostados um no outro. As mãos de Johnny seguram as mãos de Emanuele, suavemente e carinhosamente. Então ele afasta o rosto do dela, olhando fixamente em seus olhos. A moça não sabe o que dizer ou fazer. Apenas olha ele de volta, procurando as palavras certas. Se é que havia qualquer palavra certa a ser dita. Johnny é o primeiro a falar, a voz rouca. "Desculpa. Isso foi muito precipitado?" Emanuele responde, um tanto afobada: "Precipitado? Precipitado?! Isso depende. As regras da cidade grande devem ser bem diferentes das cidades pequenas, não é? Quer dizer, talvez você já tenha bebido algumas doses antes de eu chegar e por isso se desinibiu. Não que você seja desinibido. Quer dizer, as pessoas costumam ser mais soltas por aqui, né? Ou não? É preconceito da minha parte falar isso? Claro que não, né? Será que é preconceito achar que é preconceito eu falar isso?" Johnny se segura para não garg
Antes que Emanuele possa se defender ou sequer reagir, a mão espalmada de Thabata vai direto até seu rosto. Ou quase. Segurando fortemente a mão da namorada louca e possessiva de Joshua, Johnny diz: "Você só pode ter enlouquecido." Thabata rosna para ele. "Não se meta, fedelho. Isso é um acerto de contas." "Não. Isso é pura e completa loucura. O que foi que ela te fez pra você atacá-la dessa forma?" "Não é da sua conta, moleque. Larga a minha mão agora." Ela começa a tentar se desvencilhar, mas o rapaz não a solta. Emanuele dá dois passos para trás, e acaba esbarrando em uma garota que estava dançando. Ela pede desculpas, mas percebe que ela nem a ouviu. Assim como outras pessoas, ela reparou em Thabata e Johnny, que agora estavam claramente muito irritados um com o outro. "Essa ladra de namorados vai ter o que merece", diz a louca, fazendo um esforço monumental para se soltar do aperto de ferro de Johnny. Ele não cede. "Ela não está nem aí pro seu namorado, Thabata. Você que
"Joshua", murmura Emanuele, tentando intervir antes que algo sério aconteça."Eu já falo com você". Ele sequer olha para a moça enquanto diz isso. Os olhos escuros estão fixos em Johnny, que permanece ao lado da ruiva.Por alguns segundos, os três fazem silêncio, avaliando um ao outro. Então Jhonny dá um passo à frente e coloca as mãos nos bolsos."Você quer falar, então fale."Joshua inclina a cabeça para o lado."Eu prefiro escutar antes de falar qualquer coisa. O que aconteceu?"Emanuele olha para baixo, desconfortável. Johnny diz em alto e bom som:"Sua namorada está com ciúmes da Emanuele."Para a total surpresa da ruiva, o homem mais velho não tenta negar nem dá qualquer sinal de estar inclinado a discordar da frase certeira de Johnny. Ele continua:"Ela contou a todos que estavam ouvindo que você a salvou de um quase estupro, e que Emanuele usou isso como pretexto para tentar te seduzir."Joshua não diz nada. Emanuele também não consegue encarar nenhum dos dois. Ela simplesmen
Emanuele quase deixa a taça cair. Ela olha incrédula para Johnny, que continua olhando para as mãos.A moça abre a boca, mas percebe que não conseguem emitir nenhum som. Ele obviamente detestava ela, e não fazia força para disfarçar. Será que..."O Joshua sabe?", ela finalmente consegue verbalizar algo."Não vejo porque não saberia. Nunca foi um segredo."Johnny suspira e continua:"Eles começaram a namorar uns cinco meses depois que nós terminamos.""Mas... Quando... Como?""É, ela engana muito bem as pessoas. Só que eu nunca consegui acreditar completamente no que ela falava, sabe? E isso foi bem antes de ela conhecer o pessoal.""Porque vocês terminaram?"Ele olha para as estrelas brilhantes acima. "Ela me manipulou para que eu cortasse uma amizade de longa data. Fez eu ficar cego e estúpido como uma mula. Eu sequer dei uma chance para essa pessoa, apenas a tirei da minha vida."Emanuele não diz nada imediatamente, esperando que ele conclua seus pensamentos."Quando me dei conta d
Uma brisa suave faz com que as ondas rubras do cabelo de Emanuele se agitem, e ela coloca uma mecha atrás da orelha enquanto, nervosa, pondera seriamente o convite do rapaz a sua frente. Passar a noite com ele... Ele não está mal intencionado. Apesar dos beijos e toques mais ousados há alguns minutos atrás, Johnny realmente quer apenas passar mais tempo com a ruiva, transmitir segurança a ela e fazer o possível para diminuir seu estresse. A moça pisca duas vezes antes de educadamente recusar: "Johnny, é muita gentileza da sua parte... Mas eu realmente vou precisar voltar para o apartamento." O rapaz compreende. Então ele se aproxima de Emanuele e beija sua testa antes de perguntar: "Eu vou te ver mais vezes, não é?" "Claro que sim. Não precisa se preocupar em relação a isso. Só vamos ter que ajeitar alguns detalhes na nossa agenda." Eles conversam mais um pouco, tentando em vão esquecer os eventos negativos daquela noite. Johnny diz que mora relativamente perto de Emanuele, e q
Emanuele não sabia o porquê de estar com o rosto enterrado no corpo de Joshua, nem porque o abraçava com tanta força. Ela apenas sentia, lá no fundo da alma, que ele precisava desesperadamente de um abraço.Como estaria sendo para ele, um homem íntegro e que levava a sério seus deveres e relacionamentos, ouvir de mais de uma pessoa que sua namorada não era exatamente uma boa pessoa? E ainda por cima depois de três anos estando com essa pessoa?Joshua não falava muito sobre ele. Tudo o que ela sabia até agora era que ele tinha uma namorada problemática, era o irmão mais velho da verdadeira dona do apartamento, e que era professor de educação física. Ah, e supostamente o parente doente que Alexandra foi visitar não era alvo de preocupação dele, o que por si só era meio estranho.Bom, Emanuele também não falou quase nada sobre si. Era justo que ambos escolhessem reter informações, afinal confiança é algo que se conquista aos poucos.Mas... Ali estava ela.Naquele momento, a moça não refl